sábado, 22 de agosto de 2009

Por que aumentou tanto o partidarismo da mídia

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por Eduardo Guimarães




Cidadãos dotados de cérebros autônomos estão indignados diante do aumento do partidarismo da mídia, que, nas últimas semanas, chegou a um ponto no qual está ficando claro que, quando parece ter atingido seu auge, percebe-se que sempre pode ir um pouco mais longe.

Diariamente chego à minha residência pouco depois das 18 horas devido à bela vantagem de meu escritório ficar a 4 quilômetros de casa numa cidade como São Paulo. Dali até por volta das 21 horas, assisto a quase todos os telejornais – Gazeta, Band, Record e Globo.

Pela manhã, passo os olhos pelos meus blogs e sites favoritos, entre os quais estão os dos três maiores jornais do país. E, antes que me trucidem, explico que o termo “favorito” diz respeito ao recurso do navegador que uso para acessar a internet, onde se pode cadastrar os sites que se acessa com freqüência.

Rádio, ouço um pouco a CBN durante o percurso de 4 quilômetros entre meu escritório e meu apartamento, de segunda a sexta-feira.

Só leio muito raramente as revistas semanais, menos a Carta Capital, que compro quase toda semana. Veja, Época e IstoÉ não fazem parte dos veículos que leio porque de assuntos importantes (para quem?) que elas trazem, desde as denúncias até as mais rematadas bobagens os jornalões sempre acabam reproduzindo.

Leio, assisto e ouço veículos brasileiros e estrangeiros o tempo todo. Não faço outra coisa além de me informar. Alguns dizem que o faço exageradamente.

A percepção de que aumentou barbaramente o nível de partidarização desses meios de comunicação revelou-se, não só aqui na internet como até entre os leigos digitalmente analfabetos, uma percepção gritante. Trocando em miúdos: a sociedade como um todo percebeu o aumento dos embates políticos e vê a mídia no meio.

Cresce, agiganta-se no país a percepção de que tantas denúncias se devem à partidarização de meios de comunicação, à tomada de lado por esses veículos. E um entre os vários fatores que mais contribuíram para isso foi a guerra pela audiência entre a Globo e a Record. Só não se sabe se as pessoas vêem e aderem, em maioria, ou se vêem e desgostam do que viram.

Mas havia um componente oculto nesse processo crescente de desinteligência política que já estamos assistindo há quase um mês e eu não conseguia detectá-lo, até há pouco. Então descobri que existiam duas possibilidades.

Uma das teorias é a de que a mídia estaria colhendo resultados de sua estratégia de tentar desmoralizar Sarney, comprometer Lula e inviabilizar Dilma Rousseff eleitoralmente bem antes de sua campanha à Presidência chegar às ruas. Seria por isso que a mídia decidira intensificá-la.

Quando saiu a pesquisa Datafolha mostrando que sim, que algo fora conseguido com esse processo avassalador de acusações incessantes na mídia, cheguei a acreditar que a estratégia estaria funcionando.

Todavia, a recente pesquisa Vox Populi revelou que não, que a estratégia de bombardeio de saturação não estaria funcionando, e que, em vez de mudar de estratégia, a mídia e a oposição optaram por intensificá-la.

Outro dia, acho que foi na Globonews, assisti a um cientista político dizendo que não entendera a estratégia do recente programa eleitoral do PSDB de dizer ao país que ele estava falido por culpa de Lula, desprezando o fato de que o Brasil já vinha dando mostras de que deixaria a crise para trás. Criticou que os tucanos, em vez de falarem bem de si, optaram por fazer acusações questionáveis.

A mídia não mostra a realidade, mas uma interpretação dela. A que está mostrando sobre a política é produto simplesmente de seus anseios e pretensões. A grande questão que se coloca, é: dará certo?

Temos alguns indícios para mensurar se dará certo ou não. E, ao contrário do que muitos pensam, essa não é uma questão que possa ser respondida assim, de chofre, sem maior reflexão.

Tudo bem que, recorrendo ao histórico dessa estratégia durante os últimos anos, veremos que não funcionou em eleições federais, mas funcionou nas estaduais e municipais. A mídia fortaleceu decisivamente a direita tucano-pefelista no ano passado e em 2006 em várias partes do Brasil. Hoje, a oposição controla os maiores e mais ricos Estados e municípios.

Outra demonstração de poder midiático foi o dado da pesquisa Datafolha que revelou a ampla desaprovação de Sarney entre a opinião pública. Aliás, os atos públicos contra ele, por mais que tenham sido orquestrados no high society, demonstram que grupos sociais maiores adquiriram coragem de ir às ruas, sentindo-se fortalecidos pela mídia.

Contudo, a leitura do comportamento de Lula e de seu governo em relação à ofensiva midiática, se não for medo, como até cheguei a escrever aqui, pode ser estratégia bem pensada e que estaria funcionando. Aliás, o nível de passividade que se vê do governo diante da mídia pode decorrer de verdadeiro pavor ou de grande confiança.

A continuidade da passividade situacionista contra os avanços da oposição, quando aliada ao Vox Populi, insinua que não só as informações do Datafolha sobre Dilma e Serra podem ter sido manipuladas, mas que o que a pesquisa deu sobre Sarney também pode ser falso, e que o governo teria confiança nessas informações.

Acho difícil dizer, neste momento, o que é de fato que está acontecendo. Ambas as estratégias são arriscadas. A da mídia por poder estar carimbando em si mesma uma imagem consolidada de parte interessada na luta política, e a do governo por poder estar se deixando espancar até a beira da morte.

Esse processo, no entanto, só poderá continuar nessa toada até o início da temporada eleitoral. Dali em diante, a Justiça Eleitoral será obrigada a tomar medidas contra o que estão fazendo os meios de comunicação. Até lá, a oposição e sua mídia, de um lado, e o governo, de outro, ambos podem estar se suicidando.

Quem será o suicida, só saberemos no fim do ano que vem. Temos muito tempo de espetáculo pela frente. Melhor conter a ansiedade.

Fonte: Cidadania.com

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