terça-feira, 7 de julho de 2009

Os políticos e a imprensa

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por Sonia Montenegro, em 3/7/2009

Em 25 de abril de 1984, a emenda que viabilizaria a eleição direta foi
derrubada, apesar do grande movimento popular que clamava a volta da
democracia e o direito ao voto.

Neste tempo, o político mineiro Tancredo Neves, apesar de comparecer aos
comícios das Diretas Já, torcia para que a emenda não fosse aprovada,
para que ele pudesse se candidatar pelo PMDB, e ser eventualmente eleito
presidente pelo Colégio Eleitoral. Tancredo sabia que sua única chance
seria a eleição indireta.

Em 23 de julho, PMDB e PFL assinam aliança Tancredo-Sarney, como
candidatos do Colégio Eleitoral para a escolha do novo Presidente e vice
da chamada "nova" República.
Tancredo conseguiu a aprovação da imprensa, já havia se entendido com o
Roberto Marinho das Organizações Globo, e construiu uma grande aliança
que garantiu sua vitória no Colégio Eleitoral, porém, na véspera de sua
posse, foi internado, sofreu 7 cirurgias, vindo a falecer

Sua morte só foi anunciada à nação no dia 21 de abril, para coincidir
com a morte de Tiradentes, seu conterrâneo e mártir da independência.
Tancredo era então o mártir da República. Enquanto ele agonizava, a
imprensa o beatificava, com matérias e reportagens que geraram uma
comoção popular, como de costume, aliás.

Em 15 de março de 1985 Sarney assume provisoriamente a presidência, e em
22 de abril, definitivamente. Nesta altura, já tinha tido vários
mandatos como deputado, governador biônico (eleito indiretamente) do
Maranhão, senador e presidente do PDS. Sua vida pública já era conhecida
de todos, mas teve apoio no Congresso e conseguiu inclusive aumentar em
mais 1 ano o seu mandato. Depois de deixar a presidência, elegeu-se
senador pelo Amapá e compunha a base de apoio do governo de FHC.

Em 2002, sua filha, Roseana Sarney se candidata à presidência pelo PFL e
começa a ameaçar a ida do tucano José Serra para disputar o 2º turno da
eleição com Lula. Isso deixou os tucanos de orelha em pé, com a certeza
de que alguma coisa teria que ser feita para impedir a vergonha do
candidato de FHC não chegar nem ao 2º turno.

No dia 1º de março de 2002, a PF invade o escritório da Lunus (MA),
empresa do marido da então candidata à presidência Roseana Sarney, e
encontra R$ 1,3 milhão no cofre. A imprensa divulga imediatamente a
pilha de dinheiro e derruba a candidatura da Roseana.

Em 20 de março, o senador José Sarney, pai de Roseana, faz discurso no
plenário e acusa textualmente o candidato José Serra como o responsável
pela ação da PF. Todos os envolvidos nela eram "gente do Serra". Não se
tem notícia de que tenha sido processado por seu discurso, nem que tenha
sido ameaçado por "quebra de decoro", pelas graves acusações que fez.
"Acusam a governadora pela aprovação da Usimar e esquecem o ex-ministro
José Serra, que responde ao processo 96.00.01079-0 por 'improbidade
administrativa - ressarcimento ao erário', a outra ação,
2000.34.00.033429-7, com a finalidade de 'reparação de danos ao erário',
e ainda a várias outras ações ordinárias, cautelares, civis públicas,
populares". O texto acima serve apenas para mostrar a hipocrisia dos políticos e da
imprensa:

1- Tancredo fingia que apoiava o movimento pelas Diretas, mas torcia
para que não fosse aprovada. Obviamente, a imprensa tinha conhecimento
de tudo, mas como não interessava, não divulgava. (Há pouco tempo o
jornalista Maurício Dias escreveu a esse respeito em Carta Capital)

2- Sarney, quando era da base de apoio do governo FHC era um político
ilustre. Foi presidente do Senado no 1º ano do mandato de FHC (entre
1995 e 1997), seguido de ACM, Jader Barbalho...

3- As abundantes irregularidades do Senado agora denunciadas, já
acontecem há pelo menos 15 anos, segundo se diz, mas só agora existe um
real interesse em denunciá-las. Aliás, mais uma vantagem de ter Lula no
poder: pela 1ª vez, os políticos que mandaram e desmandaram por todo
tempo neste país querem apurar as irregularidades, embora retrocedam
quando estas retroagem a 2002. FHC espertamente disse que o que
aconteceu no seu governo já faz parte da história.

4- Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado porque tem uma
filha fora do casamento (reconhecida por ele) que foi sustentada por um
empresário, mas FHC tem um filho também fora do casamento (não
reconhecido por ele), que é sustentado pela Rede Globo (sua mãe é
jornalista global, e foi transferida para a Espanha, para não causar
transtornos ao pai), mas disso a imprensa não fala, exceto a revista
Caros Amigos, que divulgou o fato, e não foi acionada nem contestada.
Agora Renan é corrupto, mas ele foi Ministro da Justiça de FHC.

5- Sempre que são feitas denúncias de corrupção, a imprensa elege os
"arautos da moralidade" para fazer seus comentários indignados. Os
cidadãos desavisados tendem a acreditar que essas figuras são corretas,
o que não corresponde à realidade. É pura hipocrisia!

6- Se a imprensa tivesse compromisso com a verdade, escolheria aqueles
com ficha limpa, tendo portanto uma enorme responsabilidade pela péssima
qualidade do nosso legislativo.

7- A imprensa apoiou o golpe de 64, a ditadura, o Collor, o FHC, e
continuará apoiando o que de pior existe na política brasileira, para
preservar seus interesses e de seus anunciantes. Essa é a sua lei
maior!!!

8- José Agripino Maia é primo de Agaciel Maia, que em 19 de junho
último casou sua filha, e contou com a família de Agripino pra
prestigiar a festa! Fez-se na política nos tempos da ditadura, quando a
corrupção não era noticiada pela imprensa, mas ainda assim, basta
procurar para encontrar uma série de denúncias e irregularidades em sua
vida pública, como dinheiro "por fora" para campanhas eleitorais. É dono
também de alguns veículos de comunicação.

9- Heráclito Fortes também é político dos tempos da ditadura, e faz
parte da "tropa-de-choque" do banqueiro condenado Daniel Dantas. Tinha
em seu gabinete, desde 2003, como funcionária fantasma morando em São
Paulo, Luciana Cardoso, filha de FHC. Recentemente defendeu o pagamento
de R$ 6,2 milhões em horas extras para 3.883 funcionários durante o mês
de janeiro, em pleno recesso, quando não houve trabalho parlamentar no
Congresso.

10- Arthur Virgílio é o rei da cara-de-pau. Bradava contra o caixa 2 do
PT, que chamam de "mensalão" apenas para dar uma impressão de maior
gravidade, mas em entrevista ao Jornal do Brasil em 19/11/2000,
reconhece que "foi obrigado" a fazer caixa 2 na campanha para o governo
do Amazonas, e que podia reconhecer o fato publicamente porque o crime
já prescrevera. Quando foi prefeito de Manaus, teve nada menos que 46
operações e obras classificadas de irregulares, por uma auditoria no
Tribunal de Contas do Município (TCM) JB 18/3/92. Recentemente,
divulgou-se que seu assessor pediu a Agaciel US$10 mil, garantindo que
um rateio entre "amigos" quitou o empréstimo. Agaciel nega ter recebido.
Por atos secretos do Senado, contratou seu professor de jiu-jitsu, 3
filhos de seu subchefe de gabinete Carlos Homero Nina Vieira, um deles
morando na Espanha, e ainda a mulher e a irmã de Nina Vieira, sem contar
os gastos R$ 723 mil com despesas médicas de sua falecida mãe, em 2006.

Esses são os políticos que a imprensa escolhe para dar depoimentos
condenando a corrupção. Seria cômico se não fosse trágico!

Claro está que a intenção da imprensa e da oposição não é absolutamente
a de moralizar o Senado, mas toda essa repentina perseguição ao Sarney
tem alguns objetivos importantes para a oposição: paralisa o Senado, em
tempos de crise mundial, prejudicando o governo e principalmente o país,
e intimida os parlamentares da base de apoio deste governo. É como se
estivessem dizendo a todos os parlamentares: cuidado, apoiar o governo
Lula é muito perigoso!!!

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