por Alon Feuerwerker
Houve quem chiasse quando escrevi aqui em Terror e política, em janeiro:Na África do Sul, na Nicarágua, em El Salvador, no Uruguai (onde ex-tupamaros presidem ambas as Casas do Congresso) ou na Palestina, grupos que a seu tempo foram classificados de terroristas hoje disputam o poder pela via eleitoral, em geral com sucesso. Na Colômbia, o desejável é que se siga por esse mesmo caminho. A libertação ontem das duas reféns [das Farc] deveria, penso eu, abrir espaço para um diálogo patriótico incondicional. Quem não quer esse diálogo? Aqueles cujo poder repousa exatamente na existência de uma guerra civil. Sem a guerra civil, Álvaro Uribe deixa de ter significado político. Reparem como se torceu freneticamente para que a operação de soltura das reféns terminasse em fracasso.
O presidente da Colômbia deu sua resposta às sucessivas libertações de reféns pela guerrilha. Tropas colombianas penetraram no vizinho Equador e massacraram uma unidade das Farc, matando altos dirigentes da organização guerrilheira. A ação elevou as tensões regionais a um ponto inédito. Reagiram o próprio Equador e a Venezuela, que ordenou uma mobilização militar na fronteira entre os dois países. O fato é que o governo Uribe tornou-se uma ameaça à estabilidade do continente. Sua estratégia de "solução militar" para a questão da guerrilha terá como resultado prático a internacionalização do conflito. Talvez Uribe não esteja mesmo em condições de recuar, dado que o futuro de seu poder (como comentei em janeiro) repousa no prosseguimento da guerra civil. Um efeito colateral da estratégia uribista é a reorganização dos esquadrões paramilitares de extrema-direita. Num ambiente de paz, o caminho estaria aberto para a esquerda nacional colombiana chegar ao governo, como já aconteceu no resto do continente, com exceção do Peru. Sem guerra civil, não haverá condições políticas de Uribe pleitear um terceiro mandato -para o que precisa reformar a Constituição. A América do Sul deve, urgentemente, estabelecer um cordão sanitário em torno da Colômbia. Unir-se diante da ameaça de que a ambição política de Álvaro Uribe arraste o continente à guerra.
fonte: http://blogdoalon.blogspot.com/
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