por Renato Rovai
Depois que publiquei neste blogue a entrevista com Leopoldo Nunes tenho recebido muitas informações críticas a respeito da forma como a Empresa Brasil de Comunicação tem sido conduzida.
Segurei a onda por dois motivos. O primeiro, para não tornar esse espaço monotemático. O segundo, para ver se outros colegas se animavam a tratar do tema. Até porque soube que alguns seriam procurados pelos mesmos que me contatavam.
Como parece que o assunto não tem poder de atração no campo mais independente, começo a reavaliar meu silêncio. Ele pode reforçar a impressão de que as coisas estão indo bem na EBC. Não estão.
Em cargos de direção está instalada uma quase-paranóia de que todos os que querem discutir o projeto são contra a empresa pública. Ou seja, aquela velha tática de ficar procurando inimigos embaixo do tapete para tentar unir a tropa e aumentar o orçamento de guerra.
Aliás, essa metáfora foi usada por alguém da própria empresa, numa conversa recente com este blogueiro. O interlocutor relatava o clima interno.
E quando falo em EBC é porque não é só na TV Brasil que as coisas não vão bem. Na Agência Brasil, o clima também é ruim. A sensação dos que lá trabalham é de que o projeto tem dado passos de caranguejo. Só se prioriza a TV. Isso tem causado constrangimentos, questionamentos e afetado a qualidade editorial.
Em relação a isso, devo registrar que teria como tratar a questão por outros caminhos. Escolhi não fazê-lo. Decisão difícil, mas movida por um voto de confiança em pessoas que exercem e exerceram um papel importante na construção da empresa pública.
Em relação à TV, outras demissões se seguiram a de Leopoldo Nunes. Algumas, inclusive, que parecem ter relação mais com questões políticas e pessoais do que com sentido profissional. A demissão de Leopoldo, aliás, ainda não foi devidamente esclarecida, apesar da moção de apoio à presidência aprovada na reunião do Conselho do último dia 7.
Essas manifestações de apoio, aliás, não me trazem boas lembranças. Na hora que li a notícia lembrei-me imediatamente de um abaixo-assinado com o nome de quase todos os profissionais da TV Globo em defesa do jornalismo da emissora. Ele foi patrocinado por Ali Kamel, após denúncia de que atrasara a divulgação da notícia da queda do avião da Gol para que pudesse dar com enorme destaque imagens das pilhas de notas que teriam sido usadas para a compra de um dossiê, o que prejudicava a candidatura Lula.
O Conselho tem a obrigação de abrir amplamente o debate da EBC. Isso é mais importante do que aprovar uma moção de apoio à presidência da empresa que deve, entre outros atributos, fiscalizar.
Cruvinel é jornalista experiente e inteligente. Sabe se defender. Inclusive, após a entrevista de Leopoldo procurei-a para que fizesse aqui o contraponto. Sua assessoria alegou que ela estava com a agenda lotada.
Nesse período sabático acumulei diversas histórias que apontam para o seguinte caminho: há muita gente errada no lugar certo. Gente que, entre outras coisas, não entendeu como deve ser a relação de trabalho numa empresa pública nem o que a diferencia na essência de um projeto privado.
Por fim, e a bem da verdade, preciso registrar aqui que entre outras coisas ouvi de diferentes fontes que Tereza Cruvinel pode ter cometido equívocos de gestão à frente da empresa, mas que ao mesmo tempo tem se mostrado aberta para o diálogo.
É quase unanimidade entre os que me procuraram a tese de que há mais problemas com os que estão abaixo dela e exercem chefias, do que propriamente com ela.
De qualquer forma, essas e outras questões precisam ser explicitadas antes que seja tarde. Para o bem do projeto. Há gente que hoje está na EBC e que tem condições morais e políticas de fazê-lo. Tornar público esse debate é democrático e saudável. Quem diz o contrário, busca preservar interesses privados. E não tem como objetivo construir uma empresa realmente pública de comunicação no país.
Fonte: Blog do Rovai - Revista Fórum
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