fonte: Vi o Mundo
A quebra da Bear Stearns: você sente a dor deles?
Por Dean Baker, do Truthout,
De acordo com os planos atualmente em desenvolvimento em Washington você vai [sentir a dor da Bear Stearns]. A Bear Stearns, um maiores e mais tradicionais bancos de investimento de Wall Street está na UTI, vítima de sua ambição excessiva e de erros de avaliação. Aparentemente, os gênios que tocam o show na Bear Stearns (resistirei à tentação de usar as iniciais) [Nota do site, BS, para bullshit, que é quando alguém fala alguma besteira com cara de inteligente] não viram a bolha de 8 trilhões de dólares na economia americana. Eles fizeram grandes apostas em bens garantidos por hipotecas.
Essas apostas deram errado de forma espetacular. A Bear Stearns teria agora o valor de uma banca de limonada se não fosse pela generosidade dos dirigentes do Banco Central. O Banco Central emprestou dinheiro à Bear Stearns em condições com as quais nenhum banqueiro privado concordaria. O risco de que o Banco Central vá perder grande parte do que emprestou é grande, sem perspectiva de retorno no investimento.
Isso levanta duas questões óbvias: por que o Banco Central, uma agência do governo, está usando nosso dinheiro para manter a Bear Stearns e seus ricos gerentes e acionistas acima da linha d'água? Afinal, o governo supostamente não tem dinheiro suficiente para dar seguro de saúde ou creche às crianças, ou para garantir moradias decentes e uma longa lista de necessidades. Como é que temos dinheiro para emprestar dezenas de bilhões de dólares para a Bear Stearns com juros abaixo dos do mercado?
Há dois pontos que devem ficar claros. Primeiro, essa é uma operação de salvamento - estamos dando dinheiro para a Bear Stearns. Segundo, não temos a obrigação de dar dezenas de bilhões de dólares aos mais ricos do país para salvar o sistema financeiro.
Os políticos vão tentar de tudo para obscurecer esse ponto. Eles dizem, "não estamos dando dinheiro, estamos emprestando dinheiro e vamos receber juros, assim o governo pode ter lucro."
Isso é o que dizem os políticos que acham que somos estúpidos. Nenhum banco privado emprestaria dinheiro à Bear Stearns com a mesma taxa de juros e sob os mesmos termos do Banco Central. (Sabemos disso com certeza, caso contrário a Bear Stearns não teria corrido para o Banco Central). Quando o governo faz empréstimo abaixo da taxa de juros do mercado está dando dinheiro. O povo de Wall Street sabe disso muito bem, é assim que eles ficaram fabulosamente ricos. Eles tomam dinheiro a taxas menores do que as que usam para emprestar.
Se eles não conseguirem nos convencer de que não houve uma ação de salvamento, os Bolsa Família de Wall Street vão tentar nos convencer de que temos a obrigação de prevenir um colapso do sistema financeiro. Tal colapso poderia transformar uma recessão em depressão, deixando milhões de pessoas desempregadas por anos.
Isso também não faz sentido. Sabemos como manter bancos em operação mesmo quando declaram concordata. O Reino Unido acaba de fazer isso com o Northern Rock, um grande banco que teve grandes perdas por causa das hipotecas podres. Depois que ficou claro que o banco estava insolvente, o Banco da Inglaterra assumiu o controle. Trocou a direção incompetente que havia arruinado o banco e trouxe uma equipe nova para acertar a contabilidade. O plano é revender o banco para o setor privado quanto estiver em ordem.
Enquanto isso, os outros bancos continuaram em operação. Depositantes continuaram a fazer depósitos e a sacar exatamente como antes. Isso previne qualquer reação em cadeia que traria abaixo o sistema financeiro.
A diferença entre a rota adotada para tratar do Northern Rock e o que aconteceu com a Bear Stearns na semana passada é que os gerentes muito bem pagos da empresa britânica foram demitidos. Além disso, os acionistas vão ganhar pouco ou nada. Eles são donos de uma empresa falida; por que o governo deveria dar dinheiro a eles?
Com o aprofundamento da crise financeira, é importante para o público enxergar a distinção entre o que fez o Banco da Inglaterra e o que fez o Banco Central americanoo. Há outros bancos enfrentando dificuldades procurando ajuda.
O melhor que se poderia fazer agora é seguir o caminho adotado no caso do Northern Rock. Em vez de dar mais dinheiro a bancos falidos, deveríamos dar menos. O Banco Central americano deveria acabar com o mecanismo que criou para injetar dinheiro nos bancos. A economia vai se recuperar mais rápido se deixarmos os bancos e os banqueiros arcar com as consequências de suas decisões. Quando os bancos assumirem suas perdas e estiveram sob nova direção, poderão voltar a ter o papel produtivo de financiar o crescimento econômico.
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