terça-feira, 30 de setembro de 2008

As razões da oposição ao Plano Paulson

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Proposta do Secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, desperta forte reação na sociedade ao propor o resgate dos banqueiros ricos e não dos devedores pobres. Entre os que se opõem a proposta estão nomes como George Soros, Paul Krugman e Michael Moore. Segundo Moore, republicanos estão usando seus velhos truques de provocar medo e confusão "para continuar eles mesmos e o 1% da classe alta, obscenamente ricos".

MÉXICO (DF) - A manhã do dia 29 de setembro de 2008 foi marcada pelo debate no Congresso dos Estados Unidos sobre a proposta elaborada pelo Secretário do Tesouro, Hank Paulson, para comprar ativos dos bancos de investimentos. Essa iniciativa, encontrou forte reação na sociedade que a recebeu como um resgate dos banqueiros ricos e não dos devedores pobres, e gerou também uma polêmica internacional. Diferentes vozes, como a do investidor George Soros, o professor Paul Krugman e o cineasta Michael Moore, entre outros, expressaram sua reprovação à idéia. Uma lista de professores norte-americanos assinou uma carta onde, em essência, criticam o conceito de resgate bancário, considerando-o como um subsídio aos investidores pago pelos contribuintes. Os investidores que assumiram os riscos também devem pagar as perdas, diz a carta.

Nem todas as quebras, acrescenta o documento, envolvem riscos sistêmicos. Assim, nem a missão da nova agência que seria criada com os 700 bilhões de dólares de ajuda, nem o seu âmbito estariam claros. Se os contribuintes devem ser obrigados a comprar ativos suspeitos e opacos de vendedores preocupados, as condições, ocasiões e métodos de tais comprar deveriam ser claros e as operações de compra submetidas a uma supervisão. Essas condições não faziam parte do plano. A carta dos acadêmicos termina dizendo que se o plano for aprovado tal como formulado, trará efeitos para uma geração de norte-americanos. “Com todos seus problemas recentes, os mercados de capital privado são dinâmicos e inovadores e trouxeram uma prosperidade ímpar aos EUA. Debilitar esses mercados com interrupções de curto prazo é uma prática desesperadamente míope”, critica.

Michael Moore, cineasta crítico dos republicanos, afirmou que não importam o que digam e quantas palavras atemorizantes pronunciem, estão utilizando seus velhos truques de provocar medo e confusão para continuar eles mesmos e o 1% da classe alta, obscenamente ricos. Lendo os primeiros quatro parágrafos do artigo principal da edição de 22 de setembro do New York Times, pode-se ver do que realmente se trata: “No exato momento em que os formuladores de políticas trabalhavam nos detalhes do plano de 700 bilhões de dólares para socorrer o setor financeiro, Wall Street começou a buscar formas de se aproveitar disso. As empresas financeiras estão trabalhando para que sejam cobertas todas as formas de investimento problemáticas, não somente aquelas relacionadas às hipotecas. Ao mesmo tempo, as empresas financeiras estão manobrando astutamente para vigiar todos os valores dos livros das instituições financeiras nas quais o Tesouro planeja intervir, o que poderia garantir-lhes milhões de dólares ao ano em honorários. Ninguém quer ficar de fora da proposta do Tesouro para adquirir valores das instituições financeiras”. Incrível. Wall Street e seus defensores criaram esse desastre e agora vão limpá-lo como delinqüentes. Até Rudy Giuliani está trabalhando para que sua empresa seja contratada (e paga) para realizar “consultorias” sobre o resgate financeiro, denuncia Moore.

Criticada à direita e à esquerda, a iniciativa foi rejeitada por uma margem de 23 votos, 228 contra 205 votos no Capitólio, o que fez com que as bolsas despencassem no mundo inteiro. Após a decisão, Paulson disse que é preciso fazer algo, ainda que tenha reconhecido que o sistema está funcionando bem apesar de tudo. Nos últimos quatro meses, quebraram toda a banca de investimento menos Morgan Stanley e Goldman Sachs, cuja quebra foi evitada pela sua transformação em holdings bancários, com a idéia que o governo compre seus ativos. Até agora, de uma lista de vinte instituições expostas aos derivativos vinculados a seguros de hipotecas, dez deixaram de existir sem que tenha ocorrido nada de substancial nem na banca comercial nem no tipo de câmbio. O que está ocorrendo previsivelmente é que bancos maiores estão comprando por pouco dinheiro as carteiras das instituições que caminham para a quebra ou comprando a empresa quebrada inteira de maneira que siga com o mesmo nome ainda que, na realidade, seja agora uma divisão de um banco maior.

Os grandes compradores são Bank of America, Citibank e JP Morgan Chase que adquiriram Washington Mutual e Wachovia nos dias 27 e 28 de setembro, embora eles mesmos tenham rabo de palha. O possível fim, após a quebra das vinte instituições ligadas a este mercado de derivativos relacionados a hipotecas, é que bancos estrangeiros comprem esses ativos nos EUA a preço de remate. Na Inglaterra, quando quebrou o segundo maior banco hipotecário do país, Bradford & Bingley, ele foi nacionalizado pelo Tesouro. É o segundo banco a ser nacionalizado na Inglaterra nesta crise. O que ficou claro é que a opinião pública e a maioria dos políticos decidiram que resgatar banqueiros era um mal negócio.

Entre as conseqüências desta crise possivelmente esteja a necessidade de separar novamente os bancos comerciais dos bancos de investimento e supervisionar todas as operações da banca comercial, assim como estabelecer controles para esse tipo de operações que, por serem livres e globais, somam 547 bilhões de dólares. O retorno da acumulação financeira à acumulação real fará com que os anos vindouros sejam de baixo crescimento para os EUA, mas de consolidação das novas tecnologias e de uma nova ordem emergente com suas novas instituições. O capitalismo financeiro, tal como o conhecemos desde a década de 70, chegou ao fim.

Oscar Ugarteche, economista peruano, trabalha no Instituto de Investigações Econômicas da Universidade Autônoma do México, e integra a Rede Latinoamericana de Dívida, Desenvolvimento e Direitos (Latindadd). É presidente da ALAI e integrante do Observatório Econômico da América Latina (Obela).

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: Agência Carta Maior

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