segunda-feira, 3 de março de 2008

Entrevista Explosiva - Roberto Requião - fonte: http://carosamigos.terra.com.br/

O governador do Paraná, Roberto Requião, está proibido de falar na TV e na Rádio Educativa do seu Estado. A decisão é do juiz do Tribunal Regional da 4ª Região, em Porto Alegre, Lippman Júnior. Alega-se que o governador utiliza a TV estatal para promoção pessoal, ofensas à imprensa, a adversários políticos e instituições. Ao que ele responde: "Querem me transformar num divulgador de receitas de bolo, como aconteceu na ditadura". Para o jornalista Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada, disse estar sendo censurado. No último 22 de janeiro, Requião suspendeu a transmissão da emissor por considerar que a Justiça Federal impôs-lhe censura prévia. A TVE deveria, por decisão do TRF, veicular a cada 15 minutos uma nota de desagravo da Associação dos Juízes Federais que defende o Judiciário. Em resposta, o governador apresentou um pronunciamento da Associação Brasileira de Imprensa. A polêmica culminou com o pedido de demissão de Jozélia Nogueira, procuradora-geral do Estado, por discordar da atitude de Requião. Em entrevista à Caros Amigos, julho de 2005, Requião falou a que estava disposto. Relembre as palavras e as idéias do governador que incomoda muita gente. Na seqüência da entrevista, o discurso de posse para o segundo mandato, feito em 1º de janeiro de 2007, em que garante: "Somos, sim, um governo de esquerda".


ENTREVISTA EXPLOSIVA - ROBERTO REQUIÃO

Contra a patifaria
A defesa do Estado é a bandeira do governador paranaense Roberto Requião. Da anulação de contratos à contestação de dívidas na Justiça, Requião vem andando na contramão do resto do país, que segue cumprindo ao pé da letra os contratos “predadores”, como ele diz, referindo-se às multinacionais que hoje comandam da distribuição de energia às rodovias estaduais. Batendo de frente com o governo federal, impediu o cultivo e o transporte de transgênicos no Paraná, e embora tenha sido chamado de “dinossauro” pela mídia, apresenta como troféu da batalha a produtividade recorde da soja e o preço 20% superior do produto não-transgênico nas exportações. Peemedebista desde sempre, mas simpatizante do PT, Requião acredita que é a política econômica submissa aos interesses internacionais e não a corrupção a origem dos males do governo, incluindo a relação promíscua com o Congresso. “O projeto econômico do governo está tendo que comprar o Congresso Nacional (...). É o mesmo esquema que comprou na época do Collor e do FHC”.

Entrevistadores Carlos Azevedo, Palmério Dória, Paulo César Pereio,
Marcos Zibordi, José Arbex Jr.,
João de Barros, Thiago Domenici, Sérgio de Souza.
Foto Victor Costales.



Paulo César Pereio - A sua origem política é na política estudantil?
Política estudantil.

Paulo César Pereio - O senhor foi da Ação Popular?
Fui, participei perifericamente da AP, mas na fase da APML. Nunca fui da JUC (Juventude Universitária Católica), nunca fui franguinho da JUC.

Carlos Azevedo - E na política profissional o senhor começou por onde?
Política profissional eu não comecei ainda. Não sou profissional. Sou um amador apetrechado...Eu comecei no MDB. Sou o filiado número 1 do PMDB do Paraná. Na mudança, né? Tenho a ficha número 1.

Carlos Azevedo - Prefeito de Curitiba foi seu primeiro cargo?
Não, fui deputado estadual, me candidatei pra ajudar o partido, nunca pensei em me eleger. E tive uma votação muito boa na cidade de Curitiba, acho que 97 e meio por cento dos meus votos são curitibanos. E depois disso, no meio do mandato, me candidatei a prefeito. Daí ganhei a eleição do Jaime Lerner, fui prefeito por três anos, era aquele período do restabelecimento das eleições diretas nas capitais. Fiquei dois anos sem mandato, fui secretário de Planejamento Urbano do Álvaro Dias, e fui candidato a governador, me elegi governador, depois passei oito anos no Senado, aquela maravilha que o Darcy Ribeiro dizia ser melhor que o paraíso – “pra ir pro paraíso tem que morrer, pro Senado basta uma eleição” – e agora voltei a ser governador do Estado.


Paulo César Pereio - Uma junta de arquitetura fez uma avaliação das cidades do mundo e Curitiba foi considerada uma das três melhores. Por uma série de itens...
É, deve ter sido uma junta comprada. Talvez uma junta de bois, não uma junta de arquitetos. Curitiba é uma cidade que sofreu ensaios de bom planejamento urbano, mas não é essa maravilha toda, né? Conheço bem Curitiba, o meu pai foi prefeito de Curitiba, o meu avô também. O centro tem os equipamentos que qualquer cidade boa do mundo tem, mas a periferia é uma tragédia. Cidade com baixo nível de saneamento básico, ainda hoje estamos apostando pra chegar a cem por cento, mas tudo foi descurado ao longo do tempo.

Marcos Zibordi - Um dos pilares da construção da imagem de Curitiba é a preservação ecológica...
Isso não existe, isso é uma falácia absoluta.


Marcos Zibordi - Gostaria que o senhor falasse do problema das montadoras de automóveis, dos contratos em áreas de mananciais, por exemplo.
A questão das montadoras foi um momento em que o governo estava falido por absoluta falta de iniciativa e que começou aquela história do neoliberalismo, dos investimentos estrangeiros, então as montadoras se transformaram numa espécie de ícone da boa administração. Eu tenho um contrato com a Renault em que ela não paga um tostão de imposto no Paraná, e se instalou com dinheiro público, com incentivos fiscais, numa área de mananciais. Então, a própria visão da cidade verde foi superada pela colocação marquetológica de uma montadora. Belos carros a Renault faz, mas não paga imposto.

Carlos Azevedo - Por quantos anos é o contrato?
Ah, isso vai pra 2021. Isenção absoluta, ela pagará os impostos sem juros nem correção monetária vinte anos depois, e, além disso, o Estado entrou lá com 130, 140 milhões de dólares na empresa.

Marcos Zibordi - O senhor falou que não está optando pelo confronto direto, mas nos primeiros meses do governo vi uma imagem muito forte, que era do senhor com o microfone aparecendo na TV Educativa do Estado, nas rádios, fazendo reportagens, mostrando lugares, problemas, isso não é confronto direto?
Não, o confronto a que me refiro é o confronto judicial, anulação de contratos e tudo mais. Confronto existe, você tem um lado no governo, se é o lado do interesse do povo e do Estado, você está se confrontando com políticas que não atendem a esse interesse, mas eu, em relação a algumas outras empresas, como a Copel, a Sanepar, fui para o confronto direto, cancelei contratos.

Paulo César Pereio - O senhor cancelou contratos com outras empresas?
Muitos.

Marcos Zibordi - O senhor poderia dar um balanço de quantos ou quanto economizou com isso?
Vamos lá: de informática, eu cancelei 450 milhões com várias empresas, inclusive a da prefeitura, que não é da prefeitura, uma empresa privada que substituiu o CPD, o Centro de Processamento de Dados da prefeitura. E isso não me causou nenhum aborrecimento, não tenho nenhuma ação judicial em torno disso, então vocês imaginem o nível de ilegalidade e de imoralidade disso.

Marcos Zibordi - Além desses, quais mais?
Além desses, cancelei contratos da Copel. Eu assumi e, dando uma olhada na Copel, cheguei à conclusão de que em março de 2003 ela não pagava a folha, e iria à falência em outubro, em função de contratos com empresas americanas e espanholas, basicamente. Então passei a estudar os contratos, verificar a ilegalidade deles, fui a juízo e não paguei mais. Com a CIEN-Endesa (a CIEN é uma empresabrasileira controlada pela espanhola Endesa) tínhamos um contrato de 15 bilhões de reais. Eu recebi no palácio o embaixador da Espanha no Brasil, Jose Cordech, e depois o levei para uma ilha do governo do Estado, para conhecer, e no fim da estada dele batemos um papo sobre a Endesa e a CIEN. Ele pegou o telefone e ligou pra Espanha ou pra alguém e disse: “Não me meto mais nisso, o governador tem razão”. Quinze dias depois mudei o contrato. De 15 bilhões baixei para 2 e meio e reduzi o prazo de dezessete anos para sete anos, e o pagamento de 900 ou 800 milhões para 300. E cancelei o pagamento da famosa Usina Termelétrica de Araucária, da El Paso, texana – mandei fazer algumas perícias, a usina não funcionava, mas nós estávamos no take or pay, pagando transporte de gás e pagando energia que não consumíamos, e nem precisaríamos. Cancelei isso, estamos numa disputa judicial, e a perícia judicial saiu a semana passada, dando razão de A a Z para o Estado, aliás, a perícia foi mais dura do que a nossa opinião. Bom, aí passei a ser acusado de “risco Brasil”, “risco Requião”, o “Requião está comprometendo os investimentos no país”. O camarada Mercadante me acusou, o tio Genoino também, acusações no Congresso, entrevistas no Jornal do Brasil, mas no fim do ano passado eu fui homenageado na Bolsa de Nova York. Abri o pregão da bolsa porque, salvando a Copel desses contratos com megaempresas de energia, eu salvei a valorização da ação de 18.000 norte-americanos que são nossos sócios. E a Copel, que estava sendo vendida porque o Lerner dizia que ela não era competitiva, que ela não podia existir, foi considerada pelo Financial Times, de Londres, assessorado pela Price Waterhouse, a terceira melhor empresa de energia do mundo. Tem uma francesa, tem uma japonesa, a terceira é a Copel. E o Global Finance, de Nova York, a considerou a primeira empresa da América, do Sul e do Norte. Então fui homenageado lá e a Copel hoje funciona maravilhosamente. Temos essa pendência com a El Paso...

Marcos Zibordi - E em relação ao Banestado, não se pensa fazer nada?
Estamos providenciando uma ação, porque o Itaú comprou o Banestado por 1 bilhão e 600 milhões de reais, e
recebeu de créditos tributários 1 bilhão e 800 milhões de reais. Além disso, o Estado ficou devendo 5 bilhões para a União, e eu pago hoje 50 milhões de reais por mês do empréstimo do Banco Central para sanear o Banestado. Trambicaço foi a venda do Banestado. O Reinold Stephanes, por exemplo, que foi colocado no Banestado para saneá-lo em determinado momento, diz que não devia ser vendido.

Palmério Dória - Colocado por quem?
Pelo Lerner. Acha que não tinha sentido vender o banco. Mas era a moda da privatização.

Marcos Zibordi - O senhor falou que o Lerner foi o pior governador da história do país?
Não, do Paraná. Não faria isso com o Lerner. E foi um bom prefeito de Curitiba.

Palmério Dória - O senhor é acusado de retrógrado, entre outras coisas, pelas suas posições contra os transgênicos.
O Paraná não tem transgênicos. Temos menos de meio por cento da nossa cultura de soja contaminada pela transgenia. Qualquer coisa acima de 1 por cento faz com que o mercado internacional considere o produto transgênico. Estamos vendendo os nossos produtos 20 por cento acima do valor de mercado. Então, por que vamos poluir a nossa safra, perder receita, para estimular um jogo da Monsanto de cobrar patentes sobre a agricultura brasileira? A transgenia reduz o Brasil, monopolizada como está – nada contra a pesquisa científica, que deve ser feita, inclusive pelos órgãos públicos –, à situação da Idade Média, de vassalos e suseranos, onde os vassalos pagam pra plantar na própria terra. Isso não tem sentido. E existe o problema da precaução, ninguém sabe onde é que vão os transgênicos. Vocês viram o que aconteceu com o milho na Inglaterra, detonando fígado e rim de rato, mas o problema econômico e financeiro é muito grande. A questão da transgenia é muito simples: nós produzimos 7.000 quilos por hectares; os Estados Unidos chegam a 2.800, porque a tal da semente transgênica não foi feita para aumentar a produtividade, ela foi feita pra resistir ao glifosato, um pacote pra vender o agente, o mata-mata. No Rio Grande do Sul, com a seca e tudo, eles estão com 1.800 e nós estamos com 3.000.

Marcos Zibordi - E o sucesso da agricultura no Paraná não incentiva os Estados do Sul a tomarem a mesma decisão?
Não, é que a Monsanto trabalhou bem. Ela cooptou cooperativas e ofereceu a elas a multiplicação das sementes e uma participação nos royalties; é um instrumento para a cooperativa manter na mão todos os cooperados. E esse pessoal entrou nesse jogo. Então dizem que a Embrapa tem transgênicos. Não tem. A Embrapa aclimata a semente da Monsanto, e as cooperativas, os órgãos técnicos também, e participam do lucro e da escravização. Mas o Paraná está vendendo a convencional extraordinariamente bem, nós temos o mercado francês, o mercado da Inglaterra, União Européia, da China, da Índia, que não compram soja transgênica para uso humano, até compram para uso industrial, para fazer biodiesel.

José Arbex Jr. - E para ração animal?
As fábricas de ração, os produtores de frango do Paraná, as cooperativas que exportam não trabalham com transgênico. Essa jogada da transgenia é a jogada das multinacionais. O que hoje a China, a Índia, querem do Brasil? Comprar sem as trades. Porque as trades monopolizam a produção. Elas monopolizam a produção, elas financiam, elas pagam na frente e, quando a soja no Brasil esteve a 480 dólares a tonelada, nenhum agricultor vendeu por isso. Porque eles já tinham vendido a sua produção no mercado futuro. São cinco trades: Cargil, Amaggi, ADM, Bunge e Dreifus, que no Brasil é Coimbra. Então, essa é uma briga pela soberania alimentar e contra o monopólio da agricultura, a escravização da agricultura brasileira. E o Paraná comprou essa briga proibindo a exportação pelo porto de Paranaguá.

João de Barros - O senhor já expôs isso ao presidente Lula?
Muitas vezes. Na última vez que conversei com ele, na casa do Zé Dirceu, ele disse: “Requião, pode sair daqui, está a Globo aí na frente, pode dizer que o Paraná vai ser uma zona livre de transgênicos”. Eu sai e disse: “Saio daqui com a palavra do presidente de que o Paraná vai ser uma zona livre de transgênicos”. Não aconteceu isso.


Sérgio de Souza - Por
quê?
Porque o Roberto Rodrigues e o esquemão que pressiona o governo federal jogaram de forma contrária.

José Arbex Jr. - Tenho a impressão de que a crise atual do governo Lula se deve em parte à maneira pela qual o Lula trata as leis no país. E esse caso dos transgênicos mostra isso de forma acintosa. É o governo Lula se curvando a uma transnacional com todo o séqüito do PC do B e toda a caterva junto – isso mostra uma vassalagem incrível diante do poder transnacional e um desprezo por lei.
Eu tenho uma opinião um pouco diferente. Acho que a crise do governo Lula começou com o Collor. É a crise do modelo neoliberal imposto ao Brasil. Então, o que o Lula faz hoje? Ele se elegeu com o nosso voto, com a esperança do Brasil em uma mudança. Uma mudança na condição da política econômica, fundamentalmente. Daí, através da Fazenda e do Banco Central, ele adere ao modelo. Quando adere ao modelo, ele não tem mais voto no Congresso Nacional. Que, bem ou mal, é composto por brasileiros que sentem a pressão das suas bases. Eu não concordo que o Congresso abrigue trezentos picaretas. O Congresso tem quadros intelectualmente muito bem dotados e tem essa maioria desideologizada. Desideologizada, mas brasileira também. Que gostaria muito de votar numa política de mudança. Agora, quando a política é a continuidade da política do Collor e do Fernando Henrique, esse pessoal não vota porque não acredita nisso. Então tem que ser comprado para votar. E eles ficam numa encruzilhada, num beco sem saída. Qual é o beco? Se votarmos tudo isso aí, vamos ter o repúdio da base eleitoral, que quer que o Brasil cresça, se desenvolva e gere emprego. Então, só tem uma saída para a nossa sobrevivência: o clientelismo político. Então queremos as emendas e queremos o mensalão. Eles se defendem dessa forma. Agora, se uma bandeira positiva fosse levantada no Congresso Nacional, o Lula não ia precisar desse jogo, o jogo da corrupção. Quem corrompe não é o Lula. O Lula tem uma história de integridade, conheço o Lula há 35, quarenta anos.

Palmério Dória - Você o apoiou nas quatro campanhas?
Nas quatro campanhas e ele não é ladrão. Não posso imaginar o Lula com 1 real de recurso público. Ele não teria nem como gastar isso saindo do governo, como usar isso, ele é um sujeito de uma integridade indiscutível. Quem é que sustenta a corrupção do Congresso? É a pergunta latina, né? Qui prodest?Aquem aproveita? Então, quem aproveita é que paga. Esse dinheiro está saindo dos banqueiros, das multinacionais, do agronegócio e dos exportadores. E o pessoal cobra para votar porque sustenta o mandato com clientelismo na sua base. Porque não tem bandeira. Ou você faz uma política de atitude, quer dizer, estou votando pelo Brasil, então tenho discurso, ou você tem que comprar a sua base. Com favores, ambulâncias, salários, funcionários, o problema básico é esse. Agora, de repente, o Delúbio abre a sua contabilidade fiscal e bancária. Isso é uma piada de mau gosto. Nenhum ladrão do Brasil hoje teria conta em banco. Não estou dizendo que ele seja, mas é evidente que isso é de um cinismo absoluto.

Palmério Dória - Mas por que casos como o de Delúbio?
que está na cara que era uma questão de tirar o bode da sala e não deixar a raposa no galinheiro, porque nem isso eles conseguem tirar? Provavelmente porque o PT sabe que não é o Delúbio que paga. Quem paga é o beneficiário do processo.

Palmério Dória - Desculpe, mas o seu companheiro, o Pedro Simon, se tinha uma denúncia contra alguém, ele demitia antes e perguntava depois. O que o senhor, que é próximo do Lula, acha que está acontecendo?
Eu quero dizer a você que esse problema não me incomoda. Isso é um problema da polícia e do Ministério Público, se você for punir quatro ou cinco, é muito bom. São pequenos ladrões, têm de ir pra cadeia. O problema é o modelo econômico, que só pode funcionar com a corrupção do Congresso Nacional. Sem corrupção, o Congresso não vota a manutenção da política econômica.

Sérgio de Souza - No Paraná, o senhor não encontrou um quadro também?
Semelhante. Agora, a minha política é contramão do governo federal. Eu não cobro imposto de microempresa, não cobro de pequena empresa...

Sérgio de Souza - Mas e a corrupção?
A corrupção acabou no governo. Eu vou dar dois exemplos práticos. Vamos pelo resultado. O porto de Paranaguá estava no vermelho, hoje tem 300, 400 milhões em caixa. O Departamento de Trânsito não tinha dinheiro, hoje está financiando a construção de estradas, temos 300, 400 milhões em caixa. E todo o staffdo governo Jaime Lerner já teve os bens colocados em disponibilidade, alguns escapam com a história do foro privilegiado, não é?

Carlos Azevedo - O senhor tem maioria na Assembléia?
Eu não tenho nenhum deputado comprado, e não libero emenda de deputado. Eles fazem as emendas e eu não liberei uma até hoje. Eu não trafico com a Assembléia Legislativa. Eu mando o projeto pra lá e digo para que serve o projeto, a que interesses ele atende, e a Assembléia vota. Se quiser votar contra, tudo bem.

Palmério Dória - Quando viu o nome do Palocci nesse processo de compra direta, o que o senhor pensou?
Eu acho que o Palocci não participa do processo de compra direta de voto. Quem participa do processo de compra é quem participou com o Collor, com o Fernando Henrique e participa agora. São os interesses que se beneficiam com essa política.

João de Barros - E como é que o governo Lula se enredou nessa, já que carregava toda aquela esperança popular?
Se enredou por perplexidade, falta de uma proposta construída dentro do partido, e caiu na armadilha da continuidade. E o que o Palocci fez em Ribeirão Preto? Onde surgiu a PPP? Não foi privatizada a água em Ribeirão Preto? Veja quanto o município está pagando hoje para a empresa com recurso tributário, porque o povo não consegue pagar o que a empresa americana compra. É a primeira PPP. Investimento com seguro de lucro. É uma loucura isso.

Palmério Dória - Em escala de roubo, onde se roubou mais, no governo Fernando Henrique ou agora no governo Lula?
A gente não precisa nem de um roubômetro para avaliar isso. O Fernando Henrique com a privataria roubou 10.000 vezes mais do que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula.

Sérgio de Souza - E qual é o papel do Roberto Jefferson?
É um deputado do PTB.

Sérgio de Souza - E como o senhor interpreta essas denúncias dele?
Bom, vamos lá. Meu Deus do céu, vocês vão me fazer brigar com o PT. O PT se envolveu em algumas bobagens, Waldomiro Diniz, Delúbio e isso tudo foi abafado no Congresso com a ajuda da base de apoio. Não foi? Se não houvesse apoio do PTB e tudo isso, tinha saído a CPI. Eu, quando a oposição propõe uma CPI no Paraná, antes de eles conseguirem publicar no jornal que querem uma CPI, eu mando a bancada de apoio ao governo propor a CPI e entrego a presidência e a relatoria à oposição, porque tenho certeza do que estou fazendo. E, se pegarem uma roubalheira, eu vou agir com a dureza necessária. Agora, de repente, tem uma CPI contra o PTB, alguns ladrõezinhos dos Correios foram apanhados de calça curta. Ladrõezinhos, né? Porque o que eu vi ali foram 3.000 reais. Três quilos de abobrinha. Bom, daí o PT tem que dar a contrapartida. Não tem CPI pro PTB porque não teve pro PT, é uma troca. Não tem. E o que aconteceu com o Roberto Jefferson? Ele começou a ver que estavam batendo muito. E estava ficando sozinho. O PT fazendo papel de vestal. Não, não temos que tergiversar, vamos duro, e tal. Ah, é assim? Então espera aí! E entregou o esquemão. Agora, se for procurar de onde vem o dinheiro... O dinheiro não vem da plantação de amendoim da chácara do Lula. Vem dos beneficiários da política econômica. Com o conhecimento do governo federal, são os beneficiários.

Carlos Azevedo - Quem são os beneficiários?
As empresas internacionais, a proposta de desnacionalização do Brasil, os banqueiros, os exportadores.

Carlos Azevedo – Aliás, já estão dizendo que está comprovado que os Correios não podem mais ser estatais.
Porque querem privatizar os Correios. Claro, os Correios, o IRB, a solução é entregar de vez.

Carlos Azevedo - A Miriam Leitão dizia, outro dia, que até a Petrobras precisa ser privatizada e o seu presidente tem que ser escolhido por uma empresa head hunter.
A solução é entregar para o ladrão, né? Agora, a Miriam Leitão é uma intelectual de peso na crítica econômica brasileira. Eu liguei na Globo uma noite e ela estava dizendo que o fato de eu ter proibido a exportação de transgênicos no porto de Paranaguá estaria dando um prejuízo para o Estado do Paraná de 600 milhões de toneladas. Fiquei entusiasmado, porque o mundo produz 160! Daí, liguei pra eles e pedi pra corrigir. Não corrigiram. Peguei a televisão do Estado, que transmite da Patagônia até o Canadá, aberta para todas as parabólicas, e botei a Miriam Leitão, daí botei os dados de produção no mundo, dizendo que a Globo estava mentindo para tentar intervir e privatizar o porto de Paranaguá. Como não tenho a concentração de audiência que a Globo tem, coloquei dez vezes por dia, 45 dias.

José Arbex Jr. – Agora, governador, falando em partidos, vou fazer a mesma pergunta que fiz ao Pedro Simon. O que o senhor está fazendo no PMDB?
Você quer que eu faça o quê? No PT, você me sugere?

Sérgio de Souza - É verdadeira a frase dita pelo senhor de que é peemedebista, mas petista de coração?
Até um tempo atrás, sim. Parecia que o PT era uma reserva absoluta. Ainda acho que o PT é uma reserva de conduta no Brasil, apesar dessas coisas da cúpula. É uma reserva de conduta, tem uma base parlamentar despolitizada, desideologizada, e a cúpula aderiu. Agora, pega um petista de bairro, um petista do interior, o cara tem o coração, vamos mudar o Brasil, é um nacionalista, é um sujeito à esquerda.

O Fernando Henrique, com a privataria, roubou 10.000 vezes mais do que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula




José Arbex Jr. - Por que o senhor nunca foi para o PT?
O PT no Paraná era um partido muito difícil, e eu fundei o PMDB. Mas o grupo que fundou o PT no Paraná saiu do movimento social do qual eu participava. Era um conjunto de profissionais liberais que assessoravam associações de bairro. Nós fundávamos associações e dávamos assessoria política. Uns foram pro PT e eu fiquei no PMDB. Fiquei no PMDB naquela época porque o PT era um saco. Partido sem patrão – o dono do botequim da esquina era patrão, não podia ser do PT, era uma coisa tola que começou a ser desmistificada pelo Chico de Oliveira, que escreveu um livrinho, uma monografia, que chamava, se não me engano, Quem É Proletário no Brasil. Desmistificou mostrando que o dono do bar era muito mais proletário que o operário metalúrgico especializado, que ganhava cinco vezes mais do que ele, trabalhando um quarto do tempo, porque o dono do bar não dormia, ficava com a família, a mulher, os filhos, ali trabalhando, daí o PT saiu um pouco daquela história de partido sem patrão e acabou sendo o partido que é hoje.

José Arbex Jr. – Mas, para um governo marcado, como é o do senhor, pelo combate à corrupção, aos desmandos do pedágio etc. e tal, sua participação no PMDB não acaba sendo um entrave?
Veja, eu não gostaria de ver meu governo definido como governo de combate à corrupção. Acho que essa vertente do combate à corrupção é uma vertente para divertir, no italiano, divertere, desviar do que importa. Assumi o governo, levantei as coisas e entreguei para o Ministério Público. Estou muito mais preocupado é com a modificação da estrutura econômica do Estado, dentro das possibilidades que o governo me dá, que não são grandes. Estou tentando construir e estabelecer um contraponto, por exemplo, com essa política fiscalista, mas não diria a vocês que o governo do Paraná é o governo da tributação minimalista. É nesse momento, mas, para fazer uma mudança, você precisa de recursos públicos, tem que investir. Estamos aí arrecadando 42 ou 43 por cento do PIB, não é isso? Quando eu quis ser presidente do PMDB, fiz um trabalho junto com o (Carlos) Lessa e um grupo de economistas e apresentei ao partido. A gente queria subir para 21 por cento, era 17 por cento a carga tributária e a gente achava que, com aquilo, a gente mudava o Brasil. Está em 40 e poucos, é um sacrifício enorme, mas não se investe no Brasil. Investimento público, segundo Adriano Benayon, é 0,02 por cento e estamos vivendo a falácia do crescimento da economia, porque jogamos tudo em cima de 2003, que é uma base muito baixa. Se você estabelecer um confronto com 2002, vai ver que não aconteceu nada. Agora, 2003 foi o caos, então crescemos sobre 2003, mas que tal fazermos a projeção sobre 2002? Acabou o crescimento. Mas ainda tenho esperanças de que as coisas mudem, acho que o Lula está meio perdido nesse processo. “Não sou demagogo” – não é bem assim, o projeto econômico do governo federal está tendo que comprar o Congresso Nacional. Não sei se é o PT, como eu disse, me parece até que não seja, que é o mesmo esquema que comprou na época do Collor e na do FHC. Com a participação de alguns petistas do governo, evidentemente, mas eu não atribuiria isso ao PT.

José Arbex Jr. - Se o senhor estivesse na posição do Lula, o que faria?
Faria exatamente o que estou fazendo no Paraná, teria denunciado contratos predadores, acabava com essa conversa mole de que denunciar patifaria prejudica investimento, demonstrei que não é assim. Tive cinco ou seis editoriais do Estadãome chamando de dinossauro, troglodita, e depois fui homenageado na Bolsa de Nova York. Quer dizer, o que é bom para Wall Street é ruim para o Estadão?

Sérgio de Souza - E as pressões?
Ah! Eu não sei o que é isso. Ninguém fala comigo.

Palmério Dória - Tem o bicho, tem o pedágio, tem as multinacionais, isso não o afeta?
Eu acho que estou cumprindo o meu papel, daí o pessoal diz: “Mas você está sendo queimado na mídia”. Já fui governador uma vez, já fui senador, fui prefeito da capital, fui deputado estadual. Estou escrevendo a minha biografia e estou divulgando isso, também não sou um bobo, né? Como o Suplicy também não é bobo, o Suplicy é um ator, um marqueteiro que toma a posição correta, tem direito de apresentar sua posição para os seus eleitores. E eu estou mostrando o governo do Paraná.

Palmério Dória - O senhor já foi acusado de jogar para a platéia, quando era senador, eu vi isso...
Sim, claro, você queria que me acusassem do quê? Eu não concordava com nada, não é? Eu fiz a CPI dos Títulos Públicos e joguei para a platéia, joguei para a mídia, se não jogasse pra mídia, não teria aprovado meus relatórios. Mas não foi suficiente, pois o plenário do Senado aprovou relatórios duríssimos e logo depois o Fernando Henrique impôs a legalização dos títulos com o pretexto de que desestruturava o sistema financeiro nacional. “Esse roubo tem que ser relevado porque senão quebram os bancos.” Ele preferiu quebrar os Estados. E o Senado, que havia aprovado meu relatório por unanimidade com o apoio do PT no plenário, votou a legalização dos títulos. Ou seja, a federalização, trocou por títulos da União. E aumentando os prazos de pagamento, empurrando o pepino para os Estados, para salvar o quê? Supostamente, para salvar os bancos. Que importância teria quebrar um banco ou outro no Brasil? O que não pode quebrar é o Brasil.

Marcos Zibordi - A imprensa no Paraná é altamente concentrada, como ela trata o governo?
Não sei como ela trata o governo. Tenho uma relação dura com a imprensa. Até porque só estou gastando com publicidade este ano. Dei uma segurada de dois anos e meio, e agora, para não morrer também, estou abrindo um pouquinho a mão. E tenho a televisão do Estado.

José Arbex Jr. - O Paraná tinha um aparato policial dos mais violentos do país. Quando o governador era Jaime Lerner, fui lá cobrir o que se fazia com o MST e fiquei horrorizado.
Mandavam atirar só nas pernas, não é isso?


José Arbex Jr. - Em garotos de 8 anos de idade que eram filhos de lideranças do MST...
Mas era a visão do governo.

Palmério Dória - O senhor foi secretário de Segurança durante seu governo, não foi uma jogada de marketing?
Não, não, que jogo de marketing, rapaz?! Um abacaxi desses é lá jogo de marketing? Foi porque eu queria aprovar uma mudança no estatuto da polícia civil para poder fazer um fast track ali, um rito sumário para botar bandido pra fora, e tive que jogar o peso do governo do Estado nessa secretaria. Assumi por seis meses. Quando mudei a legislação, nomeei outro secretário.

José Arbex Jr. - Não houve atrito dentro da polícia quando o senhor assumiu o poder?
Não, porque eles sabiam com quem estavam lidando. Não dei espaço para atrito. Há uma compreensão clara da legislação. Assumi e o chefe da Casa Militar é um coronel sempre. É um cargo de comando e eu nomeei um capitão da minha confiança. Aí, foi um horror! “Ah! Então vamos parar a polícia!” Vocês param num dia, no dia seguinte eu demito todos os coronéis, boto todos em disponibilidade e promovo os tenente-coronéis que estiverem comigo, senão vem pra major, capitão... O negócio funcionou bem e a polícia do Paraná está muito mais satisfeita comigo, com a posição que ela toma de mediadora do conflito social, que não é uma polícia de bandidos. Ela fazia aquele jogo contrariada e lá na ponta o soldado faz o que mandam. Não tenho contradição com os coronéis, tenho um timingmuito bom.

Marcos Zibordi - Falando de polícia, o problema de fronteira como tem sido tratado?
Aquilo é com o governo federal. O que eu fiz foi uma operação concentrada em Foz do Iguaçu, botei 1.500 homens lá, durante um mês, ostensivamente, contra o crime organizado, e estou fazendo uma blitzou outra. O problema policial do Brasil hoje é a miséria e o desemprego. Daí me pressionam, tudo bem, eu começo a prender. Não tem onde pôr! Daí tem uma delegacia para trinta pessoas, está com 120. Isso me obrigou a construir onze penitenciárias. Vou resolver o problema de vagas para os próximos vinte anos no Paraná, mas não tenho nenhum orgulho disso. Por que sou obrigado a investir em penitenciária? Temos que investir é contra esse processo de marginalização. O que leva à delinqüência? É a marginalização. Quem são os delinqüentes em Curitiba, São Paulo e na China? É o sujeito que saiu da sua comunidade, que não tem mais referências sociais, ele não é mais o cara que foi batizado pelo padre, pelo pastor. Ele não tem mais a estrutura familiar de julgamento, ele está desesperado em um lugar onde não conhece ninguém. Aí, ele vai pra marginalidade, para a criminalidade. A China agora – estou vindo da China – está tendo um acréscimo brutal de criminalidade. É o pessoal que sai das comunidades do interior e vem para Xangai e Pequim. Ali fica completamente solto, sem apoio, e começa o processo todo, ele não é mais contido pela estrutura social. É isso que está acontecendo. “Bota a polícia!” Maravilha, podemos prender gente que não acaba mais. Fui ao Texas no ano passado e tem lá aquele Benjamim, que é paulista, que fez o código de proteção ao consumidor. Ele estava saindo de um seminário de direito criminal, onde chegaram à conclusão de que o fundamentalismo americano vai acabar pondo na cadeia 80 por cento da população antes de fazer 40 anos. E tudo é proibido, agora os Estados Unidos ficam construindo penitenciária.

Sérgio de Souza - Penitenciária privada é comum lá.
No Paraná,eu desprivatizei as penitenciárias.

Sérgio de Souza - Quem tinha privatizado?
O Lerner. É um troço bacana, né? O Pablo Escobar estava salvo da polícia e da CIA porque estava preso numa penitenciária que era dele. O dia em que ele saiu de lá, estava pulando de um edifício pra outro, saindo pela janela, um sniper da CIA atirou nele e matou. E nos EUA tem ação de penitenciária na bolsa!


José Arbex Jr. - Governador, o senhor tem planos para o futuro?
Eu não. Sou existencialista sartriano de esquerda. O meu projeto é terminar o governo do Paraná e terminar bem, como pretendi. Acabando o governo, posso montar outro projeto. Mas acho que qualquer desvio hoje desse projeto acabava com o governo.

João de Barros - Qual é seu projeto de governo?
É fazer um governo diferenciado no Brasil, na contramão da política econômica, mostrar que isso funciona. Enfrentar multinacional e mostrar que isso não acaba com investimento estrangeiro, que isso é necessário. Você respeita um contrato feito segundo as leis brasileiras, obedecendo a Constituição, o interesse público. Acabar com essa conversa mole de pacta sunt servanda, que qualquer patifaria assinada por um governador tem que valer mesmo que seja um absurdo contra o interesse público. Então, estou trabalhando na contramão disso, estou tentando dar um exemplo no Paraná.

Palmério Dória - E por que na Bolívia, no Equador as pessoas vão para as ruas e aqui não acontece nada?
Eu acho que as políticas sociais do governo, as políticas compensatórias são consistentes. O PT tem apoio na base popular. Não subestime as políticas compensatórias, as bolsas e tudo isso. Elas funcionam, vão longe e estão acabando com a miséria em pequenas comunidades, o único dinheiro que entra lá é o seguro-desemprego, aposentadoria. E o governo está jogando como o Collor com os descamisados, lembram? Imaginava que os descamisados se levantariam, está desprezando as classes médias e está jogando com o grande capital internacional, nacional e com as redes de comunicação. Corte a Globo, bote a Globo na oposição – quantos dias dura isso? Eu gostaria de ver isso como um dado. Ver o Lula sendo aquele Lula que a gente conhecia, um intelectual orgânico das classes populares. Era como eu o via, numa visão gramsciana.

José Arbex Jr. - Mas o Chávez peitou a Globo de lá.
E mostrou que é possível. Veja bem, Chávez mora num país onde 5 por cento da população é dona de 85 por cento das terras. Ele mora num país que ainda tem o petróleo estatizado. Então, acho que a gente precisava fazer uma transfusão de sangue do Chávez pro Lula, mas não exagerar na dose. O Kirchner está mostrando na Argentina. “O Kirchner é caloteiro.” É caloteiro o Kirchner? Quando ele corta 70 por cento da sobrecarga na dívida externa, será que ele reduziu isso a nada? Nos Estados Unidos, hoje, o dinheiro é 1 por cento ao ano. Se a aplicação for de risco, 2 por cento. O Kirchner cortou 70 por cento, ou seja, ele está dando algumas vezes mais do que o investidor ganharia nos Estados Unidos. Então, o corte em si não é tão drástico como pode parecer.

Thiago Domenici - O Kirchner, o Chávez, todo mundo peita, mas o Brasil não. Então, o Lula tem ou não o comando? Ou é um boneco?
Acho que ele está vivendo um processo muito grande de desinformação. O que o pessoal do PT diz? Que ele só falava com o Gushiken e com o Palocci. O Gushiken eu não conheço. O Palocci tem esse pensamento com o qual a gente não concorda.

Thiago Domenici - O senhor disse que gostaria de ver o Lula das antigas, mas ele deve saber disso, alguém deve chegar para ele e dizer: “Por que você não faz assim?”. Se ele não faz, é porque não tem comando?
Fui conversar com ele, conversei um tempão. Ele disse: “Requião, vamos conversar eu, você e o Palocci, vamos fazer essa conversa daqui a dez dias”. Eu disse: “Tudo bem, quero levar um ou dois economistas que trabalham comigo e o Palocci leva quem ele quiser”. Ele disse: “Não conta pra ninguém, vamos fazer isso privadamente”. É o que um amigo diz para o outro. Porque eu não tenho nenhuma intenção de desgastar o Lula. Ele chamou o Gilberto (Carvalho) e disse: “Marca com o Requião nos próximos dez, quinze dias”. Tem quatro meses. Então posso dizer que a reunião não houve. Depois me disseram que ele estava dormindo mal havia uma semana, em função da conversa, mas agora já deve estar dormindo. O que eu tinha feito? Tinha feito uma projeção em cima de 2002.

José Arbex Jr. - Sim, mas o MST foi pra Brasília, teve reunião com o Lula, o Stedile falou com o Lula, levou
reivindicações...
Você falou com o Stedile depois disso?

José Arbex Jr. - Mas foi agora.
O Stedile me disse isso, só fala com o Gushiken e o Palocci. É isolado.

João de Barros - O senhor pinta um cenário de fim de governo?
Eu não, não pinto nada. Quem pinta é o governo. E o que eu vejo? Vejo o PFL batendo no Lula, não vi ninguém criticar o Palocci, eles querem a mesma política sem os sindicalistas. Sem o Lula, sem o pessoal do PT. O horror é que o PT tem ocupado cargos públicos que eram feudos da elite paulista, paranaense, baiana, esse é o horror, não há nenhuma contradição da oposição com o Palocci. Eles ficam dizendo: “Mas como é que esse Lula, operário, agricultor, metalúrgico, torneiro é presidente da República?” Não há nenhuma contradição, E, tem mais, essa CPI vai ser fria, porque esse dinheiro que está pagando hoje é o mesmo dinheiro que pagava no governo do Collor, é o mesmo que pagava no governo do Fernando Henrique
a opinião do Congresso!


Sérgio de Souza - O senhor já ouvia falar isso antes, na mesada?
Claro! Isso é público e notório, dispensa prova em juízo. Sempre houve corrupção, mas ela se acentua no momento do neoliberalismo, da privatização. É continuidade da mesma política. Como é que se resolve isso? Acaba-se com essas emendas parlamentares? E o deputado federal tem que fiscalizar a União e formular leis para o Brasil. O que eles querem como alternativa? O voto distrital? Daí transforma o Congresso Nacional no congresso de Cuba. A política se resolve no congresso do Partido Comunista e o Congresso Nacional discute o quê? Água encanada? Rua asfaltada? Calçada? É o congresso do presidente da associação do bairro? Completamente desideologizado. É o último golpe, é o voto distrital. Ainda tem gente que defende essa merda, dizem que isso é reforma política!


“Se isso continuar como está, vamos ter a grande mídia apoiando a continuidade do programa econômico sem Lula, sem os operários no poder.”


Carlos Azevedo - Mas a reforma política é necessária, não?
Não, não é. Pra quê? Você vai fazer o que com ela? Você vai mudar o sistema de comunicação do Brasil? Você vai criar o financiamento público de campanha e vai deixar o SBT, a Globo e a Record, com todo o poder de comunicação que têm, podendo destruir e construir imagens? Reforçar e detonar políticas? Isso é uma ilusão! Você vai criar um sistema socialista da República dos Guaranis, e vai conviver com essa superestrutura capitalista do país? Prefiro esse troço aberto e de repente poder procurar uns empresários nacionalistas e pedir financiamento para fazer uma crítica ao entreguismo no Brasil.

Sérgio de Souza - E tem empresários nacionalistas?
Eu acho que tem. Foram enganados muito tempo.

Carlos Azevedo - Mas o presidencialismo como é no Brasil não gera crises de uma maneira automática?
Ah! Você preferia entregar pro Severino a presidência da República? Parlamentarismo Severino.

Carlos Azevedo - Eu, não, quero saber o que o senhor acha.
Eu acho que não, que o presidencialismo provoca a discussão ideológica do Brasil. O povo vota numa proposta de governo – na capacidade histriônica do candidato também –, mas vota numa proposta e não está condicionado à visão regionalizada e limitada do parlamentar que se elege no voto distrital. O voto distrital já existe no Brasil, você tem no prefeito que governa o distrito, tem o governador que governa um distritão, que é o Estado, tem os vereadores, os deputados estaduais, o deputado federal do Estado, ele não pode ser o deputado federal do município, ele não é um vereador nacional. Agora, querem reduzir isso à despolitização e desideologização absolutas. Daí, o cara vai pra lá brigar por uma escola técnica, uma verba pra calçada. Você vai ter um vereador brigando por problemas comezinhos do seu distrito e não discute mais os problemas da nação. É a anulação absoluta da nação.

Carlos Azevedo - Mas hoje não discute a nação também.
Pelo menos estamos discutindo aqui...

José Arbex Jr. - Agora, essa relação do governo com a mídia me parece uma coisa bem séria. O senhor está conseguindo bons resultados no seu Estado com a mídia? Eu digo quanto a investimento com a TV Educativa...
A Globo não simpatiza nada comigo. A TVEducativa é maravilhosa ao nível de Brasil, de informação, mas ela não tem concentração de público. E hoje tem imagem melhor que a da Globo. Troquei o equipamento todo. É a melhor televisão educativa do país e a segunda em audiência. A primeira é a de São Paulo.

Thiago Domenici - E a mídia impressa do Paraná?
É complicada. Vive à sombra do governo.

José Arbex Jr. - Agora, o governo Lula tinha duas opções: continuava mandando dinheiro para a Rede Globo etc. e tal ou investia na mídia alternativa, na mídia de esquerda, nas rádios comunitárias...
Como a Rede Globo pensa exatamente o que pensa o Palocci, por que é que vai investir em mídia alternativa? Nada melhor do que a Rede Globo.

José Arbex Jr. - Porque agora ele é refém da Rede Globo.
É refém nada, a Globo que é refém dele. Mas é um refém prazeroso, porque pensa a mesma coisa! Consentido e prazeroso. Glorioso e triunfante.

José Arbex Jr. - Na Venezuela, o Chávez só sobreviveu por causa da mídia independente, das rádios comunitárias, rádios-favela...
O Chávez sobreviveu com o petróleo e com aquela disparidade social brutal. Tenho uma parceria com a TV do Chávez. Estamos reproduzindo programas nossos na Venezuela e trazendo alguns deles. Mais na linha de mostrar a verdade da Venezuela e mostrar a Venezuela. E estou tentando mostrar o Brasil. Não é uma parceria estritamente ideológica, é até turística, estamos mostrando espaços, belezas e possibilidades.

José Arbex Jr. - O senhor já teve contato pessoal com o Chávez?
Sim, estive com ele no Fórum, em Porto Alegre. Não vou conversar sobre o Chávez. O Chávez é uma maravilha venezuelana. Ele é a medida que a Venezuela precisava hoje. Você não pode transplantar o Chávez para o Brasil. Eu acho ele uma referência, um exemplo, como Kirchner é lá à moda dele também, mas não há uma transação mecânica que possa ser bem-sucedida.

João de Barros - Como o senhor vê a questão da globalização, estamos diante de um novo Brasil colonial?
Aí vamos para o César Benjamim – o Brasil foi o primeiro país colonizado do mundo. Com a cana-de-açúcar. Vieram pra cá, plantaram a cana que era aceita e conhecida no mundo inteiro. Mas era uma empresa de sucesso, holandeses, ingleses e portugueses, mão-de-obra escrava, indígena e os saquaremas, que eram os “portugueses nascidos no Brasil”. Era uma empresa para os outros. Quando a independência foi proclamada, a Inglaterra aceitou a independência do Brasil, mas o Brasil aceitou assumir a dívida de Portugal com a Inglaterra. Foi a primeira dívida nossa. Daí veio a história dos fechamentos dos portos e a esquadra inglesa resolveu esse problema aqui na nossa frente e assim foi, abolição da escravatura, Ventre Livre, essas coisas todas. Nós pagamos a conta de Portugal e éramos o Brasil, empresa para os outros. Brasil, empresa agrícola para a Monsanto. Brasil, empresa agrícola para cinco trades internacionais... E é isso que tinha que reverter.

José Arbex Jr. - O senhor, com esses pensamentos, dialoga com quem fora do Paraná? Dentro do PMDB, por exemplo, com quem o senhor dialoga tendo essa plataforma?
Estou dialogando pouco... Mas, veja bem, o dia em que o PMDB tiver uma proposta política... Nós estamos trabalhando em cima de uma. Eu pedi ao Lessa (Carlos) ao Dark (Costa), ao brigadeiro Ferola e a um grupo que começassem a nos ajudar a produzir alguma coisa. O Lessa não é um socialista, é um populista nacionalista. Populista no bom sentido está pensando no povão. Ele gosta de usar a palavra populista porque gosta de agredir. Estamos formulando um programa, acho que, se a gente tiver uma boa bandeira, a gente mexe com o país.

Palmério Dória - Esse projeto prevê uma candidatura à presidência?
Prevê uma proposta de governo. Condicionar isso à candidatura é uma proposta menor. Já estou muito velho para propor uma safadeza dessa. Colocar tudo em torno de uma candidatura é uma safadeza. Um partido tem que ter um programa de governo, com um programa de governo, ele compõe para implantar esse programa da melhor maneira possível ou lança candidato.

Sérgio de Souza - No PMDB é possível isso? São correntes e correntes...
Tanto é possível, que estamos montando. Agora, se isso vai ter sucesso ou não, é outra coisa. Agora, sem bandeira, o que vocês querem? Um desfile? O Requião é candidato, tá bom? Vai fazer um desfile de moda com o Garotinho e com quem mais? Com o Garotinho, com o Germano Rigotto, né? Não tem cabimento isso. E uma proposta política diferenciada pode até dar uma saída para o PT.

José Arbex Jr. - O senhor citou o Lessa, o Dark, esse pessoal está pensando numa instância informal ou existe uma coisa formalizada?
Existe uma coisa formalizada com a executiva do partido, o Temer assumiu isso. Estamos elaborando essa proposta.

José Arbex Jr. - O Temer assumiu o que exatamente?
Assumiu a confecção da proposta. Vamos ter um projeto inicial, vamos discutir isso no Brasil... Agora, não me pergunte se vai dar certo ou não vai, não sei. Sou meio cético. Mas não sou cínico, estou esperando que dê. Eu mesmo não tenho muito tempo para tratar disso, tenho um Estado para governar.

Palmério Dória - Com essa crise, o PMDB está próximo de lançar uma candidatura própria?
Se tiver programa, lança, se não tiver programa, não vale nada a candidatura própria. Não vale nada. Veja bem, se isso continuar como está, nós vamos ter a grande mídia apoiando a continuidade do programa econômico sem Lula, sem os operários no poder. Você viu outro dia o Virgilio (Artur) dando pau: "Não, mas o Palocci é uma figura maravilhosa, ele não pode se envolver nisso...". Eu acho que é por aí, mas tem saída. Claro que tem saída. E isso tudo é um minuto na história de um país, um segundo.

João de Barros - Esse projeto tem prazo?
Não, está sendo executado. Mas outro projeto bonito que estamos fazendo na televisão do Estado é um projeto sobre a Argentina. Cansei de ouvir o Kirchner ser chamado de caloteiro. Então, eu, o Lessa, o Dark, o Ferola montamos um debate sobre a Argentina. Mandei uma equipe de televisão ir pra Argentina entrevistar o povo, os operários, os dirigentes... E em cima dessas entrevistas vamos fazer um debate na televisão, para mostrar a Argentina e relacionar com o Brasil. Provavelmente vamos convidar para o debate o Cesinha (César Benjamim), o Lessa. Estamos montando o formato do programa, não podemos querer entrar em tudo.

Sérgio de Souza - O senhor falou pretender que o Paraná seja um Estado diferenciado. Como ele está colocado no índice de desenvolvimento humano entre os Estados brasileiros?
O IDH do Paraná é ruinzão, 72 por cento dos municípios estão abaixo da média brasileira. Onde moram 32 por cento da população. Estamos trabalhando em cima disso. No Paraná, as crianças pobres recebem 1 litro de leite por dia, que é um programa integrado com a pecuária leiteira. São 161.000 crianças hoje. A desnutrição infantil cai de 38 por cento, 40 por cento para 1 por cento, 2 por cento. Recebem 100 kilowatts de energia elétrica de graça. Populismo do Requião? Demagogia? Não, economia na estrutura de saúde. Geladeira ligada acaba com infecção intestinal e a água tratada tem uma tarifa social também. Que é muito mais barato que uma campanha para vacinar. Microempresa não paga. Os estímulos são para instalação de empresas no interior, não mais nas grandes cidades. Além disso, o enfrentamento com esses contratos, com essa coisa toda. “Tem que respeitar...” Tem que respeitar nada! Firme no interesse público. Aprendi na faculdade de direito que não há direito adquirido contra o interesse público. Nos tribunais de Brasília, hoje estão dizendo o contrário, uma vez vendido o Brasil, temos que entregar.


João de Barros - O seu partido tem maioria na Assembléia Legislativa?
Não.

João de Barros - E como o senhor consegue passar os seus projetos?
Dessa forma, mandando os projetos para a Assembléia, colocando publicamente e esperando que os deputados votem. Como não mando canalhice, tenho sido muito bem-sucedido. Não libero nenhuma emenda. Não vejo necessidade disso. Agora, se você pagar um, você não tem mais voto.

Palmério Dória - Como esses meninos vivem sem mesada?
Com um salário polpudo, né? Ganham uma grana preta.

Sérgio de Souza - Como é que vai culminar essa crise de hoje? Só vamos sair daqui a um mês com esta entrevista.
Eu não sei. Essa crise de hoje como vai culminar, quem é que sabe?


Sérgio de Souza - Não tem uma previsão?
Eu acho que, se for aprofundada, ela vai pegar o governo Fernando Henrique inteiro.

Carlos Azevedo - O senhor acha que a CPI vai caminhar por aí?
Eu acho que o Congresso está tão enredado com esse esquema, que vai ser muito difícil, a corporação vai se mexer. Acho que cassam o Roberto Jefferson.

José Arbex Jr. - Do ponto de vista de longo prazo existe uma discussão, feita inclusive pelo César Benjamim, que o Brasil hoje vive uma crise de destino. Estamos em uma encruzilhada...
O César Benjamim está muito cético e não acredita em nada.

José Arbex Jr. - O senhor luz no fim do túnel? Possibilidades reais.
Antigamente eu via Lula no fim do túnel, agora...

José Arbex Jr. - Agora, o que o senhor vê no fim do túnel?
Eu acho muito difícil projetar isso. Porque na história política de uma nação tem elementos catalisadores, tem momentos em que o povo levanta, tivemos as Diretas. Tem coisas que catalisam o processo, aceleram reações, ou não. Ou vamos terminar um grande Porto Rico. E o brasileiro, para plantar couve no quintal, vai pagar royalties para a Monsanto.

José Arbex Jr. - Isso é uma possibilidade concreta?
Claro. Vai chegar o Ministério Público lá, a serviço das leis: "Esse tomateiro é transgênico, a senhora já recolheu royalties?" "Mas eu só tenho quatro pés de tomate..." “Tem que pagar.”

José Arbex Jr. - Eu queria insistir um pouco sobre isso. Porque durante duas décadas a sociedade brasileira se organizou em torno do PT, vinculou as esperanças no PT, e o PT virou essa imundície que é hoje...
Não é uma imundície. Faça como o Hélio Fernandes, o PT e o PT governo não é o mesmo. O PT é o melhor partido que o país tem hoje. A base, a esperança.

José Arbex - Atrelado ao governo.
Mas o que está atrelado ao governo é a estrutura parlamentar.

José Arbex Jr. - Então, voltando. O senhor alternativa de que exista alguma possibilidade de o PT se desvincular do governo e continuar sendo...
Desde que não seja essa bobagem de meia dúzia de pessoas saírem e tentarem formar um clube lítero-musical e imaginar que vão empolgar o país. O Sartre diz: "Se você não põe a mão na merda, você não muda nada”. Se você imaginar que vai montar um grupo lítero-musical para reformar o país... Isso não vai mudar nada. O pessoal está saindo, isso é muito ruim. Tem que brigar dentro.

Thiago Domenici - Mas e os que foram expulsos?
Foram expulsos porque tomaram atitudes. Gente boa, mas uma visão muito corporativa. Eles não estavam contestando a política nacional, estavam brigando por reivindicação do funcionário público. Tenha dó, né?

Thiago Domenici - Mas a Heloísa Helena deu uma entrevista aqui e defendia a manutenção da linha que o PT sempre seguiu.
A Heloísa Helena é um amor de pessoa, é minha amiga. Mas não era a hora de ter saído, nem aquela bandeira era a correta. Vai ver o que sobrar disso. O que é o PT hoje? O PT é a burocracia sindical, que tem um relacionamento muito bom com bancos, aplicavam fundos... Gestores de fundo de pensão, fazendo a gestão do Brasil absoluta e completamente "desideologizado". Mas a base do PT é tão boa quanto a base do PMDB. Eu, por exemplo, acho o PMDB de certa forma decomposto nacionalmente, mas tem uma base incrível. Espaço monumental para montar um partido, desde que uma proposta seja construída e divulgada. Levanta PT, levanta PMDB. Agora, nas próximas eleições, o PT vai ser uma tragédia, né? Acabou aquele mito, aquela aura de partido da moralidade. A última pesquisa que eu vi dava 65 por cento, foi antes do "mensalão", 65 por cento achando que é um partido corrupto. Mas não é! Pega os deputados do PT lá na Assembléia, não são corruptos. Mas vão pagar o preço, vão pagar caro.

Palmério Dória - O Jefferson pode ser o Eriberto do governo Lula?
Ou o Pedro Collor do governo. Só tem uma diferença nisso aí. O Lula não é o Collor. É um raciocínio lógico, não é?


Palmério Dória - O PC Farias comprou algum deputado?
Evidente. Comprou deputado, comprou partido, comprou iate, comprou tudo que estava à venda. O PC tinha
um esquema de enriquecimento pessoal...

Palmério Dória - Teve assassinatos? O caso de Santo André é outra história nebulosa. Enfim, muita coisa
pode acontecer...
Eu acho que o Congresso não aprofunda a investigação da corrupção interna. Eu já vi a conversa hoje lá:
“Não, a governabilidade e tal”. Não aprofunda.

José Arbex Jr. - Agora, pegando seu raciocínio, o problema é o modelo neoliberal, o senhor vê alguma chance do Lula, em função dessa crise, ser empurrado à esquerda e romper com o modelo neoliberal. Para tentar recuperar as bases?
Outro dia cheguei em Curitiba e tinha um aviso na minha secretária: os representantes do Fundo Monetário Internacional querem uma audiência com o governador. Chegam aqui amanhã, uma audiência impreterível. Mandei dizer que audiência comigo tinha que marcar com seis meses de antecedência. Dei audiência nenhuma, o que eu quero com Fundo Monetário Internacional? E que petulância o sujeito chegar no Estado e dizer que quer falar com o governador. Comigo não!

Palmério Dória - É Serra, Alckmin, Fernando Henrique, para onde o PSDB pode caminhar?
O PSDB, como um partido ajuizado, vai com quem tem a chave do cofre. Quem tem hoje é o Alckmin.

José Arbex Jr. - Acho que o Fernando Henrique está articulando.
Não. Mas não tem a menor possibilidade. A gente faz pesquisa qualitativa, quantitativa, é um pau no Fernando Henrique!

Palmério Dória - O PT tem um nome de estepe se o Lula dançar nesse processo?
Ah, não tem. É Lula. Nem disputa. O PT é o Lula. Você veja, quem abandonou o PT? Os tais intelectuais orgânicos do partido. Ficaram os quadros médios, sem intelectual orgânico não sabem mais o que dizer, e os militantes perdidos.

Palmério Dória - E a candidatura própria do PMDB?
Ah, não sei. Eu aposto num programa do PMDB. Candidatura é uma coisa na frente, se tiver problema. Palmério Dória - Mas dá para pensar assim sem nomes? Dá. Para mim, não dá para pensar com nomes. O Garotinho se ensaia, mas, ao mesmo tempo que ele se ensaia, a Rosinha tentou privatizar a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos). Então, você veja para quem ele está tirando o chapéu.

Palmério Dória - E se lhe apresentarem isso? O senhor fica docemente constrangido ou...
Em primeiro lugar minha consciência, em segundo o país e em terceiro o partido. Minha avaliação é por aí. Só falta agora eu dizer para vocês que minha fidelidade é o PT. Eu já ando desconfiado até do papa...

Sérgio de Souza - Esse não dá para confiar mesmo.
Eu disse para o arcebispo de Curitiba, ele ficou espantado: “Vou me licenciar seis meses de nossa Igreja para ver como esse papa se sai”.

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ESSE DISCURSO O BRASIL NUNCA OUVIU
Ou alguém já ouviu um governador brasileiro declarar-se enfaticamente de esquerda?

A mídia grande não deu destaque ao discurso – feito em 1º de janeiro de 2007, data da posse de todos os eleitos no país – apesar de estar cheio de novidades em relação ao que essa mídia está acostumada a divulgar. O discurso ataca com veemência os direitistas e os neoliberais, apontados como criminosos e traidores de Pátria, e garante que esse não será um governo de conciliação nem de centro-esquerda, mas verdadeiramente de esquerda, em defesa da maioria da população. Uma surpreendente peça política, para ler e guardar.

Por escolha dos paranaenses, assumo pela terceira vez o Governo do Estado. Na verdade, estou pouco interessado em marcas históricas, em recordes. O que importa não é o tempo em que estive e que ainda vou estar no Palácio Iguaçu. O que conta são as realizações, o que fizemos no primeiro e no segundo mandato. As obras, e também as palavras. Já que nunca dissociei a ação do discurso.

De todas as disputas, desde que fui eleito deputado em 1982, esta foi a mais difícil de todas. Não acredito que, ao longo da nossa história republicana, tenha havido no Paraná um pleito renhido quanto este.

Nunca se viu uma união de forças tão poderosa, tão obstinada, tão arrogante e, ao mesmo tempo, tão sem escrúpulos como a que enfrentamos.

Nada os deteve. Passaram como uma horda de bárbaros sobre as mais comezinhas regras da convivência, da urbanidade. Possivelmente nenhum outro governante paranaense tenha sido exposto de forma tão desumana, tão desapiedada.
Não estou aqui lamentando fatos. São coisas da vida e eu as registro. Certamente, para desagrado de alguns companheiros que chegaram a pedir que fizesse um discurso de conciliação, de congraçamento, de paz.

É a velha história de sempre. O mito da cordialidade. O oportunismo da “união de todos”. Toda vez que se vêem em perigo ou depois de uma derrota, os interesses dominantes – a direita, sejamos claros – ressurge com a conversa mole da harmonia, da concórdia, “somos todos amigos, somos todos irmãos” e patranhas da espécie.

No processo eleitoral não demonstraram nenhuma cordialidade, fizeram de tudo para que fôssemos esmagados, liquidados. Discursavam com gosto de sangue na boca, com punhal entre dentes. Se vencedores, prometiam terríveis vinganças.

O que muitos companheiros, secretários de Estado, diretores de empresas, gente do primeiro, do segundo escalão, dirigentes do partido não entendem é que dois lados muito claros e distintos opuseram-se nesta eleição. Provavelmente, nunca em uma eleição paranaense esse antagonismo deu-se tão evidente.

Do lado de lá reuniram-se todos os interesses contrariados. Vi-os todos no palanque do adversário. Os que quebraram e privatizaram o Banestado.

Os que quebraram e tentaram privatizar a Copel, os que alienaram o controle da Sanepar, não investiram em saneamento e fizeram ressurgir até mesmo a cólera em nosso Estado. Os que privatizaram as estradas e criaram aqui a mais abusiva de todas as tarifas de pedágio. Os que destruíram a educação pública, acabaram com o ensino profissionalizante e fizeram o Paraná regredir aos piores índices de qualidade de ensino no país.

Estavam todos lá. Os que deram toda sorte de vantagens e privilégios às multinacionais e esmagaram o empresário paranaense. Os que se acumpliciaram com as transnacionais na conspiração para submeter os produtores paranaenses ao domínio de suas sementes patenteadas. Os que transformaram o erário quase que em caixa privado e dilapidaram o Estado.

Estavam todos lá. Os que viveram durante tanto tempo às expensas das verbas públicas e comercializaram suas opiniões. Os que fizeram da liberdade de imprensa um negócio muito próprio e muito próspero.

Estavam todos lá. Os que viviam de fraudar concorrências, de superfaturar e de fazer das concorrências públicas uma ação entre amigos.

Estavam todos lá. Aqueles que em oito anos de governo não produziram mais que 38 mil empregos com carteira assinada. Porque não cortaram impostos, desprezaram os pequenos, quebraram as empresas públicas, não investiram em infra-estrutura, não atraíram negócios que gerassem intensivamente novas vagas para os trabalhadores.

Estavam lá os que não apenas não criaram qualquer programa social para minorar e atender emergencialmente os nossos irmãos mais pobres, como eliminaram os que existiam, aumentando a dor da exclusão, aprofundando a humilhação e a ofensa da miséria.

Estava lá o Banco Itaú, contra quem o Estado do Paraná demanda na Justiça e que ganhou o Banestado de presente, de graça, num dos processos mais absurdos da privataria, do desbaratamento do patrimônio público. Estava lá o Banco Itaú que quer fazer valer contratos absolutamente insustentáveis contra o interesse paranaense. Estava lá o Banco Itaú financiando a candidatura de dois dos meus adversários. E estavam lá os meus adversários aceitando recursos de quem demanda contra o Paraná.

Estavam lá também pessoas de boa índole, sinceras, honestas, corretas, empenhadas na batalha eleitoral, acreditando que aquela fosse a melhor alternativa. Certamente uma minoria pouco influente porque o que predominava mesmo era a voz do dono.

Este o lado de lá. E qual o nosso lado?

O lado dos mais pobres, dos trabalhadores, dos pequenos, dos agricultores familiares, do fortalecimento das políticas públicas de saúde, educação e segurança, da recuperação das estradas, da construção de escolas e hospitais, da criação de empregos, da isenção de impostos, do microcrédito, do fundo de aval, do programa do leite, da tarifa social da água, da luz fraterna, da recuperação do Estado, da transparência, da austeridade. O lado do povo.

Há quem se constranja, fique encabulado ou até mesmo sinta urticária quando se fala em povo. Os dominantes, essa gente do mercado, os do lado de lá, os que sempiternamente viveram do sangue, do suor, da miséria, da exploração do povo. Os que excluem, esmagam, discriminam, ofendem e humilham o povo. Os que enganam e manipulam o povo.

Essa gente torce o nariz quando algum governo declara sua opção, seu amor, sua solidariedade para com o povo.
É impressionante como os valores do mercado, sua boca torta de fumar o cachimbo da dominação transmite-se e são assimilados até mesmo por aqueles que estão entre nós.

E lá vem essa conversa toda de populismo, do horror a um Hugo Chávez, a um Evo Morales, a um Rafael Correa, a qualquer um, enfim, que se oponha ao Consenso de Washington, aos ditames do FMI, às receitas do neoliberalismo, à ação sem freio do mercado.

O nosso lado é o lado do povo.

E como então aceitar a conciliação que alguns companheiros urdem?

É interessante. Quando chega a vez, quando temos possibilidades concretas, reais de fazer alguma coisa por aqueles que mais precisam, por aqueles que a vida toda restaram à margem, insistem que sejamos equânimes, que pesemos os dois lados, que olhemos à esquerda e à direita, que não nos afastemos dos grandes, dos poderosos, dos manda-chuvas.

Companheiros de Governo, paranaenses.

Nesses quatro anos que passaram acredito que tenha ficado claro a todos para quem governamos. Ou não salta aos olhos a nossa opção? Será que há alguma dúvida?

Pois bem, nos próximos quatro anos vamos radicalizar essa opção. Vamos ainda mais a fundo na tarefa de governar para o povo.

E não é um governo de centro-esquerda, não. Não venham com esses centrismos, com esse equilibrismo. Somos, sim, um governo de esquerda. E que a má interpretação ou a distorção daquilo que disse o Presidente Lula não sirva de pretexto para que alguns neguem o lado em que nos posicionamos.
Somos de esquerda, porque ser de esquerda é ser solidário, fraterno, humano. É ser gente. É ter os olhos, a alma e o coração voltados para as desigualdades e as misérias deste mundo.

O fosso entre os que têm e os que não têm alargou-se de tal forma nos últimos anos, nesses malditos anos de expansão do neoliberalismo, que não seria catastrófico antecipar a possibilidade do colapso da civilização.

Tenhamos olhos para ver. E vejam.

Hoje a metade da população mundial, calculada em 6 bilhões e 800 milhões de almas, tem um patrimônio de tão-somente 4.500 reais.

A tragédia brasileira da desigualdade, da exclusão, da concentração de renda segue o ritmo mundial.

Por mais escandaloso e surpreendente que pareça, quem ganha mais que 800 reais por mês em nosso país está entre aquela parcela de 5 por cento de brasileiros mais ricos.

Escandalizem-se. Mas reajam, mas façam alguma coisa, mas desendureçam o coração e arejem o cérebro. Alinhem-se à esquerda, formem entre aqueles que ainda não perderam a capacidade de indignar-se e lutar. Perfilem entre os que não perverteram as características básicas de seres humanos, que não se transformaram em homens lobos dos homens.

Enfim, recuperemos as nossas condições de seres humanos. Segundo Aristóteles, “animais políticos”; isto é, gregários, solidários, civilizados, já que civilização pressupõe solidariedade, irmandade. É isso que nos distingue da barbárie, da irracionalidade.

E o que é a globalização, a sanha do mercado por lucro, a dominação impiedosa dos países e povos periféricos? O que é a transformação do individualismo, da competição, da esperteza, da ascensão a qualquer preço a valores máximos dos nossos tempos? O que é tudo isso que não a volta à selvageria, ao embrutecimento, à incultura, à grosseria, à rudeza, à brutalidade, à desumanidade das hordas pré-civilização?

Já próximo da morte, nas reflexões finais sobre a sua trajetória política, François Mitterrand disse que a direita julga que o poder é dela por delegação natural, como se fosse a reprodução do direito divino dos reis. Assim, para a direita, a eventual ascensão da esquerda é usurpação, é antinatural.

Isso é de tal forma difundido, está de tal forma entranhado em nossa cultura, que muitos, à esquerda ou ditos de esquerda, ou do centro, parecem constrangidos quando ganham uma eleição. Quase que pedem desculpas à direita por chegar ao governo, por ocupar um espaço naturalmente dela, naturalmente dos senhores, naturalmente dos dominantes.

Talvez seja por isso que, segundo dizem, nada mais parecido com o conservador que a esquerda quando chega ao governo. Ou como se dizia no Império: “Nada mais parecido com um luzia do que um saquarema no Gabinete”.

Não aqui no Paraná.

Palavras e obras. Coerentemente. O que pensamos, o que discursamos, o que declaramos corresponde, sempre, ao que fazemos.

Desmontaram o Estado, diminuíram-no, enfraqueceram-no. Afinal, para os neoliberais, a existência do Estado justifica-se à medida que sirva ao mercado. E todas as políticas públicas são desperdício de recursos. Recursos que eles querem para pagar as dívidas, o serviço da dívida. Superávits para acalmar o mercado e sinalizar as nossas condições de pagamento.

O risco brasileiro é falta de dinheiro para saúde, educação, segurança, infra-estrutura, geração de empregos, má distribuição de renda.

Mas o risco, que eles medem como se medissem a febre e o perigo de vida de um paciente, o risco para eles é faltar recursos para pagar a dívida, já tantas vezes paga e ainda assim tornada impagável pela prestidigitação contábil dos credores, dos rentistas internos ou externos.

Nós recuperamos o Estado e o Estado passou a ser um elemento essencial para a retomada do desenvolvimento paranaense.

Nesses quatro anos transformamos a Copel de uma empresa à beira da quebra, deficitária, na terceira melhor empresa de energia do mundo. E na principal empresa de energia das Américas. De longe, a melhor empresa de energia do Brasil.

Para o lucro de quem? Dos paranaenses, que pagam hoje a menor tarifa de energia do país; dos nossos empresários, que têm oferta de energia barata e abundante para o desenvolvimento de seus projetos; de um milhão de paranaenses de famílias mais pobres, que recebem energia de graça em suas casas. Porque energia elétrica é saúde.

A Sanepar voltou ao controle público e hoje desenvolve a mais ousada e abrangente política de saneamento do Brasil, transformando o Paraná em referência nacional em oferta de água e esgoto tratados.

E a tarifa social da água atende mais de um milhão e quatrocentos mil paranaenses de menor renda. Porque saneamento é saúde.

O Porto, livre da sanha dos privatistas, da especulação, recuperado, saneado, eficiente e lucrativo.

Na Educação, uma transformação extraordinária. Não há quem no Brasil deixe de reconhecer os avanços da educação pública paranaense nesses quatro anos. A qualidade do ensino, o livro didático gratuito, o portal da educação, os 40 mil computadores, toda a rede escolar interligada por rede de fibra ótica, o plano de cargos e salários, a construção de novos colégios e salas de aula, a volta do ensino profissionalizante, os extraordinários índices de aprovação dos nossos alunos na Universidade Federal e nas Universidades Estaduais. Além dos grandes investimentos no ensino universitário público estadual.

Na Saúde, os esforços extremos para recuperar as defasagens acumuladas nos oito anos que nos antecederam. Estão aí os 24 hospitais, em construção, reforma ou ampliação para dar, enfim, aos paranaenses a base física indispensável a uma política pública de saúde universal e eficiente. Pela primeira vez, em anos, reduzimos os índices de mortalidade infantil, com a colaboração imprescindível da Pastoral da Criança, e somos hoje um dos dois Estados brasileiros que mais avançou nesta área. Os 126 Centros da Saúde da Criança e da Mulher, que já estamos construindo, vão fazer com que esses índices sejam reduzidos ainda mais.

Na Segurança Pública, a implantação de um novo conceito de segurança: a Polícia Comunitária, próxima das pessoas, integrada com elas e interagindo com elas. Daí o Projeto Povo, a Patrulha Escolar, os Bombeiros Comunitários, o Geoprocessamento do Crime, os Conselhos de Segurança. Reequipamos as Polícias Civil e Militar, aumentamos o efetivo, reajustamos os vencimentos. Avançamos, mas temos a consciência de que ainda há muito o que fazer.

Para gerar mais empregos, para incentivar investimentos e aumentar a produção aplicamos a mais ousada política fiscal do país, que agora serve de inspiração ao governo federal ao editar a Lei Geral da Microempresa. Hoje, 172 mil micro e pequenas empresas paranaenses são beneficiadas pela isenção de ICMS ou pela redução do imposto.

Os resultados espelham-se no alargamento da longevidade das empresas paranaenses, bem superior à média nacional, e, principalmente, na criação de novos empregos. Do início do nosso mandato até novembro de 2006 foram criados no Paraná 365.623 empregos com carteira assinada, resultado da política do Paraná somada à política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos oito anos do governo que nos antecedeu não foram criados mais que 38 mil empregos formais. A diferença é notável.
Pena que a nossa imprensa, tão rápida na crítica, não tenha se debruçado sobre esse espantoso confronto de números e não tenha feito uma das perguntas básicas da boa reportagem: Por quê?

O programa do microcrédito, que tanto sucesso fez neste primeiro governo, alavancando milhares de pequenos negócios, terá dobrado os seus recursos. Vão ser agora 160 milhões de reais para financiar quem queira abrir um negócio ou ampliar o que já tem.

Concluímos nesse dezembro o ingente esforço de recuperação da malha rodoviária estadual. Mais de cinco mil quilômetros devolvidos ao trânsito seguro dos paranaenses. Sem pedágio.

Com isso, temos prontas as condições para a implantação de um novo projeto, Os Caminhos da Liberdade, oferecendo alternativas às estradas pedagiadas.
Não descuramos a batalha contra o abuso do pedágio. As concessionárias fecham o ano com uma arrecadação estimada de 735 milhões de reais e nem 30 por cento disso foram aplicados em benefícios para os usuários.

É por isso que temos mais de 40 ações na Justiça contra o abuso das tarifas e o descumprimento dos contratos.

A luta contra os interesses dominantes do mercado se fez também com a implantação do software livre.

Com isso buscamos não apenas universalizar, democratizar o acesso à informática como também economizamos recursos financeiros para o Estado. Desde que o software livre foi implantado, em maio de 2003, até agora já economizamos 147 milhões de reais, dinheiro que desperdiçaríamos com as empresas que monopolizam o setor.

Além dos programas sociais da água, do leite e da luz, dos avanços na educação, da política fiscal, da geração de novos empregos, da construção de estradas e hospitais, uma das ações que mais me empolga, mobiliza e emociona é o programa de construção de bibliotecas públicas em todo o Paraná.

Breve, cada município paranaense, por menor e distante que seja, terá a sua biblioteca, bem provida de livros, interligada à Internet.

Vocês não imaginam o efeito transformador que uma biblioteca tem sobre as nossas comunidades, especialmente nas cidades do interior. Elas são a porta para um mundo maravilhoso, para a criação, para a fantasia, para a formação. Criado em uma biblioteca, sei do que falo.

O Fundo de Aval, para dar suporte aos nossos agricultores familiares, é também um outro programa vitorioso. Neste novo mandato iremos além. Vamos investir um bilhão e trezentos milhões de reais para diversificar a agricultura, para industrializar a produção agropecuária, para incentivar a produção agroecológica. Para o programa Panela Cheia, reservamos 100 milhões de reais; para o Fundo de Aval, 200 milhões; para o programa do trator solidário, 40 milhões, para começar a ação. Intensificaremos a irrigação noturna como meio seguro de aumentar a produtividade e minorar os efeitos das estiagens que têm se tornado tão freqüentes.

Para enfim dar às 320 mil pequenas propriedades agrícolas em nosso Estado o apoio necessário, a fim de que se consolidem e se desenvolvam.

Tantos avanços em tão pouco espaço de tempo não seriam possíveis se não recuperássemos a capacidade do Estado de pensar, de planejar, de executar. E se não contássemos com um corpo de funcionários públicos, de profissionais, tão eficiente e capaz como o que temos.

Paranaenses. As bases para um novo salto estão construídas, solidamente construídas. As prioridades definidas. Os rumos claramente delineados. Os objetivos, evidentes.

É a Educação, é a Saúde, é a Segurança, é a geração de empregos, é o incentivo a novos investimentos e ao aumento da produção, é o combate aos desequilíbrios sociais e aos descompassos entre as regiões.

Enfim, acima de tudo, sobretudo, o povo, as pessoas. O progresso das pessoas, sua promoção, seu desenvolvimento, sua inclusão neste admirável mundo novo, neste tão injusto mundo novo.

Nestes próximos quatro anos vamos radicalizar a política de defesa do meio ambiente.

Não é possível mais contemporizar com a destruição.

Vejam, 82 por cento dos brasileiros moram em nosso litoral. E, segundo especialistas, a prosseguir neste rumo insano o aquecimento global, todo o nosso litoral vê-se ameaçado de inundações.

É uma perspectiva apocalíptica.

Ainda assim, a irresponsabilidade de meus adversários transformou em mote de campanha a licença para a devastação ambiental. Não consideremos, não cederemos a pressões. A vida está acima do lucro imediato.

Por fim, não poderia faltar uma palavra sobre comunicação, imprensa, que vou dizê-la mesmo contra o conselho dos que querem “deixar disso”, e para desassossego dos pregadores da cordialidade.

O debate sobre o papel da imprensa no processo eleitoral ganhou o país. Pela primeira vez, em tantas décadas, a mídia foi colocada sob suspeita. E criticada, coisa que ela detesta mais que o satanás dá água benta.

A militância dos jornalões a favor de uma candidatura só não detectou quem não quis. Caso de má-fé cínica ou de ignorância córnea?

Optaram, sim, por um lado, torceram e distorceram por ele e quando isso foi identificado e denunciado reagiram dizendo que se ameaçava a liberdade de imprensa.

Não tiveram a coragem, o desassombro de assumir em editoriais a opção feita, mesmo que a não disfarçassem, mesmo que isso fosse refletido escandalosamente no tom reservado à cobertura de cada um dos candidatos.

Fizemos um estudo criterioso, científico, estatisticamente responsável sobre o comportamento da mídia paranaense nas eleições estaduais. Os resultados todos conhecem, pois os divulgamos amplamente.

Quando falamos em exclusão social e econômica, quando falamos sobre as desigualdades, os desequilíbrios, os privilégios nunca, ou quase nunca, fazemos referência ao monopólio da informação.

Nunca mencionamos o domínio da mídia por determinados interesses e, por conseqüência, o afastamento de suas páginas, de seu vídeo e áudio dos interesses dos dominados, dos apartados, dos segregados, dos discriminados, dos trabalhadores, do povo, enfim.

Que liberdade de imprensa é essa que acolhe sempre a voz dominante, a voz do mercado, dos poderosos? Que liberdade de imprensa é essa que restringe o acesso do povo e de suas manifestações? Que trata e maltrata os trabalhadores, quase sempre com desdém, com o corte da visão de classe senhorial?

Que liberdade de imprensa é essa que, quando critica, quando acusa, mesmo que distorcendo os fatos, concede à parte ofendida, quando muito, uma misericordiosa meia linha, para que “o outro lado” se manifeste? É o acepipe cinicamente ofertado antes da execução.

Não tenhamos ilusões, não sejamos ingênuos, não esperemos muito da grande mídia. Ela tem um lado, nós é que não aprendemos isso ainda e ficamos insistindo em um diálogo de surdos.

Hoje, apenas seis redes privadas controlam 667 veículos – emissoras de TV, de rádio e jornais diários – atingindo 87 por cento dos domicílios, em 98 por cento dos municípios brasileiros.

Há ainda quem ouse dizer que isso não é o monopólio da informação, que isso não é o controle da opinião pública, que isso não é uma verdadeira ditadura do pensamento dominante?

É salutar que finalmente o poder da grande mídia comece a ser colocado em xeque e a sua credibilidade como agente formador da opinião pública seja questionada.

Mas que comunicação queremos?

Queremos uma comunicação de interesse público. Que estimule o debate. Que tenha compromisso com a formação, a educação e a construção da cidadania. Que democratize e produza instrumentos de socialização da informação. Que crie, utilize e valorize espaços de mídia alternativos, como as rádios comunitárias, a Internet, os eventos públicos.

Queremos uma comunicação que resista à hegemonia dos meios de comunicação de massa e crie referências críticas ao que eles veiculam, que não engulam tudo que os jornais nacionais, que as novelas buscam empurrar goela abaixo do povo.

Queremos uma comunicação que busque o envolvimento da sociedade e estimule a sua participação. Queremos uma comunicação de mão dupla, que interaja, que comunique a diversidade de opiniões. Queremos uma comunicação que favoreça a inclusão do maior número de cidadãos no debate político.

Nós queremos, enfim, uma comunicação popular, onde mil flores desabrochem e mil correntes de pensamento rivalizem.

Paranaenses, estes são os meus compromissos. E diante de minha mulher Maristela, dos meus filhos Maurício e Roberta, do Ricardo, renovo-os. Incluam-me em suas orações, peçam a Deus por mim, para que Ele me ilumine e me faça forte, firme e corajoso na defesa dos interesses do nosso povo.

Ao trabalho, que temos mais quatro anos para consolidar as transformações que iniciamos e dizer ao Brasil que o caminho do Paraná é o caminho da libertação, da independência, da altivez, do compromisso com os interesses nacionais e populares.

Afinal temos um lado. O lado da solidariedade, da generosidade. O lado do povo. O lado esquerdo do peito.

fonte: http://carosamigos.terra.com.br/
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