sábado, 27 de setembro de 2008

O padrão de vida do trabalhador brasileiro

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por Waldemar Rossi

Os meios de comunicação vêm afirmando que o padrão de vida do povo brasileiro tem melhorado nos últimos anos. E os defensores do modelo governista usam isso para defender o governo Lula dos que se opõem às suas diretrizes políticas. Seria verdadeira essa afirmação de que há melhor padrão de vida para o povo? A inclusão no mercado de trabalho de uma parcela que esteve desempregada anos atrás é um indicativo dessa melhora? Pois é isso principalmente que se afirma por aí.

Entretanto, segundo os dados fornecidos pela Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNAD), o salário-mínimo (SM) tem sido o teto do ganho para mais de 25 milhões de trabalhadores brasileiros, o que implica em que muitos desses 25 milhões (27,55% dos que são considerados em idade de trabalho - PEA) ganham menos que esse mínimo. Porém, em 2001 eram 18 milhões os que estavam dentro desse limite.

Portanto, muito mais trabalhadores entraram na rede dos sub-assalariados. Isso se pudéssemos considerar o atual mínimo como o salário que satisfaz as necessidades básicas de uma família padrão (casal e dois filhos menores), como estabelecido por lei.

Avançando na análise dos dados, vemos que há uma outra parcela que está um pouquinho melhor que a primeira. São os que ganham até 2 mínimos. Em 2001 eram cerca de 16,6 milhões. Hoje são praticamente 28 milhões (30,8% do PEA). Aqui também houve crescimento do número dos que entraram nesta faixa um pouco menos ruim que a primeira.

Outro dado a ser considerado é que cerca de 8% apenas têm rendimento entre 2 e 3 mínimos, isto é, até no máximo R$ 1.245,00. Há, ainda, pelo menos 9,4 milhões que declararam não ter rendimento algum.

Como contradição, a pesquisa revela que são apenas 750 mil cidadãos que têm ganho superior a 20 mínimos, portanto, acima de R$ 7.600,00 mensais.

Somando todos esses dados fornecidos, chegamos à conclusão de que mais de 72% dos trabalhadores brasileiros têm rendimentos baixos, insuficientes, portanto, para a manutenção de uma família padrão e em conformidade com os direitos básicos universalmente reconhecidos e recomendados. Para que o leitor possa ter idéia do que isso significa, devemos retomar as informações do DIEESE de que o salário mínimo, de acordo com a lei em vigor, deveria ser algo em torno de R$ 1.950,00.

Os dados da PNAD não revelam se esses que migraram de uma faixa para a outra tiveram melhoria de vida ou se seus salários foram rebaixados, jogando-os para as faixas menos favorecidas. Pelo que significam numericamente, tudo leva a crer que migraram para baixo, pois a rotatividade da mão-de-obra das últimas três décadas tem sido altíssima e, segundo todas as pesquisas, a cada novo emprego o trabalhador tem que amargar com um novo rebaixamento do seu ganho mensal.

Já dizia um "presidente" militar dos tempos da ditadura: "O Brasil vai bem. O povo vai mal." O Brasil capitalista vem crescendo, ainda que em índices inferiores ao necessário. Mas a renda socialmente produzida não é compartilhada. Vai para as mãos dos banqueiros e demais empresários nacionais e internacionais, ou para as mãos dos latifundiários exportadores, desses que exploram seus funcionários até com trabalho escravo. O que muitos não querem ver é que o padrão de vida do povo vai sendo progressivamente nivelado por baixo, até que sejamos todos párias nessa sociedade excludente e marcada pela barbárie praticada pelos poderosos, todos comandados pelo neoliberalismo internacional.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

Fonte: Correio da Cidadania

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