Esta semana, Lula deu uma declaração sobre a qual a oposição parece que refletiu. O presidente disse que o PSDB e o DEM estão "sem rumo" e que levarão "uma sova" nas urnas. Hoje, a oposição anunciou que na próxima segunda-feira haverá uma "reunião de cúpula", comandada por FHC e por Bornhausen, que tentará "refinar" a estratégia oposicionista.
Além dos caciques tucano e "democrata", reunir-se-ão Sérgio Guerra, presidente do PSDB, e os líderes Arthur Virgílio (Senado) e José Aníbal (Câmara). Pelo DEM, também irão ao encontro o presidente do partido, Rodrigo Maia, e os líderes José Agripino Maia (Senado) e ACM Neto (Câmara).
Até a mídia já admitiu que a oposição está "desnorteada" e que essa é a razão da "reunião de cúpula" da semana que vem. A falta de "norte" oposicionista, no entanto, constitui um inexplicável paradoxo. A oposição ao governo federal conta com uma das maiores máquinas de apoio político na imprensa que há em todo continente americano. Acredito que apoio dessa magnitude a partidos de oposição só se encontra hoje na Venezuela.
Para que se tenha uma idéia do grau de apoio na mídia que tem a oposição brasileira, a maior emissora de tevê do país usa sua programação, de ponta a ponta, para desmoralizar o presidente da República. São novelas, programas humorísticos, telejornais e talk shows que trabalham incansavelmente para ridicularizá-lo e tachá-lo de corrupto, ignorante e "populista".
Na imprensa escrita, os quatro maiores veículos do país (Veja, Folha, Globo e Estadão) dedicam-se incessantemente a fazer denúncias que envolvem até os gastos mais comezinhos da manutenção do principal palácio da República, num nível de "fiscalização" do poder federal que jamais se viu desde o Descobrimento.
Com todo esse arsenal eleitoral, só poderia ser de espantar a situação de desorientação em que se encontram os partidos de oposição, sobretudo o PSDB. E mais espantoso ainda são os índices de aprovação do governo mais pichado na mídia em toda história, depois (talvez) do de Jango Goulart. Nem o governo Collor permaneceu tanto tempo sob fogo tão cerrado.
Mas quando se vê o discurso da oposição e a renitência espalhafatosa da má vontade com este governo na mídia, entende-se tudo.
O que ocorre no Brasil é exatamente o que ocorreu na Venezuela. Diante da cristalização do conceito de que os grandes meios de comunicação de massa fazem o jogo da oposição contra o governo, as pessoas passaram a buscar parâmetros próprios para mensurar a quantas anda aquele governo.
No caso do Brasil, só estando dopado pela própria subjetividade para não enxergar como o país melhorou de 2003 para cá. E só a prática renitente do auto-engano para não reconhecer que este governo é que merece os louros pelo que de bom está colhendo.
As contradições da oposição e da mídia são escandalosamente evidentes. Primeiro, acusam erros imensos na condução da economia. Ridicularizaram a política externa do país quando, no começo do governo Lula, o presidente foi à Ásia e à África fazer acordos de comércio. Atribuíram todos os sucessos até aqui obtidos à bonança na economia mundial. Predisseram catástrofes econômicas por conta do dólar desvalorizado e da crise americana. Acusam o governo de ter implantado "a maior corrupção da história".
Atualmente, a maioria esmagadora da população brasileira não suporta política e escolhe governantes de acordo unicamente com seu grau de satisfação com a própria vida. Ficou para trás no tempo (no ocaso dos anos 1990) a época em que o sujeito enxergava sua própria realidade com os olhos do patrão ou da imprensa.
O brasileiro sofreu muito depois da Redemocratização. Foram crises e mais crises que custaram o próprio sangue dos brasileiros. A última grande crise foi em 1999, depois de, no ano anterior, o brasileiro ter acreditado na mídia e na direita quando disseram que se FHC fosse eleito haveria "consolidação" do Plano Real. O que acabou acontecendo foi um forte baque econômico por conta da maxidesvalorização. Desemprego, recessão, aumento da violência, da pobreza e da desigualdade.
Depois de um início conturbado, gerado pela assunção do governo Lula num momento em que o país estava afundado em dívidas e extremamente frágil em suas contas externas, o brasileiro viu a própria vida vir melhorando ano a ano, cada vez mais. Quem não conseguia emprego, conseguiu; quem não consumia, passou a consumir; quem jamais sonhou em se formar, entrou no ensino superior.
A recusa da sociedade em dar novo voto de confiança à mídia e à direita, depois de 1999, levou oposicionistas e os grandes grupos de mídia a um estado de pura catarse. O discurso começou a se tornar alucinado, virulento, elitista, intolerante e, em alguns momentos, até racista.
Os insultos reiterados ao presidente da República o vitimizaram. Um colunista da Veja chegou a publicar um livro em que, no título, chama o presidente de "anta". Esse ato de agressão à instituição Presidência da República, mais do que ao seu eventual ocupante, veio na esteira da desqualificação, pela mídia e pela oposição, de qualquer um que não fosse "dotô".
Os anúncios reiterados de que tudo estava errado na economia chocaram-se com o discurso de que o que se estava fazendo era o que era feito à época de FHC. O catastrofismo chocou-se com o aumento do consumo, do emprego e da renda.
O preconceito racial emergiu com toda força diante da política de cotas. Apesar da massa de manobra, entre a comunidade negra, que se dispôs a entoar o cântico da elite branca sobre uma política pública que permitiria que negros pobres começassem, pela primeira vez na história, a ocupar vagas no ensino superior, 9 de cada dez negros vibraram com a possibilidade de almejar na vida mais do que cargos servis. Detalhe: metade dos brasileiros são negros.
A oposição e seus aliados na grande mídia, no entanto, fizeram uma aposta no velho modelo de demonização da esquerda e, embalados pelos setores sociais historicamente beneficiados pela desigualdade, sempre ruidosos e com amplo espaço para se manifestar, apesar de serem poucos, continuaram refratários ao tal "refinamento" de estratégia que agora pretendem. Preferiram a estratégia grosseira da desqualificação total, pura e simples.
Quem der uma lida na entrevista que o líder do PSDB na Câmara, José Anibal, deu ao site "Congresso em foco", poderá constatar tudo que estou dizendo sobre a estratégia indigente da oposição e da própria grande mídia para desidratarem eleitoralmente o governo Lula.
Anibal nega qualquer mérito a este governo, chamando para o governo FHC todos os louros pelo bom momento econômico por que passa o país. Recusa-se terminantemente a enxergar um único fio de competência na administração do país. Os benefícios que vimos colhendo, para Anibal, são inerciais, vindos da época em que o PSDB governava. É ridículo. Ninguém dá crédito a tal sandice.
Você deve ler a entrevista supra mencionada. Ela sintetiza fidedignamente a estratégia grosseira que os caciques tucanos e pefelês pretendem "refinar" na semana que vem.
Mas o que eu recomendaria como "estratégia" para a oposição, então? E vale a pena ler uma recomendação de alguém que se opõe tão visceralmente àqueles a quem faz essa recomendação? Não vou me justificar, mas se eu fosse a oposição refletiria sobre o que vou escrever agora.
Primeiro, por conta do que entendo sobre fazer oposição na condição de "povo", acho que oposicionismo é necessário quando o opositor trabalha para melhorar a vida das pessoas pressionando e fiscalizando o governo. Quando fica claro que a oposição quer atrapalhar a condução do país, os mais sensatos se perguntam: o que é que eu tenho a ganhar com isso? E, por via das dúvidas, o povo sempre teme sabotagens que possam vir a pôr fim ao bom momento do país.
Então vou dizer como vejo a prática oposicionista sadia, boa para o país, para todos nós. Não vou entrar em detalhes. Direi apenas as premissas-mestras.
1 - Não peça ao governo aquilo que não concedeu quando era governo
2 - Não dificulte a governabilidade. Travar o Congresso com investigações politizadas mostra que você quer ver o circo pegar fogo, e circo pegando fogo só interessa a você, não ao povo, que paga o pato sempre que há um mínimo foco de incêndio "no circo".
3 - Apresente alternativas. Se ficar só criticando o que não funciona, o eleitor fica se perguntando o que é que você faria se estivesse lá.
4 - Se não tiver um projeto alternativo para o país, fique calado. Não tente vender vento. O povo não se baseia mais em discursos; agora olha, primeiro, para como está sua vida.
5 - Quando você diz que o projeto que está dando certo é seu, o eleitor reflete que pode até ser seu, mas está funcionando com outro, porque com você não funcionou.
6 - Procure o que realmente está errado na governança do país. Se não encontrar nada muito errado e que valha a pena denunciar, não se desgaste tentando fabricar erros alheios. As pessoas percebem, porque erros de governança que não causam danos, não existem. Então, essas pessoas não sentem o que você diz que está acontecendo.
7 - Construa um projeto de país que você realmente julgue sério. Não tente ser espertinho. O povo está calejado. Para trocar um projeto que está dando certo por outro igual, fica com o original; para trocar por outro diferente, é preciso que seja provado que é factível. Falar não basta.
Não concebo um país, qualquer país, sem oposição. O governo Lula não estaria sendo tão bom se não fosse acossado como é. O assédio oposicionista-midiático atrapalha a governabilidade e atrasa melhoras? Sim, mas, em contrapartida, obriga o governo a se esmerar em eficiência e probidade, pois sabe que tentarão transformar até acertos em erros, quanto mais os erros verdadeiros.
Oposição que só pensa "naquilo" (em voltar ao poder), mas que não quer se esforçar para merecer o poder de volta e que toma o caminho fácil da desqualificação pura e simples de tudo que o adversário faça, não serve para nada. Portanto, não é assim que se faz oposição. É da forma que acabo de expor. Fazer oposição, se não for com seriedade, é muito mais difícil do que ser governo.
Fonte: Blog Cidadania.com
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