segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mídia e educação, na era Serra / A Abril e a Educação paulista

Por Luis Nassif

O acordo entre a Secretaria da Educação de São Paulo e a Editora Abril é emblemático e de uma gravidade muito maior do que as simples trocas comerciais que caracterizam os interesses cruzados na mídia.

Há poucos centros formadores de opinião no pais. A mídia é um deles; a escola, outra. Há uma diferença fundamental entre ambos.

O compromisso da mídia não são os valores permanentes: é o imediatismo do dia a dia. O da educação é a manutenção desses valores nacionais e universais, é fazer a ponte entre as diversas gerações, garantindo a continuidade desses princípios.

A mídia padece do que o ombudsman Mário Magalhães mencionou em sua despedida, do problema dos chamados interesses cruzados. O que se esperar de um material da Abril quando tiver que falar de temas contemporâneos que esbarram nos seus interesses cruzados?

Por seu compromisso com o imediatismo, a mídia busca o escândalo em qualquer fato, atropelando os direitos individuais. A escola deve focar nos aspectos éticos, na defesa dos princípios intemporais da civilização, os direitos individuais, o apego a valores.

Na hora de discutir questões como desarmamento, aborto, direitos, democracia, a escola tem que se pautar pela grande linha evolutiva da humanidade, pelos princípios que passam pelo Iluminismo, pela Revolução Francesa, pela democracia americana, pelo advento das políticas sociais, enfim pelos princípios permanentes e evolutivos. A mídia se pauta pelo que irá vender em sua próxima edição e pelas parcerias cruzadas.

Tomem-se os valores nacionais: o apego à cultura nacional, a preservação dos valores, da história. Essa é a matéria prima da escola. Na mídia, o modismo do momento enaltece o achincalhe ao amor próprio nacional, a informação como instrumento de disputa politica

Não se considere que tudo o que venha da escola é isento. Especialmente na escola pública, por vezes há excesso de politização, instrumentalização das idéias, exercício da intolerância.

Mas os primados de um bom modelo educacional são a consolidação dos compromissos com a formação, com a tolerância, com a diversidade de idéias. Portanto há um desafio a ser enfrentado por dentro do sistema educacional, nada que não possa ser aprimorado porque esses valores de qualquer modelo pedagógico que se preze.

Ao transferir à uma editora midiática a responsabilidade de selecionar e interpretar fatos, à luz do imediatismo, dos valores, dos interesses cruzados que caracterizam a mídia de massa, o governador José Serra investe contra todo o discurso que fez até hoje, com os princípios de sua formação política, com a resistência que parecia ter a essa pasteurização ideológica proveniente do pensamento único da mídia.

Por Ricardo Pereira

Como ex-professor de uma escola publica, o que me preocupa é que isto criará na populaçao estudantil uma sedimentaçao prematura de um pensamento baseado em conceitos muito distintos do que um educador espera encontrar em um adulto que passou por suas maos. Daqui a pouco, como quem nao quer nada, começarao a aparecer as pontas deste trabalho penumbroso, com a inserçao subliminar de uma visao de mundo absolutamente distorcida. Imagine isto num contingente de milhoes de alunos contrastando com outros milhoes de outros estados que nao adotarem este sistema de padronizaçao?

Leia também: A Abril e a Educação

enviada por Luis Nassif

A Abril e a Educação paulista

Por Cláudia de Assis

No final de 2007 a SEESP anunciou a nova matriz curricular para o Ensino Médio, que eliminou as aulas de Psicologia e Sociologia da rede e as de Filosofia, Educação Artística e Geografia do 3º ano noturno, diminuiu outras e instituiu uma nova disciplina: Apoio Curricular, que visa preparar os alunos do 3º ano do EM para o vestibular e o Enem. São seis aulas semanais que foram atribuídas como carga suplementar para os professores das áreas de Português, Matemática e Geografia (duas para cada área).

Paulo Zocchi , editor do Guia do Estudante-Atualidades do Vestibular, publicação da Editora Abril, participou de uma vídeo conferência aos diretores da Rede Estadual de Educação de SP no dia 02 de abril e retransmitida hoje, sábado, com pequena modificação ao final, aos professores da disciplina Apoio Curricular. Informou que a SEE SP adotou o Atualidades Vestibular 2008 e vai distribuir o material aos alunos e professores da Rede. O Consultor do Atualidades é o professor Roberto Candelori que é colaborador do Fovest (caderno de vestibular da Folha de SP).

A vídeo conferência de 02/04/08 e o material para as primeiras aulas estão no site, as revistas devem chegar às escolas no dia 18: clique aqui

Aqui, o vídeo

Acho tudo muito esquisito, mas agora torço para que o material seja mesmo bom.

PS - Aqui, entrevista de Páginas Amarelas da Veja com a Secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro: clique aqui

Aqui, matéria da Veja de 5 de dezembro de 2007, enaltecendo o trabalho da Secretaria da Educação (clique aqui).

Comentário

O portal do principal veículo da Abril, a Veja, aquele que reflete a opinião da casa, dissemina opiniões racistas, homofóbicas, intolerância, difamação e agressividade. A própria revista tem como linha editorial disseminar o ódio e a intolerância. A revista é claramente partidarizada. Enfim, nenhum dos atributos que se espera de um educador.

A imagem da Abril pedagógica, responsável, é uma foto esmaecida, dos tempos em que publicava "Os Pensadores", "Os Economistas", os fascículos. Hoje em dia, a cara da Abril é a cara da Veja.

Mesmo assim, a Secretaria da Educação entrega à Abril a responsabilidade pela seleção e análise dos fatos contemporâneos, para todos os alunos da rede estadual.

Recentemente entrevistei a Secretária Maria Helena que me disse que o Estado iria desenvolver cursos apostilados, comprando conteúdo e direitos autorais dos professores, para ter controle sobre o material e reduzir os custos.

Montar um sistema de publicação de notícias e análises, como esse da Abril, depende de duas coisas simples: uma redação com poucos nomes; e uma gráfica do Estado. E o Estado tem a Imprensa Oficial, das maiores gráficas do país.

Seria bom a Secretaria explicar melhor a natureza desse contrato.

enviada por Luis Nassif - Fonte: Blog do Nassif
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: