"Roubaram de mim tudo o que roubei ao longo da minha vida", chorava o senador quando soube que o dinheiro que mandou para o exterior desapareceu.
por Mário Augusto Jakobskind
Por aqui no Brasil, prosseguem os vários capítulos da novela sobre as maracutaias no Senado e na Câmara dos Deputados. De José Sarney a Heráclito Fortes, passando pelo deputado do castelo, Edmar Moreira, que acabou de ser absolvido pela Comissão de Ética (?) e muitos outros, toda a história remete a uma ocorrida há anos, digna do saudoso Stanislaw Ponte Preta.
Sarney, sem dúvida seria personagem de Ponte Preta, sobretudo depois que o seu contador, segundo admitiu em nota da presidência do Senado, esqueceu (?) de declarar na Justiça Eleitoral mansão no valor de 4,6 milhões de reais, comprada do banqueiro Joseph Safra.
O senador Heráclito Fortes poderia ser Dantas, porque usou avião particular do banqueiro Daniel na campanha eleitoral no Piauí, coisa de irmão para irmão, e ainda se proclama rei da cocada preta, ou melhor, arauto da moralidade.
Arthur Virgílio Neto é meio primo Altamirando, outro personagem de Ponte Preta, que aprontava mil, pedia desculpas e dizia sempre que não sabia. Virgilio e Sarney, neste momento aparentemente em terrenos opostos, na prática são farinha do mesmo saco.
O senador tucano gastou dinheiro público para tratar da mamãe, tão doentinha, e agora jura que vai devolver o gasto. Tinha um funcionário que estudava em Barcelona e continuava recebendo salário do Senado, mas garante que não sabia. Vamos parando por aqui porque o senador do PSDB é bravo, já tendo ameaçado dar uma surra em Lula. Que dirá então o que faria com outros brasileiros, ainda mais jornalistas?
Mas a história que se segue sem dúvida inspiraria Ponte Preta. No tempo em que se guardava dinheiro debaixo do colchão ou numa mala, o que voltou à tona recentemente, um tradicional político da região Norte do país aproveitou a oportunidade de um amigo do peito estar viajando para a Europa e pediu-lhe um grande favor: levar com ele uma mala com milhões de dólares, dizem as más línguas, de tudo que ele roubou do Erário Público ao longo de sua carreira política que passou inclusive pelo Executivo de um dos Estados mais pobres da Federação.
O portador da mala, por sinal um conceituado jornalista na região de atuação do político, comprometeu-se a fazer o favor de depositar a grana em um banco suíço.
Pois bem, partiram o jornalista e a mulher para a viagem de recreio com parada obrigatória na Suíça. Mas só que houve um imprevisto trágico. O jornalista embarcou para o andar de cima, como diriam os sambistas, depois de sofrer um enfarte fulminante.
No retorno ao Brasil da companheira do morto, o político que havia pedido o favor ao amigo foi falar com ela e pedir o número da conta ou então a devolução do dinheiro. Aí a esposa respondeu: “dinheiro, mas que dinheiro? Não sei o que o senhor está falando”.
Depois da resposta, o tradicional político acima de qualquer suspeita enfartou e ao ser conduzido em maca para um hospital balbuciava: “pô, roubaram todo o dinheiro que eu roubei ao longo da minha vida! O que vai ser de mim?”
O político conseguiu se recuperar e posteriormente ocupou altos cargos da República. Coisa de camaleão mesmo. Tornou-se um cidadão acima de qualquer suspeita na base do hay gobierno soy a favor...
O leitor deve estar perguntando: mas quem é o fulano? É preferível que você mesmo conclua, porque a citação do nome valeria um processo judicial em que o cidadão acima de qualquer suspeita provavelmente ganharia, porque é poderoso, o que levaria o autor destas linhas a ter de no mínimo entregar tudo o que não possui para pagar uma indenização milionária.
Neste patropi abençoado por Deus e bonito por natureza, tudo é possível em matéria de maracutaia e mesmo de impunidade, até porque a punição só acontece quando os envolvidos roubam galinhas ou mesmo manteiga em algum supermercado.
O que está acontecendo no Senado vale várias interpretações. Certamente a culpa da pouca vergonha não é só do Sarney, mas daí o Presidente Lula afiançá-lo sob o pretexto de que se ele for defenestrado terá dificuldades de seguir o mandato vai uma grande diferença. Todo mundo político já conhece há pelo menos 45 anos a audácia do chefe do clã dos Sarney, haja vista o recente episódio no Maranhão, que culminou com o afastamento de Jackson Lago e a ascensão da candidata derrotada na eleição, madame Roseana Sarney, a filha que não se conformava em ter perdido.
O PSDB, que só pensa naquilo (sucessão de Lula), está tentando aproveitar o embalo e assumir a presidência do Senado. Se isso acontecer, os senadores tucanos pegos em flagrante delito, como Virgílio, serão poupados. Reina tremenda expectativa nas hostes senatoriais. No fundo no fundo as partes acabarão entrando num acordo nos bastidores para evitar que outros cidadãos acima de qualquer suspeita tenham a honra conspurcada.
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Em tempo – notícias procedentes de Tegucigalpa dão conta que as manifestações populares pela volta do presidente constitucional Manuel Zelaya estão sendo reprimidos pelo Exército e sob o comando de remanescentes do aparelho de segurança dos anos 70, notórios torturadores que agiam naquela época e que tinham o assessoramento de agentes da CIA. Dois manifestantes morreram. Zelaya pousou em El Salvado, tendo sido impedido de fazer isso no aeroporto da capital hondurenha, mesmo estando acompanhado pelo presidente da assembléia-geral da ONU, Miguel D’Escoto, representantes de vários países na Organização dos Estados Americanos, do secretário da entidade, o chileno José Miguel Insulza e jornalistas. Ele viajou de Washington em um avião brasileiro, segundo informaram fontes alternativas.
Fonte: Direto da Redação
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