segunda-feira, 21 de julho de 2008

Celso Amorim volta a criticar posição de países ricos

RODADA DE DOHA

Para o ministro das Relações Exteriores, proposta dos países ricos para a agricultura acabou incorporando todo tipo de exceção e privilégio para acomodar as alegadas dificuldades dos produtores destes países. "Países ricos têm usado uma lógica de dois pesos e duas medidas", criticou Celso Amorim.

BRASÍLIA - Em Genebra, na Suíça, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, criticou novamente a posição dos países desenvolvidos nas negociações agrícolas da Rodada Doha. Ele considera que o texto da agricultura ainda tem muitos pontos em aberto que precisam ser discutidos pelos países em desenvolvimento que formam o bloco G-20, grupo que reúne os principais países ricos e emergentes do planeta.

“Os países desenvolvidos dizem que já fizeram muitas concessões e que, graças a isso, as negociações agrícolas estão praticamente concluídas. A realidade é que o texto de agricultura acabou incorporando todo tipo de exceção e privilégio para acomodar as alegadas dificuldades dos países desenvolvidos, e o resultado é que muitos pontos estão em aberto”, defendeu.

O ministro disse que determinados países e produtos recebem tratamento específico no texto das negociações e enumerou alguns pontos que considera que estão em aberto, como a redução dos subsídios ao algodão:

“Os países ricos têm usado uma lógica de 'dois pesos e duas medidas'. Quando falam em cortes dos seus subsídios em agricultura, referem-se a valores 'consolidados' na OMC [Organização Mundial do Comércio], e os cortes propostos não prevêem, na prática, redução alguma dos subsídios hoje efetivamente praticados. Já quando criticam os países em desenvolvimento em Nama [comércio de produtos agrícolas e de bens não-agrícolas], só levam em conta reduções de tarifas aplicadas, e não das tarifas consolidadas na OMC”, criticou.

Amorim pediu aos países do G-20, que considera como “principais atores” da Rodada de Doha, assim como a outros blocos de países em desenvolvimento, que sejam ambiciosos ao negociar, mesmo que saibam de suas fragilidades políticas.

“Precisamos ser ambiciosos, mas também realistas. Estou preparado para levar em conta as limitações políticas que os países têm na área agrícola. Mas eles precisam saber que isso tem conseqüências em outras áreas. Não podemos chegar a um resultado desequilibrado. Como eu já disse, um carro usado pode ser útil. O que não se deve é pagar o preço de um carro novo por um usado”, comparou.

Fonte: Agência Carta Maior
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