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por Eduardo Tessler, de Porto Alegre (RS), no Terra Magazine
O Rio Grande do Sul está vivendo uma tempestade sem fim. Mas diferentemente da Bahia, onde São Pedro até oferece momentos de trégua, os gaúchos se afogam mesmo sem chuvas. A razão de tudo é o desgoverno de Yeda Crusius, a ex-ministra de Itamar Franco que ganhou as eleições como uma "quarta via". Nem PT, nem os velhos caciques do PMDB,muito menos os franco-atiradores-raposas-da-política, Yeda era "um novo jeito de governar".
Os primeiros trovões em torno do Rio Grande se ouviram ainda na campanha eleitoral, quando Yeda rompeu com o candidato a vice de sua chapa, o empresário Paulo Feijó. Feijó, é verdade, é hoje conhecido nas rodas de chimarrão como o homem do SEM, em alusão a seu partido (o DEM): sem ética, sem talento, sem escrúpulos.
A dupla Yeda-Feijó assumiu sob mau tempo, já tentando impor aumentos de impostos antes de esquentar a cadeira do Palácio Piratini. Depois de um festival de escândalos que envergonha os gaúchos, Yeda hoje governa de guarda-chuvas para escapar do dilúvio e prefere não ver que o Estado já está submerso. Junto com a água, a lama.
Para o bom observador, há pelo menos 3 motivos fortes para que Yeda Crusius seja destituída do governo gaúcho:
1. O escândalo do Detran - Um esquema de desvio de dinheiro que afetou o órgão controlador do trânsito do Rio Grande, com acordos e atos de corrupção que envolveu boa parte do primeiro escalão.
2. As contas de campanha - Até hoje surgem novas informações de doações não declaradas para a campanha eleitoral da governadora. Suspeita-se que uma parte da verba tenha sido utilizada para a aquisição da casa própria de Yeda, uma vez que segundo sua declaração de Imposto de Renda não havia dinheiro para tal compra.
3. A confissão do secretário - O principal secretário de Yeda, Cezar Busatto, tentou convencer o vice-governador a baixar a guarda e participar de parte da partilha de dinheiro não-declarado. Mas o vice gravou a conversa, que derrubou Busatto e virou escândalo.
Apesar de todos os indícios, Yeda rema seu barco contra as ondas gigantes e jura fazer um governo mais limpo que as águas da Polinésia, ainda que com aparência das águas poluídas do Guaíba. Até a morte de um ex-assessor de Yeda, disfarçada de suicídio, seria mais que um bom motivo para que o Ministério Público investigasse com mais afinco o caso.
Acontece que há pelo menos 3 motivos para que a ex-governadora em atividade permaneça no cargo até as eleições de 2010:
1. O vice pouco confiável - Se Yeda é um desastre, seu vice Feijó parece ser ainda pior. Homem sem história político-partidária, vende uma imagem de empresário de sucesso, calmo e correto, quando seus atos são tão condenáveis quanto os de sua titular. Na dúvida, melhor não arriscar, afinal faltam apenas 17 meses para as eleições.
2. A mídia regional não cumpre seu papel - Apesar de os fatos serem públicos desde, pelo menos, meados de fevereiro, nenhuma das grandes empresas de comunicação do Rio Grande quis conferir e acompanhar as denúncias. As redes Caldas Junior, RBS e Pampa optaram por um inexplicável silêncio e foram furadas pela revista Veja, cuja sede fica em São Paulo. Pior, vieram a reboque das denúncias de Veja e na semana seguinte foram furadas outra vez.
3. O carrossel de envolvidos - Há mais políticos entre os personagens dos escândalos. Há deputados federais, estaduais, ex-deputados, gente de todos os partidos da base aliada com alguma ponta de envolvimento. Na festa do dinheiro fácil muita gente participou. Agora os deputados estaduais resistem a assinar um requerimento para que se crie uma CPI. É muita gente influente com o rabo preso.
Há uma certeza entre os gaúchos: Yeda não venceria mais nem uma eleição para a presidência do clube de senhoras do seu bairro. Ou seja, mais uma vez o Rio Grande elegerá um candidato de oposição, como sempre fez na história.
O Estado, por enquanto, respira por um tubo para não morrer afogado. Depois da experiência do impeachment a Fernando Collor, parecia que os maus governos não resistiriam ao tempo.
Talvez naqueles anos 90 a imprensa fosse mais combativa.
*Eduardo Tessler é jornalista e consultor de empresas de comunicação.
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