terça-feira, 18 de março de 2008

Quase vinte anos depois

por Daniel Tertschitsch

Primeiro de outubro de 1990. A prefeita Luiza Erundina anuncia a nova proposta de governo: o projeto tarifa zero, de autoria do secretário de Transportes Lúcio Gregori, que pretendia garantir a gratuidade total do transporte coletivo entre 1o de julho a 31 de dezembro de 1991. Ou melhor, gratuidade, sim, mas não de graça.

O projeto, definido por Lúcio como político e não técnico, visava garantir o direito de ir e vir para toda a população que gastava em 1986 cerca de 22% do seu salário para cada 50 passagens de ônibus pagas. Seria financiado por um fundo de transporte, que recolheria fatias do IPTU, que sofreria um reajuste progressivo, aumentando consideravelmente para os setores mais ricos da sociedade. 22 de outubro. O projeto começa a ser discutido na Câmara Municipal, onde encontra resistência nos vereadores do próprio Partido dos Trabalhadores.

Na Câmara, o projeto definha, enquanto os debates na sociedade e dentro do PT fervilham. Pesquisa DataFolha divulgada no mesmo dia 22 de outubro pela Folha de S. Paulo, mostra 45% dos 1.077 entrevistados eram contrários à proposta, enquanto 43% eram favoráveis. No entanto a parcela mais pobre da cidade se mostrou favorável. Dos entrevistados que recebiam de 1 a 5 salários mínimos, 50% apoiava o projeto, contra 38% contrários. Dentre os entrevistados que recebiam mais de 10 salários mínimos por mês, 54% rejeitaram a proposta.

Dentro do PT os argumentos dos militantes contrários ao projeto eram dos mais variados. Desde a falta de discussão interna antes do anúncio do projeto, até curiosas comparações com a inexistência deste tipo de gratuidade nos países do chamado socialismo real. “Será que a gratuidade educa ou deseduca as massas?”, argumentava um diretor do sindicato dos metroviários da época.

Navegue pelos links abaixo para acessar a alentada entrevista, dividida em dez partes:

A situação do transporte público de São Paulo à época

Criando as condições para a tarifa zero

A resistência do PT à proposta da tarifa zero

As dúvidas da população sobre o assunto

A municipalização soterra a tarifa zero

A experiências com a tarifa zero em outros locais

Após três governos, o próprio PT acaba com a municipalização

Os problemas para fiscalizar o transporte público

Questionamentos políticos que projetos de tarifa zero sofrem

A participação dos estudantes na defesa da tarifa zero

fonte: Carta Capital


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: