segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os Estados Unidos e o golpe

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Por Jean-Guy Allard


Hugo Llorens, o embaixador dos EUA em Honduras que admitiu ter participado em reuniões onde se discutiram planos de golpe antes do sequestro do presidente Zelaya, é um cubano-americano emigrado em Miami através da operação Peter Pan da CIA. Especialista em terrorismo, era o diretor dos Assuntos Andinos do Conselho Nacional de Segurança em Washington, quando se deu o golpe contra o presidente Hugo Chávez.

Nos seus primeiros anos de atividade diplomática esteve colocado nas Honduras como conselheiro econômico, de onde passou para a Bolívia com o mesmo cargo. Continuaria como adido econômico no Paraguai da ditadura de Stroessner, e mais tarde aparecerá em El Salvador como coordenador de narcóticos, outra das suas especialidades.

Num salto inesperado para outra parte do mundo o multifacetado Llorens foi para as Filipinas como simples funcionário consular. De volta ao continente americano foi durante três anos cônsul-geral dos Estados Unidos em Vancouver, Canadá, onde se dedicou à criação de uma estação chamada "multi-agências", que consegue a abertura no próprio consulado de representação do FBI, do Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo, ATF, e do Serviço de Alfândegas dos EUA. Isto sem esquecer representações do Serviço Secreto e de Segurança do Departamento de Estado. Tudo isto sob o tema da luta contra o terrorismo e a delinquência internacional.

Ao lado de Elliot Abrams e Otto Reich

A Casa Branca do tempo de George W Bush, em 2002, nomeou o astuto Llorens como, nada mais nada menos, do que diretor dos Assuntos Andinos do Conselho Nacional de Segurança, em Washington DC, o que o converte no principal assessor do presidente acerca da Venezuela.

Quando, em 2002, ocorre o golpe de Estado contra Hugo Chávez, Llorens estava sob a autoridade do subsecretário de Estado para os Assuntos Hemisféricos, Otto Reich, e do controverso Elliot Abrams.

O também cubano-americano Otto Reich, protetor do terrorista Orlando Bosch tinha sido durante três anos, de 1986 a 1989, embaixador dos EUA na Venezuela e dizia "conhecer o terreno". A partir do Departamento de Estado, Otto Reich deu o seu apoio imediato ao Michiletti venezuelano, Pedro Carmona, "O Breve", e aos militares golpistas.

Otto Reich, membro do círculo dos ex-falcões depenados da Casa Branca, continua a ser um dos personagens mais influentes da fauna mafiosa de Miami. O seu nome circula hoje entre os possíveis conspiradores da pandilha golpista de Tegucigalpa.

Em julho de 2008, Llorens é nomeado embaixador nas Honduras em substituição de Charles “Charlie” Ford, um personagem que teve a tarefa pouco grata, por sugestão de Bush, de propor que Posada Carriles viesse a viver para as Honduras. Zelaya respondeu com um rotundo não, e “Charlie” teve de informar os seus superiores que tinham de continuar com a batata quente nas mãos.

Já o General Vasquez se sentia "solicitado"

Depois da chegada de Llorens a Tegucigalpa, em 12 de setembro de 2008, o presidente Zelaya, perante o fato de a Bolívia ter expulsado o representante dos EUA pelas suas atividades de ingerência em assuntos internos bolivianos, recusou receber as credenciais do novo embaixador, solidário com aquele país andino.

Oito dias depois, Zelaya recebeu Llorens e expressou-lhe o mal-estar do seu governo "com o que sucede com o país mais pobre da América do Sul".

Prende a atenção um acontecimento ocorrido naqueles dias. Em 22 de setembro, enquanto se manifesta o "mal-estar" de Zelaya, o chefe de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas das Honduras, general Romeo Vasquez, o mesmo chefe golpista que sustenta Micheletti, declarou à imprensa local que "há pessoas interessadas em depor o presidente Manuel Zelaya".

Comentava o militar fascista que o mandatário "enfrenta críticas pelos acordos feitos com a Venezuela, a Bolívia e a Nicarágua" e que "nos procuraram para derrubar o governo". "Mas somos uma instituição séria e respeitável, e respeitamos o senhor presidente como nosso comandante geral, e subordinamo-nos à lei", asseverou com a maior hipocrisia quem agora manda as suas tropas disparar contra o povo.

No último dia 22 de junho, o diário La Prensa revelou que na noite anterior teve lugar uma reunião entre os políticos influentes do país, chefes militares e o embaixador Llorens, sob o aparente propósito de "procurar uma saída para a crise".

O The New York Times confirmava depois que o secretário-adjunto de Estado para os Assuntos do Hemisfério Ocidental, Thomas A. Shanon, bem como o embaixador Llorens tinham falado com altos oficiais das forças armadas e com líderes da oposição sobre "como derrubar o presidente Zelaya, como prendê-lo e que autoridade podia fazê-lo".

* Jean-Guy Allard é jornalista e colabora em CounterPunch

Texto publicado em Resumen Latinoamericano nº 2.038 de 8 de julho de 2009.Tradução de José Paulo Gascão para ODiario.info.

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