terça-feira, 14 de julho de 2009

Obama: visita ao "golfo do petróleo" africano

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por Emira Woods, em The Nation

Tradução: Caia Fittipaldi

O presidente Barack Obama visitou a África, em "visita histórica". Mas, filho de economista nascido no Quênia, Obama não visitou a terra de seus antepassados: visitou Gana, o mais novo "Estado petrolífero" da África.

O petróleo foi descoberto em Gana muito recentemente, em 2007. Uma grande bacia, na costa atlântica ocidental, do Marrocos a Angola, que já começa a ser chamada de "o golfo do petróleo" da África. Os países africanos produtores de petróleo, incluindo a rica bacia do Golfo da Guiné, fornecem hoje 24% do petróleo que os EUA importam. A África já superou o Oriente Médio, como fornecedor de petróleo aos EUA. E cada vez mais a África extrai petróleo de bacias submarinas.

Nas áreas profundas do litoral atlântico de Gana, a empresa Kosmos Energy, com sede no Texas, já controla os campos conhecidos como "Jubilee Fields", uma das maiores reservas de petróleo descobertas na África Ocidental na última década, onde se prevê que haja 1,2 bilhões de barris de petróleo. Em maio de 2009, a Kosmos Energy começou a receber propostas de empresas interessadas em partilhar a riqueza das bacias de petróleo. Gigantes da energia global – Chevron Corp, Exxon Mobil, Royal Dutch Shell, China National Offshore Oil Company e a British Petroleum – todas de olhos na África, e todas com sangrenta história na África – circulam sobre o continente como aves de rapina.

Afinal, a data que Kosmos Energy demarcou como prazo final para receber propostas está próximo: 17 de julho, uma semana depois da visita de Obama a Gana.

A cada dia que passa mais interessados no petróleo africano, os EUA trataram de ampliar sua presença militar (e naval) no "Golfo do Petróleo" africano.

Em outubro de 2008, foi oficialmente criado o US Africa Command (Comando Militar dos EUA para a África, AFRICOM). Transplantando o modelo desenvolvido no Oriente Médio, as forças militares dos EUA serão instaladas na África para proteger o petróleo de que os EUA necessitam e, como sempre, para caçar os chamados "terroristas".

O US Africa Command AFRICOM declarou que trabalhará para "ajudar os africanos a ajudarem-se eles mesmos". Para isso, já está em operação uma lista enorme de missões humanitárias (construção de clínicas odontológicas, escolas, cisternas e poços etc.). Isso quanto ao que tem sido divulgado. O que não tem sido divulgado é o trabalho, que também já está sendo iniciado, de treinar e armar milícias locais que possam oferecer 'segurança' às empresas norte-americanas que se estão instalando na África, com a missão de garantir suprimento de petróleo capaz de satisfazer a fissura dos EUA, dependente incurável de combustíveis fósseis.

Ativistas que lutam por justiça social e pelos direitos humanos em Gana já manifestaram grave preocupação com o efeito de propaganda da visita do presidente Obama a Gana. Para muitos, Obama lá estará como uma folha de parreira, para encobrir os planos de ampliar a ocupação militar norte-americana na África. Movimento que não surpreenderá ninguém em Gana, por exemplo, será a transferência da principal base do US Africa Command AFRICOM – hoje instalada em Stuttgart – para nova base militar a ser criada em território africano.

Inúmeros ativistas dos direitos humanos em Gana e em outros países africanos têm exigido que os EUA alterem suas políticas para o continente africano, de modo a considerar os interesses dos vários lados envolvidos, sob relações de respeito mútuo.

O governo Obama conseguirá alterar o rumo já traçado, de políticas externas cada vez mais militarizadas também no caso da África? Conseguirá conter o ímpeto com que o AFRICOM e o exército dos EUA já se dedicam a ampliar a ocupação de territórios africanos?

Mais importante: o governo Obama conseguirá converter sua retórica responsável e interessada na preservação da natureza em todo o planeta, em políticas reais que ponham fim à dependência doentia dos EUA, viciados em petróleo?

Não há como examinar o significado da visita de Obama à África, nem no curto prazo nem em prazo mais longo, sem considerar devidamente essas realidades ocultadas da opinião pública mas, nem por isso, menos determinantes.

Fonte: Vi o Mundo

O artigo original pode ser lido em: http://www.thenation.com/doc/20090720/woods


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