sábado, 12 de abril de 2008

TODOS OS "PODRES" DOS PRÉ-CANDIDATOS À CASA BRANCA

Por Luiz Carlos Azenha

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Antes de se eleger presidente Bill Clinton tinha um lembrete escrito na parede do quartel-general da campanha por um assessor: "É a economia, estúpido". Uma tentativa de lembrar o candidato de que ele devia se concentrar no tema que realmente interessava aos eleitores, justamente quando Clinton competia com Bush pai, vencedor da primeira guerra do Golfo, num momento em que a economia americana ia mal das pernas. O mesmo cenário pode se repetir em 2008.

Porém, no período que antecede a escolha dos candidatos à Casa Branca a frase do momento é outra: "É a franqueza, estúpido". Os eleitores americanos dão sinais de que estão fartos das campanhas abertamente marqueteiras, dos discursos que mudam de acordo com o público e dos políticos que baseiam suas plataformas exclusivamente no resultado de pesquisas de opinião. "Franqueza" e "mudança" estão em alta.

Além de intimidar os homens, Hillary Clinton é vista por alguns eleitores como "oportunista" pelo fato de que não abandonou Bill Clinton quando se tornou público o envolvimento dele com a estagiária Monica Lewinsky. Lembrem-se que Bill Clinton disse nunca ter mantido relações sexuais com a moça; tecnicamente pode até ser verdade, uma vez que ela praticava sexo oral no presidente. Ou sexo oval, uma vez que isso acontecia no salão da Casa Branca que leva esse nome.

Barack Obama, por sua vez, não faz campanha como candidato dos negros. Ele cresceu no Havaí e na Indonésia, estudou na Universidade de Columbia, em Nova York, e formou-se advogado em Harvard. Tem um perfil completamente diferente dos candidatos à presidência negros que o antecederam - Jesse Jackson, por exemplo - que ascenderam como ativistas do movimento por direitos civis. Obama foi eleito senador por um distrito eleitoral do estado de Illinois que tem eleitores brancos e negros. Obama é suscetível a ataques porque admitiu ter fumado maconha e cheirado cocaína quando era jovem, tem o nome Barack Hussein Obama e viveu, quando criança, num país muçulmano - a Indonésia -, embora seja cristão.

Por ter passado oito anos na Casa Branca como primeira-dama, Hillary Clinton é vista como "insider", alguém "de dentro do sistema", que é muito "ensaboada" com a verdade; Obama, embora senador, é visto como um político que não está metido com os grandes interesses econômicos. Numa frase típica de sua campanha, o senador diz que hoje em dia os pais de classe média baixa nos Estados Unidos "precisam competir por emprego com os filhos adolescentes, pela vaga que paga 7 dólares por hora no Wal Mart". Sete dólares por hora é o salário mínimo nos Estados Unidos. Trabalhar no Wal Mart, para o eleitorado americano, só é pior do que fritar hamburguer no McDonald's, uma vez que a maior empresa do mundo é conhecida por pagar pouco, por não dar benefícios e por combater os sindicatos. Ou seja, Obama fala em um problema que afeta tanto brancos quanto negros.

Dos candidatos viáveis, o senador John Edwards é o que faz o discurso mais populista. Advogado milionário que fez carreira processando grandes corporações, ele promete eliminar os cortes de impostos concedidos pelo governo Bush aos mais ricos. "De quanto dinheiro essa gente precisa?", diz ele. Ele ataca a "glorificação dos lucros", a Exxon Mobil e a Halliburton - empresa onde trabalhou o vice-presidente Dick Cheney e que foi beneficiada com gigantescos contratos do Pentágono para trabalhar no Iraque. "A América não pertence a eles. Pertence a nós", diz o advogado, cuja fortuna é estimada em 30 milhões de dólares. O fato de que esse discurso parte de um milionário afeta a credibilidade do senador.

Mas o homem mais rico em campanha é o ex-governador de Massachussets, Mitt Romney, um republicano que trabalhou no mercado financeiro e é filho de milionário. Romney tem bens estimados em U$ 350 milhões. Ele é um republicano clássico, defensor do corte de impostos e da redução do estado. Para ganhar credibilidade junto aos republicanos de classe média baixa, que se ligam no patriotismo e no direito de ter armas em casa, Romney disse que tinha sido caçador a vida inteira. Mas os repórteres foram checar e ele só havia caçado duas vezes, não é proprietário de arma e não tem licença de caçador.

Romney mudou de posição em relação a três assuntos: aborto, imigração e gays. Para se eleger governador de um estado liberal, como Massachussets, ele adotou uma plataforma moderada. Agora, de olho na Casa Branca, é contra o aborto, os imigrantes ilegais e o casamento gay. Um dos "problemas" de Romney diante do eleitorado é de que é mórmon e, portanto, dificilmente terá o apoio da direita religiosa que é essencial na coligação republicana.

Os católicos conservadores e os evangélicos estão com Mike Huckabee, o pastor batista que se apresenta como o "candidato cristão". Num dos temas mais importantes para os republicanos, o da imigração ilegal, Huckabee tem uma posição bastante dura: quer expulsar os 14 milhões de ilegais dos Estados Unidos e fazer com que eles tentem obter a cidadania americana desde seus países de origem. Mas ele desperta desconfiança nos republicanos "clássicos" porque, quando governador do Arizona, implementou aumentos de impostos, defendeu atendimento médico para filhos de imigrantes ilegais e perdoou um preso por estupro que, depois de sair da cadeia, reincidiu.

O terceiro republicano com chances de vitória é o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani. Mas ele anda em baixa. Um adversário democrata disse que Giuliani só sabe formar frases "que incluem um substantivo, um verbo e 11 de setembro", numa referência ao fato de que Giuliani enfatiza o papel que teve depois dos ataques terroristas de 2001.

Giuliani tem um amplo telhado de vidro: bombeiros e policiais dizem que ele não equipou as forças de Nova York para enfrentar tragédias como a de 11 de setembro - na ocasião os rádios de comunicação da polícia e dos bombeiros falharam -; Giuliani não conseguiu dar uma explicação satisfatória, ainda, para o fato de que usou seguranças pagos com dinheiro público durante as escapadas que dava para ver a então amante, com quem se casou. E o mais grave, diante do eleitorado conservador: os filhos de Giuliani, que vivem com a ex-primeira dama de Nova York, mal falam com o pai. Tanto Giuliani quanto a atual mulher dele, Judith, estão no terceiro casamento.


Fonte: Vi o Mundo
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