sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Inclusão Digital - entrevista de Soninha para a Revista Rede - fonte: http://www.tid.org.br

" Não se pode falar em trabalho, cultura, lazer, participação política e cidadã, sem considerar o mundo digital, as informações e articulações possíveis pela internet. A rede é um instrumento de transformação. "


Por Revista ARede

Mais gente para mexer na panela do poder - Vereadora Soninha

A vontade de transformar a sociedade é o fio que costura as muitas (muitas mesmo) iniciativas da vereadora Sônia Francine, a Soninha (PT/SP), nas áreas de educação, cidadania, democratização dos meios de comunicação e da produção cultural, meio ambiente, inclusão digital e software livre (todos os micros do seu gabinete rodam em plataforma aberta).

Ela é responsável pelo projeto que institui o programa de Educação Comunitária, já sancionado pela prefeitura, e também pelo que cria o Conselho Municipal de Inclusão Digital e os Conselhos Gestores dos Telecentros. Está presente em várias Comissões da Câmara: da Mulher, da Juventude, na Comissão de Constuição e Justiça, e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a exploração de trabalho escravo com imigrantes bolivianos em São Paulo.

Acredita que uma das funções do vereador é aproximar o cidadão da política. E identifica dois canais importantes para ampliar a participação social nas decisões do poder – os conselhos, que são fóruns para debater políticas públicas; e a internet. Segundo Soninha, a conjugação desses canais conseguiu, por exemplo, levar à periferia da zona sul de São Paulo uma vaca da Cow Parade - evento internacional que, entre setembro e novembro, instalou pelas ruas da cidade esculturas de vacas, pintadas e projetadas por diferentes artistas.

Outro sinal concreto da força de intervenção política da rede, diz ela, foi a sua eleição, com uma campanha concentrada no uso de e-mail, site e blog. As pessoas davam risada. Mas ela não liga: “a internet tem sim a capacidade de mexer na panela”, diz a vereadora, eleita com 50.989 votos.

Verônica Couto
ARede – Os Conselhos Gestores dos Telecentros e o Conselho Municipal de Inclusão Digital serão implantados?

Soninha – O projeto foi aprovado em duas votações. Entre uma e outra, soubemos que o Sérgio Kobayashi, secretário municipal de Comunicação, daria parecer contrário. Não para o Conselho Gestor dos Telecentros, com o qual está de acordo, mas para o Conselho Municipal de Inclusão Digital. Porque, do seu ponto de vista, submeter as decisões da prefeitura a um conselho poderia atrapalhar o ritmo do projeto.

ARede – E não há, de fato, esse risco?

Soninha – A gente precisa admitir que há. Eu tenho pavor de assembleísmo: você cria um conselho, um fórum, um comitê, um conselho gestor, um grupo de trabalho. É compreensível esse temor, porque as decisões precisam ser rápidas na adminstração pública. Por trás disso, contudo, a preocupação do secretário era outra. Por exemplo, ele teme que o Conselho Municipal de Inclusão Digital seja mais um fórum em defesa do software livre.

Embora tenha se comprometido publicamente a não tirar o software livre dos telecentros onde já está implantado, Kobayashi quer ter o direito de abrir novas unidades com software proprietário. Argumenta que o suporte para a plataforma aberta é caro. O que deveria ser mais uma razão para formar gente capaz de mexer em software livre, uma mão de obra competitiva. Outra questão do secretário envolve as doações. Ele pergunta: se Microsoft doa um telecentro, com 20 máquinas, dá para recusar? O que é melhor, ter um telecentro com 20 máquinas com Windows ou não ter telecentro? Ele realmente acredita nisso, e avalia que o Conselho Municipal seria mais uma trincheira. Mas o conselho é paritário (com membros da prefeitura e da sociedade), e pode até se que seus representantes, contra minha vontade, preferissem ter telecentro com software proprietário, se o preço de não ter é um telecentro a menos. Para isso serve um conselho, para ser um fórum de discussão.

Outro argumento do secretário é que, com o Conselho, as pessoas vão pensar que a prefeitura tem a obrigação de fazer telecentro. E é isso mesmo. Trata-se de um item novo e fundamental da pauta de política pública, uma necessidade básica: educação, cultura, esporte, lazer e inclusão digital. É claro que a prefeitura tem que fazer. Além disso, os telecentros são apenas uma das ações de inclusão digital. O conselho poderia indicar outras, como incentivos fiscais para a iniciativa privada fazer cibercafés. O secretário já deu parecer contrário ao Conselho de Inclusão Digital, mas afirmou que não vai fazer dessa questão um cavalo de batalha. Por isso, nosso próximo passo será conversar com o Gilberto Natalini, titular da Secretaria de Participação e Parcerias, para a qual está sendo deslocada a responsabilidade pelos telecentros. Só depois desse encontro, teremos uma expectativa de prazo para a implantação dos conselhos.

ARede – Por que um Conselho de Inclusão Digital? Melhor ser capaz de buscar informações do que estudar mitocôndrias.

Soninha – Não se pode falar em trabalho, cultura, lazer, participação política e cidadã, sem considerar o mundo digital, as informações e articulações possíveis pela internet. A rede é um instrumento de transformação. Tem a capacidade de mudar a vida de uma pessoa e dá a ela a possibilidade de interferir sobre muitas coisas. O contato que você pode ter com governos e mídias, a pressão que você exerce num veículo de comunicação, da sua casa, com seu e-mail, é sensacional. E é também mais um argumento do quanto o vestibular faz mal à sociedade. O vestibular é nocivo, primeiramente, pela maneira como seleciona as pessoas. Não tem cabimento o que se exige de um candidato à faculdade de Cinema, de Jornalismo, de História. Eu passei no vestibular e fiz Cinema na USP, mas não me conformava em ter que estudar tabela periódica, mitocôndrias. Talvez outra pessoa tivesse muito mais talento, potencial e capacidade para o curso do que eu, mas não sabia das mitocôndrias. E o vestibular também é nocivo porque condiciona toda a educação para esse objetivo. Ou seja, você fornece conteúdo para as pessoas, e elas devem saber devolvê-lo numa determinada formulação. É a contramão da história. Mesmo que esse conteúdo fosse relevante – cinema para cinema, história da arte, semiótica -, não é assim que a vida funciona atualmente.

Você não precisa receber conteúdo pronto, mas, sim, aprender a procurar, selecionar, avaliar, comparar e utilizar a informação. Isso que todo mundo com acesso à internet faz o tempo todo. Deveríamos estar formando pessoas capazes de buscar e selecionar informação, o que poderia ser feito num telecentro, ou no seu Computador Popular – Deus queira que esse negócio vingue. Hoje em dia, entre os objetos de desejo já estão a televisão, o CD player – na favela, as pessoas compram o sistema de som em 80 prestações nas Casas Bahia, e com disqueteira de seis CDs, mas ainda não o computador. E é legal que surja esse tesão pelo computador. Tem que ter telecentro e também computador em casa. A idéia de inclusão digital revela o quanto o nosso sistema educacional é medieval.

ARede – Nessa direção, explique um pouco o Programa Municipal de Educação Comunitária.

Soninha – Ele parte do princípio de que as escolas devem ser abertas à comunidade, para benefício de ambos. Não basta abrir a quadra no sábado para jogar bola. A idéia é ter, além da escola aberta para uso da quadra e da biblioteca, outras atividades dirigidas à comunidade; e atividades externas para que os alunos conheçam, interfiram, critiquem e estudem o seu entorno. O objetivo é promover esse intercâmbio e buscar a participação da comunidade nas atividades letivas, nas regras, e porquês da escola. A expressão escola aberta já se tornou um chavão, que os governos propõem para valer ou para inglês ver – casos que se resumem a deixar usar a quadra. Mesmo quando é uma política para valer, sincera, depende muito do interesse do diretor, do coordenador pedagógico ou de um professor que compre essa briga. Por isso, o Projeto de Lei cria oficialmente, em cada escola, a figura do educador comunitário. Esses educadores passam por um curso de extensão universitária com 120 horas, que foi criado pela Secretaria Municipal de Educação, este ano, em parceria com a USP Leste e com a ONG Cidade Escola Aprendiz. E podem se candidatar à função na sua unidade. O projeto previa que fossem eleitos pelos Conselhos Escolares, mas esse item foi vetado.

ARede – Por que os Conselhos são relevantes? Já é oficial: um educador comunitário em cada escola.

Soninha – O vereador tem duas funções básicas: legislar e fiscalizar. E acredito ainda em uma terceira: aproximar as pessoas da política e a política das pessoas. No meu gabinete, a gente fica o tempo todo pensando em formas de traduzir a política e fazer com que as pessoas percebam por que elas deveriam e como elas podem participar. Isso envolve desde o site, o blog, a newsletter (mantidos pela equipe de Soninha na internet), o nosso material impresso, até a minha disponibilidade de debater; e também a criação de mecanismos legais de participação, como os conselhos. Cito o projeto de plebiscito e do referendo (Lei nº 14.004/2005) e as propostas de criação de vários conselhos municipais: o de Inclusão Digital, o de Juventude, e os Conselhos Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no âmbito das 31 subprefeituras da cidade. Além dos que já existem: de Saúde, de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), os Conselhos Tutelares, eu mesma sou do Conselho Municipal de Políticas Públicas de Drogas e Álcool (Comuda), entre outros. E há os conselhos de representação da sociedade: será criado, por lei, o Conselho Gestor dos Telecentros; já existe o Conselho Gestor das Unidades de Saúde, o Conselho Escolar, e ainda pensamos em sugerir um Conselho Gestor de Biblioteca. Os conselhos são um canal de participação importante, porque estão mais próximos do cidadão do que o vereador.

ARede – Você defende a democratização da comunicação. O prefeito sancionou a lei que municipaliza a outorga de licenças para rádios comunitárias em São Paulo (saiba mais), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão manifestou intenção de recorrer à Justiça, mas não recorreu. Essa lei vai funcionar?

Soninha – Acredito que a Abert só não recorreu, porque o Serra ainda não regulamentou a lei. Sabemos, e o governo também, que esse projeto caminha no fio da navalha da constitucionalidade. Aliás, foi uma superboa notícia a sanção pelo prefeito, porque seria muito fácil e confortável para ele vetar, alegando inconstitucionalidade. Foi muito legal e corajoso, porque ele sabe que vai brigar com a Abert. E acredito que, por isso mesmo, a regulamentação está demorando – porque é um trabalho difícil. Mas vai sair. ARede – A internet pode abrir brechas na opinião formada pelos grandes veículos de comunicação? Soninha – Acho que sim. Mas devemos lembrar que esse critério da massificação também é deles. Prefiro acreditar que as coisas não precisam ser massificadas, que podem ser transformadoras dentro de um pequeno grupo.

Na época da MTV (Soninha foi VJ do canal pago MTV), as bandas queriam saber como ter sucesso. E a gente discutia que tipo de sucesso era esse. Não precisa vender 1 milhão de discos. Se o cara conseguir viver de música, daquilo que gosta, já é sucesso. Se isso significa vender 10 mil cópias, com o CD que ele quis fazer, e, se, graças a essas 10 mil cópias, faz shows para aquelas 500 ou mil pessoas, por que não chamar isso de sucesso? Há várias formas de sucesso. A Monstro Discos, em Goiânia, funciona desse jeito. Esse movimento é muito comparável ao circuito dos blogs e da produção independente via internet. O Instituto, por exemplo, provavelmente nunca apareceu na Globo, mas é capaz de provocar transformação. Trata-se de um grupo com Djs e músicos, que já produziram Sabotage e Racionais, e fazem o programa Vitrola Invisível, no UOL. Não atingem os milhões de visitantes do UOL, mas fazem aquele barulhinho deles, para aquelas milhares de pessoas, e formaram um mundo à parte.

Existe outro exemplo importante do poder de influência da internet: a minha eleição. Foi uma campanha barata, pouco visível – segundo os conceitos normais de visibilidade –, e que deu certo. As pessoas reclamavam comigo: cadê a sua campanha, como você está fazendo? Com debates e muita internet. A gente fez um site de campanha, para dizer o que eu propunha, publicar as notícias e a agenda de eventos, arrecadar fundos e divulgar que eu era candidata. Nas reuniões do PT, as pessoas davam risada, quando eu contava que estava fazendo a campanha pela internet. Houve quem perguntasse se, só porque eu era da mídia (Soninha é colunista da “Folha de S. Paulo” e comentarista do canal pago ESPN Brasil), não precisa fazer banner de poste.

ARede – Você tem um site, um boletim semanal por e-mail, um blog, um e-mail na Câmara. Como é o retorno pela rede? A favor do computador popular, com conexão à web, e telecentros.

Soninha – Recebo pedidos, reclamações, denúncias. E também comentários sobre os projetos de lei. Certa vez, a Comissão de Juventude da Câmara foi a uma escola da zona sul apresentar o projeto que estimula a formação de grêmios. Estavam reunidos vários grêmios, com uma pauta formal de reivindicações. No meio do debate, um menino, meio sem graça, resolveu pedir uma vaca da Cow Parade para a zona sul. Escrevi sobre isso no site e houve uma repercussão enorme. A maioria favorável, com mensagens dizendo: é isso aí, eles têm direito a ter beleza também, não é só comida, que legal que eles pediram; e só uma criticando – ah, esses vereadores não têm o que fazer mesmo, que bobagem. Explicamos o que tinha acontecido aos organizadores da Cow Parade e eles colocaram a vaca na zona sul. Acredito que não foi porque eu pedi, nem só porque o menino queria, e sim, graças à repercussão na rede. Dias depois dessa história, a “Folha de S. Paulo” a citou num editorial. Então, definitivamente, acredito que a internet tem capacidade de mexer na panela. Esse pessoal, lá na zona sul, tem Orkut. Os meus alunos de curso de inglês, na Brasilândia (zona norte de São Paulo), moram em favela. Eu não sei onde, mas eles usam o Orkut. Na casa de um deles, um barraco na favela, tem computador. Todos, com idades entre 13 e 14 anos, têm e-mail, estão na rede e são interessados pelas coisas. A internet também funciona como um filtro, para atingir um interlocutor interessado.

ARede – Não há um descompasso entre a transferência dos serviços públicos para internet, e a concentração do acesso nas classes altas?

Soninha – A solução é mesmo garantir o computador popular, o acesso em casa, cada um com o seu. Olha o celular: hoje em dia, na favela, no ônibus, em todo o lugar, todo mundo tem o seu. Da mesma forma, deveria haver um pacote de programação mínima, popular, para assegurar TV a cabo para todos. E também a internet – as operadoras deveriam dispor de um pacote mínimo acessível. Em Hong Kong, todo orelhão tem internet. Lindo, né? Mas acredito que é mais fácil o modelo do computador popular, com um pacote mínimo de conexão, e telecentros.

www.soninha.com.br – Traz os projetos de lei apresentados pela vereadora, e outros, que ela considera relevantes; notícias, artigos, fotos, links, e-mail, além da relação de Conselhos Consultivos – fóruns para a participação popular nas decisões do exercício do mandato.
http://gabinetesoninha.zip.net – Blog da Soninha.
www.camara.sp.gov.br – Câmara de Vereadores de São Paulo. http://www2.uol.com.br/instituto/ – Produtora independente Instituto.
www.monstrodiscos.com.br – Monstro Disco

Fonte: ARede


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Desembucha, Soninha! - por Bruno Ondei - fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br

Desembucha, Soninha!

Bruno Ondei, repórter iG em São Paulo (bondei@ig.com)
SÃO PAULO – A reportagem chegou à Câmara Municipal de São Paulo para entrevistar a vereadora Soninha Francine (PT). Ela estava em um evento realizado no primeiro andar do prédio. A encontrei correndo. “Vamos até ali, comer alguma coisa antes?” Pegou umas bolachas e voltou ao meu encontro.


Subimos ao seu gabinete. Sua sala, forrada de papéis, documento e jornais. "Vamos fazer a entrevista aqui ou prefere ir na laje?". Na laje!

Pulamos a janela de seu gabinete e saímos na laje do prédio da Câmara. O céu azul compunha o visual, que se abria para um Vale do Anhangabaú muito mais bonito de cima do que de baixo. Claro que era melhor filmar por ali!

“Você prefere fazer a entrevista em pé ou sentamos no chão?” No chão, é claro! E foi assim, sentada de pernas cruzadas na laje da Câmara que Soninha falou ao Desembucha! Impressiona o frescor e a simplicidade com que ela fala de política, drogas, televisão, sobre sua vida, enfim. Soninha, definitivamente, não é uma vereadora comum. Palmas para ela!

Você atualmente é vereadora em São Paulo, colunista em diversos veículos, presidente da ONG Instituto Gol Brasil, apresentadora da ESPN e mãe de três filhas. Como você divide o seu tempo com tantos afazeres?

(Risos) Dividindo muito mal. Hoje de manhã eu vi a minha filha mais velha e a mais nova, que moram comigo, pela primeira vez em quatro dias. Mas tudo bem, não estamos em litígio! (risos) Eu queria ter mais tempo com elas, elas queriam ter mais tempo comigo, mas tudo bem.

Eu diminuí muito a minha carga de trabalho na ESPN. Eu tinha um programa diário, mas agora faço somente de segunda e sexta-feiras. Chego muito mais tarde do que gostaria, não consigo mais participar da reunião de pauta, essas coisas. Quando chego lá agora, já está tudo adiantado, não consigo insistir na presença de um convidado, por exemplo.

Aqui (na Câmara Municipal de São Paulo) é onde eu trabalho mais, 10, 12 horas por dia, até de sábado. E falta ainda, viu. Eu estou sempre devendo uma resposta para algo, algum e-mail a ser respondido, presença em mil eventos onde eu gostaria de estar...Enfim, a divisão hoje é caótica, insustentável...Mas fazer o quê?

Com tanta coisa na cabeça, qual é hoje a sua grande paixão, profissionalmente?

É isso aqui, a Câmara, com certeza. E não é que eu seja apaixonada por política. Adoro política enquanto meio, para o que serve, o que a gente pode fazer para melhorar as coisas. Porque existe muita gente que está aqui no prédio porque ama a política em si. A comparação de forças o tempo todo é uma distorção violenta. Aqui as coisas acontecem muito mais com a intenção de derrotar o adversário político do que de garantir o melhor para todo mundo. É um mau hábito. Mas tirando isso, como a política te dá chances de fazer alguma coisa, nossa, isso me deixa muito feliz.

Fale um pouco dos seus projetos por aqui. O que você já conseguiu propor, aprovar...?

Cara, são muitas pequenas coisas. É difícil você conseguir como um vereador, logo de cara, uma grande conquista. Mas a gente teve um projeto de lei aprovado, por exemplo. Já apresentei uns 13 projetos, eu acho. Alguns por idéia minha, outros atendendo sugestões de pessoas. E um deles já foi aprovado.

Parece pouco, né? Mas é difícil aprovar um projeto aqui. As coisas demoram. Na verdade, tem que ser um pouco assim mesmo, você não pode fazer as coisas em ritmo de “toque de caixa”, tem que haver um certa demora para que tudo seja avaliado.

Agora, tem hora que entra a política, é óbvio. E não importa se o seu projeto é bom ou é ruim. A gente sugeriu a criação de um plebiscito para a aprovação do povo. Mas parece que o projeto vai ser aprovado somente pela metade, vamos ter que reescrever algumas coisas...É importante as pessoas poderem decidir as coisas.

Aqui em São Paulo, por exemplo, a prefeitura tem duas idéias para o trânsito da cidade, que é infernal: fazer rodízio o dia inteiro ou cobrar pedágio. Aí você chega para a população e fala: “Olha, uma das duas coisas vai ser implantada!. O que vocês preferem?”.

E tem também a questão do referendo, que depois que algo foi implantado, você chegar e perguntar: “E aí, você gostou do que foi feito?”. Como vai ter agora com o Estatuto do Desarmamento. O meu projeto explica na prática na verdade como tudo isso funcionaria...Foi uma vitória.

Existe também a possibilidade de você sentar-se com o executivo e discutir as coisas. Quando você vê que algo não está funcionando, você pode chegar e pedir uma reunião com um secretário. Vereador tem essa possibilidade ótima. Você pode pedir uma audiência com o próprio prefeito. Você chega para ele e fala: “Prefeito, vocês fizeram esse corte aqui para economizar um R$ 1 milhão”. Mas isso não é nada para São Paulo. E por causa dessa economia pífia vai prejudicar uma série de gente, como por exemplo, o fechamento dos Tele Centros (rede de internet gratuita para comunidades carentes). É uma coisa meio burra! Só porque fica vazio de domingo? Não interessa! Se só metade das pessoas vão lá aos domingos, é porque para essa metade é importante. E aí o prefeito reconhecer isso e dizer que você tem razão, é uma vitória, menor que seja. É muito legal.

Como é a sua relação com o prefeito José Serra?

É uma relação muito esclarecida, cordial. Já tomei a liberdade de pedir audiências com ele e tudo o mais. Primeiramente, aliás, a gente se encontrou por acaso em um evento, num camarote da prefeitura, e eu estava querendo muito tratar de um assunto com ele. Era sobre a questão no atraso do pagamento da lei de fomento ao teatro, que é quando a prefeitura investe direto em algo, no caso, o teatro.

Aí estava correndo a notícia de que a prefeitura iria acabar com a tal lei de fomento. Eu encontrei ele no Carnaval e disse: “Prefeeeeeeeito, que prazer, eu queria muito conversar a sério com o senhor algum dia!”. Aí ele falou: “Claro, eu te concedo uma audiência, é só pedir!”.

Aí a gente sentou, conversou e ele fez várias anotações. Algumas coisas ele discordou, mas o que ele concordou, ele mandou fazer. Então, no saldo, a conversa foi muito legal. Um vereador da oposição ser recebido e conseguir essa vitória é ótimo.

Outro dia eu fui com o Donato, vereador do PT, conversar com o presidente da CET. E a gente falou dos problemas que eram imensos e tal. E ele disse: “Que legal vocês virem aqui trazerem soluções!”. Ou seja, parece que as pessoas ficam na defensiva, se colocam como inimigos...Às vezes nós somos inimigos mesmo, não há acordo mesmo, mas às vezes tem...

E tem que ter mesmo, não? Só assim as coisas funcionam, não?

Claro! Eu prefiro fazes as coisas acontecerem, não ligo se o mérito vai ser ou não do prefeito. Cara, eu estou aqui para trabalhar pela cidade. Não é pelos meus eleitores, pelos do PT...É para trabalhar pela cidade toda.

E como você vem acompanhando essas denúncias em relação ao seu partido em âmbito nacional, você pode falar sobre isso?

Claro que eu posso falar. Eu quero que tudo seja apurado e, caso seja comprovado, que os culpados sejam punidos, por mais que essas coisas sejam difíceis de serem comprovadas.

É super doloroso, angustiante, triste, saber que é possível uma coisa dessas. Mas tem que tocar, não dá para querer isenção, imunidade para o meu governo, para o meu partido. Fico meio ressentida pelo fato de ter tido denúncias super graves no governo Fernando Henrique e que não tiveram um acompanhamento tão incisivo por parte da mídia. Como a história da emenda da reeleição. Falou-se tanto no pagamento de R$ 100 mil a cada um que aprovasse...

Eu sei que parece um pouco de pôquer isso, um revanchismo, “ah, você está me denunciando, vou te denunciar também”. Mas, pombas, agora dizem que tem a ameaça de uma crise institucional e que o Brasil pode virar uma Bolívia, um Equador.

Cara, mas a gente passou por isso no governo FHC, com nomes! Ministro tal pagou tanto para deputado tal para que ele votasse a favor da emenda da reeleição! É grave demais também! Então, me dói essa possibilidade, quero que seja investigado, doa a quem doer.

Há quanto tempo você se considera budista?

Eu decidi que eu queria ser budista desde 1998, mas desde 95 eu já vinha procurando mais sobre o assunto. Então, eu fiquei três anos curiosa, mas sem a intenção de virar budista. Só queria usar alguns recursos na minha vida para ser menos estressada.

Foi então que em 98, depois de alguma palestras, o que eu não concordava eu comecei a concordar, o que eu não entendia, eu passei a entender... Eu pensei: “Estou de acordo, vou ser budista”. Já tinha sido católica, não era mais, formalmente falando. Aí eu descobri que eu podia e queria ser budista.

O que o budismo trouxe de bom para a sua vida?

Cara, sempre me perguntam isso e eu tenho muita dificuldade para responder. Dar uma resposta objetiva, sem parecer papo furado. Mas lá vai: mudou a minha relação com todas as coisas. Com o meu trabalho, com as outras pessoas, basicamente, com dificuldades. O jeito que eu lido com dificuldades hoje é completamente diferente do que era. Algumas coisas que eu sempre soube, mas que colocar em prática era difícil. Saber é uma coisa, saber praticar é outra.

Hoje eu tenho noção que tudo é transitório. Eu posso estar aqui, no pior dia da minha vida, e amanhã eu sei que eu vou estar em casa tomando café e aquele outro dia vai ser apenas uma lembrança. É meio que isso aí, por exercícios de meditação, você acrescentar na sua vida coisas que você sempre soube. E acrescentar alguns outros parâmetros, agora sim, completamente fora da nossa lógica habitual. Hoje eu sou muito menos vulnerável aos problemas, à minha raiva. É lógico que eu também não sou Dalai Lama, não tenho raiva! (risos). Não é assim. Mas sem dúvida eu tenho menos medo, ansiedade, isso me domina menos do que antes. Essa é a grande mudança...

Tocando agora na polêmica da Revista Época. Você já sentiu algum preconceito em relação à entrevista que você deu? (na ocasião, Soninha afirmou à revista que fumava maconha)

Ah, mais de virem me contar do que eu sentir diretamente. Tem piadinhas que fizeram quando eu me elegi. Um vereador comentou, na verdade, e o assunto acabou espalhando. Ele falou: “Alguém vai ter que avisar para ela que não pode fumar na Câmara...”. Veja você! Aliás, eu não fumo mais, se é que isso faz diferença.

Mas a minha posição em relação a lei é rigorosamente a mesma. O que temos aí, a ilegalidade do comércio, causa um dano muito maior à sociedade do que o uso da maconha.

Então, houve essa piadinha... Até achei que esse vereador nunca fosse ser meu amigo, mas a gente acabou se dando bem. Eu, inclusive, preciso contar para ele que eu sei dessa piadinha dele... Um dia ainda faço isso.

Teve vereador dá última turma, que nem se reelegeu, que em discurso lamentou a minha eleição, como que pode alguém que defende as drogas se eleger. Tem essa idéia de que eu realmente defendo as drogas.

Em um momento você acabou num papel de “Soninha, a defensora da maconha”. Como você lidou com isso?

Ficar como defensora da maconha é super contraproducente para o que eu realmente defendo de verdade, que é a mudança da lei. Não é que eu quero uma lei a favor dos maconheiros, simplesmente, mas uma lei a favor da sociedade de uma forma geral.

Acho um absurdo o que você gasta de dinheiro, recursos materiais, bala de revólver!, para impedir que uma pessoa fume. A sociedade sofre uma barbaridade querendo impedir que uma pessoa fume ou compre maconha. As pessoas se matam por isso, é uma loucura. Dizer que eu sou defensora da maconha, portanto, é contraproducente.

O que mais me incomoda nessa história até hoje é que as pessoas não entendem o que eu estou dizendo. Claro, se elas acham um absurdo e não concordam com a mudança da lei, claro, tudo bem. Agora, se não entende nem o que diabos eu estou dizendo direito, como a gente vai discutir? Fora essa hipocrisia geral que me mata!

Por exemplo?

Quem nem agora, com a prisão do Edinho, filho do Pelé. Eu fico doente vendo como a imprensa cobre esta história, véio. Esse pessoal que escreve: “Edinho sucumbiu ao vício das drogas”. Internamente na redação todo mundo sabe que não é bem isso, que ele não é tadinho por ser viciado e tal.

Porque as pessoas assumem esse papel, entrevistam as pessoas, “vocês suspeitavam que ele era viciado em maconha?”, coisas ridículas. Cara que discurso louco!

E ele chegou a falar que é quimicamente dependente...

Então, a dependência da maconha acontece, é possível, tem gente internada e em tratamento. Claro que existe. É muito ruim quando você não consegue viver sem alguma coisa, tem essa dependência psicológica. Chocolate, mulher, automóvel, internet...Dependência existe, de maconha também.

Mas aí logo falam: “Ah, coitado do Pelé ter um filho viciado, um garoto que teve uma educação tão boa!”. Já mistura um discurso moral. Dependência existe. Se ele é mesmo, que se trate. Não podemos tratar isso como uma vergonha para a família e a imprensa tratar isso como vexame, é uma vergonha.

O pai de um menino desconhecido, quando sabe que o filho fuma, ao invés de pensar no bem-estar e querer tratar a dependência do menino, fica pensando somente na desonra. É desonra para uma família ter um filho diabético? Não, né? Mas com a maconha tem o diabo do viés moral e o próprio jornalista, que acabou de sair da faculdade, manter essa linha é demais. Não me conformo com os meus colegas.

Você tem algum projeto nesse sentido, pensa nisso?

Essa questão, num primeiro momento, é de âmbito federal, não é municipal, obviamente. Mas claro que tem muitas coisas que você pode fazer. São Paulo tem o Conselho Municipal de Álcool e Drogas, que reúne como todos os conselhos, representantes do poder executivo, tanto municipal como estadual, ONGs, empresários... E do legislativo, são três vereadores. Um indicado pela Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente, um pela Comissão da Juventude e outro de Saúde.

E eu fui indicada pela Comissão da Juventude. Portanto, tem muita coisa para se discutir sobre álcool e drogas no municio. Desde a legislação para venda de cigarros até uma proposta do Doutor Renato Laranjeiras, que faz parte do conselho, de existir uma taxa para vender álcool. E que essa grana fosse direto para um fundo de combate ao álcool e as drogas. Você que contribui para o problema do alcoolismo vendendo cerveja, rum, pinga, o diabo que for? Então você paga uma taxa para que ajude a financiar campanhas educativas, preventivas e o tratamento quando for o caso.

Tem outro projeto de lei bacana, do Paulo Teixeira, do PT, obrigando todas as casas noturnas a terem bebedouros. Isso é redução de danos. A gente sabe muito bem: se você só tomar cerveja, vinho, vodka, a chance de você um surto alcoólico é muito maior do que se você intercalar com água. A água hidrata. Fora que a água é super cara na balada. Então, ao invés de o cara pagar quatro reais num água por estar com sede, é claro que ele vai optar pela cerveja, entendeu?

Então, isso é política municipal que você pode fazer, uma história de educação mesmo, de instruir um professor de escola pública a descobrir este tipo de problema no aluno, até mesmo na casa dele. E não aquele estereótipo, o “aluno rebelde”. Instruir o profissional da área de saúde...

Pergunta do internauta - Márcia Messias (João Pessoa – PB). O que você se a sua filha dissesse para você que está fumando maconha?

Essa é a pergunta que muita gente faz. Para começar, falando em relação ao que defendo: se eu soubesse que minha filha fumasse maconha, eu nunca acharia que isso é um problema da polícia, que é um problema da Justiça, que ela está contra lei. A lei não fala em fumar! Fumar não é crime, isso é muito louco. Parece até que eu estou fazendo a maldita da apologia. Não é isso! Como você pode dizer que é crime você fazer algo que te faz mal? Então o torresminho é crime...O que é crime? Portar, ter em casa, vender.

Então, primeira coisa, Márcia, para você entender o que eu defendo. Se eu soubesse que a minha filha fuma, como o comércio é ilegal, o que iria me perguntar é: da onde vem, com quem ela está se envolvendo, quais os riscos ela está correndo, em relação ao próprio comércio ilegal.

A segunda preocupação seria saber que efeitos isso está tendo na vida dela. Ela passou a trocar outras coisas para fumar maconha? Ela namora menos, estuda menos...? Se sim, isso é ruim. Está fazendo mal para a garganta dela, está rouca, com tosse que não pára? Isso seria muito ruim. Eu sempre digo isso, a gente não começa a criar um filho quando ela é adolescente, começa lá atrás. “Não põe o dedo aí, olha para atravessar...”

Então, não seria uma revelação, eu conheço elas. Minhas filhas nem bebem. Em casa, nunca se cultivou a idéia de que, para se divertir, tem que se encher a cara. Minhas filhas nunca viram a menor graça em tomar um porre. Nem tiveram vontade de experimentar maconha, são super “na boa” quanto a isso...Nunca seria uma revelação.

Pergunta do Internauta – Fernando Silvino Pontes (São Paulo – SP). De onde nasceu esse interesse tão grande por futebol?

Eu sempre fui apaixonada por esportes. A minha casa não era muito ligada em esportes. Minha mãe era mais intelectual, até gostava e tal, mas era uma negação como atleta. Meu pai também nunca gostou muito. Mas tinha o meu avô, que era super animado, fazia boxe, era faixa preta de caratê, fazia remo...Então, eu era a redenção dele.

Eu queria fazer faculdade de educação física, mas não fiz porque engravidei no terceiro colegial e tive que mudar os meus planos na marra. Mas futebol não era favorito, eu gostava de basquete e vôlei, que era o que eu jogava. Quando parei de jogar, parei de me envolver tanto e o futebol ocupou o lugar. Aí acabou ficando em primeiro lugar.

Quando eu comecei a ir no estádio de futebol, aí eu pensei: “Não tem comparação, é por isso que é preferência nacional”. Começou a ter uma outra importância na minha vida, domingo passou a ser um dia muito especial. Esperar pelas mesas-redondas! Domingo não era mais motivo de angústia. E passou a ser muito importante mesmo...

Na MTV eu era da galera do futebol, fiz programas de futebol, bem quebra-galhos, mas acabei ganhando mais espaço. Até que me convidaram para valer, para fazer parte de uma equipe de comentaristas, na ESPN Brasil. Aí fiquei...

Pergunta do Internauta – Laíssa (Salvador – BA). Você seria candidata à Presidência da República?

Sim!! Acho que todo mundo que tem sonho de criança de entrar na política, pensa em ser presidente, véio. Sinceramente. Não sei se um dia eu vou fazer isso, mas, cara, eu adoraria. Ou então ser prefeita.

Quero usar esses quatro anos aqui como uma faculdade, fazer o máximo que eu puder. Campanha eleitoral é um saco, é uma puta guerra, desleal, injusta, se você quer fazer as coisas certas é muito mais difícil do que fazer as coisas erradas. Mas eu adoraria ser prefeita, por exemplo. Só não sei se vou ter saco para tentar ser prefeita. Passar pela disputa interna do partido, depois pela própria campanha eleitoral em si...

Mas, se eu eu pudesse, tipo, agora, demorou!


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SONINHA PARA PREFEITA DE SÃO PAULO - por Alexandra Peixoto

Sempre que estou no trânsito, seja de carro ou de ônibus, tenho a impressão que se estivesse a pé ou de bicicleta chegaria muito mais rápido ao meu destino. É impressionante quando, por exemplo, um ônibus enguiça na Av. Rebouças, quase chegando na Consolação, e simplesmente o corredor de ônibus para, tudo fica parado, para que, um por um, os outros ônibus possam sair de trás desse veículo enguiçado. Penso sempre nos donos de empresa, que devem, assim como a TAM, deixar a manutenção em último lugar na lista de prioridades.
Quando estou no carro, então nem se fala. Uma sucessão de buzinadas, fechadas, insultos, jeitinhos, fumaça, calor(porque não tenho ar no meu carro), e uma sensação de tempo perdido, de desperdício de vida. Ai me vem a lembrança de um artigo que li sobre como o prefeito de Paris está tentando resolver o problema de excesso de carros. Com uma idéia muito simples. Comprou milhares de bicicletas e as aluga para a população se locomover. São inúmeros pontos onde você pode alugar uma bike, e se locomover de uma forma muito saudável, tanto para quem pedala, como para o pedestre, quanto para a Mãe Natureza, que muito agradece.
Penso também, nesses momentos fatídicos e entediantes, sobre quando, finalmente, um político, prefeito ou governados teriam coragem e vontade políticas o suficiente para propor um abrangente projeto de ciclovias pela cidade de São Paulo. Seria realmente fantástico!
Eis que descubro algo bastante promissor, algo não, alguém: Soninha Francine.
Essa jornalista-comentarista esportiva-vereadora-ativista se meteu numa boa de uma empreitada: rompeu com o PT, desiludida, como muitos, com o excesso de conivência, complacência e omissão entre os pontos polêmicos que sempre o PT firmou opinião. Esses alinhamentos políticos com Sarney, Renan, Jobim, Sergio Cabral, Roberto Jefferson, essa corja de sanguessugas de sempre, realmente fez com que muitos petistas simplesmente desistissem.
Defendo o fim do mandato do Lula sem golpismos, e que o povo decida. Enfim, voltemos para a Soninha. Sei que a mulher é danada, brigona, defende o meio-ambiente, as comunidades carentes, os telecentros, as ciclovias. Tudo isso e mais um pouco. Tudo o que defendo também.
Ela está se filiando ao PPS(cujo presidente é Roberto Freire, para o qual fiz campanha quando este se candidatou a presidente em 1989 pelo PC do B, mas que agora anda meio contraditório, ambiguo, flertando com a direita descaradamente) e o partido quer lançá-la candidata à prefeitura. Bem, por tudo o que ela faz, e diz e por ser coerente entre uma coisa e outra, por ser mulher, além de ecologista, ciclista, humanista, por querer e fazer um mandato transparente e por exigir de seus colegas vereadores a mesma transparência que tanto os medra, por lutar pelos CEUS e Telecentros e sua revolucionária inclusão digital meu voto desde já é dela. Estou transferindo meu título para Sampa porque agora me sinto animada, me sinto instigada a participar dessa odisséia, dessa campanha, que tenho certeza será o que de melhor se apresentará como opção e o que de melhor pode acontecer a essa cidade em caso de vitória dessa cidadã guerreira.
MEU VOTO É DA SONINHA!
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Pronunciamentos da Soninha na Câmara de Vereadores de São Paulo (parte 1)- fonte: http://www.soninha.com.br

12/04/2005 - avaliação da Gestão Serra/ CEUs

SONINHA - Sr. Presidente, Srs. Vereadores, boa tarde a todos e a todas. É difícil resistir à tentação de comentar a pesquisa DataFolha, divulgada no fim de semana, e dizer: eu avisei, eu disse.
Há três meses a Bancada do PSDB faz Oposição nesta Casa ao governo Marta, ao invés de apresentar propostas, projetos, programas e planos - isso, se souberem quais são. E quando se trata de apresentar realizações da atual Gestão falam dos mais de cem mil buracos tapados, como comentei outro dia. Isso dá mais de cinco buracos tapados por dia. E nos perguntamos, como será que isso é contado, calculado? Como escaparam, então, os oitenta e poucos que há no meu trajeto, entre Vila Brasilândia, Perdizes, Barra Funda e Higienópolis? São milhares por dia e oitenta e poucos escaparam.
O Governo pode divulgar que limpou bueiros numa distância equivalente da Terra até a Lua, mas simplesmente dizer nada significa. Na verdade, as pessoas vêem, as pessoas caem nos buracos, vêem o mato alto, o lixo acumulado. Ou seja, há uma incoerência insuperável entre o que é dito e o que é feito. Não adianta simplesmente dizer. Além dessa incoerência, há também o foi dito durante a campanha.
Nos primeiros dias de Governo, o Sr. Prefeito estava lá, pessoalmente, na limpeza do Córrego Aricanduva, e afirmou: que absurdo todo esse lixo, é tão fácil, é só limpar, isso não pode ficar assim, de jeito nenhum. Meses depois, quando o Córrego Pirajuçara transbordou, claro, com um chuva fora de propósito, o Sr. Serra vai lá, pessoalmente, e diz que há sujeira, mas num nível aceitável. Assim vai mal, Prefeito. Era inaceitável! E por que não é tão fácil manter limpo o piscinão? Depois de três meses de Governo não é mais tão fácil. Outra contradição entre o dito e o que foi feito: uma das promessas de campanha foi manter e ampliar, fazer muito mais bem-feito o que havia sido feito na administração Marta. Durante a campanha eleitoral, eu disse a todos, se quiserem mesmo que o CEU, por exemplo, continue, votem na Marta porque não há garantia de fato de que o Prefeito Serra continue com os CEUs.
A atual Prefeitura não tem nenhum interesse em ampliar os CEUs porque acha desperdício, acha que é caro. A semana passada, o nobre Vereador Dalton Silvano, fazendo um jogo de palavras,
disse que o CEU é “CÊU”, não é “meu”. Realmente, não é meu, o CEU é de quem mora em região muito pobre, muito feia da cidade, e que agora tem escola.
Foram criadas 57 mil vagas escolares nos CEUs, e isso consta de divulgação do Diário Oficial da atual Gestão. E não são só escolas, mas bibliotecas, telecentros, ginásios poliesportivos, piscinas, cinemas, teatros, tudo aberto ao público. Não podemos sequer imaginar o que isso significa para quem não tinha um equipamento público nos setores de Cultura, Esporte, Lazer, além do que significa em termos de educação. Educação não é só aula boa, como o então candidato José Serra gostava de dizer em sua campanha. A educação dos nossos filhos, da classe média, inclui muito mais do que aula boa simplesmente, inclui todo um currículo complementar de Cultura, Esporte, Lazer e outras formas de convivência muito importantes.
A frustração da população é compreensível. A população foi enganada com a expectativa irreal de que bastava o Serra assumir, que, com planejamento e prioridade, as coisas iriam se resolver num estalar de dedos. O primeiro compromisso era manter o que existia de bom, realizado pela última administração, e mais do que isso, ampliar. Quer dizer, se a Prefeitura sequer está mantendo o que havia, quanto mais melhorar o que tem problemas muito sérios.
Muito obrigada, Sr. Presidente.



16/03/2005 - inclusão digital/ telecentros/ software livre/ Portal da Transparência/ o não-pagamento das dívidas da Prefeitura

SONINHA - Sr. Presidente, Srs. Vereadores, vou falar de um tema que me é particularmente caro: inclusão digital. Qual a importância deste tema e qual a minha preocupação em relação à atual Administração Municipal? Vou falar especificamente dos telecentros. Foram criados na última Administração 124 telecentros, os quais não só não aumentaram, como na verdade diminuíram. Depois de pouco mais de dois meses da atual Administração, São Paulo passou a ter 119 telecentros, ou seja, cinco foram fechados, alguns porque foram assaltados e tiveram seus equipamentos roubados. Não há previsão de reposição desses equipamentos e seus funcionários foram dispensados. Outros três, dos cinco fechados, eram conveniados com entidades que não receberam no início do ano os pagamentos devidos e por isso não tiveram condições de continuar oferecendo os serviços.
Por outro lado, havia seis telecentros completamente equipados e prontos para serem inaugurados: as unidades Inajá-Guaçú, Bernardino Prudente e Alfredo Rich, Vista Linda, Sítio da Casa Pintada e Natália Rosemburgo. Já que a idéia era não abrir essas novas unidades, pelo menos poderiam ter remanejado os equipamentos para as outras unidades que deixaram de funcionar por esse motivo.
Acho que devemos ter em mente que inclusão digital é um tema fundamental na nossa época. Inclusão digital tem de ser dieta básica, cesta básica na sociedade moderna. Tenho certeza de que qualquer um de nós sabe muito bem da importância que o computador e a Internet têm na nossa vida e no nosso trabalho. Nenhum de nós seria capaz de trabalhar sem essas ferramentas. Tanto é que, ontem, por ocasião dos vetos que foram derrubados aqui, muito se discutiu sobre a disponibilização de informações super importantes da Administração Pública na rede, no CEU ou na Internet, quando for esse o caso, para que os vereadores e todos os cidadãos possam acompanhar essa movimentação.
O computador é uma ferramenta fundamental; conectado à Internet, então, nem se fala, para acesso à informação ou mesmo acesso a nós, parlamentares. Para muitas pessoas, essa é a maneira mais fácil de entrar em contato conosco. A gente vive dizendo que a Casa é do povo, que a galeria está aberta; a TV Câmara São Paulo nos transmite. Mas para fazer contato conosco, talvez o mais fácil mesmo seja a Internet.
Assim, por mil motivos, o computador hoje em dia faz parte da nossa vida profissional, como estudantes, como professores, como cidadãos, indissociavelmente. Fico muito feliz em saber que o Governo Federal tem essa noção e investe muito nessa diretriz da inclusão digital. Desenvolveu, por exemplo, um programa de financiamento para aquisição de computadores a custo baixo, com prestações de valor acessível e já com a possibilidade de conexão com a Internet.
Em outubro vai acontecer a 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e um de seus temas será a inclusão social. Estão sendo realizados vários seminários de preparação para a conferência. No último dia 10 de março aconteceu um sobre o tema da inclusão social, porque não dá mesmo para falar em tecnologia e informação sem falar no que isso implica em termos de inclusão social.
Outra diretriz seguida pelo Governo Federal - também seguida pela última Administração Municipal, para minha felicidade e orgulho - foi a adoção do software livre. Significa não só o programa gratuito – o que é muito importante pelo impacto nas contas públicas (só em 2003 economizou-se 10 milhões de dólares pelo fato de ter sido adotado o software livre em lugar do software comercial) - mas é também uma ferramenta de emancipação e de conhecimento, na medida em que o software livre é aquele que permite acesso ao programa, ao sistema. Você tem possibilidade de investigar o programa e modificá-lo se encontrar nele um problema, uma possibilidade de aperfeiçoamento.
Outra coisa muito importante é a utilização da Internet como meio de divulgação de informações, direitos, programas, temas em debate. Quem entrar agora, por curiosidade que seja, no site do Governo Federal - www.brasil.gov.br - vai encontrar um menu enorme de informações ligadas aos diversos órgãos do Executivo Federal, dos diversos Ministérios.
Por exemplo, do Ministério da Integração Nacional você tem lá: “Debate sobre a Integração de Bacias”. Qualquer um pode ter acesso a essa discussão e participar dela. Vai saber, por exemplo, que o “Governo indica representante indígena no Conselho do Desenvolvimento Sustentável”; que a “Reforma Sindical já tramita na CCJ - Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal”; que “as escolas estão recebendo produtos apreendidos pela Receita Federal” - uma informação do Ministério da Educação. Vai saber que “as mulheres já são maioria na universidade” - como divulgou o Ministério da Educação. Vai ter até acesso a informações da Defesa Civil, do tipo: “Gaúchos enfrentarão temporais”!
Quer dizer, informações fundamentais para os cidadãos do Brasil todo. Claro que pela Internet você também tem acesso ao programa da declaração do Imposto Renda e a uma lista de crianças e adolescentes desaparecidos, divulgada pelo Ministério da Justiça; você pode conhecer o Sistema Único de Segurança Pública, a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2004, o registro de habilitação de veículos automotores. É um cardápio de informações detalhadas, aprofundadas, amplas que só poderia estar à disposição de qualquer um pela Internet.
Então, é fundamental investir nesse programa de inclusão digital, pensando na possibilidade da aquisição do equipamento e também do acesso ao equipamento público, de uso gratuito - lembrando, como observou o Vereador Paulo Frange, num projeto de lei, que nada é gratuito no serviço público na medida em que nós pagamos por todos os serviços prestados.
Outra coisa na qual o Governo Federal investiu é o Portal da Transparência, que, em dois meses, recebeu, 1,8 milhão de acessos e que disponibiliza informações sobre recursos do Governo que são repassados para cidadãos em programas como o Bolsa Família e para prefeituras. Agora, numa segunda etapa, vão estar disponíveis também as informações sobre repasses feitos a entidades da sociedade civil, como organizações não-governamentais.
Vejo, aqui, o Vereador Netinho, que ontem falou sobre o seu portal também em defesa do usuário do serviço público, do consumidor. Então, quero recomendar a vocês o site www.portaldatransparencia.gov.br. Claro que o acompanhamento do cidadão, do contribuinte, é fundamental no combate à corrupção, por exemplo. O acesso à informação é fundamental para você garantir que seu direito seja respeitado.
Mais um programa do Governo Federal, iniciativa digna de louvor, é a instalação, prevista para este ano, de 90 unidades da Casa Brasil. A Casa Brasil segue o modelo dos telecentros da administração de São Paulo, se bem que nos telecentros de São Paulo há 20 máquinas, metade delas reservada para cursos, para aqueles que não sabem ainda usar o computador ou todos os recursos que ele oferece, e a outra metade para uso livre. Ou seja, para o cidadão fazer um currículo, se for o caso, para buscar uma informação na Internet, para bater papo, se for o caso, porque é direito dele também usar o computador como instrumento de lazer. O Governo Federal vai criar essas 90 unidades da Casa Brasil com 10 computadores de acesso público, gratuito, que utilização o software livre, onde haverá também sala de leitura e um auditório para 50 pessoas.
Quero acabar lembrando que a essa altura, decorridos mais de 60 dias do atual governo, ele não pode continuar estendendo o não-pagamento daquilo que é considerado como importante e fundamental, com toda a justiça, alegando que a administração anterior deixou as dívidas se acumularem. Como se não houvesse, agora, em 2005, fluxo de caixa na Prefeitura; como se a Prefeitura não tivesse condições de saudar seus débitos, seus compromissos. Sabemos muito bem que se pode sempre evocar a expressão vontade política. Há recursos financeiros, há recursos legais, legítimos para que o Governo pague as dívidas, se de fato considera importantes. Não há por que estender essa tortura, atribuindo sempre a responsabilidade à administração anterior.
Vejo que meu tempo está se encerrando, quero registrar meus cumprimentos à subsecretaria de Serviços e Infra-estrutura da Casa, por adotar a comunicação eletrônica, como possibilidade de uma série de solicitações que até agora eram feitas por meio de papel. Está de parabéns a SGA-3 pela modernidade, pela medida.
Muito obrigada.



19/04/2005 - O descaso da Prefeitura com os telecentros

SONINHA (PT) - Sr. Presidente, Srs. Vereadores, vou falar um pouco do que tem aparecido nos jornais, como a situação dos telecentros.
Não dá para entender qual é a postura da Administração atual em relação aos telecentros, se é descaso, inabilidade, má administração, má vontade, revanchismo, tentar destruir uma das coisas mais marcantes e eficazes da última Administração. O telecentro é ótimo no conceito e na prática. São mais de cem telecentros pela Cidade, em regiões notadamente carentes de opções, de acesso a informações, a lazer.
Cada telecentro tem de 10 a 20 computadores, alguns reservados para cursos, oficinas, atividades monitoradas, e outra parte para uso livre, para que a pessoa possa fazer uma pesquisa, escrever um currículo, procurar informação, procurar um serviço público, etc. Muito se falou sobre a importância do telecentro, a inclusão digital como rocesso de transformação da sociedade, obtenção de informação, convivência com outras pessoas, e também lazer. Os telecentros geralmente estão em regiões de lazer desqualificado, em que as pessoas saem para beber e “zoar”.
Os telecentros têm a participação da comunidade, que tem interesse em usá-los e, portanto, em mantê-los da melhor forma possível, e assim tirar deles o máximo proveito. Sabemos que, nas unidades em que está havendo problemas de dinheiro, muitas vezes a comunidade se mobiliza, faz uma festa, faz um bazar, uma quermesse para arrecadar recursos, para manter o equipamento público em funcionamento.
Mas, Srs. Vereadores, uma das obsessões da atual Administração é o corte de despesas. Basicamente, parece que dinheiro é o eixo principal de todas as coisas. E se conseguirem reduzir gastos, cortar despesas sem perder a qualidade do serviço, sem perder a amplidão do atendimento, ótimo. Agora, não consigo entender qual é a vantagem de cortarem despesas piorando muito a qualidade do serviço, qual é o mérito disso? Se há corte de funcionárioS, passam a fechar oS telecentros aos domingos; não repõem a tinta da impressora; se quebra o computador, ninguém conserta; não pagam a conta do telefone, o que impossibilita acesso à Internet. Não entendo qual é a vantagem de gastar menos dinheiro se o serviço fica evidentemente prejudicado.
Os telecentros agora fecham aos domingos porque a procura diminui (a procura é de 36% a 57%). Mas e daí? Qual é o objetivo dos telecentros? É comercial, tem de ter 100% de ocupação? Srs. Vereadores, as pessoas que vão aos telecentros aos domingos, têm ali a sua realidade de informação, de procurar trabalho muitas vezes, e de lazer. Imaginem se seguíssemos esse critério com todas as coisas: os cinemas não estão dando lotação durante a semana, fechem os cinemas, eliminem essa opção de lazer da cidade. Essa está sendo a opção da Prefeitura: fecham os telecentros, demitem funcionários, cortam gastos. Na verdade, interrompem um programa que estava funcionando muito bem.
Parece-me que existe a intenção de transformar de transformar os telecentros num programa mais parecido com o do Governo do Estado, no Infocentro. Se isso não é revanchismo, não consigo ver sentido nessa mudança.
Sempre pensei que era promessa, mas seria cumprida pelo então candidato José Serra, de manter o que a Prefeitura tinha de bom, e ampliar, fazer melhor. Mas no caso dos telecentros, insisto, ou é pouco caso, inabilidade, ou má vontade porque o serviço era excelente, estava em pleno funcionamento, com resultados palpáveis, e está sendo simplesmente dilapidado, sem perspectiva ou manifestação no sentido de no mínimo serem mantidos ou de preferência ampliados.
Muito obrigada.



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Projetos de lei apresentados pela Soninha - fonte: http://www.soninha.com.br (Soninha - mandato eletrônico)


Projetos de lei apresentados pela Soninha
PL 576/07 - Dispõe sobre a obrigatoriedade da colocação de placa indicativa do itinerário das linhas de ônibus, nos pontos de parada, e dá outras providências.
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PL 467/07 - Institui Dia sem Carro Obrigatório
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PR 14/07 - Institui Frente Parlamentar em defesa da Radiodifusão Comunitária
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 31/05/07. Depois, vai passar pelas Comissões de Política Urbana, Educação e Finanças.Leia +
PL 139/07 - Pune discriminação por orientação sexual
Projeto em co-Autoria com Ver. Carlos Giannazi.
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 28/03/07. Depois, vai passar pelas Comissões de Administração Pública, Saúde e Finanças.Leia +

PL 319/07 - Altera horários para emissão de ruídos
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 01/06/07. Depois, vai passar pelas Comissões de Política Urbana e Finanças.

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PL 154/07 - Denomina Casa de Cultura da Penha Itamar Assumpção
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 23/04/07. Depois, vai passar pelas Comissões de Educação e Finanças.

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PL 376/07 - Denomina Largo Jardim Camargo Novo
Vai passar pelas Comissões de Constituição e Justiça, Política Urbana, Educação e Finanças.

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PL 377/07 - Retifica denominação logradouros Pça. Forte Veneza e viela sanitária -
Vai passar pelas Comissões de Constituição e Justiça, Política Urbana, Educação e Finanças.

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PL 664/06 – Rua Alfredo de Sá dos Santos
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PL 658/06 – Praça do Ciclista

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PL 489/06 – Banco Municipal de Sangue e cordão umbilical.
Autoria conjunta com os vereadores Rubens Calvo (PT), Arselino Tatto (PT) e José Ferreira dos Santos - Zelão (PT).
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 22/09/2006. Depois, o projeto deverá passar pelas Comissões de Administração Pública, Saúde e Finanças.

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PR 25/06 – Confere às Comissões Extraordinárias a competência para apresentar projetos.
Projeto de autoria conjunta com os Vereadores Ricardo Montoro, Abou Anni, Jorge Tadeu, Farhat, Goulart e Cláudio Prado, membros da Comissão de Legislação Participativa em 2006.
Na Comissão de Constituição e Justiça desde 28/11/2006.Leia +
PL 429/05 – Cria o Programa Promedula, de incentivo à doação de medula óssea.
Pareceres favoráveis da Comissão de Constituição e Justiça, Saúde e Finanças.Leia +

PL 382/2005 - Conselho de Inclusão Digital
Cria o Conselho Municipal de Inclusão Digital e os Conselhos Gestores dos Telecentros, e dá outras providências.
Veto total em 22/11/05

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Entrevista com Carlos Latuff - fonte: http://titaferreira.multiply.com/reviews/item/502

Latuff - O Traço-bomba>> Imagens e links" src="http://img299.imageshack.us/img299/7384/latuffpersonalidadeqe8.jpg" align="right" border="0" hspace="10" vspace="7">
O sobrenome Latuff é tão característico que esse despojado artista, por vezes, nem se lembra que seu primeiro nome é Carlos. O traço dinâmico e carregado de crítica também define sua identidade. Na página israelense ligada ao Likud, partido israelita de direita, ele foi definido como disseminador de uma ideologia genocida, que envia mísseis de ódio por meio de seus cartuns. É tratado como um homem altamente perigoso, tudo isso por questionar a opressão contra palestinos. Um ativista de 37 anos, sorridente e corajoso, defensor ferrenho dos direitos humanos. Sem maiores molduras, Latuff é um cartunista. É anticapitalista.

Leia abaixo a entrevista concedida a Gilka Resende e Raquel Junia para o Fazendo Media.

Você pode falar um pouco sobre sua militância e sobre sua rotina de criação?
Comecei na imprensa sindical em 1990, mas não por uma questão de militância. Foi por falta de espaço para trabalhar. Eu tinha saído de uma agência de propaganda em 1989 e batia nas portas procurando lugar para trabalhar. Naquela época eu não tinha nenhuma preocupação ideológica, trabalharia para quem me pagasse, só que como eu não tinha panela nem padrinho, não tinha acesso à grande mídia. Então eu ia batendo em sindicato, em associação, em federação, até que descobri esse filão do movimento sindical e comecei a trabalhar em 1990. Em 1996, depois de um documentário que vi na televisão sobre os zapatistas, eu me solidarizei com aquela luta, simpatizei com a causa e achei que poderia apoiá-la produzindo imagens que pudessem ser utilizadas não só por eles, mas pela base de apoio deles no mundo. Essa foi a primeira experiência que eu tive na produção de arte em apoio a uma causa. Hoje, tenho duas vertentes. Uma é o meu trabalho profissional, pelo qual recebo para desenhar. Esses são feitos para a imprensa sindical, em que os jornalistas me ligam e me explicam a pauta. Como faço isso há muito tempo, já sai na urina. Já o outro viés é o da militância. São temas como o do povo palestino, o iraquiano, os sem-terra, os sem-teto, para as rádios livres, para o Grito dos Excluídos, para a Telesul. Sempre que eu posso, eu colaboro com essas causas. Não cobro nada. Precisou, eu desenho.

Você teve retorno dos zapatistas?
O retorno deles mais interessante que tive foi quando convidaram dois membros da Frente Zapatista para falar na Uerj. Aí eu pensei: "Caraca! Tem zapatista na Uerj! Vou lá ver os caras! Aí eles estavam na Associação de Docentes da Uerj. Quando entrei na sala, estavam dois zapatistas, um deles era o Javier Elorriaga, ele estava fumando um cachimbo. Eu tinha levado algumas cópias de uns desenhos, aí falei assim: "com licença, eu sou Latuff...". O nome não bateu a princípio. Aí continuei falando: "eu apoio a causa de vocês...". Ele só balançava a cabeça e dizia: "Uhum...". Aí eu disse: "pois é, eu trouxe aqui uns desenhos que eu mando para vocês...". Quando ele olhou o desenho, ele arregalou os olhos e disse: "Você que é o Latuff!". Aí ele levantou, me abraçou...

Por que se identificou com a causa dos zapatistas?
Quando você tem um seguimento ou um povo inteiro sob opressão, ou vítima de injustiça, e quando esse povo resolve se levantar contra isso, é uma coisa que me é muito cara. Eu respeito muito essas manifestações de resistência popular e a identifiquei no movimento zapatista. Além de ser um movimento de resistência, o movimento zapatista tem uns elementos românticos que resgatam muito do que se perdeu, do que se entendia como a utopia socialista. Aquilo tudo em plena era da globalização, do muro que caiu, das pessoas dizendo que não havia mais as utopias, do Fukuyama dizendo que a história havia acabado, aí me aparece não em uma universidade, não em um local burguês, aparece um movimento no meio da selva Lancadona, em Chiapas, no sul do México. Então, aquilo me emocionou muito e pensei que a única maneira que eu tinha para apoiá-los daqui era produzindo arte. Aí a internet tornou possível que essas imagens não só chegassem a eles, mas às pessoas do mundo todo.

Você não concede entrevistas à grande imprensa e já declarou que nunca a sua arte poderia ser publicada na mídia corporativa. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.
Pois é. Eu tenho para mim que não dá para confiar na imprensa corporativa. Primeiro porque eu tive várias experiências decepcionantes. Aliás, eu vou substituir o termo grande imprensa por mídia corporativa, porque grande imprensa enche muito a bola deles. Normalmente, o artista é muito suscetível à mídia, ele tem um ego inflado e é muito fácil comprá-lo com holofote, entrevista... Eu vou citar dois exemplos de experiências que tive. Uma foi quando eu fiz um grafite sobre a violência policial na Cidade de Deus, naquele muro onde espancaram moradores, em 1997. A mídia inteira cobriu, apareceu no Jornal Nacional, na revista Caras... A mídia inteirinha cobriu aquela porra!

Qual era a mensagem do grafite?
"Violência policial não". O desenho mostrava um PM com um pedaço de pau para dar nas costas de um morador encostado na parede. Uma repórter do Aqui e Agora (programa policial do SBT) me entrevistou e depois eu fui ver na televisão a reportagem. Ela falou o seguinte na televisão: "o cartunista Latuff passou três dias e três noites sem dormir depois de ter visto as imagens de agressão policial na TV". Eu nunca havia dito isso, em momento algum! Ou seja, ela criou aquilo para causar sensação, eu não disse aquilo. A partir daí eu já comecei a pensar que tinha alguma coisa errada, mas tudo bem. Depois eu voltei a essa questão em 1999 quando fiz uma série de charges sobre a violência e corrupção policial. Aí o RJTV me ligou, e eu fiquei deslumbrado: "que legal, o RJTV quer falar comigo!" Ainda naquele deslumbramento idiota com a mídia. Aí me chamaram para dar entrevista lá dentro do Jardim Botânico. Me levaram para uma sala, me trataram muito bem, a jornalista fez perguntas pertinentes, foi tudo muito bom. Mas aí é que é a questão, o problema não é o jornalista, o jornalista pode ser muito legal, pode ser muito bacana, gente boníssima, mas tem um cara atrás dele que eu não vejo, que é o editor. Esse sujeito é que vai fuder com a minha vida. Porque eu posso até colocar o meu gravador junto do gravador da repórter, mas o problema vai ser qual é o contexto em que eles vão inserir aquilo que eu vou dizer, esse é o problema. E não tem como ter controle sobre isso. Então, quando eu voltei para casa, fui ver a matéria. Deram a parte que eu falei. Mas aí vem o contexto, assim que eu acabei de falar, eles entrevistaram um policial. E aí o policial falou: "com isso aqui ele está infringindo o artigo tal, tal, tal". Depois que ele acabou de dizer isso, veio um repórter falando mais sobre o artigo e o âncora fechou a matéria dizendo: "a pena para esse crime é de tanto a tantos anos de cadeia". Ou seja, mudou totalmente o enfoque, eu passei a ser um filho da puta, um criminoso. Qual era a mensagem para o telespectador? Meu amigo, você quer se manifestar da mesma maneira, veja o que pode acontecer, você pode ir para a cadeia! Ou seja, não dá para confiar nessa gente. Então, depois daquilo ali, eu pensei que realmente não dava mais para confiar, mas ainda assim não tinha caído a ficha. Um dia, já em dois mil e pouco, depois que eu participei de um evento midiático em São Paulo, a MTV veio me procurar. Eles iam lançar um programa chamado "Buzina MTV" com um tal de Cazé Peçanha. Aí novamente o meu olho brilhou: "ah, que legal, a MTV, eu vou aparecer no horário nobre!". O produtor do programa me ligou, eles iam estrear me entrevistando. Aí eu pensei: "puta, é do caralho!". Ele falou comigo no telefone e eu fiquei de dar uma resposta. Depois eu pensei o que é a MTV. A MTV é o carro-chefe da indústria fonográfica e cinematográfica internacional, isso aí não é nem a mídia corporativa, é o Grande Irmão! Porra, eu fazer o quê? Vou associar o meu trabalho a uma indústria? Vou transformar o meu trabalho em uma garrafa de coca-cola? Nos intervalos eles vão mostrar as curvas da Cicarelli, vão pedir para você comprar um All Star, beber coca-cola e ouvir MP3 player da Macintosh. Aí nesse momento é que veio a inspiração, o divino Espírito Santo, Deus me falou e eu falei para o produtor que não iria participar do programa por esses motivos. Então, desde aquele momento eu não dou mais entrevista para a grande imprensa.

Publicamos aqui no fazendomedia.com artigo com a ameaça contra você feita pelo partido israelense Likud. A ameaça foi feita na página eletrônica do partido?
Primeiro, uma coisa que precisa ser colocada claramente é que esse site não é o oficial do Likud, mas um site associado ao Likud. Então, o que é dito no site Likudnik, que foi onde publicaram esse artigo, corresponde ao pensamento do partido porque se não correspondesse não estaria lá.

Eles diziam que seus desenhos são anti-semitas. São?
Não. O que é ser anti-semita? Primeiro a gente tem que definir o que é anti-semitismo. Vocês sabem definir isso em uma palavra?

Ser anti-judeu?
É. Pois é, correto, anti-judeu. Ser anti-judeu significa ou atacar a religião, ou atacar a raça, ou seja, é uma questão objetiva ao povo judeu. Desde 1999, que foi quando eu viajei aos territórios ocupados, até os dias de hoje, nenhum dos meus cartuns ataca o judaísmo ou o povo judaico. Porque o meu interesse é em relação à ocupação dos territórios palestinos e ponto final. É isso! O meu interesse é esse, a minha discussão é essa. Qualquer outra discussão sobre judaísmo, sobre raça, não me diz respeito. A minha questão é o povo palestino. Aí você pode até dizer: "não, mas tem charges suas em que aparecem a Estrela de Davi e o Menorah, que são objetos da religião judaica". Correto. Só que esses objetos foram transformados em símbolos nacionais quando Israel foi fundada. A bandeira de Israel é a Estrela de Davi com duas barras azuis em cima e embaixo. A culpa não é minha se Israel, apesar de se dizer democracia, se parece com uma teocracia. Então, se eu quiser representar o Estado de Israel com um símbolo nacional eu vou utilizar um símbolo religioso por extensão. Se eu desenho, por exemplo, um avião de combate e coloco nele uma Estrela de Davi, eu não estou sendo anti-semita, não estou fazendo um ataque à religião, porque de fato os veículos militares de combate usam a Estrela de Davi. Então, sou anti-semita? Não. Porque o meu ponto não é o povo, a religião, as tradições, a minha questão é a opressão dos palestinos. Se essa pergunta fosse feita em outro contexto, de uma outra maneira, eu mandaria o jornalista tomar no cu, porque já era para terem entendido há muito tempo que a minha crítica tem a ver com a Palestina.

Essa é uma confusão que geralmente as pessoas fazem...
É. E os que defendem Israel promovem essa confusão, é proposital. É preciso associar toda a crítica ao Estado de Israel, ao anti-semitismo, ao racismo... Porque é uma maneira de desmoralizar o argumento.

Como você vê a relação entre Estados Unidos e Israel?
Israel é um satélite estadunidense no Oriente Médio. Então, evidentemente, eles endossam integralmente o que Israel fizer. Se Israel hoje jogar uma arma nuclear no Irã, os Estados Unidos já têm uma desculpa na manga para dar. Ontem um jornalista do Contraponto me perguntou: "ah, mas o que você acha do holocausto?". O caso do holocausto é um tabu, gerou-se em torno dele um tabu quase religioso, então você não pode discuti-lo, você pode discutir qualquer outro massacre em torno do mundo, mas não o holocausto. Mas essa para mim não é uma discussão mais importante. Não vejo nenhuma dificuldade em acreditar que existiu, o ser humano realmente é capaz de fazer essas atrocidades. Mas o que eu falei para o cara do Contraponto foi o seguinte: os mortos do holocausto estão mortos, eles se foram. A gente tem que se preocupar agora com os vivos, com os holocaustos que estão a caminho, em progresso, é com isso que a gente tem que se preocupar.

Quais são os atuais holocaustos?
Quando a África, por motivos econômicos, é impedida de ter acesso em larga escala a medicamento gratuito contra a Aids, isso para mim é um holocausto. Porque isso não é uma catástrofe da natureza, não é um tsunami, são motivos econômicos que impedem que aquelas pessoas sejam tratadas em larga escala. Inclusive, teve aquele filme, O Jardineiro Fiel, que fala sobre essa questão. Milhões de pessoas indo para o saco porque existem interesses corporativos por trás; isso para mim é o holocausto. Mas não é o holocausto de câmaras de gás, então chama menos atenção, e não é no Ocidente, é na África, ninguém se importa se morre um milhão de pessoas na África. 500 mil pessoas foram mortas a golpe de facão em Ruanda e não dão a mínima.

Você está correndo risco de vida?
Todo mundo que decide se levantar contra o establishment, seja aqui ou lá fora, corre risco de um jeito ou de outro. Esse risco pode ser a sua reputação, pode ser a sua vida, pode ser o seu trabalho, de um jeito ou de outro. Defender a Palestina tem sido realmente perigoso para muita gente, tem sido custoso, porque esse lobby pró-Israel se encontra em todo lugar. Eles usam dos expedientes mais sujos para difamar, para atacar, para derrubar seus argumentos. Mas eu dei a minha palavra para um palestino que conheci em Ebrom, seu Adris, eu sempre cito isso. O meu compromisso é com os palestinos, eu não estou preocupado com o que vai acontecer comigo. Pode vir um lunático, me encontrar na rua e me balear, porque aquele site, associado ao Likud, convocou as pessoas a tomarem medidas contra mim. O De Olho na Mídia disse que deveriam me processar. Processem! Seria muito boa essa discussão no tribunal, seria ótimo! Eu queria que eles me provassem no tribunal como é que o trabalho que eu faço é racista, por que ele é racista? Mas o interesse deles não é o tribunal, é o ataque moral, é desmoralizar. Eu realmente não estou preocupado com o que vai acontecer comigo. Estou com aquela tranqüilidade da Irmã Dorothy. Aliás, eu usei uma frase no meu MSN que era o seguinte: prefiro morrer como a irmã Dorothy do que viver como a Hebe Camargo. Então, se for para ser assassinado, que seja. Não vou mudar em nada a minha rotina, o que eu penso, o que eu faço, vou continuar defendendo, seja no tribunal, seja numa entrevista, sempre estarei defendendo o povo palestino. É mais fácil me matarem do que eu mudar de idéia. Agora, uma coisa que eu acho genial é que não faz diferença eu estar vivo ou morto. Porque os meus trabalhos estão espalhados pelo mundo inteiro, eles não dependem da minha existência.

É esse o poder da arte?
Os desenhos estão espalhados pelo mundo todo. Eles são vistos na Coréia do Sul, nos Estados Unidos, na América Latina, na Europa, no Mundo Árabe. Um jornalista do Cairo me falou: "Latuff, o seu desenho do Che Palestino está em todo lugar na Cisjordânia". Uma menina palestina que mora na Suécia me falou: "Latuff, eu estive na Palestina e vi uma coisa muito popular que eles vendem lá, uns chaveirinhos, com uns desenhos seus". Então, fudeu o barraco! Não há nada que os caras possam fazer. Eu já atingi o meu objetivo. Quando eu conheci o Seu Adris, em Ebrom, aquele palestino, eu falei para ele: "Prometo para o senhor, quando eu voltar para o Brasil eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para defender a luta do povo palestino". Tudo o que eu queria hoje era encontrar com o Seu Adris e falar: "tá aqui, Seu Adris, eu não quebrei a minha promessa nem com o senhor, nem com o seu povo". Eu quero apoiar o mais fraco, eu quero apoiar a vítima, e quem é ocupado é vítima, não tem essa! Essa experiência do Likud foi muito interessante. A imprensa foi pautada pela imprensa alternativa. A Folha Online publicou a respeito disso, mas não porque eu dei entrevista, eu neguei entrevista tanto para a Folha Online quanto para O Globo Online. A Folha, inclusive, citou isso: "a Folha procurou o cartunista e recebeu um e-mail suscinto: 'não dou entrevista para a grande imprensa'". Publicou isso. Mas eles fizeram a matéria, como? Eles pegaram da Nova Economia, que é um blog da imprensa alternativa. A imprensa alternativa tem pautado a grande imprensa, muita gente está sabendo sobre esse incidente por conta da imprensa alternativa. Esse fato, além de ter sido divulgado pela imprensa sindical, a imprensa de esquerda, ele tem sido divulgado em sites de comunicação, de jornalismo, de quadrinhos, ou seja, esse assunto transcendeu a seara da esquerda, da militância, ele está chegando a quem lê quadrinhos.

Latuff, já chegando ao fim...
Nós estamos caminhando para o fim. Estamos mesmo.

Você aponta alguma solução?
A solução é o fim do capitalismo. Não existe outra possibilidade. Ou você trabalha pelo social, pelo ser humano, pela vida em comunhão, ou vai todo mundo para o saco. Não tem condição de todo mundo só consumir, consumir, consumir... Vai ter uma hora que o mundo não vai dar conta. A lógica capitalista é a grande responsável por isso, em que só o mercado importa. Em nome do capital, as pessoas matam. Em nome do capital, remédios são negados à população. Os direitos humanos são negados em nome do capital. Florestas são devastadas em nome do capital. Os rios são poluídos em nome do capital. Culturas são subjugadas em nome do capital. Enfim, fazem o que quiserem em nome do capital. Enquanto o capital falar mais alto que o social, o ser humano vai estar em risco. Enquanto o mercado dirigir a nossa vida, nós estaremos condenados. O problema é quando o mundo coloca o dinheiro acima de qualquer coisa. Isso é uma deformação!


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Annapolis - by Latuff


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Latuff - Tropa de Elite


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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Lembrete aos cucarachas: Quem tem poder manda. Quem tem juízo, obedece - por Luiz Carlos Azenha - fonte: http://viomundo.globo.com

Lembrete aos cucarachas: Quem tem poder manda. Quem tem juízo, obedece





"O Projeto para um Novo Século Americano" foi criado no início de 1997 e, ainda no governo de Bill Clinton, os integrantes dele escreveram uma carta-aberta pregando a ocupação do Iraque. Em 2000, o PNAC divulgou seu documento mais importante e polêmico: "Reconstruindo as Defesas da América: Estratégia, Forças e Recursos para um Novo Século".

Com a vitória de George W. Bush, em 2000, autores, signatários ou simpatizantes do PNAC - que ainda existe, como instituto de estudos - assumiram cargos importantes no governo americano.

Elliott Abrams, Conselho de Segurança Nacional
Richard Armitage, subsecretário de Estado (2001-2005)
John R. Bolton, Departamento de Estado e embaixador americano na ONU (2001-2006)
Richard Cheney, vice-presidente
Eliot A. Cohen, integrante do Comitê Assessor para Política de Defesa
Seth Cropsey, diretor da Voz da América (até 2004)
Paula Dobriansky, subsecretária de Estado para Global Affairs
Francis Fukuyama, integrante do conselho presidencial de bioética
Zalmay Khalilzad, embaixador no Afeganistão, no Iraque e nas Nações Unidas
I. Lewis "Scooter" Libby, chefe da Casa Civil condenado por perjúrio, obstrução de Justiça e por mentir ao FBI, teve a pena comutada pelo presidente Bush
Richard Perle, Comitê Assessor para Política de Defesa
Peter W. Rodman, secretário-assistente de Defesa para Segurança Internacional
Donald Rumsfeld, secretário de Defesa
Randy Scheunemann, fundador do Comitê para a Liberação do Iraque, integrante do Instituto Republicano Internacional (ligado ao Partido Republicano) e do Projeto para Democracias em Transição
Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa e ex-presidente do Banco Mundial
Dov S. Zakheim, da Controladoria do Departamento de Defesa
Robert B. Zoellick, subsecretário de Estado, representante comercial e hoje presidente do Banco Mundial

Qual o sentido de reproduzir esta longa lista? Para deixar claro que pessoas em carne-e-osso levaram, para o governo, um projeto que tem o objetivo de garantir a hegemonia dos Estados Unidos no século 21 - política, econômica e militar, em terra, nos oceanos, no ar e em órbita. Eles estão errados? Depende do ponto-de-vista. Do ponto-de-vista dos Estados Unidos, estão certíssimos.

O fracasso americano no Iraque matou o projeto? Depende do que é considerado "fracasso". O fato concreto é que os Estados Unidos mantém controle militar DIRETO da segunda maior reserva de petróleo do mundo fora de seu próprio território, no Iraque, sem considerar o controle indireto na Arábia Saudita e no Kuwait e o meia-boca, político, sobre as reservas da Nigéria e de Angola. Ficam faltando aí as duas pedras no sapato de Washington, Irã e Venezuela, embora a Venezuela continue sendo um exportador importante para o mercado americano, dentro das condições que pode impor sem ser degolada.

Mais do que isso, existe uma peculiaridade no governo dos Estados Unidos: as políticas de Estado dificilmente sofrem grandes transformações. As mudanças são de calibragem entre republicanos e democratas. Essas mudanças não acontecem por dois motivos principais:

1) os partidos políticos são reféns do Colégio Eleitoral americano, que na escolha do presidente garante um peso desproporcional a estados de menor importância econômica. Quem tem coragem de mudar a política do país para Cuba? Ninguém, já que o apoio de um ativo lobby anticastrista, na Flórida, pode ser a diferença entre a vitória e a derrota.

2) Inteligentemente, as grandes empresas fabricantes de armas espalharam suas linhas de montagem e fornecedores nos 50 estados americanos, de forma a ter alguma influência praticamente em todos os distritos que elegem congressistas. Raríssimo é o congressista que aceita passivamente cortes no orçamento do Pentágono que resultem em perdas de empregos nos distritos que representam.

A combinação dos fatores que apontei acima cria um sistema político que favorece a inércia. As políticas são de longo prazo. George W. Bush deixa o poder em 2008, mas o legado das políticas adotadas por ele sobreviverá, com remendos, cerzidos, ajustes, troca de botões e outros serviços.



No documento que trata da estratégia americana para o Século 21, há uma mísera menção à América Latina:

"Atualmente, o Comando Sul dos Estados Unidos, o comando regional do Pentágono para a América Latina, implementa um plano para "forward operation locations" (bases de operação avançadas) para compensar a perda da Howard Air Force Base com a retirada das forças do Panamá e o retorno do controle do canal. De fato, sustentar operações aéreas contra o tráfico de drogas será difícil até que acertos para novos locais sejam feitos. Para obter cobertura total da região para operações anti-drogas, o comando planeja utilizar bases aéreas de Porto Rico ao Equador.



Além de garantir acordos que permitam acesso adequado de forças americanas a novas bases, as localizações devem ter capacidade para operar 24 horas por dia, em todas as condições de tempo; controle de tráfego aéreo adequado; pistas de no mínimo 8 mil pés que sejam capazes de suportar aeronaves pesadas de carga; serviços modernos de reabastecimento e emergência; espaço para estacionar vários aviões do tamanho do AWACS (de monitoramento e espionagem); além de atender a várias exigências, como alojamento e escritórios para pessoal.

O comando acredita que por um custo relativamente pequeno - talvez U$ 120 milhões para as duas primeiras das três bases planejadas - e com presença mínima de pessoal seja possível recuperar a perda estratégica de uma base como Howard".

Portanto, não são minhas, mas são deles as palavras: a perda da base aérea no Panamá seria compensada por três novas bases. Porém, desde então as coisas mudaram. No cenário do continente surgiram lideranças como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, sem mencionar Daniel Ortega, Cristina Kirchner e outros "populistas".

Quais são os aliados 100% ponta-firme dos Estados Unidos na região, do ponto-de-vista militar? O Chile, cujas Forças Armadas compram armas americanas e tem um grau de independência sem igual na região, já que são financiadas pela Lei Secreta do Cobre, que dá a elas uma fatia do Orçamento chileno independentemente de quem esteja no governo. E a Colômbia, que além de comprar armas americanas com dinheiro público americano, numa espécie de Bolsa Fuzil, produz seus próprios blindados.



Veja aqui alguns vídeos sobre o militarismo na Colômbia.

Hugo Chávez nega aos americanos o petróleo nas condições em que as empresas petrolíferas e o abastecimento estratégico dos Estados Unidos exigem; Evo Morales nega um bem essencial à segurança energética futura de Washington, o gás natural; e Rafael Correa já disse que não pretende renovar a "concessão" para uso da base aérea de Manta, no Equador, que vence em 2009.

Uma colega, que acaba de ler exaustivamente sobre a expansão política, econômica e militar dos Estados Unidos, inclusive a compra da Lousiana, a conquista de território do México e a compra do Alasca, acha que Chávez, Morales e Correa não tem muito futuro - no que concordo com ela. Compraram briga com um cachorro gigante, que sai para passear acompanhado por uma enorme matilha, que ataca por motivos ideológicos, políticos e econômicos. Eles latem quando é para latir e mordem quando dá para morder.

Paraguai? Suriname? Bolívia balcanizada? Onde é que ficarão as futuras bases de operação avançadas do Pentágono na América Latina? Ou vocês acreditam que americano rasga dinheiro?

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Simon: “Com as ações do Sr. Bush, a desconfiança deve ser permanente” - fonte: http://www.horadopovo.com.br

Simon: “Com as ações do Sr. Bush, a desconfiança deve ser permanente”

Em rechaço às intenções dos EUA de instalar base militar no Paraguai, o senador ressaltou que “o único perigo de guerra que existe é o das grandes nações, como os Estados Unidos”, lembrando que “o que fizeram com o Iraque não foi uma guerra, mas uma tomada”

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) condenou a intenção dos Estados Unidos de instalar uma base militar no Paraguai, que seria próxima do lago da Usina de Itaipu, conforme notícias veiculadas pela imprensa nas últimas semanas. Da tribuna do Senado, Pedro Simon alertou que “o único perigo de guerra que existe é o das grandes nações, como os Estados Unidos. O que fizeram com o Iraque não foi uma guerra, mas uma tomada. Na verdade, uma campanha pelo desarmamento deveria ser absolutamente significativa. E não se justifica que, a esta altura, os Estados Unidos continuem a estabelecer as suas bases pelo mundo inteiro, querendo ser aquilo que o sr. Bush realmente pensa que é: o delegado do mundo, o chefão, o xerife de praticamente toda a Humanidade”.

O senador questionou quais motivos teriam os EUA para instalar uma base militar na Tríplice Fronteira. “Montar base militar na América do Sul, que, graças a Deus, é uma América pacífica, tranqüila, ordeira? Nós não temos as agitações nem os tumultos que eles têm lá, criados por eles. Por que montar uma base americana aqui? Ali, ao lado das reservas fantásticas de água, do aqüífero Guarani, que o mundo inteiro olha com admiração, e vem o americano para montar a sua base a pouca distância? Por que isso?”.

Sobre os problemas existentes nas fronteiras da região, Pedro Simon reconheceu que existem, mas “não é a base americana que vai resolver. Por exemplo, as célebres contas CC-5. O governo anterior colocou, não se sabe até agora por quê, duas agências de banco só para fazer as transferências de dólar através das CC-5 para os paraísos europeus. Que o contrabando de armas por ali é grande, que o problema da droga também é grande e que o roubo de caminhões do Brasil transportados para lá existe, existe. Mas não vai ser uma base americana que vai resolver esses problemas - nem estão preocupados. Esses problemas nós temos que resolver exatamente no Mercosul, pois se trata de um problema de fronteira, de diálogo, de entendimento, de fiscalização. Agora, virem os americanos e montarem uma base aqui, ao lado do Brasil, da Argentina e do Paraguai, tentando criar uma cizânia dentro do Mercosul, exatamente com o Paraguai, é algo que eu não entendo”.

Quanto ao fato de que se trata de problema interno do Paraguai, o senador gaúcho afirmou que “o assunto é sério e é importante demais. É claro que se perguntará: mas o Brasil, o que tem que ver com o Paraguai, se o Paraguai é um país independente e com sua soberania? Mas nós temos um grupo, Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, que forma o Mercosul. E o Mercosul tem um entendimento, um estatuto que prevê o entendimento, o diálogo, as consultas feitas anteriormente aos membros da Comissão nos tratados que sejam feitos com outros países que possam interessar aos países componentes. Por isso, eu acho muito importante que tomemos conhecimento disso que vinha ocorrendo de uma maneira silenciosa”.

Diante da questão, Pedro Simon informou que a Comissão de Relações Exteriores do Senado fará consultas junto ao Itamaraty e ao governo paraguaio para que se esclareça “de fato o que está acontecendo em torno dessa matéria”, ressaltando que “é bom agirmos, verificarmos, tomarmos conhecimento do que realmente existe, porque, com o sr. Bush, as desconfianças devem ser permanentes em relação à sua ação”.


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O Brasil no espelho de água - por Luis Fernando Novoa Garzon - fonte: http://carosamigos.terra.com.br

O Brasil no espelho de água
por Luis Fernando Novoa Garzon

Em um contexto de interconexão dos mercados e de harmonização de processos políticos decisórios em escala global, os “bens naturais” passam a ser vistos como estoques, mercados de commodities ou de futuros, a serem regulados pelos conglomerados transnacionais. A “governança” que querem é a que proporciona capacidade de administração meticulosa da expansão das fronteiras dos negócios oligopolizados. Essa é a razão para o ataque cerrado das transnacionais – com o suporte de instituições financeiras internacionais, de governos da OCDE e de alguns países intermediário – à propriedade e gestão pública da água.

Os que defendem a mercantilização da água querem abolir povo, território e suas respectivas vocações, em troca de previsíveis faixas de consumo a comprar modos de vida correspondentes. Querem esboroar os vínculos entre pessoas, e entre elas e seu espaço, em função de vínculos individuais e monetários com empresas concessionárias. Combatem o usufruto coletivo da água e as manifestações simbólicas que advêm desse compartilhamento como “fator de desperdício”. Colonizam a vida cotidiana impondo o que consideram padrões “adequados” de clientelização e de “consumo racional”.

O “mercado da água” é cobiçado não apenas pelas suas possibilidades extrativas, mas pela inserção privilegiada que confere aos que estiverem nele posicionados, nos setores de infra-estrutura (energético, imobiliário, de transportes), de produção de matérias-primas (agropecuária e aqüicultura de camarões e peixes), de bens de consumo final (águas minerais, bebidas de uso “recreativo” e alimentos industrializados) e de turismo e lazer (hotéis, resorts, balneários e clubes). A disponibilidade de informação relevante sobre bacias hidrográficas e províncias hidrogeológicas e a criação de marcos efetivos para a gestão integrada das águas são variáveis determinantes na definição do perfil produtivo e tecnológico do país e, portanto, de seu modelo de desenvolvimento.

Água não é um simples “recurso”, mas esteio de uma coletividade e de seus recursos. Espelho de água que dá testemunho de como vivemos e de como podemos viver.

A privatização e a liberalização da água, do saneamento e dos serviços ambientais significariam uma violação do nosso direito à autodeterminação, direito de ser parte no todo, direito de decidir que país e que mundo queremos. O destino das águas do Brasil ditará o destino das águas do mundo. Fomos presenteados com a mais extensa faixa de terras contínuas em clima quente e úmido e, ao mesmo tempo, com um relevo suavizado por lenta e contínua erosão. Nessa enormidade recôndita acumulou-se parte significativa da água doce do planeta. Como pulsará e drenará o coração da América do Sul?

No Brasil, os setores econômicos internos beneficiados pelas políticas neoliberais, as transnacionais e seus porta-vozes no Ministério da Fazenda desencadearam uma ofensiva articulada para aprofundar a privatização e a liberalização do setor, com a determinação de regras que atraiam e resguardem os investimentos. Água para o moinho dos que se enriqueceram com a ruína do país, para o fatiamento da nação em plantations e plataformas de montagem de baixo valor agregado ou água para fazer confluir biomas, gentes, economias solidárias e sustentáveis em profusão? Água para multiplicar privilégios e carências, motivo de segregação adicional na nossa sociedade apartada, ou água como fator de socialização e identificação, condição da cidadania e convite a seu exercício pleno? Água como cenário para paraísos artificiais da indústria do lazer e do turismo, concebidos para atender padrões de consumo ostentatórios, ou água como depositária de nossa memória coletiva, cúmplice de nosso reaprendizado como novos sujeitos históricos?

A sede deles e a nossa
Os investidores privados consideram prioritária a conclusão de um marco regulatório “consistente” para água e saneamento, bem como a sua inclusão em listas de ofertas nas negociações comerciais. Não se trata de mais um pleito de abertura setorial, mas de uma exigência de comprovação dos compromissos do governo brasileiro com a liberalização e privatização. A flexibilização de serviços considerados essenciais é considerada pelos mercados como um sinal de boas-vindas para investimentos de toda ordem. O temor dos setores privatistas é que o marco regulatório do saneamento ambiental (água, esgoto, drenagem e lixo) dificulte concessões e parcerias privadas. O projeto que cria a Lei Nacional de Saneamento Ambiental (LNSA) preconiza a universalização dos serviços e a sua gestão participativa. Exatamente por isso, o lobby privatista tem procurado desfigurar o projeto no decorrer de sua tramitação. São mutilações e lacunas concebidas com a intenção de fragilizar o setor público.

A suplementação de recursos através de PPPs agravaria ainda mais esse cenário, pois o Estado teria que proporcionar lastro público aos empreendimentos privados e ainda fornecer garantias de retorno financeiro em serviços cruciais para o desenvolvimento e para a ampliação da cidadania. Diante desse quadro, ONGs, sindicatos e movimentos sociais reivindicam: a) a atribuição de poder deliberativo aos conselhos populares instituídos pela LNSA; b) a adoção de vinculações orçamentárias e tributárias que garantam recursos públicos para a execução plena das metas de universalização e qualificação; c) a implementação de programas de revitalização das companhias estaduais e operadores municipais e de respaldo financeiro aos consórcios públicos; d) a vedação de PPPs em serviços essenciais como o saneamento ambiental; e) e a inadmissibilidade de inclusão da água e saneamento em acordos comerciais.

Água para que te quero
Os serviços de água não podem ser considerados como mera infra-estrutura, da mesma forma que a infra-estrutura não pode ser considerada mero suporte de corredores de exportação. Nossas águas estão alavancando um modelo econômico injusto e predatório. A pecuária, a soja, a cana, o algodão, a laranja e o eucalipto não cessam de ocupar novas áreas de mananciais e respectivos domínios vegetais, de substituir culturas de alimentos e de precarizar mão-de-obra. Desbalanceiam o ciclo hidrológico ao sangrar rios, lagos e aqüíferos, de acordo com as possibilidades de absorção de sua produção pelo mercado externo. A demanda mundial por commodities primárias está determinando a feição do nosso território e o uso, nem um pouco múltiplo, da água. Grandes hidrelétricas, barragens, transposições, canais de irrigação e hidrovias estão sendo financiadas implementadas para otimizar a concentração fundiária e o modelo primário-exportador.

Depredação ambiental, exclusão social e desmantelamento do Estado são as “vantagens comparativas” que tornam competitivo o agronegócio brasileiro. Temos que inverter esse processo de fragmentação, exercendo o controle social dos projetos de infra-estrutura, tais como o IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana), impondo-lhes critérios de sustentabilidade ambiental e de conglomeração econômica regional e nacional.

Águas subterrâneas e o PSAG
As águas subterrâneas constituem a face oculta e primordial do ciclo hidrológico. Infiltradas e armazenadas no subsolo, propiciam a estabilidade necessária aos fluxos hídricos superficiais, além de oferecerem fontes adicionais de abastecimento. O conhecimento preciso das intercomunicações das águas subterrâneas e a prescrição de práticas compatíveis com sua circularidade são vitais para que haja gestão sistêmica e integrada das águas como um todo. Mesmo assim, as águas subterrâneas continuam sem a devida classificação no bojo da legislação nacional de recursos hídricos. Essa indefinição, jurídica e jurisdicional, concorre para seu uso inadequado e irresponsável, acarretando bombeamentos excessivos, rebaixamentos dos lençóis freáticos e contaminação por detritos industriais e agrícolas. Vazio institucional esse muito convidativo à intromissão de instituições financeiras internacionais, governos de países centrais e de transnacionais, no processo de pesquisa e de regulamentação das nossas reservas hídricas subterrâneas. É o caso de um dos maiores aqüíferos do mundo, situado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai: o aqüífero Guarani. Em 1999 iniciaram-se os planos para sua “proteção” por meio de “cooperação internacional”. Surgia o Projeto de Proteção Ambiental e de Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (PSAG), viabilizado com recursos do Fundo Ambiental Global (GEF), implementado pelo Banco Mundial e pela OEA, com contrapartidas dos quatro países. O PSAG, com execução prevista entre 2003 e 2007, pretende proporcionar o mapeamento, classificação e zoneamento do aqüífero e, ao mesmo tempo, fornecer um marco institucional para sua exploração. Em síntese: consolidar conhecimento técnico e desenvolver uma base de gestão do aqüífero Guarani. Entretanto, o Brasil e seus vizinhos do Mercosul é que deveriam se incumbir soberanamente dessas tarefas. Não podemos sujeitar nossas potencialidades de desenvolvimento e de integração a organismos multilaterais e a suas humilhantes condicionalidades. Devemos nos contrapor à gerência do projeto, monitorando-o, devassando seus critérios e procedimentos, socializando seus resultados provisórios, cotejando as expectativas dos executores e patrocinadores com as expectativas dos setores sociais organizados, das universidades, da comunidade científica e da opinião pública em geral. A gestão do aqüífero Guarani será paradigmática para a gestão de águas subterrâneas no mundo inteiro. Temos que estar suficientemente instrumentados e articulados para, até 2007, recusar o marco de gestão encomendado pelas transnacionais ao Banco Mundial e oferecer um marco público e democrático.

A especialidade das águas minerais
Não são apenas volumosas nossas reservas hídricas subterrâneas. Cada bolsão líquido tem propriedades físico-químicas sui generis. A interposição de águas e jazidas minerais no subsolo cria uma gama variada de águas minerais com características únicas e de grande poder terapêutico. Águas litinadas para coibir estados depressivos, águas ferruginosas contra o raquitismo, águas bicarbonatadas para males digestivos, águas sulfurosas para incidências dermatológicas. O efeito medicamentoso das águas minerais é incontestável: a absorção de seus substratos pelo organismo humano é mais eficiente que pela via sintética. Essa hidroterapia tradicional já teve status científico no Brasil, conformando uma especialidade médica chamada crenologia. A concentração mais notável das águas minerais no Brasil se dá no Circuito das Águas, região fronteiriça entre Minas e São Paulo. Em paralelo aos centros de tratamento, surgiram ali espaços de turismo e de lazer, que constituem, até hoje, a principal fonte de renda das cidades da região. Indiferentes a isso, transnacionais como a Nestlé e Coca-Cola encaram as águas minerais como matéria-prima a ser extraída e padronizada. Nossas personalíssimas águas minerais estão sendo desmineralizadas, em escala industrial, e transformadas em produtos finais de transnacionais, com autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral. Temos que impedir o saque e a desnaturação de nossos bens. Deter essa sabotagem ao meio ambiente, às nossas culturas e mercados locais. As águas minerais são águas subterrâneas especiais e devem ser reguladas nos marcos da Política Nacional de Recursos Hídricos, de forma que sua outorga e concessão estejam condicionadas à manutenção de seu papel ambiental, socioeconômico, cultural e histórico.

Conclusão
Se a água é condição e possibilidade de qualquer atividade humana, privatizá-la, ou seja, enquadrar seus usos possíveis a partir de seu valor econômico, significaria restringir todo agir humano ao cálculo e à instrumentalidade. Frente ao assalto às fontes de reconhecimento e confluência dos povos, sublevações em legítima defesa alastram-se a partir das províncias equatorianas, peruanas, argentinas e de toda a Bolívia. A memória das milenares civilizações agrícolas indígenas vem tornando inefetivos os acordos vende-pátria.

As transnacionais, na tentativa de retirar a água do controle informal das comunidades remanescentes, ultrapassaram os limites da opressão colonial e neocolonial. Não lhes interessa mais tributos ou servidão, mas o hemisfério inteiro funcionalizado. Guerra a poderes sociais e comunitários, criminalizados assim que irrompem. “Estrangeiros” todos os que insistam em sua natividade. Focos de “terrorismo ou de narcoterrorismo” a serem reprimidos preventivamente pelo exército imperial dos EUA. A localização das bases norte-americanas e das zonas militarizadas à força de convênios bilaterais demonstra que o cerco financeiro-econômico desdobra-se em cerco militar. A segurança que os investimentos estrangeiros pleiteiam é mais que jurídica. Fuga de capitais como se fosse dissuasão bélica e vice-versa. Nesses termos, não há o que negociar. Ou continuamos permitindo ilimitada anexação ou passamos a defender nosso vir a ser, como povos-nações em construção.

Nacionalizar os bens naturais e depois geri-los em processos alternativos de integração são pré-condições para novos protagonismos históricos no continente. Nacionalização que signifique o engendramento de mecanismos de gestão integrada, de requisitos e atribuições públicas e de espaços de cidadania deliberativa. O primeiro passo nessa direção será inscrever na Constituição, como já fez o Uruguai, o princípio fundamental da água como bem público, serviço essencial, sob responsabilidade exclusiva de entes públicos e sujeita a controle social.


Luis Fernando Novoa Garzon é sociólogo, membro da ATTAC e da REBRIP.


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