quarta-feira, 19 de março de 2008

Iraque: Cinco anos de matança e desespero




Investigação de Abusos

por Georges Bourdoukan

Milhares de pessoas morrem ou ficam mutiladas, e comunidades que antes viviam em relativa harmonia são lançadas a um conflito declarado. A população civil é a que suporta a maior parte da carga.

Cinco anos depois das forças encabeçadas pelos Estados Unidos derrubarem Saddam Hussein, o Iraque permanece um dos países mais perigosos do mundo no que se refere a direitos humanos, disse Amnesty International hoje, 17 de março.

Em novo informe intitulado “Matanças e desespero – Iraque cinco anos depois” [Carnage and despair: Iraq five years on], a organização descreve o devastador impacto – com mais de quatro milhões de pessoas desabrigadas de seus lares – dos ataques e homicídios sectários perpetrados por grupos armados, tortura e maus-tratos infligidos pelas forças governamentais iraquianas e a prolongada detenção de milhares de suspeitos nas mãos das forças norte-americanas e iraquianas.

Muitos detidos permanecem encarcerados sem acusação nem julgamento, sendo que alguns deles durante anos.

Milhões de dólares foram destinados à segurança, porém, até o dia de hoje, dois em cada três iraquianos continuam sem ter acesso à água potável, e quase um terço da população - oito milhões de pessoas aproximadamente – necessita de ajuda de emergência para sobreviver.

“O governo de Saddam Hussein era sinônimo de abusos contra os direitos humanos, porém, sua substituição não proporcionou à população iraquiana, em absoluto, um alívio” disse Malcolm Smart, diretor do Programa Regional para o Oriente Médio e Norte de África da Amnesty International.

Milhares de pessoas morrem ou ficam mutiladas, e comunidades que antes viviam em relativa harmonia são lançadas a um conflito declarado. A população civil é a que suporta a maior parte da carga. As condições de muitas mulheres, agora em perigo por causa do integrismo religioso, voltaram à época de Saddam Hussein.

Segundo o informe, mesmo na região curda do norte do Iraque, relativamente pacífica, as melhorias econômicas não foram acompanhadas do aumento do respeito pelos direitos humanos.

“Continuam chegando informes de detenções arbitrárias, reclusões e tortura inclusive nas províncias curdas, e a dissidência política pacífica mal é tolerada. Opositores políticos são detidos sem acusação, e os homicídios por motivo de ‘honra’ (mulheres que morrem nas mãos de suas famílias) continuam sendo um problema muito enraizado que as autoridades criticam, mas não abordam adequadamente” manifestou Malcolm Smart.

Ninguém sabe exatamente quantas pessoas morreram no Iraque desde a invasão encabeçada pelos Estados Unidos em março de 2003. Segundo um estudo mais amplo, realizado conjuntamente pela Organização Mundial de Saúde e o governo iraquiano e publicado no último mês de janeiro, mais de 150.000 pessoas morreram até junho de 2006. A ONU informou que em 2006 – último ano que se dispõe desta cifra – já haviam morrido quase 35.000 pessoas. O problema constante da insegurança tem dificultado os esforços para restaurar a ordem, e, mesmo quando as autoridades iraquianas estão inclinadas a defender os direitos humanos, raramente o fazem.

Os julgamentos são sistematicamente injustos, condenações são baseadas em declarações supostamente obtidas mediante tortura, e centenas de pessoas são condenadas à morte.

“Este é um dos aspectos mais preocupantes para o futuro. As autoridades iraquianas, mesmo quando têm diante delas provas autênticas de torturas infligidas sob sua custódia, optam por não prestar contas os seus responsáveis, e os Estados Unidos e seus aliados, também escolhem o mesmo caminho”.

fonte: Blog do Bourdoukan

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