"O FMI está de volta", declarou o diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn, no encontro anual de primavera do início deste mês [de abril] em Washington. A acreditar nos economistas da organização (que se encontraram em hóteis de cinco estrelas, com suas longas limousines negras e jantaram em restaurantes chiques com banqueiros, empresários e ministros de todo o mundo) eles chegaram na hora certa para ajudar a resolver a crise financeira internacional.
Apesar da bravata, a realidade é que o FMI de hoje não é o mesmo. Atualmente, a famosa polícia do déficit lida com seu próprio déficit - considerável para um país pequeno - de 400 milhões de dólares, e é forçada a praticar o mesmo tipo de "ajuste estrutural" que impôs aos endividados do Terceiro Mundo. Nos últimos quatros anos, o portfólio total do FMI encolheu de 105 bilhões de dólares para menos de 10 bilhões; mais da metade do portfólio corrente é de empréstimos para a Turquia e o Paquistão. Para cortar custos, a agência está reduzindo o pessoal e fechando escritórios.
A perda de influência do FMI é provavelmente a maior mudança do sistema financeiro internacional em mais de meio século. Até recentemente, o FMI - criado originalmente na conferência de cooperação econômica internacional de Bretton Woods, em 1944 - era uma das instituições financeiras mais poderosas do mundo e uma avenida para a influência dos Estados Unidos nos países em desenvolvimento.
Isso não era resultado do dinheiro emprestado a eles - o Banco Mundial empresta muito mais - mas por causa da posição do Fundo no topo da hierarquia de credores oficiais. Até alguns anos atrás, um país em desenvolvimento que não aceitasse as condições do FMI corria o risco de ser estrangulado economicamente. O Banco Mundial, os bancos regionais - como o Banco Interamericano de Desenvolvimento -, governos ricos e mesmo o setor privado evitavam emprestar até que o governo fizesse um acordo com o FMI.
No topo deste cartel de credores sentava-se o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, que tem poder formal de veto sobre muitas decisões do FMI e tem poder informal dentro da organização capaz de marginalizar mesmo os países ricos. Países em desenvolvimento - os que historicamente sustentaram o peso das decisões do FMI - têm pouca ou quase nenhuma voz nas decisões da organização, onde a maioria dos votos dos 185 membros fica com os mais ricos.
Mas o FMI perdeu credibilidade depois de presidir a uma série de desastres econômicos. A América Latina, por exemplo, sofreu o maior fracasso no crescimento de longo prazo sob a tutela do FMI, desde os anos 80. A "terapia de choque" do FMI na Rússia subestimou o tempo que levaria a transição de uma economia planificada para uma economia capitalista no início dos anos 90. O resultado foi muito choque e pouca terapia, e dezenas de milhões de pessoas empurradas para a pobreza com o colapso da economia.
A crise financeira da Ásia no final dos anos 90 foi um momento decisivo. O FMI e o Tesouro dos Estados Unidos ajudaram a causar a crise ao forçar a retirada de regras importantes para o fluxo de capital estrangeiro. E então pioraram a situação com recomendações que levaram o economista Jeffrey Sachs - que agora dirige o Instituo Terra, da Columbia University - a dizer que "o FMI se tornou a Maria Tifóide dos mercados emergentes, espalhando recessão de país em país."
Alguns destes erros foram causados por incompetência; outros, por interesses ideológicos. Mas o resultado é que países em desenvolvimento começaram a votar com os pés, acumulando reservas internacionais para que nunca mais precisassem emprestar do cartel.
O desastre argentino supervisionado pelo FMI, de 1998 a 2002, empurrou abaixo da linha da pobreza a maioria dos argentinos, num país que havia sido um dos mais ricos da região; isso ajudou a manchar a reputação do Fundo. A Argentina então desafiou o FMI, rejeitou as condições exigidas, dispensou a ajuda internacional e rapidamente se transformou na economia de maior crescimento do hemisfério. Episódio que também foi notado.
O colapso do cartel dos credores do FMI foi um golpe duro na influência dos Estados Unidos. Foi mais forte na América Latina, onde a maior parte da região era chamada de "quintal" dos Estados Unidos mas agora é governada por estados que são mais independentes de Washington do que a Europa.
O problema é que os países em desenvolvimento mais pobres, especialmente na África, continuam dependentes de ajuda estrangeira do FMI (e do Banco Mundial e outras fontes) para financiar seu orçamento e necessidades de importação. Isso pode prejudicar o desenvolvimento dos países e dos povos. Em anos recentes, o FMI - insistindo que tais medidas são necessárias para controlar a inflação - tem imposto condições que limitam os gastos públicos e, de acordo com avaliação interna do próprio Fundo, impedem os governos de financiar necessidades urgentes, como saúde e educação.
Esses países precisam se juntar aos outros do mundo em desenvolvimento para se libertar das condições do FMI. O Congresso dos Estados Unidos pode votar legislação para pressionar o FMI a usar parte de suas grandes reservas de ouro para cancelar a dívida externa e para limitar o controle do Fundo sobre a política destes países. Seriam passos importantes para os pobres do mundo.Fonte: Vi o Mundo
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