segunda-feira, 7 de abril de 2008

Banco Central Brasileiro: fica feio voltar atrás?

por Márcia Pinheiro

Não é mais uma questão de análise técnica ou conjuntural. O Banco Central previu tempestades no horizonte brasileiro na última Ata do Copom e no Relatório Trimestral de inflação. Agora, “ficaria feio voltar atrás”, disse-me um executivo do mercado financeiro. Ele apenas reproduziu o blá-blá-blá sobre a credibilidade da autoridade monetária, que os bancos repetem como um mantra. Por isso, enfatizam, o que está à mesa não é se Copom vai ou não elevar a Taxa Selic na reunião de 15 e 16 próximos. Mas quanto será a magnitude da alta do juro: 0,25 ou 0,50 ponto porcentual.

O Ministério da Fazenda, todos sabem, luta com todas as armas para que o BC não faça essa besteira. Uma alta do juro deterioraria ainda mais as contas externas brasileiras, pois atrairia capitais em busca de régio retorno financeiro e prejudicaria as exportações, como vem acontecendo a olhos vistos. O superávit da balança comercial brasileira foi de apenas um bilhão de dólares em março, 69% menor do que no mesmo mês de 2007. Pior: a dívida mobiliária federal é de 1,2 trilhão de dólares, 34% dos quais indexados à Selic. Dá para entender o estrago que 0,25 ou 0,5 ponto a mais de juro faria no endividamento do País?

O ministro Mantega já impôs IOF sobre aplicações de estrangeiros, um sinal que busca saídas para o juro não subir. Acenou com restrições aos prazos dos financiamentos, principalmente de veículos, e com corte de gastos. Essas duas últimas iniciativas não vingaram. Mas não se pode dizer que a Fazenda esteja paralisada diante da ameaça da caneta de Henrique Meirelles. Por ora, não há perigo algum para o cumprimento da meta de inflação, de 4,5% neste ano, com um intervalo de dois pontos porcentuais a mais ou a menos.

E não me venham falar de independência do BC, etc, etc. A equipe de Meirelles tem em mãos dois instrumentos-chave para a economia nativa: câmbio e juro. Não é justo que o País sofra, simplesmente porque fica feio voltar atrás. Feio é ver os estragos no balanço de pagamentos e abortar o crescimento.


Dica econômico-cultural
Comecei a devorar um livro incrível sobre os grotões da China. Chama-se O Segredo Chinês – Milagre Econômico e Vida Rural na China de Hoje, recém-lançado pela Editora Record. Foi banido da terra das Olimpíadas, evidentemente. Os autores são um casal de jornalistas chineses, que mostram um outro lado do país, miserável, explorado e sem direitos, no qual vivem mais de um bilhão de cidadãos excluídos do boom econômico asiático.

Fonte: Carta Capital
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