segunda-feira, 7 de abril de 2008

O estado atual das primárias democratas

Por Idelber Avelar

Há várias teorias para explicar por que Hillary Clinton continua numa campanha que, tirando uma virada de mesa, já não tem chances de vitória. Uma delas, a mais maligna, é de que sua estratégia seria enfraquecer Obama com ataques durante as primárias para que McCain vença a eleição de 2008 e ela possa ser a candidata democrata em 2012. Não acredito que seja esse o caso, mas anda difícil fugir da sensação de que, mais que enfraquecer Obama ou dividir o Partido Democrata, a campanha de Hillary anda conseguindo é comprometer o legado da própria senadora.

É lamentável, porque tirando o voto a favor da guerra do Iraque, o voto pela renovação do Patriot Act, o voto a favor da comercialização das bombas de dispersão, o voto a favor da designação da guarda nacional iraniana como “terrorista”, o voto a favor do financiamento à TV Martí, o voto contra a normalização de viagens de cubano-americanos à ilha, o voto a favor das petroleiras no Golfo do México, o voto contra a redução do financiamento a Guantánamo, o voto contra a redução do efetivos no Plan Colombia, o voto contra a redução dos cortes de impostos para os ricos, o voto a favor da famigerada cerca anti-imigração, a ausência na votação da lei de falências, a ausência na votação da lei que tentou barrar contribuições a organizações que realizam abortos e a ausência na votação da imunidade legal das telefônicas que colaboraram com Bush na espionagem contra cidadãos americanos, até que o histórico de votação de Hillary Clinton no Senado não é ruim.

Mas sua campanha vem acumulando notícias desastrosas. Primeiro, foi a incrível mentira de que ela teria desembarcado na Bósnia sob fogo cruzado de franco-atiradores, logo contradita pelas imagens de uma chegada absolutamente normal (veja o incrível vídeo). Depois, vieram as notícias de que sua campanha anda em apuros financeiros, conseqüência de uma estratégia que enfatiza o poder de grandes doadores. Para completar a semana, revelou-se que Mark Penn, seu chefe de campanha, trabalhava como lobista junto aos colombianos em favor de um acordo comercial ao qual Hillary publicamente se opõe.

Dito tudo isso, acredito que os apoiadores de Obama deveriam deixar de lado os constantes pedidos para que Hillary abandone as primárias. É melhor se concentrar em terminar a partida logo. São 35 minutos do segundo tempo, o jogo está 3 x 1, e o time pode se concentrar em fazer o quarto e liquidar a parada, ou se fechar na defesa e esperar o tempo passar; mas ficar pedindo para o outro time jogar a toalha não funciona. A disputa pode terminar caso Obama vença na Pensilvânia no dia 22 de abril. A Pensilvânia, estado natal de Hillary, onde ela tinha até pouco tempo atrás uma vantagem de 17 pontos, nunca foi um lugar em que se cogitasse vitória de Obama. Mas já há pesquisas dando pequena vantagem a ele, entre outras que ainda apontam ligeira liderança dela. Até lá, com certeza, a novela continua.

Fonte: Blog O Biscoito fino e a massa


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