quarta-feira, 8 de julho de 2009

Lula em Paris

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Durante sua estada em Paris, que o senador Álvaro Dias definiu como "um fim de semana num hotel de luxo", o presidente Lula manteve contatos com o presidente Sarkozy, da França, e com outros mandatários europeus e africanos, visando atitudes comuns durante a próxima reunião do G-8.

No que foi criticado pelo senador Álvaro Dias (v. Folha de S. Paulo on-line, 03/07/2009), como “passar um fim de semana num hotel de luxo” em Paris, o presidente Lula manteve contatos com o presidente Sarkozy, da França, e com outros mandatários europeus e africanos, visando atitudes comuns durante a próxima reunião do G-8, em L’Aquila, na Itália, que começou nesta quarta, dia 8. Mas, além disso, a passagem do presidente brasileiro teve por objetivo receber o Prêmio da Paz Houphouet Boigny, dado pela Unesco, do ano de 2008. O prêmio foi criado em 1989, para “honrar pessoas, instituições e organizações que contribuíram de modo significativo para a promoção, a procura, a salvaguarda ou a manutenção da paz, dentro do respeito à Carta da Organização das Nações Unidas e da Ata de constituição da Unesco".

Apesar de seu alcance mundial, o prêmio, como indica o nome de seu patrono de honra, Houphouet Boigny, ex-presidente da Costa do Marfim, tem um foco especial sobre a África, continente que o presidente Lula privilegiou em suas viagens e declarações, quase sempre provocando rictus e chacotas de desprezo por parte dos arautos de nossa “élite euro-centrada ou descentrada”.

Segundo o site “Afrique em ligne”, o presidente brasileiro foi saudado na cerimônia de entrega pelo ex-presidente português Mario Soares, que ressaltou seus esforços pela paz mundial e também em seu país, pela redução da pobreza. Em seu discurso de agradecimento, o presidente do Brasil ressaltou seu esforço por consolidar as ligações diplomáticas e de todos os tipos com os países africanos, dizendo que o Brasil “se alinhará sempre com eles para enfrentar o desafio do desenvolvimento”.

O prêmio já foi concedido a Nelson Mandela e Frederik W. De Klerk, Ytzhak Rabin, Shimon Perez e Yasser Arafat; Jimmy Carter, ao Rei Juan Carlos da Espanha e ao presidente do Senegal, Abdoulaye Wade.

Em entrevista exclusiva ao jornal francês Le Monde, o presidente Lula ressaltou a importância do G-20, como mais representativo do que o G-8, o que faz aquele estar “mais próximo” das exigências da crise que ora assola o mundo financeiro e todo mundo. Sublinhou que na reunião do G-20 em abril, em Londres, foi a primeira vez que uma cúpula dessa natureza colocou todos os participantes em pé de igualdade durante as discussões.

Em parte, atribuiu essa nova disposição à realidade da crise, que jogou por terra as “soluções prontas e peremptórias” que o FMI e o Banco Mundial traziam logo que as crises assolavam os países pobres. Mas agora, disse o presidente, a crise assolou os países ricos. “Isso deixou todo mundo bem mais humilde”, disse ele aos jornalistas Alain Frachon e Paulo Paranaguá, autores da entrevista.

Na entrevista (www.lemonde.fr/web - ed. 08/07/09) o presidente abordou ainda a questão do protecionismo de países do norte em relação a produtos agrícolas, a complicada questão da substituição ou não do dólar como moeda de referência no comércio internacional e a reforma da ONU, sempre no sentido de favorecer os fóruns amplos e multi-laterais, o que tem sido uma marca da diplomacia brasileira já há muito tempo, o que, sem dúvida, ajudou o país a se tornar, dentro de suas possibilidades, uma referência “a ser levada a sério”, como disse recentemente o conservador Financial Times (que nós, da esquerda, também devemos ter na conta de uma “referência a ser levada a sério”), para renovar o desespero daqueles dentre nós, brasileiros, que acham que a única coisa que importa no Brasil são os horários de vôo para os países do hemisfério norte – os países ricos, é claro.

*Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

Fonte: Carta Maior

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