sábado, 8 de março de 2008

A imprensa sem espelho - por Mauricio Dias - fonte: http://www.cartacapital.com.br

A imprensa sem espelho - por Mauricio Dias

A imprensa brasileira vive, simultaneamente, uma situação trágica e cômica em relação a um princípio básico do jornalismo: o ato de dar notícias. Nos momentos em que se vê obrigada a publicar fatos favoráveis à administração Lula, a informação torna-se um suplício.

Nesse sentido, a mídia tem passado sobre alguns fatos com a sutileza de um trator desgovernado. Há um esforço cotidiano e desesperado contra o governo. E isso vai muito além de uma reação conservadora. A supressão e distorção de informações e a fabricação de escândalos têm a finalidade de fazer o presidente sangrar. Esse esforço, até agora, malsucedido, encontra lógica na eleição de 2010.

A mídia finge que não vê o espelho. As pesquisas de opinião não refletem o que ela quer. Os ponteiros das sondagens de opinião indicam uma aprovação monumental do governo. Mas isso não significa que a maioria da sociedade seja lulista nem se traduzirá necessariamente em votos. Talvez seja apenas o reconhecimento de uma boa administração, com um elenco de acertos e erros e com inflexão visível para a questão social.

Paulatinamente, a atuação de Lula desestabiliza os preconceitos da classe média. Há um namoro cauteloso, mas permanente. O cruzamento dos números das pesquisas, consideradas as referências de renda e de escolaridade, mostra isso. A rejeição a Lula está pouco acima de 30%. Este é o porcentual de eleitores que nunca votaram e nunca votarão em um operário metalúrgico.

Tem sido dirigida essencialmente para esse núcleo a voz da mídia. O jornalismo submetido, assim, tão profundamente, a objetivos político-eleitorais tangencia a esquizofrenia. Essa doença deriva da confusão entre a coisa e a aparência da coisa, porque a imprensa, ao contrário do que se supõe, não reflete a opinião pública.

O mal não é de agora. Dom Pedro II percebeu esse equívoco e o registrou no elenco de “Conselhos à regente”, de 3 de maio de 1871: “O sistema político no Brasil funda-se na opinião nacional, que, muitas vezes, não é manifestada na opinião que se apregoa como pública”.

O exemplo disso é a manchete da primeira página de O Globo, de 22 de fevereiro, dia seguinte ao anúncio oficial de que as reservas brasileiras superaram a dívida externa. O jornal atribui o desempenho “à ação ortodoxa do Banco Central” e “à expansão” da economia mundial.

Assim, tudo decorre como resultado da “mão invisível do destino” ou, alternativamente, da “mão invisível do mercado”. O governo não existe. O Globo desaloja o presidente do comando da administração. Declara, assim, o impeachment de Lula na notícia.

fonte: http://www.cartacapital.com.br
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