quarta-feira, 27 de maio de 2009

CHOQUE DE CAPITALISMO NAS RUAS DO RIO LEMBRA A DITADURA

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A nova administração municipal aumentou a repressão sobre os desempregados, subempregados, camelôs e trabalhadores pobres em geral.

Por Marcelo Salles


Se você está desempregado no Rio de Janeiro, cuidado. Se você não tem onde morar, redobre a atenção. Você está na mira do Choque de Ordem. Apesar de a Prefeitura negar, durante a apuração desta reportagem ficou claro que a repressão empreendida pela nova administração está voltada essencialmente contra as parcelas mais pobres do povo. Não foram poucos os relatos que ouvi de agressões contra camelôs e pessoas em situação de rua, sendo que o mais chocante foi narrado pelo defensor público Alexandre Mendes. Quando pergunto sobre denúncias de agressão física, ele diz:

“Isso eu posso falar porque presenciei, pois acompanhei e assinei o boletim de ocorrência. Houve uma agressão estúpida da Guarda Municipal. Uma senhora de 60 anos, de muleta, foi derrubada no chão e usaram sua própria muleta para agredi-la. Por pedir que não fizessem isso, um menino negro tomou uma banda e várias cacetadas e também outras duas pessoas acabaram apanhando. Foi uma ação de extrema violência”, lembra Alexandre, do Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Ele explica que o Núcleo de Direitos Humanos está acompanhando denúncias de agressão e o de Fazenda Pública está acompanhando denúncias de roubo de mercadoria.

O Choque de Ordem, conjunto de ações coordenadas pela Prefeitura, mas com apoio das polícias e da iniciativa privada, teve início logo na primeira semana de janeiro. E não tem data para terminar. “Apesar de muitos terem uma dimensão de que choque é algo passageiro, acho que choque não é algo passageiro, choque é algo intenso. A prefeitura vai permanecer com essa intensidade, vai fazer valer as posturas e a lei municipal, porque não há outro caminho para a cidade do Rio de Janeiro”, explica Rodrigo Bethlen, o chefe da Secretaria de Ordem Pública, especialmente criada para comandar as ações. De acordo com os números oficiais, até março foram abordadas 5.076 pessoas, mais de duzentos mil automóveis foram multados ou rebocados e cerca de 180 mil produtos diversos foram recolhidos. Cerca de oitenta construções populares foram destruídas.

Bethlen, ex-vereador pelo PFL e homem de confiança do prefeito Eduardo Paes, me recebeu na sexta-feira, dia 17 de abril, no sétimo andar do gigantesco prédio da Prefeitura, que fica no centro da cidade. Fui prontamente atendido e todas as perguntas foram respondidas com desembaraço; trata-se, sem dúvida, de um grande quadro da direita fluminense. O secretário de Ordem Pública tem a pele branca, cabelo preto liso, barba bem feita e gesticula muito enquanto fala. Ele defende, para a Guarda Municipal, o uso de armas não letais (ou menos letais, segundo fabricantes) como os tasers – aparelhos que disparam projéteis eletrificados. É contra o uso de armas convencionais pelos guardas e acredita que o Rio de Janeiro deve se espelhar em cidades como Nova York, Chicago, Bogotá e Medellín. “A hora que você combate o pequeno delito você deixa absolutamente caracterizado que o poder público vai estar presente permanentemente combatendo essas transgressões”.

O secretário mais badalado pelas corporações da mídia fluminense afirmou que o Choque de Ordem não é seletivo. Ele citou três episódios em que as ações foram direcionadas contra gente rica: a demolição de um restaurante na Gávea, de uma casa na Barra e do prédio conhecido como Minhocão, na favela da Rocinha. “Pra mim lei vale pra todo mundo, tanto pra mim quanto para o prefeito Eduardo
Paes. Se a lei não for respeitada por todo mundo, nosso choque não tem validade”.


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Fonte: Caros Amigos

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