por Luiz Carlos Azenha
Na recente viagem que fiz à África, de quase 45 dias -- Moçambique, África do Sul, Botsuana e Namíbia -- confirmei o que já tinha visto antes, na Jordânia, no Vietnã, em Gana, no Quênia e no interior do Brasil.
O grande negócio do momento, negócio de massas, é a telefonia celular. Em algumas regiões da África tem gente comprando celular ainda que não haja sinal no lugar de moradia. É para usar o aparelho nas visitas à cidade. E, por todo lado que ando, observo outro fenômeno: o das lanhouses.
Bata perna em Aman, em Maputo ou em Hanói e pergunte a qualquer cidadão na rua, sem ensaiar: sabe onde tem uma lanhouse? Ele vai indicar alguma biboca enfiada num beco escuro ou, em casos especiais, num shopping center. Qual era a vantagem competitiva do hotel tocado por empresários chineses em Nampula, no interior de Moçambique? Internet wireless no restaurante e nos quartos. Isso numa cidade em que boa parte da população não tem acesso a água limpa, energia elétrica ou coleta de lixo e esgoto.
O mundo, se você não sabe, é pobre. Muito pobre.
Porém, assim como se diz que já não existe mais time de futebol bobo, houve uma mudança qualitativa recente no campo da informação.
As pessoas podem até não ter educação formal, mas nunca tiveram tanto acesso à informação, seja pelo rádio, pela TV, pela internet ou pelo celular.
Quando fui à universidade de Dar-Ul-Uloom, na Índia, onde foi desenvolvida a filosofia do talibã, qual era a notícia do momento? O espetacular número de acessos ao site da escola, através do qual os fiéis dessa vertente do islamismo tiravam suas dúvidas, de todas as partes do mundo.
Na África, os jogos de futebol europeu fazem um tremendo sucesso. Em construções improvisadas, pequenos empresários montam "cinemas" com arquibancadas e cobram ingresso para quem quiser ver as partidas. Fazem o mesmo com filmes piratas de Hollywood ou de Bolywood.
As informações circulam hoje como nunca circularam na história humana. E criam demandas sociais crescentes, especialmente nos países mais pobres. Estamos falando em bilhões de pessoas que, de uma só vez, passam a reinvindicar acesso à saúde, à educação, à segurança e aos bens de consumo.
São essas as demandas que terão influência na política do século 21. Questões concretas. Como escreveu um autor asiático, nunca o mundo mudou tanto pelo fato de que milhões de pessoas descobriram que querem ter um banheiro dentro de casa. Se possivel, com um vaso sanitário e descarga.
Fonte: Vi o Mundo
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