segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Wall Street tem seu pior dia após fracasso do Proer de Bush

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A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou o mega-Proer de US$ 700 bilhões para o sistema financeiro. Foram 228 contra e 205 a favor. A maioria dos deputados que votaram contra o ''plano de emergência de estabilização econômica'' são do Partido Republicano, do presidente George W. Bush e do candidato John McCain, aferrados aos dogmas do Estado mínimo. As bolsas do mundo despencaram após a notícia, que deixa a crise financeira fora de controle nos Estados Unidos, com forte repercussão global.


Henry Paulson acompanha o naufrágio de seu pacote

O maniqueísmo ortodoxo ficou explícito, por exemplo, nas palavras do republicano do Texas John Culberson: ''É uma expansão sem precedentes do poder federal, inaceitável, que não se pode permitir, que nossos filhos não podem aceitar e que nunca vimos na história deste país'', acusou ele. ''Vamos dar um tempo para pensar'', agregou.

Os democratas, que têm maioria na Câmara, também contribuíram com sua cota para a derrota do Proer americano. Mesmo com o apoio do presidente Bush, dos dois candidatos, McCain e Barack Obama e das lideranças dos dois partidos, o plano proposto pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson naufragou.

O democrata conservador Lloyd Doggett, também texano, concordou com Culberson. Pediu ''uma outra solução que não esse gasto massivo do Estado federal''. E acrescentou o argumento de que ''Wall Street não paga mesmo nem um centavo''.

Uma economia sem governo

Bush previra uma votação ''difícil'' para o pacote negociado de maneira febril durante todo o final de semana. Mas a Casa Branca não esperava a derrota e seu ocupante declarou-se ''desapontado'' com a votação. Com ela, a maior economia do planeta dá a impressão de estar sem governo, no momento em que o mercado toma o freio nos dentes e se abala ladeira abaixo.

Um patético Henry Paulson (o secretario do Tesouro e pai do pacote derrotado) disse que vai consultar o presidente do Federal Reserve (ou Fed, banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, o presidente Bush, e o Congresso. Ele declarou que ''usará todas as ferramentas para ajudar o mercado'', na esperança de ressuscitar o plano.

A Casa Branca disse que o presidente se reuniria com sua equipe econômica ainda hoje ''para decidir o caminho a tomar''. Ele também continuará em contato com líderes dos dois partidos no Congresso.

''Obviamente estamos muito desapontados com o resultado desta tarde'', disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto. ''Não há dúvida de que o país está enfrentando uma crise difícil que precisa ser enfrentada.''

A derrota, a um mês da eleição presidencial de 4 de novembro, praticamente encerra o governo Bush enquanto ator político relevante.

Pacote contrariava bíblia ''neocon''

O Plano Paulson fora concebido depois do colapso do Lehman Brothers Holdings Inc, do socorro de emergência do Tesouro para a gigante American International Group Inc (AIG) e da reestatização na prática das agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, privatizadas em 1968.

O megapacote contrariava os dogmas liberais cultivados pelos neocons'' (neoconservadores, a corrente ideológica do governo Bush), ao apostar em uma forte intervenção estatal no mercado em chamas, que alguns chamaram ''estatizante'' e outros ''socializante''. Sua derrota deixa a crise à mercê da ''mão invisível do mercado''. Como agravante, banco Wachovia, o quarto maior do país, foi comprado pelo rival Citigroup em outro plano de ajuda para enfrentar as turbulências em curso desde a ''segunda-feira maldita'' (15 de setembro, duas semanas atrás).

Pior dia em NY desde o 11 de Setembro

O mercado, que já estava ruim, ficou ainda pior depois da notícia. A Bolsa de Valores de Nova York registrou nesta segunda-feira sua maior queda em pontos em um único dia na história. O índice Dow Jones fechou o dia com queda de 6,98%. Já o índice da bolsa eletrônica Nasdaq recuou 9,14%.

O Dow Jones acumulou uma queda de 777,68 pontos ao longo do dia. A baixa recorde anterior era de 721,56 pontos, alcançada no primeiro dia de negócios na bolsa de Nova York após os ataques de 11 de setembro de 2001.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 10% e foi acionado o sistema de circuito breaker - o mecanismo que interrompe o pregão, na ocorrência de movimentos bruscos, para amortizar a queda. O índice Bovespa terminou a segunda-feira com queda de 9,36%, depois de alcançar baixa de 13%.

Na Europa, as incertezas a respeito da votação na Câmara também derrubaram as bolsas, que fecharam antes da divulgação do resultado da votação. Em Londres, o FTSE fechou em queda de 5,3%; em Paris, o CAC fechou com baixa de 5,04%, e o Dax, em Frankfurt, encerrou a segunda-feira com recuo de 4,23%. As praças européias foram protegidas pelo fuso horário, pois a notícia chegou a elas já no fim do pregão de segunda-feira.

Os analistas acreditam que na falta do pacote o Tesouro dos EUA vai avaliar caso a caso as dificuldades que tendem a aparecer em Wall Street. Mas depois desta nova ''segunda-feira maldita'' ninguém arriscava uma previsão sobre as próximas semanas.

Fonte: redação Vermelho, com agências.

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