sábado, 15 de março de 2008

Por que os bancos não podem quebrar e nós podemos?

Por Antônio Mello

A primeira página de O Globo não poderia ser mais reveladora. “Socorro inédito a grande banco derruba as bolsas”. Pensei comigo, ai, ai, meu deus, já vão torrar os meus impostos, sem liquidar minhas dívidas...

Mas, felizmente (pode-se usar a palavra neste contexto?), o socorro inédito foi nos EUA, não aqui. O BC americano emprestou ao Bear Stearns, quinto maior banco de investimentos de lá, uma quantia não especificada em dólares, torrando dinheiro do contribuinte para manter acesa a chama do mercado financeiro.

O socorro foi tão espetacular que desnorteou mancheteiro e redator do jornalão carioca, que apregoam que o socorro é inédito, para sem seguida afirmarem que socorro desse tipo não era feito desde a Grande Depressão. Bom, se já foi feito antes, então não é inédito, né?

Mas, o fato é que o Fed correu para salvar o banco, que em abril de 2007 tinha receitas de US$ 16,5 bilhões, e agora estavam virando pó, graças à crise provocada pelo setor hipotecário nos EUA. Anteriormente, nem há uma semana, o mesmo Fed, em conjunto com outros BCs, havia injetado US$ 245 bilhões no mercado com a mesma finalidade.

Sentindo o cheiro de queimado, que vai explodir no bolso dos de sempre (nós, os não-banqueiros, os não-financistas, os sem reservas, portanto, os sem socorro dos BCs) lembro-me do velho Brecht, e medito:

O que é o roubo de um banco, comparado com a fundação de um banco? (No Brasil, a frase ainda pode ser enriquecida, caso a palavra fundação seja escrita com inicial maiúscula.)

Lembro-me também de outra frase:

O melhor negócio do mundo é um banco bem administrado. O segundo melhor negócio é um banco mal administrado. O terceiro, um banco falido.

Cada vez mais atual.

E nós cada vez mais vermelhos na raiva e na conta corrente.

(E apenas para não deixar passar em branco: por que continuam livres os Magalhães Pinto e responsáveis pelo trambique do Banco Nacional?)

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Fonte: Blog do Mello

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