segunda-feira, 31 de março de 2008

1964 – o ano que a luz apagou



por Laerte Braga

Quem olhar para o 1º de abril de 1964 e para o 28 de março de 2008, 44 anos depois, vai constatar que certo estava o general Golbery do Couto e Silva, chamado de “o bruxo”, quando disse que no “Brasil vivemos momentos de sístole e momentos diástole”.

O general quis dizer que haviam fases que o Brasil necessitava de um governo centralizador (a ditadura) e outras onde poderia descentralizar (a democracia). O que vale dizer que nada muda, todas as vezes que o modelo estiver ameaçado as elites adotam essa fórmula de gerir os “negócios”. Ou um, ou outro.

O presidente Luís Inácio Lula da Silva disse hoje que “a oposição destila ódio”. Há uma diferença fundamental entre Lula e as principais forças políticas que se lhe opõem. Ao PSDB e aos DEMocratas não importa se sístole ou se diástole. Importam os interesses que representam.

Isso equivale a dizer que democracia ou ditadura é irrelevante desde que o modelo permaneça inalterado, ou seja, o controle do leme esteja em mãos dos latifundiários, do sistema financeiro, das elites empresariais de São Paulo, todos subordinados à matriz.

Golbery do Couto e Silva foi um dos signatários do manifesto dos coronéis que pediram, em 1954, o afastamento do então ministro do Trabalho João Goulart. Goulart havia levado ao presidente Getúlio Vargas o decreto que aumentava em 100% o valor do salário mínimo.

O golpe militar de 1964 foi uma decisão de Washington, numa época em que o mundo se dividia entre duas superpotências e diante do impacto da revolução cubana nos povos latino-americanos. A percepção que sair do estado de colônia era possível.

Os EUA começavam a enfrentar ainda a catastrófica guerra do Vietnã onde foram batidos política e militarmente, o maior desastre da história daquele país e cujos impactos ainda se fazem sentir até hoje.

Estava em pleno vigor a chamada ”teoria do dominó”. Consistia num raciocínio simples: se uma peça cai, todas caem.

Uma comissão formada por grupos privados, coordenada pela Fundação Rockfeller e chamada Comissão Tri-lateral – AAA – (América, Ásia e África) definia pelo lado norte-americano as políticas de intervenção, golpes e toda a sorte de mecanismos de controle sobre os países dependentes.

A América Latina era considerada quintal (ainda o é) dos Estados Unidos. No caso específico da América Central ditaduras familiares eram sustentadas (Nicarágua e República Dominicana) por Washington e generais se revezavam no poder nos outros países da Região, ao sabor dos interesses da matriz e de suas respectivas capacidades de serem submissos (preços).

Na América do Sul a queda de ditadores como Juan Perón, Rojas Pinilla, Pérez Jimenez e a presença de governos tíbios e subservientes, as crises no Brasil decorrentes das sucessivas tentativas de golpe contra Getúlio (a partir de 1950), JK e a renúncia do tresloucado Jânio Quadros, terminaram no governo João Goulart.

Goulart era um misto de estancieiro, rancheiro, pupilo preferido de Getúlio Vargas e com posições à esquerda das elites brasileiras. Assumiu em condições precárias e em um grande acordo que implantou o parlamentarismo como forma de evitar uma eventual guerra civil. De volta o presidencialismo por conta de um referendo, assumiu posturas que contrariavam os interesses dos EUA.

Em 13 de março de 1964 baixou vários decretos que culminaram na sua deposição. O que desapropriava as terras às margens de rodovias, ferrovias, leitos de rio e lagos em até oito quilômetros para fins de reforma agrária. O que nacionalizava todo o ciclo do petróleo (distribuição inclusive). O que taxava a remessa de lucros das empresas estrangeiras para suas matrizes e o que abria caminho para a reforma urbana. Tudo dentro de um projeto para o País formulado basicamente pelo ex-ministro e criador da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) Celso Furtado.

Ademar de Barros, governador de São Paulo, era, por exemplo, um dos maiores proprietários de terras às margens de rodovias. Antes de abrir uma estrada em seu estado comprava as terras. E com dinheiro público evidente.

Carlos Lacerda era um líder de extrema-direita que havia saído dos quadros do Partido Comunista numa transposição histérica e ditada por motivos familiares, candidato a presidente da República no que se imaginava seriam as eleições de 1965.

As Forças Armadas brasileiras estavam divididas entre grupos de esquerda, nacionalistas de direita, nacionalistas disso, daquilo, legalistas, mais ou menos legalistas e oportunistas.

A revolução cubana era a grande bandeira das forças progressistas. Uma pequena ilha enfrentando a maior potência militar e econômica do mundo e vencendo.

A revolução de 1930 aconteceu na gula das elites paulistas que romperam a chamada política café com leite, em que mineiros e paulistas se revezavam no governo numa partilha das fortes elites rurais e incipientes elites urbanas.

O golpe de 1º de abril de 1964 aconteceu numa clara intervenção política dos Estados Unidos no Brasil (se estenderia a toda a América do Sul depois), montada e orquestrada pelas classes dominante, à frente a paulista e a cooptação dos militares comandados por Washington se deu pela presença do general Vernon Walthers. A presença do Brasil na IIª Grande Guerra aconteceu como parte da força norte-americana e Walthers era o oficial de ligação entre os militares brasileiros e o comando dos EUA. Falava fluentemente o português e era amigo entre outros de Castello Branco, primeiro “presidente” do círculo/circo de horrores militar.

Olímpio Mourão Filho, comandante da IV Região Militar, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais foi apenas um instrumento da chamada linha dura (extrema-direita) que buscou antecipar-se ao golpe dentro do próprio golpe e foi logo engolido pelo grupo pró-EUA. Mourão era ligado a Juscelino e sua história registrava a montagem do chamado Plano Cohen. Um plano criado para implantar a idéia do perigo comunista e permitir a Getúlio Vargas, em 1937, o golpe do Estado Novo.

Permitiu o elemento surpresa e desmontou o esquema militar do presidente Goulart, montado por seu chefe de Gabinete Militar, general Assis Brasil, num momento que o então ministro da Guerra (hoje do Exército), Jair Dantas Ribeiro se encontrava hospitalizado e acéfalo o Estado Maior janguista.

O próprio Jango desistiu da reação quando já no Rio Grande do Sul forças legalistas sob o comando do general Ladário Teles garantiam ao presidente condições efetivas de enfrentar os golpistas, até porque Leonel Brizola já havia tomado também o governo do Estado (o governador Ildo Meneghuetti fugira para o interior).

O golpe, num primeiro momento, promoveu uma limpa dentro das próprias Forças Armadas evitando qualquer reação à frente e tratou de isolar o marechal Teixeira Lott, principal liderança legalistas, mas na reserva.

O grupo militar vencedor passou a executar a política de horrores das prisões indiscriminadas, da barbárie da tortura, dos assassinatos políticos, de operações conjuntas com outras ditaduras na América do Sul, a chamada Operação Condor, transformando, definitivamente, o perfil do País e dessa parte do continente americano, atrelando-o aos interesses dos Estados Unidos, conduzidos pelos verdadeiros donos do poder. As elites do campo e da cidade, latifundiários, banqueiros, grandes empresários.

Três figuras se destacam como representantes diretos desse meio. Roberto Campos, Delfim Neto e Mário Henrique Simonsen. Assim como Pedro Malan foi o mais qualificado funcionário norte-americano no período dito democrático, o governo de Fernando Henrique Cardoso (punha e dispunha, controlava o presidente e sua vaidade inclusive).

A sístole e a diástole definidas por Golbery são uma realidade. Lula está fora desse contexto independente de maior ou menor avaliação de mérito de seu governo e tem razão quando afirma que a oposição “destila ódio”. Está possessa por não ter a chave do cofre e por não poder mostrar serviços efetivos aos que pagam e controlam, Washington.

Os militares? Foram apenas os bárbaros e cruéis executores da parte da borduna nesse processo todo, falo de 1964. A Polícia qualificada dos Estados Unidos, os executores das ordens das elites.

Coube a eles o serviço sujo e o fizeram com tal zelo que até hoje devem ao Brasil e aos brasileiros a explicação e a verdade de toda a imundície subterrânea do ódio e da violência. Ao abraçar a tese que as Forças Armadas não podem ser “desmoralizadas” pelos excessos do período, ou que estavam em guerra (quebraram a ordem constitucional), na verdade, de fato se desmoralizam, de fato e diante da História.

Como afirmou Samuel Johnson, “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Escudaram-se nessa doença típica da extrema-direita.

Entre 1964 e 1984 a luz esteve apagada numa escuridão sangrenta e estúpida promovida pela ditadura. Hoje a luz está acesa, mas teimam em tentar apagá-la, mesmo que sob a batuta de uma farsa democrática.

O que existe de fato é a velha luta de classes.

E continua a não existir saída no chamado mundo institucional, mero instrumento para o processo revolucionário no sentido real da palavra.

Se em 1964 vivíamos o fascínio da revolução que libertou Cuba, hoje vivemos a realidade de Hugo Chávez e do bolivarianismo. Evo Morales, Rafael Corrêa (mas ainda devendo algumas explicações sobre o ataque terrorista da Colômbia que matou Raúl Reyes) e governos com maior nível de independência em relação à matriz. Dentre eles o Brasil.

E num contexto de uma única superpotência, mas tal e qual os tempos do Vietnã, atolada num fracasso político e militar no Iraque.

As personagens sombrias como Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros foram engolidos na voracidade desse monstro e só se perceberam instrumentos quando do momento da execução (política).

1964 não foi nada além de uma quartelada e um capítulo da luta de classes. Naquela batalha vencida pela barbárie. A luta permanece, noutro contexto de tempo e espaço, mas é basicamente a mesma.

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Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Fonte: Fazendo Media


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O problema não é o Paulo Henrique, é a falta de transparência da transação BrT-Oi

por Antônio Mello

Coisas da vida. Parece que minha postagem de ontem, O IG, a fusão BrT-Oi e uma proposta para a blogosfera independente, saiu pela culatra. Acharam que eu estava defendendo o PHA e não uma investigação sobre a compra da Brasil Telecom pela Oi.

Pessoal, leiam todas as minhas postagens sobre o problema PHA-IG, vocês verão que eu sempre defendi que o problema estava na forma como a demissão foi feita, sem aviso algum aos leitores, que caíam numa página de erro 404 ao tentar acessar o Conversa Afiada, e na falta de transparência do portal, em relação à demissão.

Fui e sou contra tirarem os arquivos do ar, como foi feito.

Agora, na postagem de ontem, defendi que deveríamos nos contrapor ao que fez o IG, ao tentar esconder a negociação BrT-Oi, e que deveríamos lançar luz sobre ela.

É uma transação estranhíssima, feita – como diziam os antigos – ao arrepio da lei. Sim, a lei proíbe essa associação que está sendo anunciada. Precisa ser modificada para que aconteça. No entanto, o negócio é tratado com a maior naturalidade, exceto em locais como o Observatório do Direito à Comunicação e o Conversa Afiada, do PHA.

Mas o Paulo Henrique, talvez movido pelas últimas notícias que dão como certa a concretização do negócio, girou sua metralhadora até o governo Lula e o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu. Aí sifu. Porque os dois são totêmicos para algumas pessoas.

A coisa chegou ao ponto de me criticarem por eu usar o termo blogosfera independente. Houve quem se tenha ofendido por ser chamado de independente...

Como diz PHA: Não coma gato por lebre

Defendo Lula, apóio seu governo, pelo motivo que explicitei aqui, na minha declaração de voto. Qualquer um que leia este blog sabe disso. Mas não sou lulista, não sou um devoto, que acha que o presidente está acima de tudo. Lula faz merda e fala muita, como todos nós.

Outro dia escrevi aqui, criticando uma declaração do presidente, que chamou os usineiros de heróis. PQP. Logo os usineiros, que matam trabalhadores por excesso de trabalho [leia aqui]. No entanto, há quem veja nisso um sinal da genialidade de Lula. Ou seja: para eles, Lula não fala ou faz merda, produz adubo para fertilizar a terra política brasileira...

Finalizando: Não estou propondo uma ação na blogosfera em favor de Paulo Henrique Amorim, mas que divulguemos todo e qualquer texto (contra ou a favor) da transação BrT-Oi. O foco é essa transação e como ela está sendo feita, com a ajuda do governo e beneficiando tucanos.

Quero saber se o negócio é bom ou não para o país. E é isso o que não nos querem informar.

O que você acha?
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Postagem de ontem:

O IG, a fusão BrT-Oi e uma proposta para a blogosfera independente

Até parece que Paulo Henrique Amorim era o último obstáculo à concretização da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi.

Hospedado no portal do IG (que pertence à Brt), PHA denunciava o acordo como espúrio, ilegal e que, de quebra, ainda livraria a cara do onipresente Daniel Dantas, num processo que lhe move o Citibank, com uma indenização que pode chegar a US$ 1 bilhão.

Demitido do IG, PHA vê, em menos de dez dias, o negócio estar na bica de ser fechado. Faltam apenas pequenos (e ilegais) detalhes, segundo o Valor Online:

O último obstáculo para a aquisição do controle acionário da Brasil Telecom (BrT) pela Oi foi vencido ontem [quinta] à noite, após um acordo para resolver um litígio entre Citigroup e Opportunity, acionistas de ambas as empresas. Os sócios majoritários das duas operadoras chegaram a um entendimento oral, mas o detalhamento do negócio pode levar alguns dias, pois ainda é preciso assinar uma vasta documentação. No fim do dia, no entanto, após questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Oi negou que tenha finalizado as negociações.

A ilegalidade do negócio está explicitada alguns parágrafos adiante:

Para a efetivação do negócio, será necessária ainda uma alteração nas regras do setor, que já está em curso na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Há poucos dias, quando PHA ainda estava hospedado no IG, ele fez uma entrevista com o deputado e ex-ministro das Comunicações de Lula Miro Teixeira, em que este estranhava o negócio [não passo o link, porque o IG os cortou]:

"Ficam saindo essas notícias e a lei não permite o que está sendo anunciado. Então é um estranho país em que se discute um negócio, se anuncia um negócio pelos jornais, se desmente o negócio no site das empresas e a lei não permite."

Ainda segundo o Conversa Afiada, Miro apresentou na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados uma proposta para criar uma subcomissão especial para discutir fusões, aquisições, associações e outras negociações acionárias envolvendo as teles.

Mas, enquanto a subcomissão não vem, o negócio está sendo fechado, debaixo de um silêncio total da grande imprensa. Por quê?

O que a Blogosfera independente pode fazer

Cada vez fica mais claro que o IG demitiu PHA por causa dessa nebulosa transação. Por isso, faço uma proposta à blogosfera independente:

Se demitiram PHA para calá-lo em relação ao negócio BrT-Oi, proponho que repercutamos em nossos blogs toda e qualquer notícia sobre a fusão. Leitores que tenham informações sobre a transação também devem colaborar.

Vamos fazer um trabalho de divulgação semelhante ao feito no dossiê Veja, do Nassif. Inclusive adotando o bombardeio Google e linkando BrT-Oi, com o endereço no PHA, como vem sendo feito nesta postagem.

Vamos jogar luzes sobre o que eles querem fazer no escuro. Vamos dar voz aos que eles querem calar.

O que vocês acham?

Para começar, leiam esta postagem de ontem à noite do PHA em seu novo endereço.


Fonte: Blog do Mello
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O CARTÃO CORPORATIVO E AS AMBULÂNCIAS DO SERRA

Mas, e as despesas com o teatro, Dna. Ruth ?

por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1041


. O Ministro da Saúde José Serra omitiu-se (ou participou diretamente - a Justiça determinará) na compra de ambulâncias super-faturadas para o Ministério que dirigia, no Governo do Farol de Alexandria.

. Seu sucessor, Barjas Negri - que era seu Secretário Geral - omitiu-se ou participou diretamente do mesmo esquema.

. Há um vídeo e a transcrição em texto do discurso do Ministro Serra na cerimônia de entrega de ambulâncias super-faturadas em Mato Grosso, com a fina flor dos "super-faturadores" ... (Clique aqui para ver, ler e ouvir ... essa preciosidade que, quando me mandaram embora do iG, imaginaram que ia desaparecer ... )

. O empresário que vendia as ambulâncias fez um dossiê.

. Daqueles dossiês que Serra e o tucano Márcio Fortes fazem com esmero e arte.

. (Por falar nisso, quando Serra e Fortes vão providenciar o “dossiê Aécio Neves” ?)

. O empresário das ambulâncias vendeu o dossiê a Abel Pereira, empreiteiro que fazia a ponte entre Barjas Negri e os criminosos das ambulâncias.

. Supõe-se que Pereira quisesse destruir o dossiê para ajudar Serra e Negri.

. O empresário das ambulâncias vendeu o dossiê aos aloprados de Aloisio Mercadante, que era candidato a governador de São Paulo, contra Serra.

. A história acabou como o "escândalo dos aloprados" - os petistas que compraram o dossiê com notas de baixo valor - desse tipo de carregamento que se acha na boca do caixa do metrô ou de companhias de ônibus.

. (Interessante: um dos muitos negócios que Daniel Dantas conseguiu nas privatizações foi o metrô do Rio ...)

. Participou da operação dos aloprados um certo - onde anda ele ? - Delegado Bruno, que montou uma farsa com jornalistas dos maiores órgãos do PiG para divulgar as fotos do dinheiro dos aloprados.

. Aí, surgiu o escândalo dos cartões corporativos.

. Cartões criados e usados no Governo FHC.

. Descobriu-se, rapidamente, com a ajuda do Conversa Afiada e da Folha, que os cartões do Governo de São Paulo, com Serra, eram de volume muito superior ao do Governo Federal.

. Aí, a última Flor do Fascio, a Veja, divulgou o que interpretou como uma chantagem do Governo Federal contra a oposição.

. Divulgou contas com cartão corporativo de Dona Ruth e do Farol de Alexandria. (*)

. O Estadão descobriu, neste domingo, dia 30, um historiador de reputação que se assemelha à de Braudel, para anunciar o fim da carreira política Dilma Rousseff.

. No PiG, a questão passou a ser, como no caso dos aloprados, não as ambulâncias, os cartões do Governo FHC, mas o vazamento.

. Mas, e as despesas da Dona Ruth, ninguém vai discutir ?

. Pode usar o dinheiro do povo naquilo, Dona Ruth ?

. Segundo a Veja, “a ex-primeira dama Rurh Cardoso é mencionada 23 vezes como beneficiária de despesas como locação de carros, hospedagem em hotéis, compra de ingressos para peças de teatro no exterior, e até como ordenadora (sic) da compra de um porta-retratos, no valor de cem dólares, para presentear um oficial da Colômbia designado para acompanha-la durante visita ao pais.”

. Ainda segundo a Veja, “gastos com vinhos importados, champanhes franceses, carnes raras e até caviar foram compilados da documentação armazenada na Presidência da República. E reproduzidos no dossiê.”

. Quer dizer, para a Veja e o PiG, o problema não é o caviar, mas o dossiê...

. E se a Ministra Dilma for esquartejada em praça pública, como planeja o PiG ... ainda assim, pode-se gastar dinheiro do povo num teatrinho na Europa, dona Ruth ?

. E as ambulâncias do Ministro Serra - quanto custavam ? Por quanto ele comprou ? Ele tem comprado muita ambulância para o Estado de São Paulo ?

. Por falar nisso, clique aqui para ler as 30 perguntas que o Conversa Afiada faz sistematicamente ao presidente eleito. 29 perguntas são sobre a cratera do metrô - um crime tucano, segundo o Ministério Público de São Paulo. A 30a. pergunta é sobre como ele pretende comprar ambulâncias para São Paulo. -

(*) Eu, Paulo Henrique Amorim, volto a me colocar à disposição da CPI para descrever a adega do Palácio da Alvorada, nos bons tempos do Farol de Alexandria.

Fonte: Conversa Afiada
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FOLHA ELEGE SERRA QUE TEM MENOS CHANCE QUE O VESGO

Um homem sem escrúpulos, segundo Ciro Gomes

por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1043

. A revista Carta Capital que está nas bancas tem uma reportagem de capa de Luiz Antônio Cintra – “Dias difíceis para José Serra” – e uma entrevista de Maurício Dias com Aécio Neves – “A Hegemonia de São Paulo tem que acabar”.

. A reportagem tem o mote do fracassado leilão da Cesp.

. Que outro leilão de privatização no Brasil fracassou ?

. Essa é uma notável contribuição do presidente eleito José Serra à história do Brasil: promover um leilão de usinas que não lhe pertencem – porque as usinas são do Governo federal – e ninguém se interessar.

. O Conversa Afiada antecipou que o presidente eleito queria vender a espuma das águas das usinas ...

. Porém, o que parece mais relevante do ponto de vista político é a entrevista de Aécio Neves a Maurício Dias.

. Clique aqui para ler a edição da Carta na web.

. (A propósito, a administração tucana de Caio T. - “T” de Tartufo - Costa no iG não tinha o hábito de chamar a Carta Capital na capa. Muito menos Mino Carta. Os dois só iam para a capa quando eu trabalhava lá – e na capa ... E o Nassif ? E o “dossiê Veja” ? Também não merecem a capa do iG. Cuidado, Nassif, backupa tudo, antes que o “T” te tire do ar ...)

. “É preciso mudar o eixo da política nacional” – diz Aécio.

. “Candidatura autêntica não é projeto pessoal”.

. “FHC respeita a nossa aliança”, diz Aécio.

. (A propósito, não se iludam: Aécio confia em FHC tanto quanto confiava seu avô: não confia nada ...)

. O que significa que Aécio vai jogar o jogo para valer.

. Serra não vai sair candidato pelo PSDB como quem faz um passeio na raia.

. Vai encontrar Aécio pela frente – e todos os partidos que ele reunir à sua volta.

. (Na eleição para a prefeitura de São Paulo, Serra não consegue reunir nem o partido dele, o PSDB...)

. Ao lado de Aécio, também, conta um sentimento que se generaliza: chega de São Paulo.

. Aécio é candidato a Presidente e pode ter o apoio do apoio do Presidente Lula.

. E não se iludam.

. Lula tem sobre Serra a mesma opinião de Ciro Gomes.

. Diz Ciro, também na Carta: “... (Serra) É um sujeito sem nenhum escrúpulo”.

. Se vocês ouvirem uma frase atribuída a Lula – nessa cadeira aqui senta qualquer um – menos o Serra – sugiro acreditar nela.

. Mas, para a Folha, três anos antes da eleição, o presidente eleito está eleito.

. (Clique aqui para ver os resultados do Datafolha)

. Para o Conversa Afiada, que dispõe de muito mais recursos de sondagem que o Datafolha, Serra, porém, tem menos chance de ser Presidente da República que o Vesgo do Pânico.

Em tempo: leitor do Conversa Afiada sugere que no dia 15 de novembro de 2010 se substitua a eleição pela divulgação de um Datafolha.

Fonte: Conversa Afiada
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Opinião: O mal estar da classe média e as angústias da mídia hegemônica

Opinião: Sociedade civil questiona mídia

Por Dennis de Oliveira

A mídia começa a sofrer uma série de críticas mais intensas de setores da sociedade civil que começam a perceber a brutal assimetria de poder favorável aos oligopólios da comunicação.

No dia 17 de março, o Movimento dos Sem Mídia, organização lançada em 15 de setembro de 2007, com um ato em frente à redação da Folha de S. Paulo, protocolou uma representação no Ministério Público Federal contra as notícias alarmistas sobre o surgimento de casos de febre amarela no país, apressadamente tratado como uma epidemia.O argumento do movimento é que a cobertura distorcida dos principais meios de comunicação - Organizações Globo, Grupo Estado, Grupo Folha, Editora Abril, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Veja e Isto É – gerou um clima de alarmismo na sociedade, demonstrado com a corrida por imunização que acabou gerando o esvaziamento do estoque de vacinas. A representação do Movimento dos Sem Mídia pede que os meios de comunicação sejam responsabilizados pelas conseqüências desta cobertura e ressarçam o erário público tendo como base o número de imunizações desnecessárias que foram feitas neste período, bem como os que tomaram a vacina sem necessidade e, por incompatibilidade, tiveram problemas de saúde (houve um caso de uma mulher que morreu por este motivo).Enquanto isto, Luis Nassif prossegue sua cruzada contra o anti-jornalismo da revista Veja que tem no blogueiro Reinaldo Azevedo seu maior expoente. Desmascarando os motivos e as formas de manipulação utilizadas pela revista de maior tiragem do país, Nassif vem sendo sistematicamente atacado pela revista da Abril com Azevedo sendo o seu principal porta-voz. Apesar disto, o seu site com o “dossiê Veja” bate recordes de acessos. A repercussão é grande, apesar do pacto do silêncio dos grandes meios de comunicação.No campo dos movimentos sociais, o movimento de mulheres tem atuado como principal protagonista nas ações contra as emissoras de televisão exigindo uma mudança na imagem veiculada da mulher – fato que gerou até mesmo uma demanda judicial e uma tentativa (fracassada) de acordo entre as partes.Tudo isto acontece em um contexto onde o atual governo federal insiste em não confrontar a grande mídia, em particular a Globo (que tem até um ex-funcionário no Ministério das Comunicações); que o Congresso Nacional praticamente matou o Conselho de Comunicação Social (veja artigo de Alberto Dines a respeito) e que, num lance de corporativismo patronal mas com ramificação profissional, os grandes meios praticamente silenciam quanto a estas ações que, no mínimo, apontam para um descontentamento do outrora quarto poder (mas que deseja ser o único poder).

A crise na mídia começa por uma perda de identidade dos próprios jornalistas.

Perdendo o monopólio da novidade – as informações, cada vez mais, se disseminam por meio de redes e outros mecanismos prescindindo de profissionais de jornalismo – o jornalista tenta desesperadamente buscar uma legitimidade perdida por meio de um discurso assertivo que beira o autoritarismo. E, assim, muitos se aliam aos seus próprios patrões. É uma confluência perversa de interesses: parte da corporação profissional quer ter sua legitimidade social garantida e os donos dos monopólios o poder de fato. Daí para a prática de chamar o seu patrão de colega, como diz Mino Carta, é um salto. Sintomático é que entidades de jornalistas, como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) continuem batendo na tecla da “ameaça” à liberdade de imprensa, desconsiderando totalmente os ataques dos grandes monopólios da comunicação ao direito social à informação de qualidade.

Retomaremos esta questão sobre a crise de identidade do jornalismo na próxima semana. Por enquanto, fica a boa notícia de que a sociedade começa a despertar contra os abusos do poder midiático.

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Na coluna da semana passada, falei sobre diversas ações da sociedade civil questionando a mídia, entre elas a ação do Movimento dos Sem Mídia contra a cobertura da suposta epidemia de febre amarela. A força destas iniciativas fez os profissionais da mídia descerem do pedestal para se defenderem.
No dia 25 de março, Eliane Catanhêde escreve que “febre amarela e dengue são doenças graves, transmitidas pelo Aedes aegypt e podem matar, mas há uma enorme diferença entre elas: a febre amarela é prevenível por vacina, a dengue não. Esse é um fator decisivo entre pegar ou não a doença, morrer ou não.” Talvez aqui, a colunista da Folha queira justificar porque o mesmo barulho feito pelos jornalistas contra o governo federal no caso da suposta epidemia da febre amarela não tenha verificado-se quando ocorreu o surto de dengue no Rio de Janeiro, fruto também da incompetência dos órgãos públicos da prefeitura comandada pelo “Democratas”.
Na seqüência, a colunista diz: “A mídia teve um papel fundamental ao alertar a população para o aumento da incidência da febre amarela, seus riscos, o combate ao mosquito e a vacinação. Nunca vai se saber quantas centenas de vidas foram salvas neste país pela ação diligente de jornais, rádios, TVs. Apesar disso, a mídia, ao invés de receber só elogios por cumprir seu papel, está ameaçada de processos por ter "gerado pânico" (?!).” Brilhante. A mesma jornalista só não explicou porque os diligentes jornais, rádios e TVs não explicaram de forma clara que a febre amarela não é transmitida em áreas urbanas e que há pessoas que podem ter problemas ao vacinar-se. A corrida desenfreada à vacinação levou ao esvaziamento dos estoques de vacinas, a pessoas sofrerem conseqüências graves (há até caso de uma morte) por terem tomado a vacina sem poderem.
A argumentação é, no mínimo, absurda. É papel sim do jornalismo informar a população, mas há uma diferença entre prestar um serviço (de informação) e levar ao alarmismo. Espera-se que o jornalismo seja um espaço onde os problemas devam ser tratados com serenidade e racionalidade. Caso contrário, vamos propor uma ação diligente dos jornais, TV e rádios para que a população seja alertada para o aumento da violência urbana e comece a se armar, a se defender por conta própria ou ainda a contratar matadores para evitar que “vidas sejam salvas”. É o primórdio de uma ação de cunho moralista (privado) sobre uma de cunho ético (público).
O jornalismo nasce, justamente, como atividade de expansão e consolidação da esfera pública. No projeto iluminista, a esfera pública constitui-se, justamente, da possibilidade de ação autônoma dos cidadãos. A autonomia do indivíduo vem, justamente, da capacidade deste raciocinar e pensar, dentro de normas éticas, os problemas vividos coletivamente. Por isto, as críticas de pensadores ao projeto iluminista é que as estruturas sociais do capitalismo impedem a constituição desta autonomia individual e os cidadãos agem muito mais impelidos por forças externas (gerando aí, em vez da autonomia, a heteronomia).
Esta é a crítica que a sociedade civil vem fazendo à mídia. O papel dela não é mobilizar corações e mentes para determinadas ações – como transparece no texto de Eliane Catanhêde – e sim fornecer elementos para que os cidadãos tomem posições e atitudes racionais para resolução coletiva dos problemas. E para isto nada adianta textos como o de Clóvis Rossi – “educa-a (a sociedade) a renunciar a bens e ao direito de ir e vir, sob pena de perder ambos e mais a vida. É um país muito medíocre.” (FSP, 25/03/2008) – quando comenta a (absurda) orientação da Secretaria Nacional de Direitos Humanos de orientar a população a ser “cuidadosa” nas abordagens policiais. Chamar o país de medíocre (de forma arrogante, como se ele não fizesse parte deste país e também não fosse, como formador de opinião, co- responsável por isto) é a mesma postura de muitos brasileiros que admitem existir racismo no país, mas não admitem ser racistas.
Ao mesmo tempo em que estas opiniões são verbalizadas, o problema da brutal concentração de renda que é estrutural no país passa ao largo das análises políticas. Pior: há uma tendência até de condenar como eleitoreiras propostas que tentam minimizar esta situação (a coluna Painel, da FSP, chegou a chamar o “Bolsa-Família” de mensalinho, toda a cobertura dos programas sociais do governo federal é abordada sob a ótica de projeto eleitoreiro, como o “Territórios da Cidadania”).
No fundo, o que se observa é um “mal-estar” da classe média. Incompetente para articular um projeto de constituição de uma esfera pública ampla e de um Estado de bem estar social que garantisse um mínimo de proteção social para todos que, inclusive, garantiria uma estabilidade para a sua própria condição de classe média, este segmentos social entra em crise ao observar que a sua postura de encarar direitos como privilégios corre risco, a medida que as instabilidades econômicas encarecem os custos destes privilégios. Acrescente-se a participação maior, de forma autônoma, das classes subalternas na esfera pública que força os governantes a priorizarem suas demandas sociais.
No fim, o país medíocre presente no final do comentário de Rossi expressa justamente este mal estar de uma classe média que sempre pretendeu ser européia mas é obrigada a conviver com um mar de pessoas pobres – e pobres que já não se portam mais como “coitadinhos obedientes” mas pessoas que ousam ser diferentes e que querem ter sua própria voz na esfera pública. A angústia de Lúcia Hipólito, no ano passado, permanece: “será que as pessoas não estão entendendo o que estamos falando?” Estão, sim, mas não estão a fim de seguir estes passos. E esta mídia, ao contrário do que deseja Catanhêde, não vai ser elogiada e sim contestada.

________________________
Dennis de Oliveira é jornalista, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, doutor em Ciências da Comunicação pela USP. É presidente do Celacc (Centro de Estudos Latino Americanos de Cultura e Comunicação) e membro do Neinb (Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro). E-mail: dennisoliveira@uol.com.br

Fonte: Revista Fórum
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EUA - A árvore e a floresta: Cínica a moral usamericana

por Frei Betto *

fonte: Adital -
Cínica a moral usamericana. O prefeito de Nova York renuncia após o flagrarem nos braços de uma sofisticada rede de prostituição. Como se não bastasse a decepção de seus eleitores, submete a mulher à humilhação de postar-se ao seu lado, calada, enquanto ele faz o mea culpa.

O vice assume e também vem a público confessar não ser nenhum santo. A diferença é que, agora, se trata de uma verdadeira "terapia de casal" em escala mundial. Os dois admitem, diante das câmeras, terem traído um ao outro. O que, sem dúvida, torna mais fácil o perdão. Só quem assume o próprio erro é capaz de perdoar o alheio. O fariseu, alerta Jesus, é capaz de ver o cisco no olho de outrem, mas não enxerga a trave no próprio (Mateus 7, 3).

A moral usamericana é profundamente marcada pela ideologia analítica, vê a árvore e não enxerga a floresta. Nixon caiu porque invadiu as instalações do Partido Democrata. Clinton desculpou-se diante da TV após praticar adultério com uma estagiária na Casa Branca. Eliot Spitzer deixa a administração de Nova York ao ser pego de calças nas mãos após gastar uma fortuna com prostitutas.

E a floresta? O que diz a moral made in USA em relação aos desrespeitos aos direitos humanos praticados em grande escala por Nixon e Clinton? Por que é considerado moral invadir o Iraque e provocar um genocídio (89 mil civis mortos e 4 mil militares ianques, desde 2003); praticar torturas na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá; seqüestrar supostos terroristas na Europa e confiná-los no inferno carcerário da base naval de Guantánamo, alheia aos princípios do Direito? É moral manter um país como Porto Rico, privado há 110 anos de sua soberania e independência? É moral sacrificar a pequena Cuba com um bloqueio que dura 48 anos?

Talvez a raiz dessa moral fundamentalista, que culpabiliza um desvio sexual e encara com condescendência um genocídio, decorra de uma leitura equivocada da Bíblia. Davi, o personagem bíblico de quem temos mais informações, é um bom exemplo. Foi punido por cometer adultério com Betsabéia, mulher de Urias, morto por ordem do rei, interessado em facilitar seu acesso ao leito da mulher desejada (2 Samuel 11).

Davi era guerreiro, antes e depois de subir ao trono. Matou milhares de inimigos (os exércitos filisteu e moabita, 18 mil edomitas, 40 mil arameus etc.), sempre em nome de Deus. E não consta que se tenha arrependido, como no caso com Betsabéia, nem punido.

Eis um legado que certa exegese bíblica ainda nos impregna: matar um, faz de você um assassino; matar milhares, faz de você um herói. Bush que o diga. "O homem mau dorme bem", é o título de um filme de Akiro Kurosawa.

Enquanto nossa idéia de Deus permitir que Ele seja evocado como cúmplice de nossos interesses egoístas e mesquinhos, como controlar o petróleo do Oriente Médio, seguiremos fiéis à síndrome abraâmica do sacrifício - essa idéia de que Deus exigiu de Abraão sacrificar seu único filho, Isaac; não satisfeito, mais tarde sacrificou Jesus na cruz. Por um suposto bem maior - a democracia regida pelos donos do dinheiro - sacrifica-se uma nação.

Uma leitura mais contextualizada permite compreender que Javé não aceitou que, em nome de uma nova fé, a monoteísta, Abraão matasse Isaac, como prescreviam os cultos politeístas e seus ritos arcaicos de oblação das primícias. Javé fez ver a Abraão que Ele é o Deus da vida, e não da morte. Por isso salvou Isaac da miopia religiosa de Abraão (Gênesis 22).

Do mesmo modo, Jesus não morreu para aplacar a sede de sangue expiatório de um Deus que, ofendido, se transforma num homicida mais cruel que o rei Herodes. Jesus morreu assassinado por dois poderes políticos.

Ao contrário da moral made in USA, Jesus era todo perdão para com a mulher adúltera, o filho pródigo, a negação de Pedro, mas rigorosamente exigente para com aqueles que fazem do Templo de Deus - o Universo, a Terra, a vida humana - um covil de ladrões. Em linguagem atual, o juízo de Deus é implacável quando a sacralidade da vida é preterida em prol dos interesses pecuniários do mercado.


[Autor de biografia de Jesus "Entre todos os homens" (Ática), entre outros livros].


* Frei dominicano. Escritor.

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O "DIA DA TERRA"


por Uri Avnery**


O “Dia da Terra” é um dos eventos que define a história de Israel. Hoje, o “Dia da Terra” completa 32 anos.

Lembro-me bem daquele dia. Eu estava no aeroporto Ben Gurion, a caminho de um encontro secreto com Said Hamami, emissário de Yasser Arafat, quando alguém me disse: “Mataram manifestantes árabes. Há muitos mortos.”

Não foi completamente inesperado. Poucos dias antes, nós – membros do recém formado Conselho Israelense para a Paz entre Árabes e Israelenses – havíamos entregue ao Primeiro Ministro, Yitzhak Rabin, um memorando urgente no qual o preveníamos de que a intenção do governo, de expropriar enormes áreas de terra nas vilas árabes, provocaria uma explosão. Junto, entregamos uma proposta de solução alternativa, elaborada por Lova Eliav, especialista veterano na luta contra os ‘assentamentos’.

Quando voltei da Europa, o poeta Yevi sugeriu-nos uma manifestação simbólica, de luto pelos mortos. Três de nós – o próprio Yevi, o pintor Dan Kedar e eu – pusemos coroas de flores nos túmulos das vítimas; o que levantou uma onda de fúria contra nós. Senti que algo de muito significativo acontecera, que a relação entre judeus e árabes naquele Estado mudara profundamente.

E, sim, o impacto do “Dia da Terra” – como o evento ficou sendo chamado – superou o impacto do massacre em Kafr Kassem em 1956; e superou também o impacto dos mortos em outubro de 2000.

AS RAZÕES de tudo isto remontam aos primeiros dias do Estado de Israel.

Depois da guerra de 1948, a comunidade árabe que permaneceu em Israel estava reduzida a um grupo pequeno, fraco e assustado. Não apenas cerca de 750 mil árabes haviam sido arrancados de sua terra, na parte dela que fora transformada em Estado de Israel; além disto, os que sobreviveram e ali ficaram não tinham qualquer tipo de liderança organizada. As elites políticas, intelectuais e econômicas haviam desaparecido, a maioria delas desde os primeiros momentos da guerra. O vácuo foi preenchido, de certo modo, pelo Partido Comunista, cujos líderes foram autorizados a voltar do exterior – sobretudo em obediência a Stálin que, nesta época, apoiava Israel.

Conseqüência de algum debate interno, os líderes do novo Estado israelense decidiram dar direitos de cidadania e de voto aos árabes que permaneceram no “Estado Judeu”. Nada de óbvio, aí. Mas o governo queria exibir ao mundo um Estado democrático. Em minha opinião, a principal razão, aí, foi política, pelo menos em parte: David Ben-Gurion acreditava que conseguiria coagir os árabes a votar com ele e seu partido.

E aconteceu: a grande maioria dos cidadãos árabes votou com o Partido Trabalhista (o partido Mapai de então) e com os dois partidos-satélites criados especificamente para recolher os votos dos árabes. Não tiveram escolha: os árabes viviam em estado de medo constante, sob os olhos vigilantes dos Serviços de Segurança (então chamados Shin Bet). Cada família árabe Hamulah (a família toda, “estendida”) foi instruída para votar ou nos candidatos do Partido Mapai ou nos candidatos dos dois partidos subsidiários. A cada lista eleitoral correspondiam duas cédulas eleitorais, uma em hebraico outra em árabe e, portanto, os árabes podiam escolher entre seis possibilidades em cada sessão eleitoral; e os homens do Shin Bet podiam facilmente controlar os votos, para garantir que cada família árabe votasse exatamente conforme as ‘instruções’. Mais de uma vez, Ben Gurion obteve maioria no Parlamento graças a estes votos cativos.

Por razões “de segurança” (nos dois sentidos), os árabes eram submetidos a um regime de “governo militar”. Todos os detalhes de sua vida dependiam deste “governo militar”: dependiam de autorização especial para deixar as vilas onde residissem, até para visitar a vila mais próxima. Sem autorização do governo militar, não podiam comprar um trator nem mandar uma filha para a Escola Normal nem obter emprego para um filho nem importar fosse o que fosse. Sob o mesmo regime de autoridade do governo militar e de uma série de leis, enormes áreas de terra foram expropriadas para construir cidades e kibbutzim para judeus.

Uma história gravada em minha memória: Rashed Hussein, da vila de Musmus, poeta e meu amigo, já falecido, foi levado à presença do governador militar em Netanya, que lhe disse: O “Dia da Independência” está chegando. Quero que você escreva um poema simpático, para a ocasião. Rashed, jovem e orgulhoso, recusou-se. Ao chegar em casa, encontrou toda a família sentada no chão, chorando. Seu primeiro pensamento foi que morrera alguém. Mas logo sua mãe gritou: “Você nos destruiu! Estamos acabados!” Assim, o poema foi escrito.

Todas as iniciativas políticas árabes independentes eram abortadas no ninho. O primeiro destes grupos – o grupo nacionalista al-Ard (“a terra”) foi logo dissolvido; foi declarado ilegal e seu jornal foi proibido de circular – sob as bênçãos da Suprema Corte. Só o Partido Comunista permaneceu intocado, mas os líderes também, vez ou outra, eram processados.

O governo militar só foi destituído em 1966, depois que Ben Gurion deixou o poder e pouco tempo depois de eu ser eleito para o Parlamento. Depois de muitas manifestações contra aquele governo, tive o prazer de votar pela sua abolição. Mas pouca coisa mudou, na prática – o governo militar oficial foi substituído por outro, não-oficial, mas com poder igualmente discricionário, se não mais.


O “DIA DA TERRA” mudou a situação. Uma segunda geração de árabes crescera em Israel, já não tão tímida e submissa, uma geração que não vivera as expulsões em massa e cuja posição econômica melhorara. A ordem que os soldados e policiais receberam e cumpriram, de abrir fogo contra os manifestantes, foi um choque para eles. E assim se iniciou um novo capítulo naquelas lutas.

A porcentagem de cidadãos árabes residentes em Israel não mudou: dos primeiros dias do Estado até hoje, se mantém em torno de 20%. A alta taxa de natalidade de crescimento da comunidade muçulmana foi contrabalançada pelo número de judeus que imigraram. Mas os números, sim, aumentaram muito: dos 200 mil, do início do Estado, para mais de 1,3 milhão de árabes em Israel – o dobro da população da comunidade de judeus que fundara o Estado.

O “Dia da Terra” também mudou dramaticamente a atitude do mundo árabe o do povo palestino, em relação aos árabes-israelenses. Até aquele dia, os árabes-israelenses eram considerados traidores, colaboradores da “entidade sionista”. Lembro de uma cena de uma reunião, em 1965, em Florença, convocada por Giorgio la Pira, legendário prefeito daquela cidade, que tentava aproximar personalidades de Israel e do mundo árabe, iniciativa considerada muito audaciosa, naquele momento.

Num intervalo, eu estava conversando com um alto diplomata egípcio, numa praça ensolarada, fora do recinto oficial, quando se aproximaram dois jovens árabes-israelenses, que haviam ouvido falar da reunião. Depois de abraçá-los, apresentei-os ao egípcio, que lhes deu as costas: “Aceito falar com você, mas não com estes traidores!”

Os acontecimentos sangrentos do “Dia da Terra” trouxeram os “israelenses árabes” de volta ao cenário das lutas da nação árabe e do povo palestino, que hoje se referem a eles como “os árabes de 1948”.

Em outubro de 2000, outra vez a polícia atirou e matou cidadãos árabes, quando tentavam manifestar-se em solidariedade aos árabes mortos em Haram al-Sharif (o Templo do Monte) em Jerusalém. Entre um evento e outro, uma terceira geração de árabes crescera em Israel, muitos dos quais, apesar dos obstáculos, freqüentaram universidades e tornaram-se ativos no mundo do comércio, políticos, professores, advogados e médicos. É impossível ignorar esta comunidade – por mais que o Estado esforce-se, exatamente, para ignorá-los.

De tempos em tempos, ouvem-se vozes de protesto contra a discriminação, mas todos evitam confrontar a questão fundamental: Qual é o status da minoria árabe que cresce dentro de um estado que se autodefine, oficialmente, como “Estado judeu e democrático”?

UM DOS LÍDERES da comunidade árabe, o ex-deputado Abd-al-Aziz Zuabi, propôs este dilema nos seguintes termos: “Meu Estado está em guerra contra o meu povo”. Os cidadãos árabes são parte, ao mesmo tempo, do Estado de Israel e do povo palestino.

Que são parte do povo palestino é auto-evidente. Os cidadãos árabes de Israel, que ultimamente se têm chamado, eles mesmos, de “palestinos em Israel”, são um dos muitos ramos do povo palestino: há os habitantes dos territórios ocupados (hoje divididos, eles também, entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza); os árabes que vivem em Jerusalém Leste (que, oficialmente, são “residentes”, mas não são “cidadãos” de Israel); e os refugiados que vivem em vários países, cada um sob seu regime específico. Todos estes ramos definem-se como árabes e sentem-se ligados por laços fortes, mas a autoconsciência de cada ramo é modelada pela específica situação em que viva.

Que peso tem o componente palestino, na consciência dos cidadãos árabes que vivem em Israel? Como se pode aferi-lo? Os palestinos que vivem nos territórios ocupados muitas vezes lamentam que aquele componente palestino expresse-se em palavras, mais do que em compromisso e atitudes. O apoio dos árabes-israelenses têm dado à luta pela libertação da Palestina é, sobretudo simbólico. Vez ou outra alguém é preso por ajudar um homem-bomba, mas são raras exceções.

Quando o extremista Avigdor Liberman, que odeia árabes, propôs que fossem entregues ao futuro Estado palestino várias vilas árabes próximas da Linha Verde (grupo de vilas chamadas “o Triângulo”), em ‘troca’ pelos prédios para assentar judeus na Cisjordânia, nenhum voz árabe apoiou a idéia. Este silêncio é muito significativo.

A comunidade árabe tem raízes mais profundas, em Israel, do que as se vêem à primeira vista. Os árabes desempenham importante papel na economia de Israel, trabalham como funcionários públicos, pagam impostos. Recebem os benefícios da seguridade social – por pleno direito, dado que pagam impostos. E têm padrão de vida muito superior ao dos palestinos cercados nos territórios ocupados e em outras regiões. Participam da democracia israelense e não se interessam, de modo algum, por viver sob regimes como o egípcio ou o jordaniano. Suas reivindicações são justas e sérias – mas vivem em Israel e querem continuar onde estão.

EM ANOS RECENTES, intelectuais da terceira geração de árabes em Israel têm apresentado propostas para normalizar as relações entre maioria e minoria.

Em princípio, há pelos menos duas principais propostas alternativas:

A primeira: Israel é Estado judeu, mas neste Estado vive um outro povo. Se os judeus israelenses têm direitos nacionais definidos, os árabes israelenses também devem ter os seus direitos nacionais definidos. Por exemplo, autonomia educacional, cultural e religiosa (como o jovem Vladimir Zeev Jabotinsky exigia, há um século, para os judeus na Rússia czarista). Devem poder construir e manter pleno relacionamento com o mundo árabe e com o povo palestino, assim como há pleno relacionamento entre cidadãos judeus e os judeus da Diáspora. Tudo isto tem de estar bem claramente explicitado na futura constituição do Estado.

A segunda: Israel pertence a todos os seus cidadãos e só a eles. Os cidadãos são israelenses, assim como os cidadãos dos EUA são norte-americanos. No que diz respeito ao Estado, não há diferença possível entre os cidadãos, seja judeu, muçulmano ou cristão, árabe ou russo, assim como, do ponto de vista do Estado, nos EUA, não há diferença entre cidadãos brancos, mestiços ou negros, sejam descendentes de europeus, de africanos ou de asiáticos, sejam protestantes, católicos, judeus ou muçulmanos. No plano coloquial, em Israel, é o que se designa como “um estado de todos os seus cidadãos”.

Pessoalmente, tendo à segunda possibilidade, mas não rejeito a primeira. Seja a primeira seja a segunda são soluções melhores do que o que há hoje, quando o Estado finge que o problema não existe e que há apenas vestígios de discriminação a serem superados (e nada faz para superá-los).

Se não se trata a ferida, a doença progride. Nos jogos de futebol, a torcida grita: “Morte aos árabes!” e, no Parlamento, deputados da extrema direita ameaçam expulsar da Casa – e também do Estado – os deputados árabes.

No 32 anos do “Dia da Terra”, aproximando-se já os 60 anos do “Dia da Independência”, é hora de pegar este touro pelos chifres.

**Uri Avnery,85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense). Adolescente, Avnery foi combatente no Irgun e mais tarde soldado no exército israelita. Foi três vezes deputado no Knesset (parlamento). Foi o primeiro israelense a estabelecer contato com a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974. Foi durante quarenta anos editor-chefe da revista noticiosa Ha'olam Haze. É autor de numerosos livros sobre a ocupação israelense da Palestina, incluindo My Friend, the Enemy (Meu amigo, o inimigo) e Two People, Two States (Dois povos, dois Estados).

* URI AVNERY, 30/3/2008, "Death to the Arabs!", em Gush Shalom [Grupo da Paz], http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery

Fonte: Blog do Bourdoukan

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Colômbia quer internacionalizar o conflito

Por Luiz Carlos Azenha

SÃO PAULO - O jornal El Tiempo é o porta-voz oficial do governo da Colômbia. É aquele que publicou a foto de Raúl Reyes na selva com um ministro do governo do Equador, para em seguida se desmentir - quando ficou claro que se tratava do secretário-geral do Partido Comunista da Argentina.

Ainda assim é importante acompanhar o que diz o jornal para saber como age a diplomacia colombiana. Vazamentos para jornais são parte essencial da tática, uma vez que o governo de Álvaro Uribe conta com o beneplácito da mídia internacional. Tudo o que o governo da Colômbia vaza merece destaque. Do New York Times aos jornais do próprio Equador.

O governo colombiano está na defensiva. No sábado o México condenou duramente a violação do direito internacional, diante do fato de que estudantes mexicanos morreram no ataque ao acampamento das FARC no Equador, em primeiro de março. No relatório oficial da Organização dos Estados Americanos, o Equador acusou a Colômbia de usar armas sofisticadas, do arsenal dos Estados Unidos, no bombardeio.

Diante disso, a Colômbia se faz de vítima. Agora o DAS, que é o serviço secreto do país, alega que nos últimos anos advertiu os vizinhos sobre a presença de guerrilheiros das FARC em território deles 43 vezes, sem que medidas fossem tomadas. Sete alertas teriam sido feitos ao Brasil, quatro à Argentina, dois à Bolívia, quatro ao Peru, 16 ao Equador e 10 à Venezuela.

Ou seja, a Colômbia quer que os vizinhos lutem uma guerra que é dela. A guerra civil colombiana dura 40 anos. Os governos do país, ao longo destas quatro décadas, foram incapazes de resolver o conflito política ou militarmente. Não se pode dizer que a Colômbia não teve dinheiro para fazê-lo. Recebeu bilhões de dólares dos Estados Unidos, teve acesso às armas mais modernas e ao treinamento mais sofisticado para seus soldados.

Considere-se, além disso, que as fronteiras da Colômbia são difíceis de patrulhar. É selva. Era só o que faltava a Colômbia atribuir aos vizinhos a obrigação de garantir sua integridade territorial. É uma idéia absurda. Espertamente, o presidente do Equador, Rafael Correa, que a partir desta segunda-feira promete uma nova ofensiva diplomática, anunciou que pode simplesmente tirar as forças armadas da fronteira com a Colômbia.

A Colômbia quer internacionalizar o conflito desde que seja em suas condições. Equivale ao Brasil exigir que a Colômbia acabe com o trânsito de armas e drogas que saem daquele país em direção ao território nacional, caso contrário o Brasil se concederá o direito de realizar bombardeios em território colombiano.

É pouco provável que as relações da Colômbia com o Equador sejam restabelecidas em curto prazo, como pedia a OEA. O Equador considera entrar com uma ação no Tribunal Internacional de Haia pedindo reparações por conta das fumigações feitas pelo governo da Colômbia para destruir plantações de coca. Elas acontecem em território colombiano, mas causam danos ecológicos e de saúde à população que vive do outro lado da fronteira.

Fonte: Vi o Mundo


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sábado, 29 de março de 2008

Quando esse Daniel Dantas vai parar na cadeia? Que país é esse?

Na forca de Dantas, Lula continua com a corda no pescoço
28/03 - 23h00

LULA TIRA DANTAS DA FORCA E FAZ “EL GRAN ACUERDO” COM FHC

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1041


. A criação da “BrOi” deixa todo mundo feliz.

. Só quem perde é o consumidor, já que a “BrOi” terá 70% do mercado...

. Dantas fica felicíssimo, porque mete a mão na grana e se livra da ação do Citi em Nova York.

. A única coisa que poderia deixar Dantas pobre seria a ação do Citi em Nova York – coisa de US$ 1 bilhão.

. Dantas fica feliz, porque se beneficia do clima de ufanismo empresarial – o Brasil criou uma major no mundo das telecomunicações assim como a Ambev...

. O “conosco ninguém podemos” inibirá qualquer ação que a Polícia Federal e a Justiça pudessem tomar contra ele.

. Como tocar num Herói da Pátria ?

. Dantas está feliz porque mantém nas mãos o poder de ir para cima dos fundos e da “BrOi”, do PT e do PSDB, porque ele tem todos nas mãos.

. Quem assinar esse acordo - nos Fundos, no BNDES, na Brasil Telecom e na Oi - pode, em pouco tempo, ser encontrado, na beira de um rio, com a boca cheia de formiga, porque Dantas é insaciável.

. Fica feliz o Farol de Alexandria.

. Dantas e a privatização da Telebras eram o maior esqueleto que FHC e os tucanos têm no armário.

. Por causa da privatização, presidentes neo-liberais da América Latina foram parar na Justiça: Salinas, no México; Fujimori, no Peru; Menem, na Argentina...

. O Presidente Lula botou o esqueleto de FHC no seu próprio armário e deixou FHC aliviado.

. Fica feliz o presidente eleito José Serra.

. A Decidir.com, Inc, empresa da filha de Serra que Dantas financiou, é apenas um dos capítulos da tenebrosa relação entre Serra e Dantas.

. Ficam felizes José Dirceu (que trabalha para Dantas), o PT e sua bancada na Câmara – José Eduardo Cardozo à frente - e no Senado - porque Dantas tem eles na mão.

. E, em alguns casos, no bolso.

. Ficam felizes os tucanos na Câmara e no Senado, porque Dantas tem eles na mão.

. E, em alguns casos, no bolso.

. Ficam felizes os Fundos.

. Porque acham que se livraram de Dantas e fizeram o que o Presidente Lula mandou.

. Porque, como bons contabilistas, acham que fizeram um bom negócio da perspectiva atuarial.

. Fica feliz o Citi, porque pensa que se livra de Dantas , põe um dinheiro no bolso e corre para reforçar o caixa do Citi de Nova York.

. Ficam felizes os empresários (?) Carlos Jereissati e Sérgio Andrade que vão aplicar na “BrOi” a tecnologia da Pegasus – tomar dinheiro dos trouxas (BNDES e Fundos), não botar um tusta e pedir champanhe brut rose e voar de planador...

. Clique aqui para ler “Pegasus, a mãe de todas as “BrOi”.

. Fica feliz o Presidente Lula, porque acha que se livra de Dantas.

. Dantas, que quase o derruba no mensalão.

. Dantas que alimentava as “reportagens” de capa da Veja.

. Agora, se ele pensa que se livrou de Dantas, ledo engano.

. Dantas vai buscar o último centavo.

. E, se por acaso, Dantas for preso ?

. E se aparecer um Juiz serio, que cruze com Dantas numa esquina da Avenida Paulista ?

. Como fica o Presidente Lula, depois de tirar Dantas da forca?

. O respeitado jornalista Rubens Glasberg conversou com um presidente de Fundo.

. Eles só falam em off: Fundos, “BrOi”, BNDES – por que será ?

. O presidente deste Fundo disse a Rubens que o acordo com Dantas é como fazer acordo com o traficante que comanda a favela, para poder viver em paz...

. Que pais é este ?

. A maior operação empresarial pressupõe um acordo com o traficante que manda na favela...

. Dantas corrompeu o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

. Ele é a metástase deste sistema político que esta aí.

. Quando o Presidente Lula se elegeu pela primeira vez, eu disse a Rubens Glasberg: ou o Presidente Lula acaba com Dantas em três meses, ou Dantas acaba com ele.

. E resolvi testar a hipótese numa entrevista com o recém empossado ministro da Fazenda Antônio Palocci.

. Avisei seu escudeiro, o jornalista Marcelo Netto, que gostaria de entrevistar Palocci sobre Dantas e a permanência de Luis Cantidiano (parceiro de Dantas) na CVM.

. Pedi.

. Pedi.

. E nada.

. Quero conversar com o Ministro Palocci sobre Dantas.

. E nada.

. Palocci é o único Ministro da Fazenda, desde Delfim Netto no Governo Médici, que não consegui entrevistar...

. Dantas quase derrubou Lula com o mensalão.

. Marcos Valério era apenas do duto do mensalão – a grana vinha de Dantas.

. Clique aqui para ler “Falta alguém no mensalao – Dantas”.

. Lula, agora, tira Dantas da forca.

. E tira Dantas do armário de FHC.

. Mas, na forca de Dantas, Lula continua lá, com a corda no pescoço...

Em tempo: Dantas corrompeu o Primeiro, o Segundo e o Terceiro Poder - e especialmente o Quarto -
clique aqui
para ler sobre o Sistema Dantas de Comunicacao - . O SDC está aflito, para ver quem dá a notícia que mais deixará o patrão feliz ...

Clique aqui para ler tudo o que o Conversa Afiada já escreveu sobre a “BrOi”. -

Fonte: Conversa Afiada
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quinta-feira, 27 de março de 2008

Água: a privatização patina, mas o direito ainda está distante

Sociedade civil deteve entrega das fontes a empresas privadas. O futuro, porém, é incerto. Quem fará os investimentos necessários para que água e saneamento sejam bens públicos?
O mundo celebrou na quinta-feira (20/3) o Dia Mundial da Água, instituído pela ONU e comemorado pela 15ª vez em 2008. A maior parte da população soube da data por anúncios de grandes empresas, públicas ou privadas, nos jornais. Nos bastidores há, por trás das homenagens formais, uma enorme disputa em curso. Nas duas últimas décadas, empresas transnacionais — as maiores delas, francesas — procuraram promover, em todo o mundo, a privatização das fontes e serviços de abastecimento. Se seu esforço prosperar, a água e o saneamento serão vistos como mercadorias, cujo acesso depende de pagamento monetário. Em contraposição a isso, surgiu e se articula com força, desde o início do século, um movimento crescente das sociedades civis. Seu objetivo é fazer da água um direito, assegurado a todos os seres humanos, por meio de medidas redistributivas. Seu palco simbólico são os Fóruns Sociais Mundiais.
Publicado na edição francesa eletrônica do Le Monde Diplomatique, em 19/3, um texto do jornalista e escritor Marc Laimé faz um balanço recente da disputa. Primeira observação: graças à resistência da sociedade civil, o ímpeto privatizador das grandes empresas foi refreado. A América Latina foi o grande território da resistência. Houve lances heróicos, como a “guerra da água”, de 2000, em que a população de Cochabamba (Bolívia) expulsou a norte-americana Bechtel, autorizada a apoderar-se do recurso. Um ano depois, na Argentina, decisões firmes do governo Kirchner inviabilizaram e depois reverteram as privatizações, que beneficiavam a francesa Suez. No Brasil, frustraram-se até o momento, por pressões dos movimentos sociais, levadas em conta pelo Executivo federal, quase todas as tentativas de transferir serviços à iniciativa privada. O grande laboratório das privatizações continua sendo a Europa — especialmente os países do Leste, onde há serviços de infra-estrutura já prontos, burocratas ainda encantados com a reconversão ao capitalismo clássico e uma sociedade civil débil. Ainda assim, computa o artigo de Marc Laimé, não mais que 7% a 8% da população usuária é servida por empresas privadas.

Quem defende o direito à água não
pode lutar apenas contra a privatização

A disputa está sendo transferida para o futuro — e será dura. Do ponto de vista dos que defendem o direito à água, não basta evitar a privatização. É preciso assegurar que todos os seres humanos tenham acesso ao abastecimento. Hoje, há ao menos 1,1 bilhão de habitantes do planeta sem água em suas torneiras ou poços, e 2,6 bilhões sem nenhum tipo de esgotamento de dejetos.
É provável que o quadro piore, nas próximas décadas. Enquanto não for revertida, a tendência ao aquecimento global submeterá mais regiões do planeta a secas, enchentes descontroladas e outros fenômenos climáticos desfavoráveis ao abastecimento. Em algumas regiões (como as bacias dos rio Niger e Senegal, ou do lago Chade, na África Ocidental), o volume de água disponível já caiu entre 40% e 60%.

Será preciso empregar tecnologias mais sofisticadas para garantir água potável. Duas técnicas promissoras são a dessalinização da água do mar (com a desvantagem de empregar muita energia e produzir salmoura) e o re-uso de águas servidas, por meio de membranas de ultra-filtragem. O segundo sistema já foi adotado com sucesso, por exemplo, em Cingapura (cidade-Estado muito densamente povoada) e em Windhoek, capital da Namíbia (um país quase totalmente desértico). Fala-se também em usar, na purificação, a nanotecnologia.
Quem fará os investimentos necessários? A quem eles beneficiarão? Aqui está a encruzilhada. No modelo privatista, os capitais deslocam-se para onde há populações capazes de comprar os serviços. O abastecimento não é um problema público, mas uma relação entre fornecedor e cliente. Tem quem paga.
A água pode, ao contrário, ser um direito efetivo, assegurado a todo ser humano. Como se viu, há tecnologias para tanto. Mas será preciso passar da resistência à criação de mecanismos globais de redistribuição de riqueza. Muito provavelmente, impostos internacionais, vinculados a objetivos precisos, arrecadados e aplicados por acordos entre Estados, organizações internacionais como a ONU e instituições não-governamentais.
Fonte: Blog da Redação Diplô
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Crise financeira global: quem pagará a conta?

Novos sinais de contágio derrubam o mito da “eficiência” dos mercados e sugerem que, para evitar colapso, pode necessária intervenção estatal maciça. Mas qual seria seu sentido, num ano marcado por eleições presidenciais nos EUA?

A perspectiva de uma nova redução da taxa básica de juros norte-americana (talvez de um ponto percentual) está estimulando uma ligeira alta nas bolsas de valores de todo o mundo, nesta terça-feira (18/3). Nada indica, porém, que os graves desequilíbrios que provocaram uma nova onda de tremores, entre o final da semana passada e ontem, tenham sido sanados. Ao contrário: a decisão mais importante da reunião de emergência, realizada no domingo, pelo banco central dos EUA (o FED), foi autorizar empréstimos de socorro também ao chamado “mercado financeiro das sombras” (shadow financial market), que não está submetido a regulamentação ou controle por instituições públicas. Esta medida, mais o crédito de 30 bilhões de dólares oferecido ao banco JPMorgan/Chase, para que comprasse o banco de investimentos Bear Stearns, revela que o FED está apavorado. O temor principal é que mesmo a quebra de uma instituição financeira de médio parte (como o Bear Stearns) desencadeie um dominó de calotes, com desdobramentos imprevisíveis.

A última série de insolvências começou na quinta-feira passada, (13/3), quando o fundo hipotecário Carlyle Capital Corportion (CCC), um dos mais importantes dos Estados Unidos, entrou em colapso. Na sexta (14/3), o Bear Stearns, quinto maior banco de investimentos do país, deu sinais de que não tinha meios de atender nem a seus compromissos financeiros, nem aos investidores que desejavam resgatar suas aplicações.

Os dois casos são emblemáticos. Ligado ao Grupo Carlyle (um gigante das finanças norte-americanas), e tendo em seu conselho personalidades como o ex-presidente George Bush (o pai), o CCC possuía ativos avaliados em 21 bilhões de dólares. Parte deste patrimônio, porém era constituída de títulos hipotecários que perderam valor, com a onda de inadimplências no setor imobiliário. Em conseqüência, o CCC deixou de honrar, nos últimos dias, compromissos de US$ 400 milhões, não conseguiu chegar a acordos com seus credores e tornou-se ele próprio insolvente.

A dúvida: até onde a espiral de calotes continuará se expandindo?

O redemoinho que devorou o Bear Stearns é ainda mais impressionante. Ainda na sexta-feira, depois do anúncio de suas dificuldades e de uma queda de quase 50% na cotação de suas ações, o valor de mercado do banco era de 3,5 bilhões de dólares. Só sua sede magnífica é avaliada em US$ 1 bi. Mas a instituição foi entregue ao JPMorgan/Chase, no domingo, por apenas US$ 236 milhões. Mesmo assim, e apesar da garantia de US$ 30 bi oferecida pelo FED, “é muito cedo para dizer que foi um bom negócio”, advertiu a revista Economist. Não se sabe o volume das perdas do Bear Stearns com títulos baseados em hipotecas imobiliárias. A dúvida é: até onde a espiral de calotes continuará se expandindo?

Há um agravante: a inadimplência está tornando o crédito, nos EUA, mais escasso e mais caro, como mostrou este blog há alguns dias. A dificuldade de levantar dinheiro pode transformar-se numa bola-de-neve, desencadeando novas falências e restringindo ainda mais as operações financeiras, numa sinergia sinistra. Os problemas têm colocado cada vez mais em evidência o analista turco-norte-americano Nouriel Roubini, que considera necessário incluir, entre os desdobramenos possíveis da crise, o “derretimento do sistema financeiro”.

Num comentário postado quarta-feira, em seu blog, o próprio Roubini sugere que “qualquer solução efetiva para o desarranjo dos mercados de crédito vai requerer envolvimento do Estado em escala muito maior”. É uma constatação de enorme importância poítica. Primeiro, porque enterra um dos grandes mitos da era neoliberal: a suposta capacidade dos mercados para regularem a si próprios e à vida social. Segundo, porque coloca em pauta o sentido da ação a ser adotada contra a crise. Se cabe ao Estado evitar o colapso financeiro, se as finanças não são capazes de salvar a si próprias, então, em teoria, a sociedade teria o direito de debater como a intervenção deve ser feita.

Até o momento, todas as iniciativas estatais adotadas significaram vultosas concessões aos próprios mercados. Na terça-feira (11/3), dois dias apenas antes do colapso do CCC, o presidente do FED Ben Bernanke, havia anunciado a abertura de mais uma linha de crédito — agora de 200 bilhões de dólares — em favor das instituições financeiras. Numa atitude raras vezes adotada por um banco cental, o FED aceitará, como garantia para os empréstimos que concederá, até mesmo bônus imobiliários que sabidamente podem não ser resgatáveis. É a terceira medida semelhante desde agosto só nos EUA. Os bancos centrais europeu e japonês também injetaram centenas de bilhões em suas economias, até o momento sem nenhum resultado efetivo.

“A pior crise desde os anos 1930. Um evento político decisivo”

Martin Wolf, um festejado colunista do diário britânico Financial Times alerta, num comentário publicado esta quarta-feira (12/3): “prejuízos de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões [são os cálculos de Nouriel Roubini sobre os efeitos da crise] descapitalizariam o sistema financeiro. O governo teria de resgatá-lo. O meio mais plausível de fazê-lo seria nacionalizar todos os prejuízos. (…) A decisão teria imensos desdobramentos. Teríamos a pior crise financeira do país desde os anos 1930. Seria um evento político decisivo”.

Você leu corretamente. Nos mercados financeiros globais, já se discute a hipótese de uma mega-operação de salvamento do sistema, algo imensamente superior ao Proer brasileiro, que saneou três bancos com recursos públicos logo após a adoção do Plano Real, em 1994. Por enquanto, porém, o resgate é discutido sem alarde. Não se fala sobre ele nos Parlamentos, nas entrevistas coletivas dos ministros, no horário nobre da TV. Em democracias de baixa intensidade, como as que vivemos, ele seria normalmente apresentado como a única alternativa para evitar o colapso, o remédio amargo que a sociedade será forçada a engolir para evitar um mal pior. Por exemplo uma quebradeira de empresas em larguíssima escala, capaz de paralisar a economia e jogar rapidamente milhões de trabalhadores no desemprego.

O “derretimento” do sistema financeiro teria de fato conseqüências trágicas — mas o socorro aos bancos não é a único remédio contra ele. Tanto nos EUA quanto na Alemanha, a crise dos anos 1930, por exemplo, foi enfrentada principalmente com ações do Estado direcionadas para a geração de emprego e a redistribuição de renda. Em conferência recente, nos EUA (publicada por Le Monde Diplomatique Brasil), a escritora e cientista política Susan George sugeriu, como alternativa para o colapso, um “keynesianismo ambiental”, cujo núcleo seriam obras e iniciativas públicas voltadas para a preservação do planeta (como ferrovias, centrais elétricas eólicas, metrôs, etc). O próprio Martin Wolf lembra, no Financial Times: uma possível saída para a crise atual seria “elevar as rendas nominais” — mesmo se resultasse no “tributo da inflação”, que “em circunstâncias extremas deve ser atraente”.

Uma particularidade no cenário internacional amplia as esperanças de escapar do pensamento único, e imaginar uma solução como a proposta por Susan. Os EUA, epicentro da crise, vivem uma conjuntura quase única: eleições presidenciais coincidem com a sensação de empobrecimento e isolamento internacional. Não seria uma grande oportunidade para questionar a saída ortodoxa de salvar a banca, e propor alternativas capazes de construir outro sistema financeiro?

FONTE: Blog da Redação do Diplô


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Crise financeira global: quem pagará a conta?

Novos sinais de contágio derrubam o mito da “eficiência” dos mercados e sugerem que, para evitar colapso, pode necessária intervenção estatal maciça. Mas qual seria seu sentido, num ano marcado por eleições presidenciais nos EUA?

A perspectiva de uma nova redução da taxa básica de juros norte-americana (talvez de um ponto percentual) está estimulando uma ligeira alta nas bolsas de valores de todo o mundo, nesta terça-feira (18/3). Nada indica, porém, que os graves desequilíbrios que provocaram uma nova onda de tremores, entre o final da semana passada e ontem, tenham sido sanados. Ao contrário: a decisão mais importante da reunião de emergência, realizada no domingo, pelo banco central dos EUA (o FED), foi autorizar empréstimos de socorro também ao chamado “mercado financeiro das sombras” (shadow financial market), que não está submetido a regulamentação ou controle por instituições públicas. Esta medida, mais o crédito de 30 bilhões de dólares oferecido ao banco JPMorgan/Chase, para que comprasse o banco de investimentos Bear Stearns, revela que o FED está apavorado. O temor principal é que mesmo a quebra de uma instituição financeira de médio parte (como o Bear Stearns) desencadeie um dominó de calotes, com desdobramentos imprevisíveis.

A última série de insolvências começou na quinta-feira passada, (13/3), quando o fundo hipotecário Carlyle Capital Corportion (CCC), um dos mais importantes dos Estados Unidos, entrou em colapso. Na sexta (14/3), o Bear Stearns, quinto maior banco de investimentos do país, deu sinais de que não tinha meios de atender nem a seus compromissos financeiros, nem aos investidores que desejavam resgatar suas aplicações.

Os dois casos são emblemáticos. Ligado ao Grupo Carlyle (um gigante das finanças norte-americanas), e tendo em seu conselho personalidades como o ex-presidente George Bush (o pai), o CCC possuía ativos avaliados em 21 bilhões de dólares. Parte deste patrimônio, porém era constituída de títulos hipotecários que perderam valor, com a onda de inadimplências no setor imobiliário. Em conseqüência, o CCC deixou de honrar, nos últimos dias, compromissos de US$ 400 milhões, não conseguiu chegar a acordos com seus credores e tornou-se ele próprio insolvente.

A dúvida: até onde a espiral de calotes continuará se expandindo?

O redemoinho que devorou o Bear Stearns é ainda mais impressionante. Ainda na sexta-feira, depois do anúncio de suas dificuldades e de uma queda de quase 50% na cotação de suas ações, o valor de mercado do banco era de 3,5 bilhões de dólares. Só sua sede magnífica é avaliada em US$ 1 bi. Mas a instituição foi entregue ao JPMorgan/Chase, no domingo, por apenas US$ 236 milhões. Mesmo assim, e apesar da garantia de US$ 30 bi oferecida pelo FED, “é muito cedo para dizer que foi um bom negócio”, advertiu a revista Economist. Não se sabe o volume das perdas do Bear Stearns com títulos baseados em hipotecas imobiliárias. A dúvida é: até onde a espiral de calotes continuará se expandindo?

Há um agravante: a inadimplência está tornando o crédito, nos EUA, mais escasso e mais caro, como mostrou este blog há alguns dias. A dificuldade de levantar dinheiro pode transformar-se numa bola-de-neve, desencadeando novas falências e restringindo ainda mais as operações financeiras, numa sinergia sinistra. Os problemas têm colocado cada vez mais em evidência o analista turco-norte-americano Nouriel Roubini, que considera necessário incluir, entre os desdobramenos possíveis da crise, o “derretimento do sistema financeiro”.

Num comentário postado quarta-feira, em seu blog, o próprio Roubini sugere que “qualquer solução efetiva para o desarranjo dos mercados de crédito vai requerer envolvimento do Estado em escala muito maior”. É uma constatação de enorme importância poítica. Primeiro, porque enterra um dos grandes mitos da era neoliberal: a suposta capacidade dos mercados para regularem a si próprios e à vida social. Segundo, porque coloca em pauta o sentido da ação a ser adotada contra a crise. Se cabe ao Estado evitar o colapso financeiro, se as finanças não são capazes de salvar a si próprias, então, em teoria, a sociedade teria o direito de debater como a intervenção deve ser feita.

Até o momento, todas as iniciativas estatais adotadas significaram vultosas concessões aos próprios mercados. Na terça-feira (11/3), dois dias apenas antes do colapso do CCC, o presidente do FED Ben Bernanke, havia anunciado a abertura de mais uma linha de crédito — agora de 200 bilhões de dólares — em favor das instituições financeiras. Numa atitude raras vezes adotada por um banco cental, o FED aceitará, como garantia para os empréstimos que concederá, até mesmo bônus imobiliários que sabidamente podem não ser resgatáveis. É a terceira medida semelhante desde agosto só nos EUA. Os bancos centrais europeu e japonês também injetaram centenas de bilhões em suas economias, até o momento sem nenhum resultado efetivo.

“A pior crise desde os anos 1930. Um evento político decisivo”

Martin Wolf, um festejado colunista do diário britânico Financial Times alerta, num comentário publicado esta quarta-feira (12/3): “prejuízos de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões [são os cálculos de Nouriel Roubini sobre os efeitos da crise] descapitalizariam o sistema financeiro. O governo teria de resgatá-lo. O meio mais plausível de fazê-lo seria nacionalizar todos os prejuízos. (…) A decisão teria imensos desdobramentos. Teríamos a pior crise financeira do país desde os anos 1930. Seria um evento político decisivo”.

Você leu corretamente. Nos mercados financeiros globais, já se discute a hipótese de uma mega-operação de salvamento do sistema, algo imensamente superior ao Proer brasileiro, que saneou três bancos com recursos públicos logo após a adoção do Plano Real, em 1994. Por enquanto, porém, o resgate é discutido sem alarde. Não se fala sobre ele nos Parlamentos, nas entrevistas coletivas dos ministros, no horário nobre da TV. Em democracias de baixa intensidade, como as que vivemos, ele seria normalmente apresentado como a única alternativa para evitar o colapso, o remédio amargo que a sociedade será forçada a engolir para evitar um mal pior. Por exemplo uma quebradeira de empresas em larguíssima escala, capaz de paralisar a economia e jogar rapidamente milhões de trabalhadores no desemprego.

O “derretimento” do sistema financeiro teria de fato conseqüências trágicas — mas o socorro aos bancos não é a único remédio contra ele. Tanto nos EUA quanto na Alemanha, a crise dos anos 1930, por exemplo, foi enfrentada principalmente com ações do Estado direcionadas para a geração de emprego e a redistribuição de renda. Em conferência recente, nos EUA (publicada por Le Monde Diplomatique Brasil), a escritora e cientista política Susan George sugeriu, como alternativa para o colapso, um “keynesianismo ambiental”, cujo núcleo seriam obras e iniciativas públicas voltadas para a preservação do planeta (como ferrovias, centrais elétricas eólicas, metrôs, etc). O próprio Martin Wolf lembra, no Financial Times: uma possível saída para a crise atual seria “elevar as rendas nominais” — mesmo se resultasse no “tributo da inflação”, que “em circunstâncias extremas deve ser atraente”.

Uma particularidade no cenário internacional amplia as esperanças de escapar do pensamento único, e imaginar uma solução como a proposta por Susan. Os EUA, epicentro da crise, vivem uma conjuntura quase única: eleições presidenciais coincidem com a sensação de empobrecimento e isolamento internacional. Não seria uma grande oportunidade para questionar a saída ortodoxa de salvar a banca, e propor alternativas capazes de construir outro sistema financeiro?

FONTE: Blog da Redação do Diplô


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