Os frigoríficos perdem mercado, sob pressão para melhorar os critérios de procedência da carne.
Por André Siqueira
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, em boa parte graças à atuação de grandes grupos frigoríficos, estruturados nos últimos anos por meio de aquisições dentro e fora do País. Com elevado volume de produção pecuária e preços competitivos, o setor conquistou espaço, mas também passou a enfrentar fortes restrições nos mercados mais exigentes, como a União Europeia. Até recentemente, as empresas atribuíam as acusações ao protecionismo dos países desenvolvidos, ou ao lobby da concorrência internacional.
O argumento serviu até junho deste ano, quando fragilidades do setor foram cruamente expostas por um relatório do Greenpeace, intitulado A Farra do Boi na Amazônia. O documento acusa grandes empresas de revender carne produzida ilegalmente em áreas desmatadas da floresta. Na sequência, a Operação Abate, ação coordenada da Polícia Federal e de ministérios públicos de oito estados, desmontou um esquema de fraudes para a obtenção de licenças para vendas irregulares de carne.
Acusações dessa natureza levaram grandes redes varejistas a decidir interromper, em conjunto, as compras de frigoríficos cujos nomes constem nas listas sujas dos ministérios do Meio Ambiente e do Trabalho. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal financiador da expansão dos frigoríficos, vai anunciar, nos próximos dias, uma lista de exigências a serem impostas aos candidatos ao crédito público e às empresas nas quais detém participação.
Uma das medidas propostas pelo banco é a exigência de rastreabilidade de todo o rebanho de corte dos fornecedores de carne. A instituição solicitou sugestões de medidas a representantes do setor, mas até agora não ficou satisfeita com o resultado da consulta.
Para o presidente do banco, Luciano Coutinho, a gota d’água foi a inclusão do nome da instituição na relação de réus dos processos movidos pelo Ministério Público do Pará contra os compradores de gado criado em áreas desmatadas. "Trabalhamos com os grandes frigoríficos, responsáveis por apenas 30% da produção do País e sujeitos a análises antes da concessão de crédito", diz o executivo.
*Confira a íntegra dessa reportagem na edição impressa
Fonte: Carta Capital
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