segunda-feira, 24 de março de 2008

Outra bolha, ora bolas


por Márcia Pinheiro

Enjoou da crise hipotecária americana? Temos novidades. A mais recente ameaça agora é a bolha de commodities. Pra começar, commodities são identificadas como produtos que vêm da terra: petróleo, produção agrícola e metais. Têm esse nome complicado por serem negociadas em bolsas de futuros e possuírem referência de preços no mercado internacional. Na origem, serviram para proteger os agricultores, os produtores e os consumidores das oscilações imprevistas de preços. O mercado pode ser poderoso, mas não manda na natureza.

Só que, e sempre há um porém, as commodities tornaram-se refúgio dos investidores que não queriam apostar meia pinga em títulos de governos, bancos e empresas, por causa da podridão da crise do subprime. Os preços foram bombando, sempre com a justificativa de que há 2,5 bilhões de cidadãos chineses e indianos ávidos por comer, ter energia elétrica e combustível em seus atuais e futuros carros. Até que as cotações chegaram a um nível insustentável.

A coisa fugiu ao controle. Os preços tornaram-se irrealistas e as vendas em massa aconteceram. Se a China não crescer 11% em 2008, crescerá 9% ou 10%. Muda tanto assim? Nada. Mas com essa justificativa boba, e com intenções nada pueris, os investidores desovaram suas posições futuras em commodities na semana passada. Ou para cobrir prejuízos no mercado hipotecário, ou por puro medo mesmo.

O Brasil é produtor de commodities por excelência. Mas não será esse chilique do mercado que abaterá nossa economia. Há outros chiliques em Brasília muito mais danosos. Não embarque em explicações simplistas dos pregões, que mudam de A a Z de um dia para outro, sem a menor cerimônia. Existe o perigo da desmontagem violenta das operações futuras com commodities, isso lá é verdade. Outra vez, fico cada dia mais chata e repetitiva: faltaram regulação e supervisão nessas operações.


Dica econômico-cultural
Com Deus e o Diabo soltos na terra dos mercados, ocorreu-me o panteão africano, magnificamente descrito por Pierre Verger, no livro Orixás, da editora Corrupio. Cada deus iorubá representa as virtudes e as fraquezas humanas. Oxumaré se assemelha a um certo tipo de investidor. É o “arquétipo das pessoas que desejam ser ricas... e não medem sacrifícios para atingir seus objetivos”. A obra, belissimamente ilustrada, mostra que, se alguém inventou a roda, não foi Wall Street.

Na batida da semana
Senta que lá vem chumbo. A semana é carregada de indicadores que os mercados olham. Reagem a cada um como se fosse o fim do mundo. A começar pelos americanos, na segunda-feira 24, são divulgados os indicadores de vendas de novas residências em fevereiro. Vão recuar. Na terça, sai um índice de confiança do consumidor importante.

Na quarta, vamos conhecer as encomendas à indústria de bens duráveis de fevereiro (dizem que crescem um pouquinho), as vendas de casas novas (caem) e a quantidade de petróleo que os EUA têm em estoque. Isso, ninguém aposta previsão. Na sexta, são divulgados dados sobre a renda e o consumo dos americanos.

Aqui, o mais importante são os dados do setor externo de fevereiro, que prometem navegar no terreno negativo, a sair na segunda-feira. Na quinta, tem a reunião do Conselho Monetário Nacional. Olha o bolso! Especula-se que o CMN possa restringir o prazo dos financiamentos, principalmente para a compra de automóveis. Bom prestar atenção. E há ainda a pesquisa mensal do emprego, divulgada pelo IBGE. Por enquanto, você verá um país descolado da crise externa. Uma hora a conta será paga, mas não agora.

Márcia Pinheiro

Economia & Mercado

Fonte: Carta Capital


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