domingo, 31 de maio de 2009

O Eixo do Mal redivivo

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por Guilherme Scalzilli

É patético esse esforço da imprensa conservadora para vilanizar a Coréia do Norte. Inventar “inimigos do mundo civilizado” pode combinar com o oportunismo iletrado da política diuturna, mas não condiz com jornalismo respeitável.
O desenvolvimento de tecnologia nuclear tem sido simplificado a um nível de indigência mental que só compete com as baboseiras histéricas da Guerra Fria. A insistência em qualificações datadas como “ditadura comunista” para classificar o regime norte-coreano (ninguém diz “ditadura capitalista”, certo?) evidencia o logro.
A questão primordial em jogo: impedir que países não-alinhados a Washington tenham acesso a fontes alternativas de energia. A mobilização uníssona das potências econômicas visa preservar a dependência de combustíveis fósseis (e de toda a tecnologia adjacente), cuja enorme importância geopolítica dispensa comentários.
Guerras não têm nada a ver com isso, embora os mísseis de Kim Jong-il estejam muito distantes de qualquer outra meta que não uma simples afirmação de poderio militar para seu estúpido regime em frangalhos. A fabricação de armas atômicas não é sequer um objetivo proveitoso em si, quiçá uma ameaça considerável em eventuais conflitos bélicos, já improváveis no domínio regional chinês.
E por que um arsenal do tipo estaria mais seguro sob imbecis como George W. Bush (ou seus semelhantes indianos, paquistaneses, russos) do que em mãos iranianas ou chinesas? Querer que estes países abram seus laboratórios e usinas ao escrutínio vampiresco de “autoridades” estrangeiras apenas revela, na melhor das hipóteses, a xenofobia e o racismo que alimentam a ilusão da superioridade ocidental. Na pior delas (e mais realista), demonstra que esse pacifismo tem utilidade puramente propagandística, sem qualquer pretensão prática.
Se quisesse mesmo contribuir para o tal desarmamento, o governo estadunidense reconheceria que protagonizou o único ataque nuclear da História, assassinando desnecessariamente centenas de milhares de civis japoneses na II Guerra. E tomaria a iniciativa de destruir um arsenal inútil sob todos os pontos de vista.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

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