terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ano 2079: notícias de um mundo mais quente

por Leonardo Sakamoto

O clima do planeta vai mudar por conta do aquecimento global. Podemos minimizar os impactos, mas que eles virão, ah virão. Não dá para prever exatamente como será a realidade de nossos filhos e netos e mesmo daqueles entre nós que ainda estarão vivos neste novo mundo do final do século. O que é possível prever, certamente, é que eles vão culpar a nós pelo que fizemos e o que deixamos de fazer, pelo nosso consumismo idiota, pela ganância desmesurada e pela incompetência política.

Os principais jornais do mundo têm uma coluna relembrando fatos passados: há 50 anos, há 100 anos… Com a ajuda de amigos, fiz um exercício inverso, de futurologia: Daqui a 70 anos. Algumas são mais verossíveis, outras nem tanto. Mas se alguém dissesse, há 70 anos, que nossa geração seria responsável por jogar o planeta no vaso sanitário e dar a descarga, quem acreditaria?

Internacional
Uma cerimônia em Pequim celebrou os dez anos da parceria estratégica “Lixo por Comida” no qual os países da região do Saara recebem o lixo produzido na China em troca da oportunidade oferecida aos cidadãos da região de vasculhar restos de alimentos nos contâiners e usarem a sucata para os mais diversos utensílios.

O Saara e a Antártida são os dois últimos grandes depósitos terrestres vagos de lixo no planeta. O custo mais baixo de despejar resíduos no deserto africano manteve uma vantagem produtiva para as empresas sediadas na China após o espaço do deserto de Gobi ter se esgotado.

Na semana passada, a cidade de São Paulo fechou o mesmo acordo com a prefeitura de Gilbués, no Piauí.

Economia
O governo federal declarou, em nota, que irá zerar a alíquota para importação de verduras, frutas e legumes vindos da Patagônia e Chile. O objetivo é combater os preços abusivos cobrados por esses produtos devido à drástica redução de oferta no Sudeste desde a mudança no regime de chuvas.

A aposta de que as espécies geneticamente modificadas conseguiriam se adaptar a um ambiente mais seco pós-colapso do clima não se cumpriu. Os produtores de soja e feijão da região de Mogi das Cruzes, que haviam comprado as pequenas propriedades rurais do antigo cinturão verdade da capital paulista, pedem que o governo financie a transposição e a dessalinização da água do mar para irrigação.

Cotidiano – São Paulo

A prefeitura de São Paulo fará, neste domingo, um show para comemorar a retirada da última carcaça de automóvel do Grande Congestionamento de 2034. Na ocasião, o trânsito da capital paulista travou por 24 horas. Os motoristas abandonaram seus carros e a prefeitura considerou que seria mais simples depositar concreto sobre os veículos, construindo vias expressas mais modernas e tirando 5 milhões de carros de circulação.

Com o esgotamento da mina de Carajás em 2056, a multinacional Avert (Anglo-Vale Rio Tinto Inc.) decidiu por comprar do governo municipal o aço dos automóveis, refazendo as vias originais.

Política
Começa na próxima quinta (21), o leilão de matrizes de nelore em Altamira, o mais importante do país. Os pecuaristas prometem fazer barulho e levar seus tratores e colheitadeiras para fechar os pedágios da rodovia Transamazônica. Na pauta de exigências está a concessão gratuita dos últimos trechos disponíveis da Floresta Nacional do Tapajós.

As autoridades do Estado de Tapajós querem igual tratamento para seus produtores que o recebido pelo Estado de Carajás, quando os últimos remanescentes indígenas foram indenizados pelo governo federal para deixarem suas reservas – hoje distribuídas entre os sojicultores e os pecuaristas de São Félix do Xingu. Reclamam que foi exatamente por conta dessa “discriminação” que eles se desmembraram do Estado do Pará em 2021. O MST promete uma marcha para Brasília no mesmo dia.

Cotidiano – Rio de Janeiro
A prefeitura do Rio de Janeiro inaugurou ontem o Aquário de Copacabana, com um show de João Gilberto, que mostrou ainda ter vigor e reclamou do retorno do som. O Aquário foi construído com a substituição das barreiras de contenção da orla, que eram de concreto, por mais modernas, de alumínio transparente. A antiga barreira fora colocada em 2031 após o nível do mar subir devido ao aquecimento global e a ressaca atingir o salão de festas principal do hotel Copacabana Palace.

Cultura
O governador do Estado do Mato Grosso do Sul inaugurou, na última terça, o Museu do Pantanal. O complexo de edifícios, construído em Corumbá, traz exemplares de pássaros e roedores empalhados que viviam na região e uma extensa coleção de sementes. Um mapa dos limites do Pantanal antes e depois do fim das cheias sazonais mostra o resultado do impacto do agronegócio nas cabeceiras da região. A contrução do museu, produzido com tecnologia ambientalmente responsável, só foi possível graças a uma parceria com a federação estadual das usinas de etanol.

A entrada para adultos custa 45 yuans.

Fonte: Blog do Sakamoto

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