10. Ao contrário dos direitistas gringos, europeus ou mesmo mexicanos – virulentamente patrióticos ao ponto da xenofobia – o direitista brasileiro odeia o Brasil. É curioso, porque nenhuma direita traz tantas marcas do seu lugar de origem como a brasileira. Até quando fala de Chesterton.
9. O direitista brazuca sofre de profunda nostalgia. Entende-se: ele um dia teve Carlos Lacerda e Paulo Francis. Hoje deve contentar-se com Diogo Mainardi e outros funcionários da Veja. Ou seja, já completa uma geração em total orfandade de gurus. Andam tão carentes que seu mais novo mestre é um auto-intitulado "filósofo" de cujo trabalho nenhum profissional de filosofia jamais ouviu falar.
8. Os direitistas tupiniquins em geral se dividem em dois grupos: os raivosos e os blasé. Aqueles vociferam em blogs, lançam insultos, ordenam que os adversários se mudem para Cuba. Reagem histericamente à própria infelicidade. Os blasé, em busca de uma elegância copiada de algum filme gringo, intercalam em suas frases expressões inglesas já completamente fora de uso. Reagem esquizofrenicamente à sua infelicidade, à sua incapacidade de reconciliarem-se com o que são.
7. O direitismo brasileiro costuma ser um grande clube do Bolinha. Tem verdadeiro pânico das mulheres, especialmente das mulheres fortes, seguras, profissionalmente bem-sucedidas. Estas últimas costumam ter o poder de fazer até mesmo do blasé um raivoso.
6. O direitista tupiniquim adora lamber as botas de Bush. Numa época em que até vozes do conservadorismo tradicional norte-americano reconhecem o caráter da mentirada (link via Smart) sobre a qual se sustenta Bush, o direitista daqui ainda defende o genocídio praticado pelos EUA no Iraque.
5. Por alguma razão, o direitista brasileiro sente-se profundamente incomodado com o cinema iraniano. Talvez, se a história do menino que perdeu um sapato fosse contada em inglês, com um orçamento milionário, dois personagens maniqueistamente representando o bem e o mal, algumas explosões e um final bem moralista, o direitista tupiniquim o saudaria como uma pérola.
4. O direitista brazuca adora declarar-se “liberal”. Sonha com o capitalismo preconizado por Adam Smith, quem sabe nalguma ilha onde ainda exista “livre competição pelo mercado”. Afinal de contas, no capitalismo realmente existente o que vemos são quatro megaconglomerados controlando toda a indústria musical do mundo, ricos impondo barreiras e tarifas aos produtos dos pobres, oligopólios praticando dumping, guerras de rapinha para saquear petróleo dos outros. Ao ser confrontado com esses fatos, o máximo que o direitista aceitará é que no “verdadeiro” liberalismo essas coisas deverão ser “corrigidas”. Talvez no dia em que o direitista consiga impor seu modelo de capitalismo à ilha de Robinson Crusoé.
3. O direitista tupiniquim tem pânico de discutir questões relacionadas a raça e etnia. Quando aflora qualquer conversa sobre a discriminação racial ou sobre o lugar subordinado do negro na sociedade, ele raivosamente acusa os interlocutores de estarem acusando-o de racista. Para essa “vestida de carapuça” Freud inventou um nome: denegação. É a atitude preferida do direitista quando o tema é relações raciais.
2. O direitista tem verdadeiro ódio da MPB. Vocifera, por exemplo, contra o silêncio de Chico Buarque sobre o caixa dois do PT, ao mesmo tempo em que idolatra pop stars americanos que silenciam sobre o genocídio no Iraque. Faz sentido: as áreas nas quais, em quantidade e em qualidade, o Brasil tem a mais respeitável produção do mundo desmentem a ficção auto-depreciatória com que o direitista tupiniquim transfere para o país o seu incômodo consigo mesmo.
1. O direitista brasileiro louva e idolatra o mercado, mas curiosamente pouquíssimos espécimens dessa turma se estabeleceram no mercado com o próprio trabalho. É mais comum que herdem um negócio do pai, recebam via jabaculê o emprego que terão pelo resto da vida ou, mais comum ainda, que concluam a quarta década de vida morando com a mãe e tomando toddyinho.
por Idelber Avelar - fonte: O biscoito fino e a massa
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