Finalmente os estudantes e a juventude entraram no foco das eleições municipais de São Paulo. Depois de um mês assistindo aos programas de televisão dos candidatos falarem apenas de saúde, transporte, trânsito e educação, alguém deu uma sacudida na mesmice. A proposta da Marta – internet grátis em toda a cidade – colocou a moçada na campanha. No Rio e em Porto Alegre, também surgiram candidatos adeptos, Jandira Feghali e Manuela D’Avila, respectivamente.
Logo no dia seguinte da aparição da proposta, Kassab respondia dizendo que ela só poderia tornar-se realidade se Marta, vitoriosa, inventasse uma nova taxa. Perdeu a chance de discutir o conteúdo da idéia.
A Folha de S.Paulo fez isso imediatamente: disse que a proposta não era exeqüível em quatro anos, mas talvez em seis ou oito. E que a qualidade também não poderia ser a mesma da internet paga. Deve ter razão nas duas coisas, mas como ela é dona da UOL, pode ser que tenha forçado um pouco a barra.
No dia 23, o jornal voltou à carga, dando destaque ao assunto. Desta vez, questionando os resultados obtidos pela gestão da ex-prefeita na implantação dos telecentros.
O assunto é quente. Mais de 40% dos paulistanos já têm computador ligado à internet em casa e mais de 25% acessam a rede mundial todos os dias. Dados do DataFolha, que é da Folha, dona da UOL. São números que não param de crescer, sobretudo entre os estudantes, do ensino fundamental ao universitário, que já nasceram ou cresceram conhecendo a nova tecnologia. Internet grátis com banda larga em toda cidade, interessa a eles. Parece algo tão novo como foi a criação dos telecentros públicos há anos atrás. Hoje, o “Programa de Banda Larga nas Escolas”, do governo federal, pretende conectar, até 2010, 83% dos alunos do País, através das escolas públicas.
A cidade conectada já é uma realidade em Berlim (vide o “Estadão” do dia 22) E também em Sud Mennucci, uma cidadezinha de 7.500 habitantes, situada no interior de São Paulo (veja o site da cidade).
Se a internet grátis poderá ser implantada em toda a megalópole em apenas quatro anos, é uma questão para os especialistas discutirem. Mas se começasse pela periferia brava da cidade, já seria um extraordinário avanço. Mesmo considerando que estamos falando de “internet” grátis e não “computador” grátis. A tendência óbvia é o preço da máquina cair mais e ficar mais acessível, até um dia ocupar o mesmo espaço da TV. Mas assim como nem todo mundo que tem TV aberta pode ter TV a cabo, nem todo mundo que comprar computador pode arcar com os custos de provedor e banda larga. Daí o espaço para os telecentros, as redes nas escolas públicas e as lan houses privadas.
Internet é assunto tão sério, mas tão sério, que merecia até mais: deveria ser política de Estado, com um departamento permanente e estruturado dentro da Secretaria da Educação, fazendo link com a da Cultura. Na França, o Ministério da Educação tem uma diretoria que se chama “diretoria de inovação, pesquisa e novas tecnologias”.
Pois, ao mesmo tempo em que devemos defender e facilitar o acesso livre e gratuito para todos, também não dá para esquecer que uma boa parte dos pais que têm filho e computador em casa reclama de duas coisas: que o filho não sai do computador e que só fica no orkut ou no msn, conversando com seus “250 amigos virtuais”. Ou seja, que uma parcela das crianças e jovens que têm o mundo à disposição não aproveita quase nada dele. Quando não se “emburrecem” diante da telinha, desaprendendo a escrever ou só perdendo tempo com bobagem. Ou sacanagem.
Internet é informação, é cultura, é lazer, é procura de emprego, é pesquisa, é trabalho. Se for tudo isso - e muito mais -, é bom que a proposta de cidade antenada 100% sacuda a poeira eleitoral do “eu fiz” ou do “eu vou fazer”.
E você, o que achou desta proposta? Já apareceu na tua cidade?
Fonte: Carta Capital
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