segunda-feira, 29 de setembro de 2008

FLORESTA EM PERIGO - Desmatamento na Amazônia cresce 134% em agosto

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FLORESTA EM PERIGO

Desmatamento na Amazônia cresce 134% em agosto

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) preocupam o governo. Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, aponta período eleitoral como uma das causas do aumento e promete divulgar lista dos cem maiores desmatadores da Amazônica esta semana. "Criamos uma forla-tarefa para levar todos esses cem para o banco dos réus", garante Minc.

O desmatamento na Amazônia foi 134% maior no mês de agosto que em julho, de acordo com os números do Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter) divulgados nesta segunda feira (29) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em agosto, os alertas registraram 756 quilômetros quadrados de novas áreas desmatadas, em comparação com os 323 quilômetros quadrados detectados no mês anterior.

Os dados são ainda mais preocupantes se comparados com o mesmo período de 2007, quando o Inpe registrou 230 quilômetros quadrados de desmatamento no mesmo mês. Com base nesta comparação, o crescimento chega a 228%. Pelo terceiro mês consecutivo, o Pará foi indicado como o estado responsável pela maior área devastada. Em agosto, o Inpe registrou 435,27 quilômetros quadrados de desmatamento no estado, 57% do total. O segundo da lista é Mato Grosso, com 229,17 quilômetros quadrados de novos desmates, seguido por Rondônia, com 29,21 quilômetros quadrados.

Todos os números são baseados em imagens de satélite da Amazônia Legal, mas muito não pode ser contabilizado neste último cálculo. A cobertura de nuvens sobre diversos estados no período impediu a visualização de 26% da área, principalmente no Amapá e em Roraima, que “não puderam ser monitorados adequadamente”, de acordo com relatório do Inpe.

Durante o anúncio dos novos dados de monitoramento, o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, fez alusão ao período eleitoral como um dos motivadores do aumento do desmatamento, quando políticos não querem perder votos e, por isso, não tomam atitudes antipáticas contra práticas ilegais na floresta. “Nenhum prefeito quer ser antipático, nenhum governador que ser antipático, então, a turma do Ibama vai pra frente, mas tem que ter uma polícia para dar cobertura. Por isso, nós conseguimos do presidente Lula, e ele autorizou, a formação de uma força especial ambiental de combate aos crimes ambientais”, disse Minc.

De qualquer forma, a lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia sai essa semana. “Criamos um grupo de trabalho, uma força-tarefa, com a Advocacia Geral da União (AGU) e o Ministério Público Federal, para levar todos esses cem para o banco dos réus e para pegar aí uma prisão, de preferência, plantando muitas árvores até o resto da vida para pagarem os crimes ambientais que cometeram”, alertou Minc.

O ministro do Meio Ambiente já vinha alertando para o possível aumento do desmatamento na Amazônia nos meses que antecedem as eleições, mesmo antes do anúncio dos dados de agosto. A preocupação, segundo ele, era de que prefeitos e governadores evitassem medidas impopulares e deixassem de coibir crimes ambientais. “Não temos os dados de agosto, mas estou muito preocupado. Estou sobrevoando a Amazônia e tenho visto a floresta queimar em vários lados”, disse Minc após reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), no início de setembro.

Ainda de acordo com Minc, a suspeita é justa porque, historicamente, os meses anteriores às eleições são ruins em relação ao desmatamento. “Vi uma série de queimadas que ainda não estão tabuladas, mas tenho sobrevoado a Amazônia e tenho visto muitas queimadas em muitas áreas. Você fecha uma serraria em um lugar e, se não são criados empregos sustentáveis na mesma região, o sujeito vai desmatar cinco quilômetros adiante”, completou.

Fundo Amazônia motiva debate

Depois de quase dois meses da criação do Fundo Amazônia, ambientalistas ainda enxergam com ressalvas a iniciativa, cuja verba, segundo o governo, será investida em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento. Para Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, o fundo já começou de forma errada. "Não houve a participação de ninguém. Um belo dia, anunciaram o fundo e isso aponta para a falta de transparência", afirma.

Já para Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o fundo representa um passo importante para o país. "Se imaginarmos que há cinco anos o governo era contra qualquer tipo de quantificação por redução de desmatamento, o fundo é uma mudança muito positiva", diz ele. “O resultado vai depender de como o fundo for gerenciado. Ele é um passo importante, mas precisa ter uma participação efetiva da sociedade e mecanismo de avaliação periódica", pondera.

No início do mês de setembro, a Noruega doou US$ 20 milhões ao Fundo Amazônia, criado com o objetivo de captar recursos para ações de preservação da floresta. O anúncio foi feito durante reunião entre o primeiro-ministro norueguês, Jeans Stoltenberg, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. O valor total de doações da Noruega deve chegar a US$ 1 bilhão em 2015. Além de anunciar a destinação de recursos para o fundo, o primeiro-ministro assinou acordo de cooperação com o Brasil na área de meio ambiente.

Recursos como estas cifras são geridos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco estatal capta recursos privados e públicos a partir de doações voluntárias, sejam nacionais ou estrangeiras, para investir em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento.

De acordo com o chefe de Departamento de Meio Ambiente do BNDES, Eduardo Bandeira de Mello, o banco vai motivar o desenvolvimento do Brasil. "Dividimos as ações prioritárias para o financiamento em quatro grandes grupos: apoio às áreas protegidas, atividades produtoras alternativas e sustentáveis, desenvolvimento científico e tecnológico e desenvolvimento institucional dos órgãos que trabalham na região", explica.

Para Thais Iervolino, do site Amazônia.org, há, no entanto, um paradoxo: ao mesmo tempo em que o banco administrará a verba para ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, ele direciona seus recursos para, em sua grande maioria, projetos de mineração e produção de energia. Segundo ambientalistas, estas empresas são uma das principais causadoras do desmatamento na Amazônia Legal.

Fonte: Agência Carta Maior

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