quinta-feira, 24 de abril de 2008

Bush e a direitinha brasileira

por Leandro Fortes

Gosto de pensar nos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, como a razão primordial da Era Bush, essa Noite de São Bartolomeu high-tech que, por ora, parece se findar. Melhor pensá-la como uma reação extraordinária ao um evento devastador, inclusive culturalmente, para os americanos e a civilização ocidental, tão cheia de si, orgulhosa de tanto poder. O fato é que a queda das Torres Gêmeas pode ter sido apenas um evento catalisador de um processo inexorável do Ocidente em direção à caretice, e isso é realmente assustador.

Bush restaurou, em termos piores, o debate ideológico da Guerra Fria, embora não por tirocínio político, mas por orientação de marketing de bons assessores, Condoleezza Rice à frente deles. Digo em termos piores porque a Doutrina Bush cria uma relação entre o discurso social e o apoio a causas terroristas, ou pior, anticristãs. De certa forma, quando Condoleezza tem a pachorra de aparecer na televisão e falar sobre a contínua pacificação do Iraque, ela quer dizer o seguinte: até a gente pegar aquele safado do Bin Laden, todo muçulmano é comunista, e vice-versa. Entre os comunistas, como todos sabem, estão todos os envolvidos com movimentos sociais.

Aqui no Brasil, assanhou-se uma direitinha adolescente, na mídia, nos parlamentos, na pequena burguesia urbana, na classe média, enfim. Essa direitinha reflete e amplifica os valores mais caros a essa parcela social enfeitiçada pelo discurso neoconservador francamente apoiado pelos Estados Unidos. É uma gente que odeia o MST por osmose, pela lavagem diária dos noticiários de tevê, ou por compartilhar de uma noção primária baseada na hipótese de que, findo o latifúndio, findo o direito de propriedade privada no Brasil.

É uma tática antiga da poderosa elite rural nacional, travestida democraticamente, hoje, de agronegócio. Quem mexe na terra pode, a qualquer momento, mexer no apê dos outros, no carro e, horror dos horrores, na TV de plasma. A direitinha, então, se assanha como na canção de Guilherme Arantes: quem foi que disse que eles podem vir aqui, nas estrelas, fazer xixi?

O caso dos arrozeiros da Raposa Terra do Sol é emblemático. Para a classe média, que acompanha a história pela tevê, não é uma reserva indígena o centro do debate, mas o próprio capitalismo. Reforçar a causa indígena seria, portanto, como reforçar a tese dos movimentos sociais, do discurso da esquerda, antiquado e repulsivo à essa direitinha juvenil. Como de hábito, os conservadores reagem sob o manto da soberania. O Brasil está perdendo suas terras para os índios. Não há muito que se falar sobre isso, chega a dar um cansaço. Então, uma dica: qualquer idiota pode desmontar essa tese, até porque ela é restolho de uma outra, mais antiga, mais elementar.

A tese de que o patriotismo é o último refúgio do canalha.

Fonte: Carta Capital
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