quinta-feira, 10 de abril de 2008

DEPOIS DE MANIFESTAÇÃO E VIOLÊNCIA POLICIAL, BNDES PROMETE CRIAR CLÁUSULAS SÓCIO-AMBIENTAIS

Por Agência Petroleira de Notícias (*)

Dezenas de trabalhadores rurais e representantes de movimentos sociais realizaram ato na última quarta-feira (26) na frente do BNDES, no Centro do Rio, para exigir a alteração da ordem de prioridades nos financiamentos do banco estatal, que vem privilegiando o agronegócio e grandes empresas privadas. Depois de alguns manifestantes serem agredidos pela Polícia Militar, a comissão do ato conseguiu ser recebida pela direção do BNDES e garantir a criação de cláusulas sócio-ambientais para os financiamentos do banco, a não liberação de um bilhão de reais para Aracruz Celulose e a criação de um grupo de trabalho de agricultura ambiental e meio ambiente.

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Os manifestantes só foram recebidos às 13h30, depois de mais de três horas em frente ao banco, pelo diretor da área social, Elvio Gaspar, e o de administração, Maurício Lemos, ambos do Conselho de Crédito (onde se define a política de financiamento), além de Ricardo Henrique, chefe de gabinete da presidência do BNDES. A comissão do movimento, com representação do MST, Contag, Fetag, Fetaeng, MTL, Rede Alerta, grupo de quilombolas e de caciques, apresentou a pauta de reivindicações. Fizeram questão de enfatizar que o banco é co-responsável, inclusive criminalmente, por tudo aquilo que financia. A favelização das cidades, subemprego, rede de prostituição, desmatamento, poluição e destruição ambiental causados por empreendimentos apoiados financeiramente pela instituição também são de responsabilidade dela.

BNDES assume compromissos
O dinheiro público, através do BNDES, está concedendo financiamentos bilionários às monoculturas predatórias de eucalipto e cana de açúcar, que promovem grande desastre ecológico e avançam, cada vez mais, sobre a Mata Atlântica, o Cerrado e a Amazônia. Apresentada essa análise, a direção do banco assumiu alguns compromissos. O primeiro foi de construir cláusulas sócio-ambientais para nortear os financiamentos públicos. Caso as cláusulas não sejam respeitadas, a liberação dos recursos pode ser paralisada no meio da obra.

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A segunda questão tratada foi a exigência do movimento de que não fosse liberado o 1 bilhão de reais solicitado pela empresa Aracruz Celulose para sua instalação no estado do Rio de Janeiro. Os diretores do BNDES garantiram que não há pedido formal algum sobre isso no Comitê de Crédito e, sendo assim, não há qualquer solicitação da Aracruz em processo de análise. Eles disseram que é comum uma empresa anunciar na mídia esse tipo de coisa para agregar novos financiadores. A ressalva feita é que, no máximo, eles podem ter entrado com uma carta consulta pela internet. Isso os diretores presentes na reunião não puderam confirmar e prometeram desfazer essa dúvida até a próxima semana.

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O último ponto apresentado pelos representantes do banco foi o compromisso com a redução das restrições de financiamento às associações populares e a criação de um grupo de trabalho de agricultura familiar e meio ambiente. A constituição desse grupo foi comemorada pelos manifestantes, pois em toda a história do BNDES essa é apenas a terceira vez que a instituição financeira estabelece um canal direto de comunicação com o movimento social. A primeira reunião dessa comissão foi marcada para a próxima sexta-feira, 4 de abril, às 10h, no BNDES.

Devido ao avançar da hora, o ingresso da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) contra a lei do que favorece os interesses econômicos da Aracruz Celulose, segunda atividade prevista pelo movimento para essa quarta, ficou para o dia seguinte (27 de março). Essa lei do Governo Sérgio Cabral autoriza o plantio de eucalipto em larga escala, sem obrigatoriedade do licenciamento ambiental.

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- O texto da ação já está pronto. Mas como o dia hoje foi bastante desgastante e precisamos seguir alguns processos burocráticos, daremos entrada nessa quinta na ADIN - avisa o ambientalista e integrante da Rede Alerta contra o Deserto Verde, Sérgio Ricardo, que conclui: "Vamos seguir batendo na tecla junto ao BNDES e mostrando que eles poderão ter uma grata surpresa ao investir na agricultura familiar, pois essa não agride a natureza e gera muito mais emprego que o agronegócio."

Polícia agride trabalhadores do campo
Por volta de meio-dia, a polícia mostrou sua face mais repressora. Trabalhadores do campo se reúnem para montar o fogão e demais utensílios do almoço dos participantes do ato, quando os guardas da Polícia Militar aparecem para apreender os bujões de gás. Militantes do MST resistem, alegando que apenas providenciavam a alimentação do grupo. Os policiais então elevam a violência na abordagem. Desferem golpes de cassetete e disparam gás de pimenta.

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Nessa confusão, Marcelo Luiz Souza, 25 anos, coordenador da região sul do MST-RJ, foi seguro e levado para dentro do BNDES. No mesmo momento, toda a manifestação se voltou para a frente da porta onde Marcelo encontrava-se retido. Aos gritos de "solta, solta!", iniciou-se um processo de diálogo para liberação do sem-terra. As falações passaram a se suceder com mais ênfase, os gritos subiam o tom e os participantes se agitavam mais. Foi quando ouviu-se um rotundo e esfuziante som de aclamação dos presentes, comemorando a soltura do jovem militante, que tranqüilizou a todos dizendo não ter sido agredido.

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Manifestar sua indignação contra a destruição do solo, da natureza. Exigir o fim do favorecimento aos capitalistas do agronegócio e apoio ao cultivo familiar e à reforma agrária. Era apenas isso que buscava o povo ali presente, perplexo com a violência do estado. Mesmo com toda a opressão, uma palavra de ordem repetida diversas vezes na atividade foi plantada no coração dos que passaram em frente ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social: "Agronegócio só traz pobreza. Propomos para o mundo a agricultura camponesa."

(*) www.apn.org.br

Fonte: Fazendo Media


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