sábado, 22 de agosto de 2009

Um debate falso

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por Maurício Dias, na Carta Capital

O depoimento da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, feito no Senado, expôs o desespero da oposição de manter acesa a chama do denuncismo que alimenta as manchetes dos jornais e o noticiário político em geral.

Tudo o que se ouve e se vê faz parte do jogo maniqueísta que se pratica. Portanto, é elementar e superficial por definição. Sem condições de enfrentar a avassaladora presença das ações do governo, os oposicionistas inventaram uma pauta de acusações em que se transfere para os acusados o ônus da prova.

É uma agenda falsa que a dobradinha oposição e imprensa tenta impor ao governo. Neste caso, com o objetivo de desconstruir a candidatura de Dilma Rousseff.

Recorro ao insuspeito ex-deputado Roberto Jefferson, que, no blog dele, acompanhando o depoimento de Lina Vieira, arrancou a máscara do episódio:

“Por enquanto, o assunto continua a ocupar os jornais e os discursos, apesar de não haver provas e sequer a data exata em que Dilma teria pedido que a investigação contra a família Sarney fosse acelerada. Mas para matar a cobra nem sempre é preciso mostrar o pau – a mera hipótese já causa estragos.”

Expert em efeitos políticos especiais, desde que fez a denúncia, sem provas, do que ele próprio apelidou com sucesso de “mensalão”, esse veredicto de Jefferson não é contaminado de suspeição pela causa governista.

A oposição demo-tucana se iguala aos piores momentos do PT na oposição. Os efeitos, no entanto, são desiguais. Os atuais oposicionistas têm a imprensa à disposição, por afinidades políticas avoengas, e produzem resultados devastadores ao adversário, embora circunscritos quase inteiramente ao eleitor passivo do universo letrado e conservador.

A oposição, arrastada pelo passe livre que tem na mídia adota um princípio primário e equivocado: quanto mais as coisas pioram, melhores se tornam.

Por isso, faz sentido o esforço oposicionista para ignorar a agenda real do País.

O governo oferece à sociedade PAC, Bolsa Família, Unasul, ProUni, Cotas, os programas de luz e moradia popular, além do não alinhamento automático com os Estados Unidos, entre outras iniciativas políticas.

A oposição reage com uma agenda de interesse eleitoral, travestida de discurso ético. Um flagrante desse confronto: na quarta-feira 19, enquanto se trombeteava a denúncia vazia e suspeita de Lina Vieira, o governo anunciava que o programa Bolsa Família atingia a marca de 573 mil famílias beneficiadas.

José Sarney é outro exemplo fulanizado dessa agenda falsa.

Ao longo dos últimos 30 anos ou mais, a imprensa ignorou as denúncias contra os desmandos dele no Maranhão, estado cujo IDH ruboriza a nacionalidade. Concentrados em desmoralizar Sarney, aliado de Lula, os ex-aliados miram na desarticulação da base governista no Congresso.

A criação da CPI da Petrobras é resultado de outra trama. O foco em supostos problemas de corrupção deixa na sombra o propósito de enfraquecer o controle da decisão que está nas mãos do governo, cuja proposta, a construção de uma nova empresa para gerir a tarefa, reacende nos corações e mentes a campanha pela criação da Petrobras nos anos 1950: o petróleo (do pré-sal) é nosso.

A pauta real do País merece uma oposição forte. Conservadora, mas honesta nos propósitos políticos, capaz de orientar a decisão da sociedade. O que está em cena não é isso.

Fonte: Carta Capital

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