quarta-feira, 8 de julho de 2009

A volta do 'jornalismo investigativo'

::

da Redação Carta Capital

Há quase um ano, quando do início da Operação Satiagraha, CartaCapital publicou uma reportagem em que mostrava como a mídia nativa subitamente começou a produzir "furos" jornalísticos, uns atrás dos outros, sobre o envolvimento de Daniel Dantas nas operações criminosas investigadas pela Operação Satiagraha da Polícia Federal, conduzida pelo delegado Protógenes Queiróz e que por duas vezes levou o Orelhudo à prisão, da qual se livrou sempre rapidamente, por meio de velocíssimos habeas-corpus.

Nesta semana, quando DD finalmente foi indiciado pelo Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro, em episódios relacionados ao esquema de financiamento ilegal operado pelo publicitário e empresário Marcos Valério, o jornalismo tupiniquim parece ter redescoberto o tema e voltou a acionar a "máquina de furos" sobre o assunto com bastante propriedade.

CartaCapital mais uma vez relembra esta reportagem, fartamente ilustrada com links para as matérias que davam conta do envolvimento de Dantas com o chamado "mensalão" e remontam a junho de 2005, portanto, há quatro anos. A recomendação que demos à época segue bastante válida ainda hoje: "Para facilitar o trabalho deste time de investigadores da imprensa, agora heróis da liberdade e da apuração exaustiva, a revista lista a seguir as edições onde eles podem achar mais informações para enriquecer seu trabalho. Bom proveito."

::
Edição 348, de 29 de Junho de 2005
– A reportagem O orelhudo tá nessa, a partir da página 28, narra a participação de Daniel Dantas no Valerioduto e conta como petistas, entre eles Sílvio Pereira, Delúbio Soares e José Dirceu, defenderam interesses do Opportunity no governo. O nome do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, vulgo Kakay, amigo de Dirceu, é apresentado como intermediário entre Dantas e o ex-ministro da Casa Civil. Atenção jornalistas investigativos, um executivo do Citibank contou a CartaCapital um diálogo com Dantas. O banqueiro brasileiro disse à turma do Citi que havia pagado 5 milhões (não disse se dólares ou reais) a Kakay para resolver seus problemas no governo.

Edição 354, de 10 de agosto de 2005 – Em A Conexão Lisboa, CartaCapital conta os objetivos da viagem do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza a Portugal. O resto da imprensa atribuiu a viagem, da qual também participou Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, como lobby pela privatização do IRB, a empresa de resseguros do governo. Marcos Valério teria se apresentado como “representante do governo” na ocasião. A revista revelou que o motivo da viagem foi discutir a venda da Telemig Celular à Portugal Telecom. O plano de Dantas era negociar a empresa de telefonia celular mineira com os portugueses e usar o dinheiro para comprar a Brasil Telecom dos demais sócios (Citi e Telecom Itália), mantendo os fundos de pensão como minoritários. O problema era a oposição destes fundos. O mais firme opositor era Sérgio Rosa, presidente da Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil). A idéia era demover Rosa da presidência da fundação e agir para que Henrique Pizzolatto assumisse o posto. Pizzolatto recebeu dinheiro do Valerioduto e agiu a favor de DD neste episódio. Uma auditoria da Brasil Telecom apontou mais tarde que o Opportunity provocou prejuízos de 600 milhões de reais à operadora, ao usar a estrutura e dinheiro da companhia em proveito próprio.

Edição 363, de 12 de outubro de 2005 – A reportagem Segredos do Brasil conta a expectativa de autoridades quanto à abertura e o conteúdo do disco rígido dos computadores do Opportunity (os dados do HD são um dos sutentáculos da Operação Satiagraha). Relata-se ainda a pressão que o então ministro José Dirceu teria exercido sobre o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a Polícia Federal a favor de Dantas. Conta-se, por fim, as tentativas de desqualificação de Edson Vidigal, então ministro do STJ, que deu decisões desfavoráveis ao Opportunity.

Edição 377, de 25 de janeiro de 2006 – Na quarta-feira, 16, a Folha de S. Paulo revela aos seus leitores ter tido acesso a um documento que CartaCapital publicou com detalhes mais de dois anos atrás.

Em A agenda e a crise, descreve-se os encontros de Humberto Braz, à época presidente da Brasil Telecom Participações e atualmente preso por tentar corromper um delegado federal que atuou na Satiagraha, com figuras centrais do chamado “mensalão”. Estão lá, além de Marcos Valério, Ivan Guimarães, Duda Mendonça, Kakay, Cristiano Paes, entre outros. Braz também se reuniu 15 vezes com Eduardo Rascovisky, lobista carioca que tentou corromper o marido da juíza Márcia Cunha, segundo relato da própria magistrada. Titular da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Márcia Cunha tinha tomado decisões contrárias aos interesses do Opportunity na disputa pelo controle das empresas de telefonia. Como o suborno não funcionou, a juíza passou a ser alvo de ataques. Um dossiê contra ela foi parar na imprensa. Márcia Cunha respondeu a um processo administrativo no tribunal e a quatro pedidos de suspeição feitos por advogados de Dantas.

Edição 395, de 31 de maio de 2006 - Dantas e os petistas expõe as relações de próceres do PT com Dantas, a partir da estranha reunião na casa do senador Heráclito Fortes após a divulgação, por Veja, de contas falsas do presidente Lula, ministros e autoridades. A revista do grupo Abril atribuiu o dossiê a Dantas. Na casa de Fortes, e na presença do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e dos deputados petistas Simaringa Seixas e José Eduardo Cardozo, o banqueiro negou ter sido autor do dossiê (acabou indicado, no ano passado, por calúnia). CartaCapital contou como Cardozo havia defendido interesses do Opportunity ao solicitar uma investigação da venda da CRT, operadora do Rio Grande do Sul, à Brasil Telecom. Essa operação serviu para Dantas encobrir os reais motivos da contratação da Kroll para bisbilhotar desafetos e concorrentes.

Edição 396, de 7 de junho de 2006 - A Fábrica de Dossiês revelou há dois anos o que O Estado de S. Paulo acaba de descobrir: Dantas mandou espionar juízes. É uma longa lista de documentos apreendidos por conta da Operação Chacal, em 2004. Nos dossiês há referências a tucanos, petistas, policiais federais, magistrados e empresários nacionais e estrangeiros.

Fonte: Carta Capital

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: