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Urge amaciar nas duas pontas: comerciante e consumidor
por Fátima Oliveira, em O Tempo
Um chamado ao "Pensar global e agir local" de grande impacto ambiental, se pegar, foi lançado pelo Ministério do Meio Ambiente em 23 de junho passado. Falo da campanha "Saco é um saco", no âmbito do consumo sustentável - eixo do processo de Marrakech do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que incentiva ações de mudanças na produção e no consumo.
"Saco é um saco" visa sensibilizar para o consumo consciente do uso de sacos e sacolas de plásticos - em feiras, farmácias, supermercados e todo o comércio varejista - com vistas a reduzir o consumo, estimado em 12 bilhões anuais de sacolas plásticas no país. Sacos e sacolas de plásticos são feitos de resina sintética derivada do petróleo, que não é biodegradável e leva séculos intacta na natureza. Sacolas de supermercado são feitas de "plástico filme" (polietileno de baixa densidade).
"Saco é um saco" é continuidade da campanha "Consumo consciente de embalagens: A escolha é sua. O planeta é nosso" (2008) sobre embalagens e divulgação de boas práticas no uso e descarte delas. Em 2007, o Ministério do Meio Ambiente realizou uma pesquisa sobre o "estado da arte" do consumo das sacolas plásticas no país e decidiu enfrentar o problema com redução de consumo, alternativas tecnológicas e reforço de campanhas de conscientização, considerando o quadro desolador de um país continental em que a coleta seletiva de lixo é coisa exótica, pois menos de 10% dos 5.564 municípios a realizam.
O Brasil produz 210 mil toneladas/ano de plástico filme e 1 bilhão de sacolas/mês são distribuídas em supermercados = 66 sacolas/brasileiro/mês, responsáveis por 10% do lixo do país. No mundo, usa-se 500 bilhões a um trilhão de sacolas plásticas/ano: 1,4 bilhão/dia ou 1 milhão/minuto. Um mar de plástico infinito. A degradação de um reles e aparente inofensivo pedacinho de plástico leva cerca de quatro séculos em aterros sanitários ou nos lixões. Sem falar muito sobre o que fica à solta, virando lixo que se acumulará nos bueiros, chegando a cursos d’água e causando danos ambientais que sequer ousamos dimensionar. E até fazemos de conta que não nos toca nada desse latifúndio antiecológico de plástico.
O futuro das sacolas plásticas é um grande e inconcluso debate. Todavia, sabe-se que dependerá da ação de cada pessoa, de regulamentação do uso racional delas e de tecnologia - por exemplo, oxibiodegradáveis e bioplásticos biodegradáveis e compostáveis -, que comportam inúmeras controvérsias científicas.
Como racionalizar e superar o hábito arraigado nas últimas três décadas de reúso de sacos e sacolas plásticos para acondicionar o lixo doméstico? O que fazer para que casas comerciais e feiras não usem como embalagem as sacolinhas plásticas? Pouco adiantará ensinar às pessoas a recusa ao saco e à sacola de plástico se comerciantes continuarem a embalar suas vendas prioritariamente neles. Urge amaciar nas duas pontas: comerciante e consumidor.
Não seria uma boa sensibilizar o comércio varejista para o uso de sacolas orgânicas e retornáveis, além do incentivo à retomada do antigo hábito da sacola de feira, sacolas retornáveis e carrinhos? E/ou instituir bônus proporcional ao custo que o supermercado teria caso usasse sacolas novas para quem levar sacolas plásticas no ato da compra? Problemas complexos exigem múltiplas propostas de soluções viáveis, sobretudo que cada pessoa faça a sua parte para preservar a Terra que nos foi dada em usufruto e pense também nas gerações futuras.
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