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por Wagner Iglecias
A cena política brasileira nas últimas semanas foi recheada de escândalos. Do uso indiscriminado de passagens aéreas na Câmara dos Deputados à descoberta dos atos secretos no Senado, pouco se falou de algo que não tivesse a ver com corrupção ou com alguma forma de apropriação privada daquilo que, em tese, deveria ser patrimônio público. Escândalos à parte, crise econômica aparentemente superada e a popularidade de Lula cristalizada nas alturas, o fato, no entanto, é que nossa classe política, no fundo, não pensa em outra coisa: a eleição presidencial de 2010.
Até outro dia a dúvida era se Dilma Rousseff seria mesmo a candidata palaciana, dada a divulgação de sua doença. Ao que consta, o tratamento teria sido bem-sucedido e a ministra da Casa Civil permanece candidatíssima. No campo opositor parece ter arrefecido um pouco a disputa Serra-Aécio e, pelo que sopram os ventos do tucanato, o governador paulista deverá ser candidato.
O cenário é quase perfeito para Lula, que gostaria muito de que sua sucessão tivesse jeitão plebiscitário. ‘Gostou do meu governo? Acha que sua vida está melhor hoje que há oito anos? Então vote na companheira Dilma aqui, minha candidata’. Assim, nestes termos, com popularidade alta e consolidada, e com bons números na economia, que no fim das contas se traduzem em mais comida na mesa e mais dinheiro no bolso do povão, a candidatura governista seria favorita.
Serra, que tem o recall dos tempos de ministro da Saúde e da disputa presidencial de 2002 e o voto majoritariamente conservador de São Paulo, poderia até liderar as pesquisas de intenção de voto, mas teria dificuldade de bater a candidata situacionista. Ou seja, apesar das pesquisas favoráveis, o cenário daqui até as urnas seria cada vez mais difícil para o tucano.
Eis, porém, que junto com a malhação a Sarney surgiu o balão de ensaio da candidatura da ex-ministra do meio ambiente Marina Silva. Petista histórica, ambientalista, de correta trajetória política, Marina parece ter sido defenestrada do governo por conta de sua oposição aos tratores do PAC. Se candidata, mesmo no pequeno PV, pode bagunçar o enredo plebiscitário imaginado por Lula. Deverá ir para a campanha carregando sua óbvia bandeira ambientalista, de importância fundamental, mas se restringir seu programa a uma pregação monotemática, como fez Cristovam Buarque em 2006 em relação à educação, provavelmente não será uma candidata competitiva.
No final das contas poderá ser útil para introduzir um pouco de imponderabilidade no cenário bipolar que se desenhava até outro dia e, neste caso, favorecer a candidatura de José Serra.
*Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Fonte: Correio da Cidadania
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Um comentário:
A frase é do poeta adolescente Arthur Rimbaud:
"O insuportável
é que nada é insuportável."
" O insuportável é que nada é insuportável."
Observa minh'alma
Eterna,o teu voto
Seja noite só,
torre o dia em chama
Achada, é verdade?!
-Quem?- A eternidade.
É o amor que o sol invade.
Nos bosques tem um pássaro, você pára e cora com seu coro.
Tem um relógio que não toca nunca.
Tem uma brecha no gelo com um ninho de bichos brancos.
Tem uma catedral que sobe e um lago que desce.
Tem uma pequena carruagem abandonada na moita, ou que passa correndo,
decorada.
Tem uma trupe em trajes de comédia, espiada pela trilha da floresta.
E então, quando você tem fome e sede, tem sempre alguém que te manda
passear.
Arthur Rimbaud
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