quinta-feira, 10 de abril de 2008

Os estranhos e complicados caminhos do mundo institucional



por Laerte Braga

Um financiamento de 7,3 bilhões de reais para investimentos até 2012 foi concedido pelo governo Lula através do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à antiga Vale do Rio Doce, hoje só Vale.

A maior predadora do meio ambiente no País ao lado da Aracruz de Antônio Ermírio de Moraes. O estado do Espírito Santo hoje é um pedaço de terra cercado de poluição e pistoleiros por todos os lados.

A boca cheia da iniciativa privada para dizer que a privatização da Vale foi um grande negócio, que a empresa é lucrativa não passa da eterna mentira do crime legalizado: empresas privadas. A Vale sempre foi lucrativa e o lucro era do País.

O governador de Minas, que mora no Rio, Aécio Neves, fechou um acordo com o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, para a disputa eleitoral deste ano. Eleições municipais. O PSB indica o candidato e PT e PSDB apóiam. Tem desdobramentos em 2010.

Setores do PT nacional se manifestaram contrários, mas o governador da Bahia, Jacques Wagner fecha um mesmo acordo com um ex-carlista, Antônio Imbasahi e José Serra e o partido de Lula vão dividir o mesmo palanque na campanha presidencial do tucano.

Lula lembra um antigo grupo de acrobatas alemães, os Zugpstein Artists, uma família que vivia perigosamente. O grupo esticava uma corda de aço entre dois prédios altos e um deles fazia a travessia equilibrando-se num bambu, ou trem semelhante. Outro subia numa moto com um trapézio e um casal se exibia em piruetas ditas incríveis, tudo sem rede. Andaram morrendo alguns, essa prática, ou esse meio de sobrevivência acabou sendo proibido.

Em tese né? Trabalhador brasileiro faz essa travessia desde 22 de abril de 1500.

O concorrente de Imbasahi deve ser o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, a tentativa de manter o carlismo. Desnecessário. O PT se encarrega de mantê-lo.

A imagem de estudantes ocupando a reitoria da Universidade de Brasília em protesto contra um reitor corrupto é a mais forte demonstração de coragem desde a ocupação da USP ano passado. O ato em si é o resgate da indignação.

Senadores da oposição, não contentes com uma CPI mista sobre os cartões corporativos criam outra no Senado. Senado é uma tralha dessas que a gente tem guardada e não sabe ou não lembra bem do que fazer, até que um dia abre o baú e ou doa para um bazar de caridade ou joga fora.

Uma pesquisa feita por institutos que medem opinião pública e índices de audiência constatou que as sessões transmitidas ao vivo não estão dando frisson como no tempo do mensalão. Ao invés de duas CPIs para a mesma coisa deviam contratar o Boninho, diretor do BBB e tentar alavancar a coisa com um tempero global.

O sorvete de tapioca que um deputado de oposição mandou servir na primeira reunião de uma das companhias teatrais poderia ter opinião de Ana Maria Braga antes das perguntas das excelências. Tipo assim, vamos ouvir uma especialista e um sorveteiro de categoria internacional. Aí, dava um plim plim e o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto entrava gritando histérico “me respeitem, me respeitem”.

Não precisavam nem de comerciais do sex shopping que forneceu um dos seus produtos para o governo FHC.

Era só pegar o Bial para comandar tudo do lado de fora e de vez em quando chamando os “nossos heróis”.

Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal ficaria encarregado de dirimir as dúvidas e malquerelanças. Qualquer dúvida maior dava logo um hábeas corpus a Cacciola.

Mesmo que não precisasse, manobra para despistar. Espingarda de cano curvo. Mira para um lado e atira para o outro. Quando o sujeito olha para lá o de cá já bateu a carteira.

Nesse meio tempo convocariam um médico para explicar como Ingrid Betancourt, no meio da selva, com hepatite, leishmaniose, malária e em greve de fome consegue sobreviver há mais de vinte dias.

Teria que haver um tempo para o “general” William Bonner, comandante em chefe das forças armadas globais explicar as manobras contra forças do mal bolivariano vindas da Venezuela e querendo comer criancinhas e matar velhos.

Nada a ver com o prefeito do Rio, César Maia. Não tem responsabilidade nenhuma nisso e nem em nada, ou com nada.

E muito cuidado com o auditório. De repente Zé Pastinha poderia se atrever a subir no palco/picadeiro, abrir sua pasta e exibir farto material pornográfico. E no final pedir votos para “pelo amor de Deus me ajudem a ser vereador, vou contratar decoradores profissionais para enfeitar o Natal”.

Pode não dar audiência, mas que ia fazer justiça a toda essa pantomima da mídia diária lá isso ia.

No final, inimigos e amigos num grande jantar tipo clube de amigos e inimigos cordiais. À porta do restaurante uma faixa: “há quem faça e há quem deixe”.

Quem sabe não sai também um financiamento para o Boninho pagar a pensão da ex-mulher a especialista em não fazer nada e só dizer besteiras, dona Narcisa Tamborindeguy, musa locomotiva da sociedade carioca que ameaça o País com um quadro no programa de dona Luciana Gimenez, mãe do filho de Jagger?

Ou para a compra de ovos e éter para apodrecê-los e atirar em “vagabundas” e “vagabundos” trabalhadores brasileiros em sua faina diária?

Esse trem só não está melhor que aqueles circos que Fellini mostrava em seus filmes, porque a conta vem cá para baixo e os palhaços somos nós.

É o mundo institucional, da lei e da ordem. Você sobe no elevador, aperta o botão do quinto andar e desemboca em grandes caçapas em forma de precipício. Sorri e acha que isso é o mundo real. Trate de pular o balcão antes que a queda seja irreversível.

Vai lá.

Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Fonte: Fazendo Media


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