Já temos centro realismo. É o Sarney
por Luiz Carlos Azenha
Rodrigo Vianna, um jovem tenista que conheci na quadra de saibro do Pacaembu, apesar de jovem sabe muito de História.
É o que falta aos jovens brasileiros, especialmente àqueles que não viveram sob a ditadura militar: conhecimento histórico.
Então esses jovens falam em "centro realismo", que poria fim às classificações de esquerda ou direita no Brasil. Essa idéia nem brasileira é. Vem dos Estados Unidos, de Barack Obama. É a política do possível.
Eu diria que isso é uma adequação à nova realidade das democracias ocidentais, onde o poder se transferiu crescentemente do estado para as grandes corporações. O novo papel do governante seria o de intermediário entre os grupos de interesse, os lobbies das grandes corporações e dos movimentos sociais organizados. Daí a idéia da "política do possível", do "pragmatismo". Obama está lá, nesse momento, costurando um sistema de saúde público, tentando agradar seu eleitorado sem desagradar grandes interesses econômicos que tiram proveito do fato de não existir um sistema público de saúde no país.
Na América Latina, no entanto, como reação ao desmonte do estado promovido pelo neoliberalismo, a esquerda chegou ao poder pelo voto e tem demonstrado que resgatar o estado é essencial para distribuir renda e não ficar à mercê da "mão invisivel" do mercado.
Será por acaso que a América Latina sairá antes da crise econômica que outras regiões do mundo? Não. É justamente porque os governantes da região dispunham de ferramentas públicas -- no Brasil, os bancos estatais -- para enfrentá-la.
Centro realismo, francamente, já temos: é o Centrão, o grupo de parlamentares que se agrega em torno do PMDB.
O Rodrigo Vianna diz que o Centrão de agora -- a turma do Sarney -- faz o papel do extinto PSD.
Fonte: Vi o Mundo
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UDN, PSD e PTB: com outros nomes, eles sobrevivem e disputam o poder no Brasil
por Rodrigo Vianna
Os leitores mais novos devem me achar um "tiozinho" meio chato - por causa dessa mania de falar em UDN e Getúlio Vargas, como metáforas para pensar em Lula e na oposição demo-tucana.
Mas vou correr o risco, e insistir no tema.
Vargas reunia PTB e PSD para enfrentar os corvos; Lula precisa fazer o mesmo porque a UDN vem babando
Inspirei-me num belíssimo comentário do leitor Fernando Trindade a meu último texto - sobre Marina, Gil e a hipocrisia da nova UDN - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/gil-pra-marina-no-pv-ob-observando-hipocritas.
Fernando disse:
"(...) sem alianças Lula não teria sequer concluído o primeiro mandato. Esse foi o grande problema no pré-64 que levou ao golpe, o rompimento da aliança do PTB com o PSD. No Brasil, gostemos ou não, o centro fisiológico (que não é necessariamente corrupto, aliás) é o fiel da balança. Nos idos de 1963, quando o PSD passou para o lado da UDN, a esquerda ficou isolada e tivemos a tragédia do golpe. E o objetivo do PIG e seus aliados é exatamente descolar o centro fisiológico do Governo Lula para isolá-lo e derrotá-lo."
Além de resumir bem a correlação de forças que levou ao golpe de 64 (não esqueçamos, claro, o peso da Guerra Fria e da CIA no episódio), o comentário fez-me concluir o seguinte: no Brasil continuam a existir só três partidos - UDN, PSD e PTB *.
No pré-64, PTB e PSD jogavam juntos. A UDN, isolada (mas dominante nos grandes jornais, como hoje), só chegou ao poder em 61 - quando capturou Janio Quadros e pensou que governaria com ele. Janio tinha outros planos. Numa noite de agosto, tomou um porre maior do que o habitual, e renunciou.
O poder voltou ao eixo PSD-PTB com Jango (lembremos que o eleitor, naquela época, podia votar no presidente de uma chapa, e no vice de outra; na eleição, Jango não era vice de Janio, mas teve mais votos, e virou o vice-presidente eleito).
Pois bem. Parte do sucesso do golpe de 64, como resume bem o Fernando Trindade, explica-se pelo fato de a UDN ter conseguido atrair parte do PSD para o barco do golpismo.
Avancemos 30, 40 anos na história...
No período recente, pós-ditadura, a neo-UDN mostrou-se mais competente nas alianças. A UDN (PSDB-PFL) conseguiu atrair o PSD (PMDB) para o governo FHC. O PTB (PT e as esquerdas) ficou isolado.
Em 2002, o PTB (PT e as esquerdas) atraíram o PSD (PMDB e outros pequenos partidos centristas). Foi o que garantiu a vitória e o suporte ao governo Lula. As vestais da ultra-esquerda não tinham entendido isso ainda?
Pois bem: toda a estratégia serrista agora consiste em quebrar essa aliança. Por isso o "escândalo Sarney". Por isso vale pancada na Petrobrás (a nova UDN, como a antiga, não gosta muito do Brasil; avha "nacionalismo" um troço meio antiquado).
Sarney, no pré-64, era UDN. Hoje, está no neo-PSD (PMDB).
Serra, que no pré-64 estava mais próximo do PTB, hoje comanda a neo-UDN.
Lula sabe que precisa da velha dobradinha PTB-PSD pra ganhar em 2010. À nova UDN restará bater às portas da mídia, como os corvos de Carlos Lacerda no pré-64 batiam às portas dos quartéis.
Hoje, a quartelada pode vir da imprensa! É ali que a UDN tucana tem força.
Lula e o PT precisam se livrar dos restos de UDN que ainda se prendem ao partido.
O PT precisa terminar sua transição, assumindo-se como um partido social-democrata à brasileira. Ou seja: o PT precisa assumir que é um PTB getulista, renovado.
Alguns, na extrema-esquerda, não gostam disso.
Eu não me importo. Primeiro, por razões pessoais: sempre fui um brizolista/trabalhista - "obrigado" a votar no PT por morar em São Paulo. Segundo, por razões políticas: olho a correlação de forças e não vejo outra saída no Brasil.
Outros, com estômago frágil, sentem-se enjoados por ver o PT perto de Sarney. O Brasil exige estômago forte!
Até porque a UDN - como sempre - está babando de raiva.
Se o PSD correr pro lado deles, o PTB será esmagado.
Se estiverem juntos (e ainda mais com a economia crescendo), PTB e PSD serão imbatíveis em 2010, como sempre!
JK e Vargas sabiam disso. Lula também sabe.
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* evidentemente que, do ponto de vista histórico - e historigráfico - não faz sentido dizer que UDN, PSD e PTB são os únicos partidos do Brasil. Trata-se de "licença jornalística". Simples exercício interpretativo, baseado em nossa história recente.
Fonte: O Escrevinhador
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