domingo, 23 de agosto de 2009

A cruzada das mulheres - Para Dilma, Marina e Heloisa lerem em casa

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Tradução coletiva: Para Dilma, Marina e Heloisa lerem em casa

[Traduzido por @diegocasaes, @e_caparelli, @flavio_as, @fr_, @joaosergio, @M_Caleiro, @maria_fro, @paulagoes, @ticamoreno e @WordAwareness]

Nota do Viomundo: Descontando a condescendência dos americanos, costumeira quando tratam do "resto do mundo", o ensaio que segue resume um livro que trata de questões importantes para todas as mulheres. São princípios de uma política externa "feminista" de Hillary Clinton, que é interessante de conhecer.

Esse ensaio é uma adaptação de seu livro Half the Sky: Turning Oppression Into Opportunity for Women Worldwide [Metade do Céu: Transformando Opressão em Oportunidades para Mulheres ao Redor do Mundo], que será lançado no mês que vem por Alfred A. Knopf. Você pode saber mais sobre Half the Sky no site http://nytimes.com/ontheground.

A cruzada das mulheres


Por NICHOLAS D. KRISTOF e SHERYL WuDUNN*

no The New York Times (original em inglês aqui)

17 de agosto de 2009.

http://www.nytimes.com/2009/08/23/magazine/23Women-t.html


NO SÉCULO XIX, o maior desafio moral foi a escravidão. No século 20, foi a vez do totalitarismo. Neste século, é a brutalidade infligida a tantas mulheres e meninas em todo o mundo: tráfico sexual, ataques com ácido, noivas queimadas e estupros em massa.

Porém, o combate às injustiças que as mulheres sofrem nos países pobres é de primordial importância -- a oportunidade que elas representam em termos econômicos e geopolíticos é ainda maior. “As mulheres sustentam metade do céu”, diz um ditado chinês, embora isso seja na maior parte dos casos apenas uma aspiração: em grande parte do mundo, garotas são analfabetas e mulheres, marginalizadas.

Não é um acidente que esses mesmos países estejam desproporcionalmente afundados em pobreza e partidos por fundamentalismos e caos. Há um reconhecimento crescente por todos – do Banco Mundial aos membros do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA e a ONGs como CARE - de que concentrar políticas assistenciais em meninas e mulheres é o mais efetivo modo de combater a pobreza global e o extremismo. É por isso que a ajuda externa tem sido cada vez mais dirigida a mulheres. O mundo está acordando para uma poderosa verdade: mulheres e meninas não são o problema; são a solução.

Um dos lugares para se observar essa alquimia de gênero são os enlameados becos das encostas do Paquistão. Numa favela nos arredores da grande cidade de Lahore, uma mulher chamada Saima Muhammad se derretia em lágrimas todas as tardes. De face redonda, com cabelos lisos e negros ocultos por uma burca, Saima mal tinha uma rúpia [moeda afegã] e seu marido, preguiçoso e desempregado, não estava exatamente em condições de se tornar um empregado. Ele vivia frustrado e furioso, e descontava batendo em Saima todas as noites. A casa deles estava caindo aos pedaços e Saima teve que mandar sua filha caçula viver com uma tia, já que não havia comida suficiente para todos.

"Minha cunhada tirava sarro de mim, dizendo: 'Você não consegue nem alimentar seus filhos'", lembrou Saima quando Nick a encontrou dois anos atrás numa viagem ao Paquistão. “Meu marido me batia, meu cunhado me batia. Eu tinha uma vida horrível”. O marido de Saima acumulou uma dívida de mais de 3 mil dólares, e parecia que esses empréstimos iriam oprimir a família por muitas gerações. Então quando o segundo filho de Saima nasceu e descobriu-se que era mais uma menina, a sogra de Saima, uma mulher dura e insensível chamada Sharifa Bibi, desafiou-a de forma humilhante.

“Ela não irá nunca ter um filho”, disse Sharifa ao marido de Saima, na frente desta. “Então você deve se casar de novo. Ter uma segunda esposa”. Saima ficou chocada e correu para fora, soluçando. Mais uma esposa significaria ainda menos dinheiro para alimentar e educar as crianças. E a própria Saima seria marginalizada no âmbito doméstico, descartada como uma meia velha. Durante dias ela vagou chocada, com olhos vermelhos. O mínimo acidente a fazia se derramar em lágrimas histéricas.

Foi nesse momento que Saima associou-se a Kashf Foundation, uma organização paquistanesa de microcrédito que empresta pequenos valores em dinheiro a mulheres pobres para que abram um negócio. Kashf é uma típica instituição de microcrédito, no que toca o empréstimo quase que exclusivamente a mulheres, em grupos de 25 pessoas. Essas mulheres garantem as dívidas umas das outras e se encontram a cada duas semanas para efetuar os pagamentos e debater um assunto social, como o planejamento familiar ou de escolarização para as meninas. Uma paquistanesa é frequentemente proibida de sair de casa sem a permissão do marido, mas eles toleram estas reuniões porque as mulheres voltam com dinheiro e idéias para investimentos.

Saima tomou um empréstimo de US$ 65,00 e usou o dinheiro para comprar contas e tecidos, os quais ela transformou em lindos bordados que então vendeu aos comerciantes do mercado de Lahore. Ela usou o lucro para comprar mais contas e tecido, e logo montou um comércio de bordados — a única pessoa em sua casa a fazer tal coisa. Saima trouxe de volta da casa da tia sua filha mais velha e começou a pagar as dívidas do marido.

Quando os comerciantes passaram a encomendar mais bordados do que Saima poderia produzir, ela contratou vizinhos para ajudá-la. Em um dado momento, trinta famílias estavam trabalhando para ela, inclusive seu marido — "sob minha direção", explica com um brilho nos olhos. Saima havia se tornado a grande empreendedora de seu bairro, e foi capaz de pagar toda a dívida de seu marido, manter suas filhas na escola, reformar a casa, instalar água encanada e comprar uma televisão.

“Agora todos vêm a mim pedir dinheiro emprestado, as mesmas pessoas que viviam me criticando”, disse Saima, exultando de satisfação, “e os filhos daqueles que me criticavam agora vêm à minha casa ver TV”.

Atualmente, Saima está um pouco acima do peso e exibe um anel dourado no nariz, assim como vários outros anéis e braceletes nos dois pulsos. Ela exala auto-confiança ao oferecer uma longa visita a sua casa e a seu comércio, ostentosamente mostrando a televisão e o novo encanamento. Ela nem mesmo finge ser subordinada a seu marido. Ele passa a maior parte do dia vagando ao redor, ocasionalmente a ajudando com o trabalho, mas sempre tendo de aceitar ordens de sua mulher. Tornou-se mais bem-impressionado com as mulheres em geral: Saima teve uma terceira filha, mas agora isso não é mais um problema. "Meninas são tão boas quanto meninos", explica ele.

A "nova" prosperidade de Saima tem transformado as perspectivas de educação da família. Ela planeja mandar todas as três filhas para o ensino médio bem como para a faculdade. Ela traz tutores para melhorar seus trabalhos escolares, e sua filha mais velha, Javaria, é a primeira em sua classe. Perguntamos a Javaria o que ela queria ser quando ela crescesse, pensando que ela provavelmente aspiraria ser uma médica ou uma advogada. Javaria inclinou sua cabeça. "Gostaria de fazer bordado", ela disse.

A respeito de seu marido, Saima disse: "Temos um bom relacionamento agora". Ela explicou: "Nós não brigamos, e ele me trata bem". E quanto a encontrar outra esposa que pudesse lhe gerar um filho? Saima ri consigo mesma da questão: "Agora ninguém diz nada sobre isso". Sharifa Bibi, a sogra, olhou chocada quando perguntamos se ela queria que seu filho tomasse uma segunda esposa para lhe dar um filho. "Não, não", disse. "Saima está trazendo muito para essa casa... Ela põe um teto sobre as nossas cabeças e comida na mesa".

Sharifa até mesmo permite que Saima seja totalmente dispensada de agressões por seu marido. "Uma mulher deve saber seus limites, caso contrário, seu marido tem o direito de bater nela", disse Sharifa. "Mas se uma mulher ganha mais que seu marido, é difícil para ele discipliná-la."

O que devemos tirar de histórias como a de Saima? Tradicionalmente, a condição das mulheres era vista como um problema "brando" - notável, mas à margem. Inicialmente nós mesmos refletimos essa visão em nosso trabalho como jornalistas. Preferíamos focar nas questões internacionais "sérias", como disputas de mercado ou proliferação de armas. Nosso despertar aconteceu na China.

Após nos casarmos em 1988, mudamo-nos para Pequim para sermos correspondentes do New York Times. Sete meses depois nos vimos em torno da Praça da Paz Celestial assistindo a tropas atirar com suas armas automáticas contra protestantes pró-democracia. O massacre custou entre 400 e 800 vidas e trespassou o planeta; imagens dolorosas dos assassinatos apareciam constantemente na primeira página dos jornais e nas televisões.

Já no ano seguinte nos defrontamos com um obscuro mas meticuloso estudo demográfico que descrevia uma violação dos direitos humanos que tinha levado mais de dezenas de milhares de vidas. Esse estudo descobriu que 39 mil bebês do sexo feminino morriam anualmente na China porque seus pais não proporcionavam a elas o mesmo atendimento médico e atenção que os meninos recebiam — e isso levando em conta apenas o primeiro ano de vida.

Como resultado, morriam tantos bebês do sexo feminino desnecessariamente a cada semana na China quanto morriam os que protestavam na Praça da Paz Celestial. Essas garotas chinesas nunca receberam um centímetro de cobertura na imprensa, e nós começamos a pensar se nossas prioridades jornalísticas não estavam distorcidas.

Um padrão similar emergia em outros países. Na Índia, uma noiva é incendiada a aproximadamente cada duas horas, para punir uma mulher por oferecer um dote inadequado ou para que o homem possa se casar de novo — mas isso raramente vira notícia. Quando um proeminente dissidente é preso na China, nós damos artigo de página inteira; quando 100 mil garotas são raptadas e traficadas para bordeis, nós sequer consideramos isso notícia.

Amartya Sen, o irrequieto economista premiado com o Nobel, desenvolveu uma escala de desigualdade entre os sexos que é uma impressionante lembrança da dimensão da tragédia das noivas queimadas: “Mais do que 100 milhões de mulheres estão desaparecidas”, escreveu Sen em um ensaio clássico em 1990 no The New York Review of Books, delineando um novo campo de pesquisas.

Sen notou que, em circunstâncias normais, mulheres vivem mais do que homens, e assim há mais mulheres do que homens em boa parte do mundo. Já em lugares onde mulheres têm um status profundamente desigual, elas eventualmente desaparecem. A China tem 107 homens para cada 100 mulheres em sua população total (e uma desproporção ainda maior entre recém-nascidos), e a Índia tem 108. A importância da proporção entre sexos, Sen descobriu mais tarde, é que cerca de 107 milhões de mulheres estão desaparecidas no mundo hoje. Estudos que se seguiram calcularam um número levemente diferente, resultando em projeções figurativas entre 60 milhões e 107 milhões.

Muitas garotas desaparecem em parte por não terem acesso ao mesmo tratamento médico e alimentação que os meninos. Na Índia, por exemplo, elas têm menos probabilidade de ser vacinadas do que garotos e só são levadas ao hospital quando estão doentes. Como resultado, no país as meninas entre 1 a 5 anos de idade têm 50% mais probabilidade de morrer do que os meninos da mesma idade. Além disso, máquinas de ultra-som permitem às mulheres grávidas descobrir o sexo do seu bebê - e abortá-lo se for menina.

As estatísticas globais sobre abuso de mulheres estão crescendo. Isso sugere que mais meninas e mulheres estão desaparecendo agora no planeta, precisamente porque elas são do sexo feminino, em comparação com o número de homens que foram mortos nos campos de batalha de todas as guerras do século XX. O número de vítimas desse rotineiro "femicídio" excede em muito o número de pessoas assassinadas em todos os genocídios do século passado.

Para as mulheres que sobrevivem, o tratamento é, às vezes, chocantemente brutal. Se você está lendo este artigo, a frase "discriminação de gênero" pode conjurar pensamentos relativos a salários desiguais, equipes esportivas financiadas de forma precária ou ser tocada de forma indesejada pelo chefe. Nos países em desenvolvimento, milhões de mulheres e garotas estão, na verdade, escravizadas.

Embora seja difícil precisar o número com exatidão, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência da ONU, estima que a qualquer hora do dia há 12,3 milhões de pessoas atadas a trabalhos forçados de diversos tipos, incluindo servidão sexual. Só na Ásia, há cerca de um milhão de crianças trabalhando no comércio de sexo e mantidas sob condições indistinguíveis da escravidão, de acordo com um relatório da ONU.

Meninas e mulheres são trancafiadas em bordéis e espancadas se ousarem resistir, alimentadas apenas com o suficiente para as manter vivas e muitas vezes sedadas com drogas – para as pacificar e, com frequência, deixá-las viciadas. A Índia provavelmente tem mais escravos modernos do que qualquer outro país.

Outra carga brutal para as mulheres nos países pobres é a mortalidade maternal, com uma mulher morrendo em trabalho de parto a cada minuto. No Niger, país da África Ocidental, uma mulher tem uma chance em sete de morrer dando à luz em algum momento de sua vida. (Essas estatísticas são algo duvidosas, porque mortalidade maternal não é considerada suficientemente significativa para requerer coleta cuidadosa de dados.)

Apesar do tímido crescimento indiano, uma mulher ainda tem uma chance em 70 de morrer durante trabalho de parto. Em contraste, o mesmo risco nos EUA é de 1 em 4.800; na Irlanda, de 1 em 47.600. A razão para a discrepância não é que não saibamos como salvar a vida das mulheres nos países pobres. E sim que as mulheres pobres e analfabetas da África e da Ásia nunca foram prioridade em seus próprios países ou para as nações doadoras.

Abbas Be, uma bela adolescente na cidade indiana de Hyderabad, tem pele cor de chocolate, cabelos negros e dentes tão brancos que resplandescem — além de um adorável sorriso, que a tornava ainda mais comercializável.

O dinheiro era curto em sua família, e por isso quando tinha por volta de 14 anos ela conseguiu um emprego como doméstica na capital, Nova Delhi. Ao invés disso, ela foi trancafiada em uma casa de prostituição, apanhou com um taco de cricket, foi estuprada por uma gangue e foi avisada que teria que dar conta dos clientes. Três dias após sua chegada, Abbas e todas as outras 70 garotas no prostíbulo foram forçadas a se reunirem em torno de uma adolescente e de seus cafetões, enquanto estes davam-lhes um exemplo do que acontece quando uma delas resiste a um cliente. A garota problemática foi despida, imobilizada, humilhada e ridicularizada, antes de apanhar brutalmente e em seguida ser esfaqueada no estômago, até que morreu por hemorragia na frente de Abbas e das outras.

Abbas nunca recebeu pagamento pelo seu trabalho. Qualquer sinal de insatisfação a levava a apanhar ou pior; em duas outras ocasiões ela assistiu ao assassinato de mulheres que afrontaram os seus gerentes. Por fim, Abbas foi libertada pela polícia e voltou para Hyderabad. Ela encontrou uma casa em um abrigo gerenciado por Prajwala, uma organização que aceita garotas resgatadas de prostíbulos e as ensina novas habilidades.

Abbas está obtendo uma educação e aprendeu a ser encadernadora; ela também serve de conselheira para outras garotas sobre como evitar que sejam vítimas de tráfico. Como encadernadora treinada, Abbas consegue ganhar um salário digno e agora ajuda a irmã mais nova a frequentar a escola também. Com educação, elas estarão muito menos vulneráveis ao tráfico. Abbas passou de escrava a produtora, contribuindo para o desenvolvimento econômico da Índia e ajudando a sustentar sua família.

Talvez a lição deixada por Abbas e Saima seja a mesma: em muitos países pobres, o maior recurso inexplorado não são os campos de petróleo ou minas de ouro; são as mulheres e garotas que não são educadas e nunca vão ter uma presença na economia formal. Com educação e ajuda para começar negócios, mulheres pobres podem ganhar dinheiro e ajudar seus países e suas famílias. Elas talvez também representem a maior esperança para combater a pobreza global.

No leste asiático, conforme observamos durante nossos anos de cobertura regional, as mulheres já se beneficiaram com as profundas mudanças sociais. Em países como Coréia do Sul, Malásia, China e Tailândia, meninas que vivem nas áreas rurais e contribuíram anteriormente de maneira insignificante para a economia nacional já frequentaram a escola e receberam uma educação formal, o que lhes dá autonomia para se mudarem para a cidade e buscar trabalho nas fábricas. Isso aumentou bastante a força de trabalho formal e também causou um dividendo demográfico no país quando as mulheres decidiram esperar para ter filhos. Na década de 1990, de acordo com as nossas estimativas, cerca de 80% dos funcionários nas linhas de montagem no litoral chinês eram mulheres e a proporção no cinturão de produção do leste asiático era de pelo menos 70%.

A jornada de trabalho era longa e as condições eram péssimas, assim como nas fábricas precárias de trabalho escravizante abertas durante a Revolução Industrial no Ocidente. Porém, as camponesas estavam ganhando dinheiro, ajudando a sustentar os parentes na cidade natal e, às vezes, tornavam-se até a principal fonte de renda dentro de casa. Elas adquiriram novas habilidades que elevaram seu status social. Os ocidentais vêem essas fábricas precárias e pensam na exploração dos operários e muitas dessas fábricas realmente são tão ruins como dizem os críticos.

Mesmo assim, nos países pobres há quem diga que a única coisa pior do que ser explorado em uma fábrica precária é não ser explorado em uma fábrica precária. O trabalho mal pago no ramo de produção beneficiou mulheres em países como a China porque essas atividades não exigiam muita força e a flexibilidade física acabou lhes dando uma vantagem sobre os homens, diferentemente do que ocorre no trabalho agrícola, na construção ou em outras atividades mais pesadas tipicamente disponíveis em países pobres.

Pode parecer estranho, mas essas fábricas precárias na Ásia ajudaram a conferir autonomia às mulheres. Há cem anos, muitas mulheres na China ainda tinham os pés amarrados. Hoje, apesar de a discriminação, a desigualdade e o assédio persistirem, a cultura se transformou. Nas cidades grandes, vimos que o homem chinês geralmente se encarrega de mais tarefas do lar do que um estadunidense típico. E os pais no meio urbano geralmente ficam contentes e até preferem ter apenas uma filha mulher, que são melhores na hora de cuidar dos pais idosos do que os filhos homens.

Por que organizações de microcrédito geralmente focam sua assistência nas mulheres? E por que todos se beneficiam quando as mulheres se integram à força de trabalho e trazem contracheques para casa com regularidade? Uma razão envolve um pequeno segredo sujo da pobreza global: parte do sofrimento dos mais pobres é causado não apenas pela baixa renda, mas também pelo mal-uso do dinheiro pelos pobres – especialmente pelos homens. Com uma frequência surpreendente, cruzamos com uma mãe de luto por ter acabado de perder um filho por malária, ou por falta de um mosquiteiro de US$ 5,00; a mãe diz que a família não tinha condições de comprar um mosquiteiro, mas depois encontramos o pai em um bar perto dali. Ele vai ao bar 3 vezes por semana, gastando US$ 5,00 por semana.

Nossas entrevistas e levantamentos de dados disponíveis sugerem que as famílias mais pobres no mundo gastam, aproximadamente, 10 vezes mais (20% de sua renda, em média) em uma combinação de álcool, prostituição, doces, refrigerantes e banquetes extravagantes do que em gastos com educação para seus filhos (2%). Se as famílias pobres podem gastar em educação tanto quanto gastam em bebidas e prostituição, haveria uma mudança nas perspectivas dos países pobres. Meninas que têm de ficar em casa e deixam de ir às escolas seriam as principais beneficiadas.

Além disso, uma maneira de realocar os gastos das famílias dessa forma seria colocar mais recursos nas mãos das mulheres. Uma série de estudos revelou que quando mulheres possuem bens ou recebem recursos, há uma maior probabilidade de que o dinheiro da família seja gasto em alimentação, medicamentos ou habitação e, consequentemente, de que as crianças sejam mais saudáveis.

Na Costa do Marfim, um projeto de pesquisa examinou as diferentes plantações que homens e mulheres cultivam para seu próprio proveito: homens plantam café, cacau e abacaxi, e mulheres plantam banana-da-terra, bananas, cocos e verduras. Em alguns anos as "plantações dos homens" têm boa colheita e eles tiram a sorte grande, e em outros anos são as mulheres que prosperam.

O dinheiro é de certo modo compartilhado. Mas, ainda assim, a economista Esther Duflo, do Massachusets Institute of Technology (M.I.T.), descobriu que quando as "colheitas dos homens" dão frutos, a família gasta mais dinheiro com tabaco e álcool; quando as mulheres obtêm uma boa colheita, a despesa familiar é mais dirigida à comida. “Quando as mulheres têm maior poder de comando, a saúde das crianças e a nutrição melhoram", afirma Duflo.

Implicações concretas dessa pesquisa: por exemplo, os países doadores deveriam chamar a atenção dos países pobres para ajustar suas leis de modo que, quando um homem morrer, sua propriedade seja passada preferencialmente a sua viúva, e não para seus irmãos. Os governos deveriam tornar fácil para as mulheres ter propriedade e contas bancárias – 1% dos proprietários de terra do mundo são mulheres – e facilitar que as instituições de microcrédito se tornem bancos onde as mulheres possam guardar dinheiro.

E claro, é justo perguntar: empoderar as mulheres é correto e bom, mas é possível fazê-lo de forma efetiva? A ajuda externa realmente funciona? William Easterly, economista da Universidade de Nova York, tem argumentando de maneira incisiva que atirar dinheiro nos países pobres tem baixo resultado. Alguns africanos, incluindo Dambisa Moyo, autora de "Dead Aid", diz a mesma coisa. Críticos apontam que não tem havido uma correlação entre o volume de recursos de ajuda destinada a países pobres e as taxas de crescimento econômico dessas nações.

Nossa impressão, francamente, é que tais críticas são apenas parcialmente corretas. Ajudar as pessoas é muito mais difícil do que parece. As experiências relacionadas à ajuda muitas vezes acabam funcionando de maneira diferente à esperada ou oferecem resultados difíceis de serem replicados ou implementados em larga escala. Ainda assim, também temos visto, tanto de forma empírica quanto nas estatísticas, evidências de que algumas formas de ajuda têm sido muito efetivas. A entrega de vacinas e outros tipos de apoio na área da saúde têm reduzido o número de crianças que morrem a cada ano com menos de 5 anos: o número, que era de 20 milhões em 1960, caiu para menos 10 milhões atualmente.

Em geral, ajuda parece funcionar melhor quando focada em saúde, educação e microcrédito (embora o microcrédito de alguma forma tenha sido menos bem-sucedido na África do que na Ásia). Em cada caso, crucialmente, a ajuda tem sido mais efetiva quando direcionada para mulheres e meninas; quando os especialistas em políticas fazem as contas, eles em geral descobrem que estes investimentos têm uma rede econômica de retorno. Apenas uma pequena porção de ajuda tem como alvo mulheres e garotas, mas cada vez mais doadores reconhecem que investir nelas significa obter o melhor custo-benefício.

No início dos anos de 90, a ONU e o Banco Mundial começaram a proclamar o recurso potencial que meninas e mulheres representam. “Investimento na educação de meninas pode muito bem ser o investimento de mais alto retorno disponível nos países em desenvolvimento", escreveu Larry Summers quando era economista chefe do BM. Fundações e grupos privados de assistência também moveram suas engrenagens. “As mulheres são a chave para acabar com a fome na África”, declarou o Hunger Project. O Centro para Desenvolvimento Global lançou um relatório de impacto explicando "porque e como colocar mulheres no centro do desenvolvimento". A ONG CARE escolheu mulheres e meninas como as peças centrais de seus esforços anti-pobreza. Desigualdade de gêneros afeta o crescimento econômico", concluiu o fundo de investimentos Goldman Sachs num relatório de pesquisa de 2008 que enfatizava o quanto os países em desenvolvimento poderiam melhorar suas performances econômicas através da educação de meninas.

Bill Gates se recorda de ter sido convidado a falar em público na Arábia Saudita e se dar conta de estar enfrentando uma audiência segregada. Quatro quintos dos ouvintes, à esquerda, eram homens. O quinto restante, à direita, era formado de mulheres, todas cobertas com xador* e véus negros. A divisão separou os dois grupos. Próximo ao final da apresentação, durante a sessão de perguntas e respostas, um espectador observou que a Arábia Saudita tinha como objetivo ser um dos 10 países líderes em tecnologia até 2010 e perguntou se a meta era realista. “Bem, como vocês não utilizaram metade do talento do pais", disse Gates, "não conseguirão sequer chegar perto dos top 10". O pequeno grupo à direita irrompeu em ovação acalorada.

Os gestores de políticas públicas também entenderam o recado. O presidente Obama nomeou um novo Conselho da Casa Branca sobre Mulheres e Meninas. Talvez ele tenha sido doutrinado por sua mãe, que foi uma das primeiras a usar os microcréditos para mulheres quando trabalhava para lutar contra pobreza na Indonésia. A secretária de Estado Hillary Rodham Clinton é integrante do Conselho da Casa Branca e elegeu uma ativista talentosa, Melanne Verveer, para dirigir o novo Escritório do Departamento de Estado de Assuntos Globais sobre a Mulher. Em Capitol Hill, o Comitê do Senado de Relações Internacionais colocou a senadora Barbara Boxer como a responsável pelo novo sub-comitê que lida com assuntos relacionados à mulher.

Outra razão para educar e dar poder às mulheres é que o maior envolvimento feminino na sociedade e na economia parece minar o extremismo e o terrorismo. É sabido de longa data que um fator de risco para turbulências e violência é a proporção de jovens na população do país. Agora está emergindo que a dominação masculina na sociedade também é um fator de risco; as razões ainda não foram completamente entendidas, mas pode ser que quando as mulheres são marginalizadas a nação tende a adotar a cultura movida a testosterona de um campo militar ou vestiário masculino.

Isso é parte dos motivos pelos quais o Estado-Maior das Forças Armadas e especialistas internacionais em segurança esforçam-se para encontrar um modo de aumentar a educação das garotas em países como o Afeganistão – e generais tem tido encontros com Greg Mortenson, que escreveu sobre construir escolas para mulheres em seu best-seller "Three Cups of Tea" [Três Xícaras de Chá]. Na verdade, alguns estudiosos dizem acreditar que a principal razão para os países islâmicos serem desproporcionalmente afligidos pelo terrorismo não são os ensinamentos muçulmanos sobre infiéis ou violência, mas os baixos níveis de educação e participação na força de trabalho das mulheres.

Então, como seria uma agenda de combate à pobreza a partir do apoio às mulheres? Você pode começar com a educação das meninas – o que não significa apenas a construção de escolas. Existem outros meios inovadores a nossa disposição. Um estudo no Quênia, feito por Michael Kremer, economista de Harvard, analisou seis abordagens diferentes para melhorar a performance educacional, desde o provimento gratuito de livros até programas de bolsa para crianças.

A abordagem que elevou mais a pontuação nos testes foi a que ofereceu às meninas, cuja pontuação nos testes da sexta-série estava entre as 15% maiores da classe, uma bolsa de 19 dólares para a sétima e oitava série (e a honra de reconhecimento em uma assembléia). Meninos também se saíram melhor, aparentemente porque eles eram pressionados pelas meninas ou porque não queriam passar pelo constrangimento de serem deixados para trás.

Outro estudo queniano mostrou que a doação de um novo uniforme escolar – no valor de seis dólares – a cada 18 meses reduziu significativamente as taxas de evasão escolar e gravidez. Da mesma forma, há uma crescente evidência de que uma forma de contribuir para a manutenção das meninas na escola secundária é ajudá-las a lidar com a menstruação.

Por medo de manchas e fluxos que possam constrangê-las, às vezes, as meninas ficam em casa durante o período menstrual e essas faltas as deixam para trás e, eventualmente, levam à evasão. Equipes de ajuda estão testando dar às garotas adolescentes africanas absorventes e também fornecer acesso a um banheiro, onde podem trocá-lo. A "Campanha para a Educação da Mulher" (Campaign for Female Education), uma organização voltada a levar mais meninas para a escola, na África, ajuda-as em seus períodos de menstruação, e um novo grupo, "Empresas de Saúde Sustentável" (Sustainable Health Enterprises) procura fazer o mesmo.

E assim, se o Presidente Obama quisesse adotar uma política de ajuda externa que fosse assentada em aspectos sobre o papel das mulheres no desenvolvimento, ele faria bem em começar pela educação. Sugeriríamos um esforço de US$ 10 bilhões durante cinco anos para educar meninas ao redor do mundo.

Essa iniciativa teria como foco a África, mas também apoiaria — e incitaria — países asiáticos como Afeganistão e Paquistão a fazer melhor. Esse plano também repercutiria como uma política demográfica, uma vez que reduziria significativamente os índices de natalidade — ajudando, desta forma, países pobres a superar obstáculos demográficos ao crescimento econômico.

Mas o presidente Obama pode considerar duas diferentes propostas. Nós recomendaríamos que os Estados Unidos patrocinassem uma campanha global para eliminar a deficiência de iodo ao redor do globo, ajudando os países a promover a iodização do sal. Cerca de um terço das residências dos países em desenvolvimento não conseguem ter iodo suficiente, e o resultado é muitas vezes má-formação cerebral nos estágios fetais.

Por razões ainda não esclarecidas, isso afeta particularmente fetos do sexo feminino e em geral significa perda de 10 a 15 pontos nos testes de Q.I.. Uma pesquisa desenvolvida por Erica Field, em Harvard, descobriu que as filhas de mulheres às quais foi dado iodo tiveram desempenho consideravelmente melhor na escola. Outra pesquisa sugere que os benefícios advindos da iodização do sal valem nove vezes seu custo.

Nós também recomendaríamos que os Estados Unidos anunciassem um programa de 12 anos de duração, ao custo de 1,6 bilhão de dólares, para erradicar fístula obstétrica, um dano infligido no parto que é um dos maiores flagelos às mulheres nos países em desenvolvimento. Uma fístula obstétrica, que é um buraco criado no interior do corpo devido a dificuldades de parto, deixa a mulher incontinente, mau cheirosa, muitas vezes aleijada e rejeitada em sua vizinhança — embora os danos causados pela fístula possam ser reparados por algumas centenas de dólares.

Dr. Lewis Wall, presidente da Worldwide Fistula Fund, e Michael Horowitz, um agitador conservador em assuntos humanitários, elaboraram o plano de 12 anos de duração — que é eminentemente prático e baseado em métodos comprovados. A evidência de que fístulas podem ser evitadas ou reparadas vem da pobre região de Somaliland, um enclave ao nordeste da Somália, onde uma extraordinária enfermeira e parteira chamada Edna Adan construiu sua própria maternidade-hospital para salvar as vidas das mulheres ao redor. Ex-primeira-dama da Somália e uma oficial da World Health Organization, Adan utilizou suas economias para construir o hospital, o qual é apoiado por um grupo de admiradores nos Estados Unidos que chamam a si mesmos de Amigos do Hospital Maternidade Edna.

Não obstante todas as preocupações legítimas sobre quão bem a ajuda humanitária é empregada, investimentos em educação, iodização do sal de cozinha e auxílio-maternidade têm confirmado um histórico de sucesso. E as somas são modestas: todos os três componentes de nosso plano juntos correspondem aproximadamente ao que os EUA têm enviado ao Paquistão desde o 11 de setembro — um montante que praticamente não se concretizou em nada válido, seja para os paquistaneses ou para os estadunidenses.

Um dos vários grupos de ajuda humanitária, que por razões pragmáticas se concentram em assuntos femininos, é Heifer International, uma instituição de caridade com sede no Arkansas que existe há décadas. Essa organização dá vacas, cabras e galinhas para fazendeiras em países pobres. Ao assumir a presidência de Heifer em 1992, a ativista Jo Luck viajou à África, onde um dia se viu sentada no chão com um grupo de mulheres em um vilarejo do Zimbabwe. Uma delas era Tererai Trent.

Tererai é uma mulher de rosto comprido, com maçãs do rosto proeminentes e pele morena clara; ela tem a testa alta e tranças nagô apertadas. Como muitas mulheres mundo afora, ela não sabe quando nasceu e não tem documentos como certidão de nascimento. Quando criança, Tererai não obteve educação formal, em parte por ser menina e porque esperava-se que ela assumisse o trabalho doméstico.

Ela colocava o gado para pastar e cuidava dos irmãos mais novos. O pai dizia "vamos mandar seus irmãos para a escola porque eles serão os chefes da família". Tinashe, irmão de Tererai, foi obrigado a ir para a escola, onde era um aluno indiferente. Tererai implorou permissão para ir também, mas não a obteve. Tinashe trazia seus livros todas as noites, e Tererai se debruçava sobre eles, aprendendo sozinha a ler e a escrever. Pouco depois ela estava fazendo o dever de casa para o irmão.

A professora ficou intrigada, pois Tinashe não era um bom aluno em classe, mas sempre entregava as tarefas feitas em casa simplesmente impecáveis. Finalmente, a professora percebeu que a letra da lição de casa era diferente daquela nas tarefas feitas em sala de aula e encostou Tinashe contra a parede até que ele confessou a verdade. Foi então que a professora procurou o pai, disse que Tererai era uma estudante prodígio e implorou para que ele a deixasse frequentar a escola. Depois de muito convencimento, o pai permitiu que Tererai fosse à escola durante alguns tempo, mas a entregou ao casamento quando ela tinha cerca de 11 anos de idade.

O marido de Tererai a impediu de frequentar à escola, ficava irritado por ela saber ler e a espancava sempre que ela tentava praticar a leitura lendo um jornal velho. Na verdade, ele também a espancava por vários outros motivos. Ela odiava seu casamento, mas não havia escapatória. "Se você é mulher e não tem instrução, o que mais se pode fazer?", ela pergunta.

Ainda assim, quando Jo Luck veio falar com Tererai e outras jovens do vilarejo, ela insistiu que as coisas não precisavam ser dessa forma. Ela continuou dizendo que elas poderiam alcançar seus objetivos, repetindo constantemente a palavra “realizável”. As mulheres notaram a repetição e pediram para a intérprete para explicar o significado de “realizável”. Isso deu a Luck a chance de dar um empurrãozinho. “Quais são suas expectativas?” perguntou ela ao grupo de mulheres, por meio de um intérprete. Tererai e as outras ficaram intrigadas com a pergunta, porque elas não tinham expectativa alguma. Mas Luck as motivou a pensaram em seus sonhos, e, com relutância, elas começaram a pensar no que queriam.

Tererai timidamente falou sobre suas esperanças de ser educada. Luck reagiu rapidamente, e disse que seria possível chegar lá e a aconselhou a escrever suas metas e segui-las meticulosamente. Depois que Luck e sua comitiva se foram, Tererai começou a estudar por conta própria, escondida do marido, enquanto criava seus cinco filhos. Meticulosamente, com a ajuda de amigas, ela escreveu seus objetivos em um pedaço de papel: “Um dia irei aos Estados Unidos”, ela começou, essa é a Meta 1.

Ela acrescentou que conseguiria um diploma escolar, um mestrado e um doutorado — todos sonhos incrivelmente absurdos para uma pastora de gado casada do Zimbabwe que tinha menos de um ano de formação escolar. Mas Tererai pegou o pedaço de papel e o enrolou em três camadas de plástico para protegê-lo e em seguida o colocou em uma lata velha. Ela enterrou a lata sob uma rocha no pasto para onde levava seu gado.

Em seguida Tererai começou a tomar aulas por correspondência e a economizar dinheiro. Sua auto-confiança aumentou a medida que ela se saia de forma brilhante em seus estudos, e se tornava líder comunitária de Heifer. Ela surpreendia a todos com seu excelente trabalho escolar, e os trabalhadores humanitários de Heifer a motivaram a pensar em estudar nos Estados Unidos. Um dia em 1998, ela recebeu um aviso que tinha sido aceita na Universidade Estadual do Oklahoma.

Alguns de seus vizinhos achavam que uma mulher deveria se concentrar na educação de seus filhos, não na sua própria. “Não posso falar da educação de meus filhos se eu mesma não tiver educação”, era a resposta de Tererai. “Se eu educar a mim mesma, eu posso então educar meus filhos”. E assim ela embarcou em um avião e voou para os EUA.

No estado de Oklahoma, Tererai usou todo o crédito que tinha e trabalhava à noite para ganhar dinheiro. Ela graduou-se, trouxe seus cinco filhos para os EUA e começou um mestrado, e então voltou ao seu vilarejo. Ela desenterrou sua lata guardada sob uma pedra onde havia escrito suas metas. Marcou aquelas que já tinha alcançado e enterrou a lata novamente.

No Arkansas, ela conseguiu um emprego trabalhando para Heifer — ao mesmo tempo em que cursava o mestrado. Ao concluí-lo, Tererai voltou novamente para o seu vilarejo. Depois de abraçar a sua mãe e irmã, ela desenterrou sua latinha e verificou a próxima meta. Agora cursa um doutorado na Western Michigan University.

Tererai já terminou as disciplinas do curso e está finalizando uma tese sobre programas de combate a AIDS entre os pobres da África. Ela se tornará uma pessoa economicamente produtiva para o continente e uma figura importante na batalha contra a AIDS. E quando completar o doutorado, Tererai voltará à vila e, depois de abraçar seus entes queridos, sairá para o campo e desenterrará sua lata de novo.

Existem muitas metáforas para o papel exercido pela assistência internacional. De nossa parte, gostamos de pensar na ajuda como uma espécie de lubrificante, umas poucas gotas de óleo na caixa de marchas do mundo em desenvolvimento, de modo a que as engrenagens possam se mover livremente e por conta própria. Isso é no que a assistência para Tererai resultou: numa pequena ajuda onde e quando ela conta mais, o que muitas vezes significa focá-la em mulheres como ela. E agora Tererai se move suave e livremente por conta própria — verdadeiramente apta a sustentar metade do céu.

*Nicholas D. Kristof é editorialista do New York Times e Sheryl WuDunn foi correspondente do Times e trabalha na área de finanças e em filantropia. Esse ensaio é uma adaptação de seu livro Half the Sky: Turning Oppression Into Opportunity for Women Worldwide [Metade do Céu: Transformando Opressão em Oportunidades para Mulheres ao Redor do Mundo], que será lançado no mês que vem por Alfred A. Knopf. Você pode saber mais sobre Half the Sky no site http://nytimes.com/ontheground.

*no original: cloaks. Xador é uma veste feminina que cobre o corpo todo com a exceção dos olhos, usada em vários países muçulmanos como Irã e Arábia Saudita

Fonte: Vi o Mundo

A imagem “http://www.fiocruz.br/ccs/media/marinasilva2.jpg” contém erros e não pode ser exibida.http://www.terra.com.br/istoegente/342/fotos/esp_mulheres_08.jpg

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Um comentário:

Anônimo disse...

Texto bem extenso e que toca nos varios temas que relaciona a opressão de gênero.
No Brasil , por onde andei de norte a sul e oeste, uma questão que mais me deprime é aexploração sexual - sob varios prismas de degradação humana. Sob o acobertamento de políticos de vários matizes - uma opressão calada à força. Ainda que exista , ou existiu uma comissão de senado para o tema, a informação é banida de discussões. Uns dos argumentos que foi usado e que é de embrulhar o estômago , é que é um evento cultural! O inferno está qui também , e é macho...
AndreB