por Guilherme Felitti
Vou tentar falar isto da maneira mais delicada, mas, caro leitor, por favor, não me entenda mal: você faz parte de uma minoria no Brasil.
Quem diz isto não sou eu, mas os dados compilados pelo Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br) ligado ao Comitê Gestor da Internet (CGI.br) para a terceira pesquisa Tecnologias da Informação e Comunicação no Brasil (TIC) Domicílios 2007.
Baseado nas respostas de 17 mil lares brasileiros, o TIC Domicílios 2007 (uma apresentação com as principais estatísticas pode ser baixada do site do NIC) se apresenta como um dos retratos mais fiéis do mercado brasileiro de tecnologia, exageradamente acostumado a babar pelas novidades tecnológicas de última geração lá de fora.
Olhemos, então, para o nosso próprio rabo. A primeira constatação do TIC 2007 é que ainda somos um país majoritariamente desconectado. Ainda que esteja em queda nos últimos três anos, a taxa dos brasileiros que nunca usaram a internet ainda é maior que os que já – 59% contra 41%.
Esta sua atitude de abrir o navegador, clicar sobre determinado link e abrir esta página para ler esta coluna (assim como minha própria iniciativa de escrevê-la para uma mídia eletrônica) transforma você, o internauta, em minoria.
Soa absurdo, em pleno 2008, mais da metade da população do Brasil não ter nunca se conectado.
A cifra soa ainda mais absurda pelo recorde de navegação que os mesmos brasileiros têm frente a franceses, norte-americanos e australianos. Em janeiro, diz o Ibope//NetRatings, o brasileiro que tem banda larga em casa ficou, em média, 23 horas e 12 minutos (ou quase um dia inteiro) navegando.
Os conectados em banda larga são 21 milhões. Baseados nos 186 milhões de brasileiros, os desconectados são quase 110 milhões. A desigualdade no Brasil vai além da distribuição, nos mostra a comparação entre as estatísticas.
É evidente também que os 59% de desconectados tendem a cair com o tempo até que atinjam um patamar mínimo, como o detectado em países com altíssima penetração de telecomunicações, como a Coréia do Sul, e é baseada na segunda constatação que esta diminuição se apóia.
Se há alguém promovendo a inclusão digital no Brasil, não é o Governo Federal – pelo menos no que diz respeito a acesso. Em 2007, as LAN houses, termo adotado pelo brasileiro para designar o que os estrangeiros conhecem como cybercafe, lideraram o acesso à internet no Brasil, citadas por 49% dos entrevistados.
Iniciativas de acesso público à internet, como TeleCentros ou AcessaSP, promovidas pelos governos municipal e estadual de São Paulo, correspondem a apenas 6% dos acessos.
Mais que simplesmente levar internet em regiões onde não há ação da administração regional em inclusão digital, as LAN houses indicam a ascensão de um novo perfil de internauta brasileiro.
Na média, o responsável pela explosão do acesso das LANs é um usuário pobre, que ganha até dois salários mínimos por mês, com até 24 anos de idade, sem distinção clara entre sexo e que se concentra no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O aumento da penetração e uso de LAN houses foi tão forte que fez com que o acesso por banda larga em casa, no trabalho ou na escola, beneficiados pelo barateamento de planos das operadoras, parecessem estáveis.
Por mais que não existam dados oficiais (o TIC 2007 não contemplou tal parâmetro), é inegável que a mistura entre isenção de PIS/Cofins com crédito abundante do programa "Computador para Todos", este sim do Governo Federal, ajudou a equipar as LAN houses nas regiões pobres onde mais cresceu.
Os dados do TIC Domicílios 2007 evidenciam que, no ano passado, a inclusão digital chegou realmente em quem deveria, muito embora o exagerado uso de redes sociais (leia-se Orkut), comunicadores instantâneos e e-mails caracterize o grosso do acesso entre os recém-incluídos.
Na reunião do NIC.br onde os dados foram apresentados, Rogério Santanna, secretário de logística e tecnologia da informação do Ministério do Planejamento, deixou claro que o governo estuda um pacote de incentivos para aumentar a penetração de banda larga, em projeto feito junto ao Ministério das Comunicações, em uma espécie de "Banda larga para Todos".
Com os PCs, o governo fez (e muito bem) seu trabalho – não seria exagero considerar o "Computador para Todos", iniciativa que "demandou vontade, trabalho, caneta e tinta", como bem definiu Elio Gaspari, a política de maior sucesso na área tecnológica do governo Lula.
Enquanto o Governo Federal tenta repetir o sucesso que teve com computadores nas conexões banda larga, é a iniciativa privada pobre que vai espalhando a inclusão digital pelo Brasil. Não se sinta mal – é por culpa deles que, um dia, você virará maioria.
Capital Digital
fonte: Carta Capital
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