quinta-feira, 24 de abril de 2008

O homem é o lobo do homem

por Márcia Pinheiro

Está prevista, para 19 de maio, uma nova reunião ministerial da Rodada de Doha, iniciada em 2001, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Desta vez, não se trata de encontros burocráticos, em que países em desenvolvimento se entrincheiram de um lado e os desenvolvidos, em outro.

O Hemisfério Norte tem a faca e o queijo na mão. Culpa o crescimento dos biocombustíveis pela escassez de produção de alimentos no mundo. A economista Kavitha Cherian, da Universidade de Dehli, diz que os preços do arroz deram um salto de 75% em comparação há um ano, enquanto os do trigo avançaram 120%,

Diferentemente dos observadores dos países ricos, porém, ela lista uma série de fatores que levaram a esse susto: aumento da renda das populações dos países emergentes, mudanças climáticas, tarifas elevadas, queda do dólar e também o etanol de milho produzido pelos Estados Unidos.

O vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Otaviano Canuto, acrescenta à lista a especulação financeira dos mercados futuros de commodities, com investidores em busca de maior retorno, após o estouro da bolha imobiliária americana.

Os manda-chuva globais insistirão que os países pobres, com grandes áreas agriculturáveis, como o Brasil, permitam a entrada de produtos industrializados da Europa e dos Estados Unidos. Só que o jogo corre o risco de novamente ser injusto. Abre-se o País para manufaturas, enquanto os desenvolvidos pouco cedem nos bilhões de dólares e euros despejados, em forma de subsídios, aos seus agricultores.

Enquanto isso, o Copom elevou a Taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. Como se fosse capaz de conter a escalada dos preços dos alimentos. A atitude do Banco Central apenas sacrificará os demais setores da economia, pois juro doméstico não tem força para baixar o preço do arroz, nem do trigo, nem do tomate. Relembre 2004, quando o início da alta do juro abortou um ciclo virtuoso de investimento.

Dica econômico-cultural
No site da organização Action Against Hunger (http://www.actionagainsthunger.org), há artigos que aprofundam a questão da fome global. Não se trata de um evento efêmero, mas de um desafio que os líderes mundiais terão de enfrentar.

Como sempre, as populações que mais sofrem são do continente africano. É hora de deixar as vaidades do poder de lado, pois, mais do que nunca, parece fazer sentido a frase do filósofo Thomas Hobbes: O homem é o lobo do homem.

Na batida da semana
A Ata do Copom, a ser divulgada na quinta-feira 24, é o fato mais importante da semana. O texto dará o tom da braveza dos integrantes do comitê e certamente indicará que a alta do juro não vai parar por aqui. Conservadores do mercado estimam que o juro pode subir mais 1,75 ponto até o fim do ano. Há falcões com previsão de 2 pontos. A conferir.

Muitos dados de inflação vão colocar lenha na fogueira das discussões sobre o juro: segunda prévia do IGP-M de abril (terça 22), terceira prévia do IPC-S de (quarta 23), terceira prévia do IPC da Fipe e IPCA-15 (ambos na sexta 25).

Nos Estados Unidos, saem as vendas de imóveis usados na terça 22 e de imóveis novos na quinta 24. Um termômetro sobre a extensão do poço da recessão americana.

Fonte: Carta Capital
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