por Leandro Fortes
Eu quero saber até quando os jornais de Brasília vão fugir de uma pauta que está quicando pelas redações locais desde 2006. Naquele ano eleitoral, o engenheiro José Roberto Arruda e o empresário Paulo Octávio Pereira meteram-se em uma luta intestina para definir quem seria o candidato do PFL (atual DEM) ao governo do Distrito Federal. Na época, Arruda deu uma volta bonita em Paulo Octávio, candidato inicial do partido, conseguiu o apoio do ex-governador Joaquim Roriz, do PMDB, e relegou o empresário à condição de candidato a vice na chapa pefelista. Para não ficar feio diante do eleitor e dos financiadores de campanha do Distrito Federal, todos muito ligados a Paulo Octávio, Arruda costurou um acordo baseado em uma fatura eleitoral cada vez mais difícil de ser cobrada. Em troca de ser o cabeça da chapa, em 2006, ele firmou o compromisso de, em 2010, ou seja, no ano que vem, inverter a situação: Paulo Octávio sairia como candidato a governador e ele, Arruda, como vice.
Trata-se de um acordo público, noticiado pelos jornais, comentado pelos comentaristas, analisado pelos analistas, colunado pelos colunistas. Quis o destino que eu, nem lembro exatamente porque, estivesse na posse da dupla, na Câmara Legislativa do DF, em janeiro de 2007, onde ouvi o seguinte discurso de José Roberto Arruda, recém-eleito governador, em palavras dirigidas ao humilde vice, Paulo Octávio, obrigado a engolir em seco a inversão de papéis às vésperas das eleições: “Este é um dos gestos mais difíceis de um homem de vida pública”. Difícil e improvável, completo eu, até porque, naquele dia, do lado de fora da Câmara Distrital, havia potes até aqui de mágoa. Não fosse a polícia e a turma do deixa-disso, correligionários de ambos os candidatos teriam ido às vias de fato. Mas restava a promessa de Arruda. Prometeu, estava prometido. Hoje você é quem manda, falou tá falado. Mas, em 2010, estava garantido, seria a vez de Paulo Octávio.
Motivos para acreditar em José Roberto Arruda, no entanto, faltam a todos. Ele é aquele senador que, então no PSDB, mentiu descaradamente sobre a participação na quebra do sigilo do painel eletrônico do Senado Federal, quando da votação da cassação do ex-senador Luiz Estevão, do PMDB, outro empresário famoso de Brasília. Mentiu em plenário, ao vivo, da tribuna. Pego na mentira, foi obrigado, em 2001, a renunciar para não ser cassado. Ele o chefe da operação, o falecido Antonio Carlos Magalhães, do PFL da Bahia, também obrigado a pular fora antes de subir no cadafalso da Comissão de Ética.
Mas se Paulo Octávio, o maior e mais bem sucedido empresário de Brasília, acreditou, quem sou eu para questionar a fé alheia?
Entramos no ano de 2009, e não há um santo dia em que a imprensa brasiliense não trate da candidatura da ministra Dilma Roussef. Do PAC de Dilma. Da doença de Dilma. Das alternativas à Dilma. Das denúncias da oposição contra a candidatura disfarçada de Dilma. Dos candidatos a candidato a vice de Dilma. Sem falar de José Serra. De Aécio Neves. Mas nem uma linha sobre o acordo Arruda-Paulo Octávio.
Aliás, estou sendo injusto. Aqui e ali, num esquema clássico de jornalismo de borda de catupiry, misto de plantação de notícia com soltura de balão de ensaio, colunistas e blogueiros envergonhados anunciam que José Roberto Arruda será candidato à reeleição, com Paulo Octávio de vice, se ele quiser. Isso mesmo, o governador reuniu o secretariado e anunciou: o gostosão daqui sou eu! Ao que parece, ninguém o questionou sobre o acordo de 2006. Nem apareceu, ainda, nenhum repórter a lhe perguntar sobre o perigo de ser pego em nova e escandalosa mentira.
Consumido por essa dúvida, enviei o seguinte e-mail para os assessores de imprensa do governador José Roberto Arruda, na manhã do dia 19 de maio:
De: Leandro Fortes
Para: omezio@gmail.com
Cópia: drimotta@gmail.com
Assunto: Eleições de 2010 - pauta
Data: 19/05/2009 11:15
Prezados Omézio Pontes e Adriana Motta,
Gostaria de saber se o governador José Roberto Arruda confirma o acordo político, firmado em 2006, no âmbito do PFL (atual DEM), quando ele se comprometeu a abrir mão da reeleição em prol da candidatura do vice-governador Paulo Octávio Pereira, agora como cabeça de chapa do partido, em 2010, ao governo do Distrito Federal.
Grato.
Leandro Fortes
CartaCapital (sucursal de Brasília)
Até agora, nenhuma resposta. Nem um e-mail. Nem um telefonema. Silêncio de rádio. Nada.
Pelo jeito, vai ter muita gente desgostosa com essa pauta, dentro e fora das redações de Brasília.
Fonte: Brasília, eu vi
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