sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A tempestade ensaiada e o ato falho de Bush

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[Esta foto é obra do Boca no Trombone e não da Carta Capital!]

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por Luiz Carlos Azenha

"Alguma coisa suspeita... substancial será aprovada", disse sexta-feira de manhã, na Casa Branca, o presidente George Bush, cometendo um ato falho ao falar do plano de U$ 700 bilhões para resgatar o mercado financeiro.

Enquanto ele discursava a bolsa de valores de Nova York vivia os primeiros momentos do que com certeza seria um dia tumultuado. Bush afirmou que era normal o impasse no Congresso entre democratas e republicanos antes da aprovação do pacote de ajuda.

Garantiu que mais cedo ou mais tarde o plano será aprovado. O Congresso deveria entrar em recesso hoje, já que deputadores e senadores concorrem à reeleição em 4 de novembro.

Os democratas suspeitam fortemente de que o plano de resgate em andamento "é o da campanha de John McCain", como disse um dos líderes do partido que controla o Congresso. Um acordo que parecia a caminho afundou com a resistência de deputados da base republicana, que classificam a intervenção governamental de "socialista".

A suspeita dos democratas é de que John McCain, ao suspender sua campanha e viajar para Washington, injetou a campanha presidencial no debate sobre o pacote. Se não houver acordo ele sai ganhando, já que boa parte do eleitorado manifestou reservas em relação ao uso de dinheiro público para salvar Wall Street.

Mas o mais provável é que algum tipo de acordo será fechado. Com isso McCain terá atingido seus dois objetivos: demonstrar aos eleitores que é um homem de ação e que é capaz de negociar com os democratas. Isso além de adiar o primeiro debate presidencial com o democrata Barack Obama marcado para esta noite em Mississipi, um debate desconfortável já que nele Obama pode lembrar como as posições de McCain na economia nunca foram muito diferentes das do presidente George W. Bush.

Não há dúvida, no entanto, de que existe forte oposição ao plano e que ela se expressa através dos deputados republicanos, mas não só deles. Economistas independentes, como o jornalista Paul Krugman, continuam afirmando que o "diabo está nos detalhes" e que não se sabe, por exemplo, quanto é que o governo pretende pagar pelos títulos podres das instituições financeiras.

É nesse detalhe que reside a grande pergunta dos contribuintes: o governo vai "doar" dinheiro público para salvar aqueles que causaram a crise? Pagará 50 centavos de dólar por um papel que vale 10? Qual é a garantia de que esse papel, lá na frente, dará retorno aos cofres públicos?

Com a campanha eleitoral para todos os efeitos suspensa, o Congresso imerso no debate e Wall Street experimentando algumas horas de tempestade, passou quase batido o fato de que os Estados Unidos acabam de experimentar a maior falência bancária da história, acelerada depois que correntistas começaram a sacar dinheiro das contas do Washington Mutual. O banco, que tem mais de U$ 300 bilhões em bens, sofreu intervenção ontem à noite e será parcialmente incorporado pelo JPMorgan.

Fonte: Carta Capital

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