domingo, 14 de setembro de 2008

Um país sem oposição nenhuma

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por Luiz Antônio Magalhães

A nota abaixo está na coluna Painel da Folha de S. Paulo deste domingo e é o retrato acabado do Brasil de hoje. Vamos à nota e a análise vem em seguida:

"Lula tudo bem"
"Lula tudo bem. O problema é o PT." A frase, martelada em um dos comerciais da nova fase da propaganda de Geraldo Alckmin, indica um tom que vai além da campanha paulistana, ditado pelo recorde histórico de aprovação ao presidente em pesquisa Datafolha. O comando do PSDB já sinalizou que fará vista grossa ao esforço de seus candidatos, por todo o país, para se associarem ainda que "de lado" à imagem de Lula. O mesmo se passa com o DEM, cujo candidato em melhor situação nas capitais (ACM Neto, líder em Salvador) não se cansa de fazer mea culpa pelas críticas do passado e de repetir que, se eleito, terá plenas condições de trabalhar "em parceria" com o Planalto.


Sim, o tucano Geraldo Alckmin, candidato à prefeitura de São Paulo, já demonstra um certo desespero com as sucessivas quedas nas pesquisas de intenção de voto e talvez queira agora "desconstruir" a sua própria imagem de rival de Lula, construída na campanha de 2006. A turma de Alckmin já percebeu que não dá para fazer campanha na periferia de São Paulo falando mal de um presidente da República que tem entre os integrantes das classes D e E espantosos 72% de avaliação positiva (ótimo e bom) e apenas 3%, sim, é isto mesmo, três porcento de avaliação negativa (ruim e péssima), o restante qualificando a performance do atual governo como regular. A estratégia de Alckmin poderia ser considerada apenas uma maluquice de candidato em queda livre se fosse um ato isolado, mas não é o que se vê Brasil afora na campanha deste ano, conforme a nota da Folha também informa.

O jornal, aliás, nem cita casos ainda mais intrigantes, como o da candidatura do DEM à prefeitura de Palmas, patrocinada pela senadora Kátia Abreu, uma das mais críticas vozes contra o governo federal. Lá, a candidata democrata Nilmar Ruiz jura ter o apoio do presidente. Sim, está na página oficial da candidata: "Nilmar Ruiz tem livre acesso a todos os órgãos federais e uma relação de aliança com o presidente Lula, de quem tem o apoio neste pleito à Prefeitura de Palmas." Detalhe: o prefeito da capital do Tocantins e candidato à reeleição é do Partido dos Trabalhadores e obviamente conta com o apoio de Lula... Até agora, pelo que este blog está informado, ninguém foi perguntar ao deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, se não cabe exame deste caso pelo Conselho de Ética do partido, ou mesmo expulsão sumária da demo-lulista que concorre não à prefeitura de uma cidadezinha do interior de Pernambuco, mas de uma capital de Estado.

Um cínico poderia logo dizer: ora, como falar mal de um presidente com 64% de aprovação popular no país, taxa ainda mais elevada nas regiões Norte e Nordeste? Como vencer uma eleição criticando um mito chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Bem, é verdade que os tempos estão difíceis para a oposição, mas tucanos e democratas hão de convir que em um regime democrático a oposição existe para... fazer oposição! É quase inexplicável que praticamente nenhum candidato do PSDB ou DEM esteja usando o caso dos grampos, que está na ordem do dia, para bater no governo. Ou mesmo os escândalos mais antigos – gastos com cartões corporativos, dossiê FHC, dossiê Vedoin, mensalão, enfim, qualquer dos casos de corrupção que supostamente envolveram gente do primeiro ou segundo escalão do governo.

Marqueteiros e politólogos de plantão certamente contra-argumentariam: esta eleição é municipal e a agenda deve ser propositiva, bater no governo não dá voto nem ajuda a ganhar o pleito. Este argumento é em parte verdadeiro: é claro que os candidatos à prefeitura e vereança devem apresentar seus projetos e ninguém está aqui dizendo que a campanha deve se resumir à pancadaria nos adversários. A campanha eleitoral, porém, é também o momento que existe na arena pública para os partidos e políticos marcarem posição, delimitarem seus espaços e dizerem a que vieram.

Neste ano, apenas os partidos nanicos de ultra-esquerda estão aproveitando para marcar posição e criticar o governo. Mesmo assim, timidamente. DEM e PSDB parecem ter abdicado de fazer oposição. Em Salvador, ACM Neto está vendo sua campanha naufragar depois que o PT botou no ar a famosa frase em que ele prometia bater no presidente Lula. Ao invés de reforçar a postura oposicionista, o herdeiro do carlismo só faz se desculpar pelo "mau momento"...

No fundo, além da altíssima popularidade de Lula, que em grande parte se deve ao excelente momento da economia nacional, mas não só a isto, como querem fazer crer os críticos do governo – não há político com tamanho carisma e empatia com o povo brasileiro na história do país –, é preciso considerar um outro fator para explicar a falta de brios da oposição neste momento. A verdade é que o presidente Lula vem realizando um governo de perfil social-democrata, bastante diferente do que o PT propunha quando estava na oposição. Com isto, o presidente ocupou o espaço dos tucanos, livrando-se ao mesmo tempo da esquerda mais radical de seu partido, que acabou no PSOL e até agora não mostrou grande capacidade de mobilização popular. Tudo somado, do espectro ideológico que vai da esquerda ao centro, chegando até a um pedacinho da direita, Lula consegue transitar e se apresenta como a solução dos problemas nacionais pela via de um consenso negociado politicamente. Acabaram as tensões, o andar de baixo vive feliz e muito melhor do que nos tempos do bicudo Fernando Henrique Cardoso, o andar de cima também não tem muito do que reclamar.

Para o PSDB e o DEM, sobrou um mico enorme, porque nenhum dos dois aceita o papel de
partido de direita autêntico, com viés liberal-privatizante e/ou conservador e, o que é mais importante, com um projeto alternativo de governo. O DEM até que ensaiou este passo com a renovação das lideranças e a chegada de Rodrigo Maia à presidência nacional da legenda, mas o fato é que a "base" democrata não tem condições de suportar a distância do poder e acaba abrindo negociações, inclusive com o PT. Quanto ao PSDB, aparentemente o partido decidiu disputar o mesmo espaço do lulismo, seja com José Serra ou Aécio Neves. Ambos, cada qual com seu estilo, não fariam governos muito diferentes do atual. Em tese, Serra larga na frente porque tem maior recall e governa um estado rico e poderoso, mas uma candidatura vitaminada pelo presidente em 2010 pode perfeitamente manter o espaço que Lula já ocupou e até ampliar um pouco, caso o PMDB entre formalmente na aliança. Isto tudo, é claro, se não for o próprio Lula o candidato, mas neste caso este blog aposta que nem Serra nem Aécio entrariam na disputa (quem sabe Alckmin...).

No fundo, a oposição brasileira está zanzando como barata tonta. Não há por aqui um Álvaro Uribe para demarcar o espaço da direita. Na América Latina toda, aliás, Uribe é a exceção, a regra são governos de centro-esquerda ou esquerda, uma tendência bastante compreensível depois da catástrofe das gestões neoliberais no continente (Collor, Menem, Cardoso, Fujimori, Salinas e tantos outros de triste memória). Se esta onda vai durar, depende muito da conjuntura política de cada país – está aí a crise boliviana que não deixa mentir. Até agora, a população da região está aprovando as gestões de seus presidentes e presidentas por várias razões, mas uma em especial: a economia está "bombando" e a vida das pessoas, melhorando bastante. É simples assim.

Fonte: Blog Entrelinhas

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